O secretário-geral da ONU insistiu esta quinta-feira na reforma das instituições internacionais, incluindo o Conselho de Segurança que “representa um mundo que já não existe” e cuja falta de legitimidade e ação contribuem para a “multiplicação de conflitos”.

“É importante reconhecermos que temos hoje ao nível global uma situação de injustiça e de desigualdade que não favorece a capacidade dos países em desenvolvimento, nomeadamente países como Timor-Leste, para poderem vencer a batalha do desenvolvimento”, afirmou António Guterres.

O secretário-geral da ONU, que está em Díli para participar nas celebrações dos 25 anos do referendo que levou à restauração da independência do país, pondo fim à ocupação indonésia, discursava num jantar em sua honra oferecido pelas autoridades timorenses.

“É por isso que no âmbito da Cimeira do Futuro, que vamos realizar dentro de alguns dias, nos vamos debater pela reforma das instituições internacionais, a começar pelo Conselho de Segurança que representa um mundo que já hoje não existe e cuja falta de legitimidade e de ação efetiva são em larga medida responsáveis pela multiplicação de conflitos em todo o mundo”, salientou António Guterres.

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O antigo primeiro-ministro português defendeu também uma reforma da “arquitetura financeira internacional” para “criar verdadeiras condições de igualdade para o desenvolvimento dos países, que como Timor-Leste necessitam de um ambiente internacional favorável ao seu progresso”.

“É fundamental compreendermos a necessidade de reformar e é fundamental compreendermos a necessidade de uma profunda solidariedade com povos como Timor-Leste para que possam depois de vencer a batalha da independência, e da democracia, vencer o desenvolvimento”, disse António Guterres.

No discurso, o secretário-geral da ONU prestou homenagem a 14 membros da organização, “todos timorenses”, que deram a “sua vida também pela independência do país” e recordou Sérgio Vieira de Mello um “mártir da defesa da liberdade e da democracia”.

Sérgio Vieira de Melo liderou a administração de transição das Nações Unidas em Timor-Leste entre 1999 e 2002 e foi morto, em 2003, num ataque terrorista no Iraque contra a sede local da ONU.

A realização do referendo que esta semana se assinala foi decidida entre Portugal e a Indonésia em 5 de maio de 1999, sob os auspícios da ONU, com a assinatura de três acordos, nomeadamente um sobre a questão de Timor-Leste, outro sobre a modalidade da consulta popular e um terceiro sobre segurança.

Em 30 de agosto de 1999, 344.580 das 446.666 pessoas registadas (433.576 em Timor-Leste e 13.090 nos centros no estrangeiro) escolheram a independência do país e consequentemente o fim da ocupação da Indonésia, que invadiu Timor-Leste em 07 de dezembro de 1975, apesar da violência perpetrada pelas milícias que apoiavam a integração.

Com o resultado do referendo, a Indonésia abandonou Timor-Leste, com as milícias pró-indonésias a deixarem um rasto de horror e violência, tendo entrado a autoridade de transição das Nações Unidas, que geriu o país até à restauração da independência, em 20 de maio de 2002.