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Os primeiros pedidos chegaram por volta de maio do ano passado, as primeiras recusas apareceram logo depois. A Ucrânia diz que precisa dos mísseis Taurus, de fabrico alemão e sueco, mas Berlim tem vindo a negar fornecê-los por receio de que sejam utilizados para atacar território russo. E, consequentemente, façam com que a Alemanha se torne parte da guerra.

O Reino Unido, que foi dos primeiros países a enviar mísseis cruzeiro para Kiev, tem pressionado a Alemanha. Esta semana, os britânicos sugeriram uma troca de armas, propondo que os alemães lhes enviassem Taurus e em troca forneceriam à Ucrânia mísseis do tipo Storm Shadow, que o país já tem. O chanceler alemão, Olaf Scholz, rapidamente rejeitou a possibilidade considerando que “tendo em conta o impacto” deste tipo de armas e “onde pode ser utilizado, não pode ser usado sem controlo, e a participação de soldados alemães não pode ser justificada, mesmo de fora da Ucrânia”.

Apesar da posição do chanceler da Alemanha, o país divide-se e são várias as vozes que defendem o envio dos Taurus para a Ucrânia. A oposição, liderada pelo Democratas-Cristãos, vai tentar esta quinta-feira que seja feita mais uma votação no parlamento, levando a que os partidos da coligação que governa o país tenham de se pronunciar sobre o envio de armas de longo alcance para Volodymyr Zelensky.

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Scholz rejeita troca de misseís de longo alcance Taurus com o Reino Unido

O que são, afinal, os Taurus?

Em latim, Taurus significa touro. Em linguagem militar é uma forma mais curta de dizer Target Adaptive Unitary Robotic Ubiquity System (Sistema de Ubiquidade Robótica Unitária Adaptativa ao Alvo, em tradução livre). De forma mais simples são mísseis de longo alcance. Têm cinco metros de cumprimento e pesam cerca de 1,4 toneladas.

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Estes mísseis são disparados do ar por caças e, depois, viajam a uma velocidade de até 1,170 quilómetros/hora para, segundo a alemã DW, encontrar um alvo que pode estar a 500 quilómetros de distância. Voam a uma altitude de 35 metros, o que torna improvável a sua deteção por sistemas de radar. Quanto detetam um alvo sobem abruptamente e depois atingem-no de cima, em queda na vertical.

Os Taurus têm quatro sistemas de navegação independentes para se manterem em curso e, uma vez que têm sensores de imagem, podem recorrer a pontes, rios ou cruzamentos para se “orientarem”. São utilizados pela Força Aérea da Alemanha contra “high-value targets”, ou seja, alvos que consideram ter um elevado valor, incluindo bunkers ou postos de comando de tropas inimigas.

Segundo a DW, os Taurus utilizados pelos militares alemães foram fabricados para serem utilizados com um tipo de caças específico: os Tornado. Por isso, caso sejam, eventualmente, um dia, enviados para Kiev terão de ser adaptados aos caças utilizados pela Força Aérea ucraniana.

Quais são as preocupações da Alemanha?

Os Tauros, fabricados na Alemanha, seriam capazes de alcançar território russo a partir de solo ucraniano. É a principal preocupação de Berlim, o segundo maior fornecedor de ajuda militar a Kiev que fica apenas atrás dos Estados Unidos. Ao longo dos últimos meses, Olaf Scholz tem vindo a dizer que “os soldados alemães não podem, em momento algum e em lugar algum, estar ligados aos alvos” que este tipo de sistema pode atingir.

Há cerca de um mês, segundo a agência Associated Press, o chanceler alemão afirmou que o “controlo de alvos” que está a ser feito pelo Reino Unido e França — dois países que enviaram sistemas de mísseis de longo alcance para a Ucrânia — “não pode ser feito na Alemanha”. “Toda a gente que lidou com este sistema sabe isso”, acrescentou, reiterando que existem bons motivos para que este tipo de armas não seja a próxima opção na ‘agenda’ no que à ajuda militar diz respeito.

O que a Ucrânia precisa é de munições a todas as distâncias possíveis, mas não de forma decisiva da Alemanha”, salientou, antes de sugerir que o debate acerca do eventual envio dos Taurus fez com que fossem esquecidas as necessidades mais imediatas da Ucrânia a nível militar.

A fuga de informações que voltou a colocar os Taurus no centro do debate

No dia do funeral do opositor russo Alexei Navalny, a imprensa estatal divulgou uma gravação áudio de uma reunião entre oficiais alemães de alta patente que debatiam a possibilidade de fornecer os mísseis Tauros a Kiev. De acordo com a Associated Press, a hipótese foi discutida apenas em teoria e não como algo que fosse acontecer em breve, apesar dos longos meses de pressão por parte da Ucrânia.

Na gravação, os oficiais discutiam a forma como os mísseis poderiam ser utilizados contra as forças russas e também como é que a Alemanha precisaria de prestar apoio técnico ao país liderado por Volodymyr Zelensky. Em resposta, Maria Zakharova, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, alertou que, se nada fosse feito em contrário, existiriam “consequências terríveis, antes de mais nada, para a própria Alemanha”.

De seguida, o Kremlin afirmou que as informações divulgadas na imprensa estatal e nas redes sociais de personalidades russas mostravam “mais uma vez o envolvimento direto do Ocidente no conflito” que começou há mais de dois anos. Por sua vez, Berlim confirmou a autenticidade da gravação e explicou que se tratou de um “erro individual”, uma vez que um dos oficiais das Forças Armadas participou na reunião remotamente através de uma “ligação não autorizada”.

De qualquer forma, a fuga de informação com a divulgação da gravação voltou a colocar o possível envio dos Tauros em cima da mesa. Até ao momento, a Alemanha aparenta continuar relutante. 

Berlim atribuiu fuga de informações militares a “erro individual”