Na polémica entrevista que deu a Piers Morgan, onde criticou praticamente tudo no Manchester United e abriu a porta à rescisão que surgiu semanas depois, Cristiano Ronaldo deu a entender que os problemas só começaram com a saída de Ole Gunnar Solskjaer. Defendeu o treinador, criticou os sucessores Ralf Rangnick e Erik ten Hag e sublinhou a injustiça do despedimento do norueguês.

Contudo, ao que parece, a situação não foi assim tão linear. Quase ano e meio depois da entrevista de Cristiano Ronaldo, o próprio Ole Gunnar Solskjaer assumiu que a contratação do jogador português trouxe “complicações”. “A decisão de o contratar foi muito rápida. Não achámos que ele estivesse disponível, que estivesse pronto para sair. Quando ficou claro que iria deixar a Juventus, claro que outros clubes também o queriam. E fiquei entusiasmado”, começou por recordar o norueguês em entrevista ao podcast “Stick to Football”, onde conversou com os antigos colegas Roy Keane e Gary Neville.

“No United perguntaram-me se eu queria que tentassem e eu disse que sim. Sabíamos que ele tinha qualidade e que tinha 37 anos, mas tínhamos de arranjar uma maneira, é o melhor goleador do mundo. Não funcionou para mim, não funcionou para o Cristiano, mas na altura foi a melhor decisão a tomar”, acrescentou Solskjaer, que chegou a jogar com o avançado português durante a primeira passagem de Cristiano Ronaldo por Old Trafford.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Logo à partida, o treinador norueguês explicou que teve de mudar a forma de jogar da própria equipa para acomodar a presença do capitão da Seleção Nacional. “Comecei logo a pensar na forma como iríamos pressionar e adaptar algumas coisas. O Cristiano era diferente daquilo que o Martial era lá à frente e tive de pensar se jogava com o Mason [Greenwood] ou o Marcus [Rashford] perto dele. O Cavani foi o jogador que acabou por sofrer mais com a chegada dele, já tinha compreendido a forma como jogávamos até aí”, atirou.

Ronaldo e Solskjaer já fizeram 34 golos “juntos”. Agora vão querer fazer mais mas noutros papéis

“Com a bola, com ele na equipa, não havia problema. Sem ele, tínhamos de mudar alguns papéis a que já estávamos habituados. Até aí éramos uma das equipas que mais pressionava. Deixámos o Daniel James sair quando o Cristiano chegou e são dois jogadores muito diferentes. Para mim, na altura, foi a decisão certa a tomar. Mas acabou por não se revelar a decisão certa”, defendeu Solskjaer.

Mais à frente, na mesma conversa, o antigo treinador do Manchester United lembrou ainda que uma das discussões com Cristiano Ronaldo esteve relacionada com as titularidades e o tempo de jogo do português. “Quando chegou, quando falei com ele, disse-me que queria jogar três de quatro jogos, que tinha percebido que estava a envelhecer. Mas quando o deixei no banco não ficou contente”, recordou o norueguês, debruçando-se sobre uma receção ao Everton onde o avançado foi suplente utilizado e saiu furioso pelo túnel de Old Trafford após o empate final.

Para além de Cristiano Ronaldo, Ole Gunnar Solskjaer também falou sobre Bruno Fernandes e explicou o porquê de nunca lhe ter dado a braçadeira de capitão, estatuto que o médio português acabou por assumir mais tarde e após a saída do treinador. “Sabia que ele tinha qualidades de capitão. Tem personalidade e qualidade, mas também sabe — e cheguei a dizer-lhe isso — que é demasiado impulsivo e que por vezes perde o controlo. Eu adorava o Harry Maguire como capitão, para mim era ele o líder daquele grupo”, terminou.

A mágoa com o Manchester United, o corte com Ten Hag, a vontade de jogar até aos 40. A entrevista completa a Ronaldo nas entrelinhas