Ainda antes de ser conhecido o resultado dos votos dos círculos da emigração relativos às legislativas de 10 de março, André Ventura foi a Belém com uma bancada bastante mais recheada e três objetivos: pedir explicações a Marcelo Rebelo de Sousa sobre a notícia que dava conta de que o Presidente da República tudo faria para evitar o Chega no governo; continuar a mostrar à AD (e principalmente aos portugueses) que o “não é não” de Luís Montenegro se reflete num “sim é sim” do Chega; e garantir que, caso o PS saia vitorioso após a contagem final, o Chega continua a querer ser parte de uma alternativa, mesmo que seja preciso afastar Luís Montenegro.

Logo no final da audiência em Belém, André Ventura contou aos jornalistas que questionou Marcelo sobre a notícia do Expresso que dava conta que o Presidente da República “pretendia que o Chega não integrasse o governo”. E não só disse que esta uma “informação contraditória com outras reuniões” em que esteve com Presidente da República e “com outras declarações que [este] tinha feito”, como rapidamente conclui: “O Presidente da República desmentiu cabalmente que tivesse manifestado qualquer intenção de impedir que o Chega fizesse parte integrante, liderante ou de qualquer outra forma do governo.”

Perante a insistência num tema que tinha cavalgado na reta final da campanha e na noite eleitoral (onde disse que os portugueses tinham dado uma “lição de democracia” também ao Chefe de Estado), Ventura sublinhou que “o Presidente garantiu não só que [essa notícia] não transmite a posição dele como não foi ele que transmitiu essa notícia”. E ainda usou as palavras que Marcelo lhe disse em privado, justificando que estava a fazê-lo “pela importância pública que têm”: “Não fazia nenhum sentido, quem escolhe é o povo.”

Pouco depois da saída de Belém, a resposta de Marcelo surgiu numa curta declaração na Presidência da República: “Como tem repetidamente afirmado, o Presidente da República não comenta declarações de partidos políticos nem notícias de jornais.” Marcelo Rebelo de Sousa não esclareceu se pretende ou não evitar o Chega num executivo, não desmentiu André Ventura, mas também não ratificou a tese de que a notícia é falsa.

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Esclarecido com as respostas do chefe de Estado, antes desta nota, André Ventura lembrou que “o acordo [com a AD] não existe” e, questionado pelos jornalistas, frisou que todos os dias fala com pessoas do PSD, “[forças] vivas e até mortas algumas”, recuperando a tese de que, em caso de vitória do PS, mantém a ideia de afastar Luís Montenegro. Relativamente às forças vivas explicou que aquilo que foi dizendo se aplica “ao cenário de o PS ficar à frente e haver uma maioria de direita”. Tendo em conta que os resultados ainda não são conhecidos, Ventura garantiu que “se esse cenário acontecer” está “praticamente seguro que acontecerá” (e que haverá um acordo entre o seu partido e o PSD).

Frisando que até “o Presidente da República reconheceu o excesso de voluntarismo” pela forma como se tem mostrado disponível para a construção de uma alternativa, o líder do Chega deixou a promessa de que, no caso de vitória socialista, vai continuar a procurar “estreitar” uma tentativa de “convergir à direita para que esse governo seja substituído por um governo de direita e se Luís Montenegro não quiser terá de ser substituído pelas forças vivas ou mortas do PSD”.

“Tentará até ao fim chegar a um entendimento” com a AD e não aceita que o Chega seja o responsável por qualquer problema. “Luís Montenegro pode reunir com quem entender, IL, PAN, Livre, e isso não fará uma maioria na Assembleia da República e só essa dá garantia de estabilidade”, avisou. E disse mais: “Se essa solução não existir” não foi uma decisão do Chega, atribuindo as responsabilidades todas aos sociais-democratas.

Quanto Luís Montenegro, sublinhou, terá de aceitar a “responsabilidade dessa minoria”, já que “não bastaria sequer a abstenção do Chega para passar um Orçamento do Estado, teria de ser voto a favor”. “Se Luís Montenegro quer precipitar o país para eleições em sete meses ou oito meses é uma escolha que fará”, concluiu o líder do Chega, para voltar a dizer que está pronto para se sentar à mesa com o PSD.

“O Chega diz que está disponível, do outro lado dizem-nos “não é não” — e nós dizemos “sim é sim” e estamos a construir uma alternativa, estamos pela positiva. O PSD terá de procurar no PS essa alternativa”, reiterou, frisando que vai acreditar “até ao fim”.

À saída da audiência em Belém, Ventura revelou ainda que explicou ao Presidente da República que o partido “jamais estaria na disposição de contribuir para uma maioria que integrasse o PS a liderar o governo de Portugal”. “Continuamos a fazer todo o esforço, que será acentuado depois de conhecidos os resultados do círculo da emigração, para um entendimento que dê estabilidade ao país”, enalteceu o líder do Chega.

E argumentou que caso o PS venha a ser o mais votado, “o Chega será oposição”, lembrando que “mesmo se PS vencer a maioria está entre Chega e PSD e o partido que lidera “tudo fará para apresentar uma solução alternativa”. André Ventura foi a Belém, mas continua empenhado em dar uma solução ao PSD, aquela à qual está constantemente a ouvir “não é não”.