Está marcada, para o próximo dia 7 de outubro, uma cerimónia oficial de homenagem ao aniversário do ataque do Hamas. A ministra dos Transportes israelita, Miri Regev, divulgou esta terça-feira que o evento terá lugar na cidade de Ofakim, no sul de Israel, uma das cidades que foi palco da invasão por grupos armados do Hamas em 2023. A cerimónia está envolta em controvérsia, com muitas comunidades israelitas e familiares de reféns em Gaza a recusar participar. Criticam diretamente a gestão do governo de Benjamin Netanyahu.

“O cenário da cerimónia é uma recordação do maior fracasso de sempre do Estado de Israel“, defendeu o kibutz Nir Oz através de um comunicado no qual que anuncia a não representação na cerimónia organizada pelo governo israelita e nota o facto de o primeiro-ministro israelita nunca ter visitado a cidade desde que o ataque do Hamas teve lugar.

“Enquanto enterramos os nossos mortos que foram assassinados no cativeiro do Hamas, não é surpreendente que o governo israelita e o seu chefe não tenham pedido aos membros do kibutz para participarem na cerimónia”, lê-se na declaração da comunidade que ainda tem 29 dos seus habitantes sequestrados em Gaza.

O Fórum das Famílias de Reféns e Desaparecidos também anunciou que não vai participar no evento estatal, citando o “fracasso retumbante” do governo em devolver as 104 pessoas ainda mantidas em cativeiro. Esta terça-feira um refém israelita foi resgatado pelas tropas israelitas de um túnel no sul da Faixa de Gaza. Qaid Farhan al-Qadi, de 52 anos, está numa “condição médica estável” segundo os primeiros relatos das Forças de Defesa de Israel (IDF).

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Os protestos contra o Governo israelita liderado por Benjamim Netanyahu têm juntado milhares de pessoas nas ruas de Telavive e noutras cidades israelitas. Muitas das manifestações são mesmo marcadas pelas organizações de familiares dos reféns, com o intuito de pressionar o governo israelita a chegar um acordo de cessar-fogo que permita o regresso a casa de quem ainda permanece em cativeiro.

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As comunidades dos kibutz de Yad Mordechai, Nirim, Be’eri e Kfar Aza, anunciaram o boicote ao evento nacional e revelaram, entretanto, que assinalariam o dia com cerimónias privadas. Denunciam o evento como politizado e acusam o governo de utilizá-lo para evitar assumir responsabilidade pela catástrofe e pelas suas consequências.

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Em abril, o chefe dos serviços secretos pertencentes às Forças de Defesa de Israel (IDF), o major-general Aharon Haliva, demitiu-se. Segundo se sabe, o responsável militar terá recebido, na madrugada de 7 de outubro, uma nota de que havia “certos sinais oriundos de Gaza” que indiciavam um ataque de larga escala do Hamas contra território israelita. Desvalorizou os avisos, pensando que seria um treino militar, e ficou incontactável nas horas seguintes.

Da parte do governo israelita a informação transmitida até agora é a de que o evento que pretende assinalar a data vai realizar-se inalterado mesmo com o boicote de familiares de reféns. “Não houve qualquer alteração no formato da cerimónia para o Estado de Israel e os seus cidadãos”, informou a ministra Miri Regev através de um comunicado citado pelo Times of Israel.