A jornalista chinesa Zhang Zhan anunciou esta quarta-feira ter sido libertada, após cumprir uma pena de quatro anos de prisão, por acusações ligadas à cobertura do surto inicial de covid-19 em Wuhan, no centro da China.

Num vídeo, Zhang disse que foi transportada pela polícia até à casa do irmão, Zhang Ju, em 13 de maio, dia em que terminou a sua sentença.

“Quero agradecer a todos pela vossa ajuda e preocupação”, disse a jornalista, que surge de pé no que parece ser o corredor de um prédio.

Zhang foi condenada por “provocar discussões e problemas”, uma acusação vaga frequentemente utilizada na China contra ativistas e dissidentes, e cumpriu a pena na íntegra.

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No entanto, no dia da sua libertação, os antigos advogados da jornalista não conseguiram contactá-la nem à sua família.

O vídeo foi publicado por Jane Wang, ativista estrangeira que lançou a campanha Free Zhang Zhan (“libertem Zhang Zhan”), no Reino Unido, e está em contacto com um dos antigos advogados de Zhang.

Wang acrescentou, em comunicado, que Zhang continua a ter liberdade limitada, sujeita a vigilância policial.

O Departamento de Estado dos EUA também emitiu uma declaração em que demonstrava preocupação com a situação de Zhang, nos dias que se seguiram à data prevista para a sua libertação.

Ren Quanniu, o advogado que representou Zhang antes de lhe ser retirada a licença, em fevereiro de 2021, disse que confirmou a veracidade do vídeo junto da família de Zhang.

Durante a sua detenção na Prisão Feminina de Xangai, no leste da China, Zhang fez uma greve de fome e foi hospitalizada, em 2021.

A sua família enfrentou pressão policial durante o seu encarceramento e os pais recusaram-se a falar com jornalistas.

Zhang foi uma das jornalistas independentes que viajaram para a cidade de Wuhan, no centro da China, depois de o governo ter colocado a cidade sob confinamento, em fevereiro de 2020, no início da pandemia de covid-19.

Zhang andou pela cidade para documentar a vida pública à medida que cresciam os receios sobre o novo coronavírus.

Outros jornalistas independentes cumpriram penas de prisão por terem documentado os primeiros dias da pandemia, incluindo Fang Bin, que publicou vídeos de hospitais sobrelotados de cadáveres durante o surto. Fang foi condenado a três anos de prisão e libertado em abril de 2023.

Chen Qiushi, um outro jornalista, desapareceu em fevereiro de 2020 enquanto filmava em Wuhan. Chen reapareceu em setembro de 2021, numa transmissão ao vivo de um amigo no portal YouTube, a dizer que estava a sofrer de depressão. Ele não forneceu pormenores sobre o seu desaparecimento.

O coronavírus continua a ser um tema sensível na China. Na primeira semana de maio, o cientista chinês que publicou pela primeira vez a sequência do vírus que causa a covid-19 protestou contra uma ordem de despejo do seu laboratório, após anos de despromoções e obstáculos.