Começou por ser apenas um nome numa extensa lista, passou depois a ser um dos técnicos com direito a ter entrada na short list, ganhou outra preponderância a partir do momento em que Xabi Alonso falou com os responsáveis do Bayer Leverkusen para fechar a porta a qualquer possibilidade de saída no verão (algo com o qual alguns treinadores, de forma sincera, não conseguem assegurar). Rúben Amorim continua a ser ligado ao Liverpool como sucessor de Jürgen Klopp e a cadência de notícias sobre essa possibilidade aumentou de forma particular nas últimas duas semanas. Mas o que há nesta altura de concreto? Ainda pouco.

Xabi Alonso fica no Bayer e dominó coloca uma peça portuguesa na frente: Rúben Amorim ganha espaço como sucessor de Klopp no Liverpool

O facto de Liverpool e neste caso Sporting estarem na fase decisiva da temporada é uma “não questão” no atual contexto, com todas as partes envolvidas cientes de que o foco na conquista dos títulos pelos quais estão envolvidos – Premier League, Liga Europa, Primeira Liga e Taça de Portugal – não impede que venham a ser feitos contactos no sentido de preparar a próxima temporada. E se em Anfield a saída do alemão no final da época é uma certeza, em Alvalade o único ponto que está a prender o que falta fazer a nível de planeamento de 2024/25 é a entrada ou não direta na próxima fase de grupos da Liga dos Campeões (chegar via terceira pré-eliminatória mexe em tudo, das datas ao investimento). Com ou sem Amorim, logo se verá.

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Se numa primeira fase a associação que existia entre Liverpool e o treinador era vista quase com naturalidade entre os leões, agora essa perceção mudou. Mudou porque tudo começa a tornar-se mais sério nesta fase, mudou porque ninguém pretende que o objetivo de conquistar o Campeonato seja beliscado por ruído exterior, mudou porque existe a ideia de que tudo o que possa acontecer, acontecerá de forma natural e de forma discreta. No entanto, sobram nesta altura cinco certezas em relação a esta primeira novela de verão.

O Liverpool procura um novo treinador e Rúben Amorim está na lista de hipóteses

Essa é uma primeira realidade que acaba por funcionar como base para tudo o resto: depois do anúncio de Jürgen Klopp no final de janeiro, o Liverpool terá de contratar um novo treinador para 2024/25. “Com toda a responsabilidade que este cargo traz, precisas de estar sempre no topo. Faço isto há 24 anos e já disse antes, quando tens a carreira que tenho… Percebi que os meus recursos não são intermináveis e preferi dar tudo esta temporada para depois fazer uma pausa ou parar. Já não somos novos, já não saltamos tão alto como saltávamos. É o que é. Preciso de descobrir como ter uma vida normal”, referiu de forma “aliviada”.

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Desde que o Fenway Sports Group liderado por John W. Henry assumiu o comando da equipa de Anfield, num dos poucos exemplos em Inglaterra como é possível haver um proprietário estrangeiro que respeita ao máximo tudo o que é a génese do clube e dos adeptos e que como tal não é alvo de protestos, o Liverpool só teve quatro treinadores. Roy Hodgson tinha sido o escolhido para liderar a era pós-Rafa Benítez em 2010 mas os maus resultados fizeram com que fosse substituído pela antiga glória Kenny Dalgish, que ganhou a Taça da Liga em 2011/12 mas acabou em oitavo da Premier, sendo substituído por Brendan Rodgers. Foi aqui, em 2012, que começou a ficar patente a forma como os donos olham para a posição técnica: alguém com carisma, que não seja muito velho, que tenha ligação próxima com os jogadores, que beneficia de tempo para poder implementar as suas ideias. Rodgers teve isso durante três épocas mas saiu em outubro de 2015 porque não resultou, Klopp teve isso ao longo de quase uma década com o sucesso que é hoje reconhecido.

Um regresso ao futuro para preparar o pós-Klopp: Liverpool contrata antigo diretor desportivo como novo CEO do futebol

Além de uma Champions (em três finais), um Mundial de Clubes, uma Supertaça Europeia, uma Premier, uma Taça de Inglaterra, duas Taças da Liga e uma Supertaça, o técnico alemão permitiu não só estabilizar o clube como ganhar outro fôlego em termos financeiros. No fundo, lançou as bases para o futuro a breve e a médio prazo. É nesse contexto que o Liverpool procura um sucessor, sabendo que nunca irá encontrar uma alternativa como Klopp nem alguém em ascensão que conhece a casa como Xabi Alonso. Rúben Amorim está na lista pelo perfil que foi traçado pelos responsáveis, que valorizam a identidade que consegue criar nas suas equipas, o lançamento de jovens jogadores, a proximidade com o grupo e boa comunicação. Roberto De Zerbi, italiano que lidera o Brighton, tem sido outro dos apontados ao cargo, tendo a vantagem de conhecer a Premier League. Julian Nagelsmann e Hansi Flick foram também ventilados para o cargo.

Rúben Amorim tem contrato com o Sporting e uma cláusula que é negociável

Rúben Amorim, que chegou ao Sporting em março de 2020 a troco de dez milhões de euros que acabaram por chegar a mais de 14 milhões entre polémicas com o Sp. Braga, renovou contrato com os leões no final do ano de 2022 até junho de 2026. Foi esse o último vínculo, é esse o vínculo que explica a ligação que existe entre o treinador e a administração verde e branca: mesmo naquela que estava a ser a pior época desde que tinha assumido o cargo, Frederico Varandas não teve dúvidas em relação a toda a confiança no projeto e à continuidade do técnico. Com uma estrutura muito simples, centrada sobretudo nas figuras de Varandas, Amorim e Hugo Viana e depois com apoio em várias áreas, todas as partes sentem-se realizadas.

Nesse último contrato, Rúben Amorim ficou com uma cláusula de rescisão de 20 milhões de euros em caso de saída para o estrangeiro e de 30 milhões se for para um clube português. Durante o fim de semana houve notícias que davam conta da possibilidade de saída só por dez milhões mas, segundo soube o Observador, o valor em causa não “existe”. Ou seja, fruto da relação próxima que existe todas as partes, como se viu no final da temporada de 2020/21 e na seguinte, o que há é uma espécie de compromisso tácito de que, havendo uma oferta que agrade o treinador e se considerar que chegou a hora de fechar o ciclo nos leões em busca de uma nova aventura, poderá haver conversações para baixar essa fasquia dos 20 milhões sem esquecer, da parte do clube, aquilo que Rúben Amorim custou e que haverá necessidade de encontrar um sucessor.

Não houve contactos diretos entre Liverpool e Amorim (que podem estar para breve)

Depois de ter entrado no comboio da “febre inglesa” pelas camadas jovens de equipas nacionais, numa era que fez com que vários jovens jogadores rumassem ao país (muitos sem especial sucesso), o Liverpool foi enraizando com o tempo as ligações com o futebol em Portugal a vários níveis. No atual plantel estão Diogo Jota, internacional que chegou do Wolverhampton em 2020, Darwin Núñez, uruguaio contratado ao Benfica no verão do ano passado, e Luis Díaz, colombiano adquirido ao FC Porto em janeiro de 2022 mas não só: Vítor Matos, antigo treinador adjunto da equipa dos dragões, reforçou a equipa técnica de Jürgen Klopp por sugestão de Pepijn Lijnders, neerlandês que também passou pelos azuis e brancos entre 2008 e 2014.

Há mais opções nacionais entre os alvos dos reds como Pedro Marques, ex-técnico da formação do Sporting que chegou a analista de desempenho do Manchester City, tornou-se depois diretor técnico da Academia do Benfica no Seixal e que pode agora reforçar os quadros do Liverpool. Esse processo já está a ser gerido por Michael Edwards, antigo CEO da formação de Anfield que saiu em 2022 mas que foi a primeira contratação feita pelo Fenway Sports Group para comandar a era pós-Klopp com o apoio de Richard Hughes, diretor do futebol contratado ao Bournemouth. É esta dupla que está a reformular todo o projeto incluindo a parte do novo treinador, sendo que os únicos contactos até agora com Rúben Amorim foram exploratórios e com representantes do técnico. Perante as indicações positivas, espera-se que Edwards e Hughes possam encontrar-se para uma entrevista com o português (como Todd Boehly procurou fazer no Chelsea, antes e depois da aposta em Graham Potter) e, confirmando-se o interesse, para falar depois de questões contratuais.

Vários nomes, um favorito e a conversa surpresa: dono do Chelsea terá falado com Rúben Amorim (e ficou impressionado)

Rúben Amorim e Sporting não farão mais comentários até ao final da temporada

Desde que Xabi Alonso assegurou a permanência no Bayer Leverkusen e a imprensa inglesa começou a falar de Rúben Amorim como a principal hipótese para suceder a Jürgen Klopp no comando do Liverpool a partir da próxima temporada, o técnico foi questionado em todos os aparecimentos públicos sobre o assunto. A seguir ao triunfo na Amadora com o Estrela, antes e depois do empate na Taça de Portugal com o Benfica, antes e depois da vitória no Campeonato com os encarnados. A partir de agora, por decisão do próprio, a resposta será sempre a mesma que deixou ainda na zona de entrevistas rápidas da SportTV no último jogo em Alvalade: “Não vou falar do meu futuro. Quero sempre responder às perguntas, mas já não tenho nada para dizer. Em vez de estar sempre a dizer a mesma coisa… Vou seguir em frente”.

“Quatro pontos de avanço? Um dia mau e fica-se com um.” Amorim é um homem satisfeito, mas não dá nada como garantido

Nos últimos tempos, Rúben Amorim foi colocando a questão da continuidade assente nos resultados, com o “peso” colocado em si mesmo de que se não ganhasse títulos estaria com o lugar em risco “porque o Sporting é um clube que tem de conquistar troféus”. Agora, as razões são outras. “Se consigo garantir que fico? Não, não consigo. O Sporting está a tratar do seu futuro e não vou voltar com a palavra atrás. Primeiro vamos ganhar os títulos e depois logo se vê. Estamos no bom caminho. O futuro está a ser tratado há muito tempo e estamos a delinear o que será”, disse antes do último dérbi. O impacto dessas declarações, numa análise feita em termos internos, terá sido maior do que se pensava (até porque a ideia já tinha sido expressa antes) e, como tal, por forma a não desviar o foco do essencial que passa por continuar com a série vitoriosa no Campeonato, ninguém dos leões pretende abordar o tema até ao final da época… pelo menos.

Rúben Amorim não vai forçar uma saída, Sporting não vai forçar uma permanência

A cúpula responsável pelo futebol do Sporting, com Frederico Varandas, Hugo Viana e Rúben Amorim logo à cabeça, tem uma ligação estreita e até de cumplicidade em muitos aspetos. Nem sempre foi assim em alguns momentos, sobretudo em determinadas janelas de mercado e perante vendas não pensadas. No entanto, e até aí, as partes trocaram argumentos, as questões ficaram sanadas e o projeto andou em frente. É este contexto que “garante” que não é o eventual aparecimento de uma proposta que vai mudar as ideias de todos.

“Se posso garantir que fico? Não consigo. Primeiro é ganhar títulos, depois logo se vê”, volta a apontar Rúben Amorim

Do lado de Amorim, existe quase uma dívida de gratidão ao Sporting e é por isso também que o treinador já garantiu que não irá forçar qualquer saída, até pela aposta “milionária” do clube quando estava ainda no início da carreira e pelas condições que encontrando em Alvalade. “Não me quero alongar muito sobre o meu futuro. Devo muito ao Sporting e o que tiver de acontecer, acontecerá, mas não passará por pressão para sair porque devo muito ao Sporting. Sou muito feliz aqui”, referiu. Do lado do Sporting, existe quase uma dívida de gratidão a Amorim não só pelo que conseguiu fazer a nível de títulos e lançamento de jovens talentos mas também pela maneira como sempre defendeu os leões com um discurso positivo no que toca a arbitragens e outros temas extra futebol mas também de aglutinação e empatia com os adeptos. É por isso que, caso chegue a proposta por um projeto que o técnico queira aceitar, não irá colocar obstáculos.