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FRANCISCO ROMÃO PEREIRA/OBSERVA

FRANCISCO ROMÃO PEREIRA/OBSERVA

A noite agridoce da Iniciativa Liberal, que vai ficar à espera de uma chamada de Luís Montenegro

Os liberais falharam os objetivos, mas culpam o ADN. Esta noite houve um telefonema rápido com Montenegro, mas falta saber se haverá nova chamada. Muitos apontam para eleições em 6 meses. Rocha fica.

Para acompanhar esta noite eleitoral, a Iniciativa Liberal (IL) escolheu um sítio deslumbrante, uma sala envidraçada rodeada do verde de Monsanto (e da esperança, vá), palco habitual de muitos casamentos, já a preparar-se para o copo d’água que oficializaria a junção à AD para formar Governo. Mas afinal a boda foi meio estragada pelos resultados eleitorais: o casamento com a coligação liderada por Luís Montenegro ficou bastante incerto, por os liberais não conseguirem tornar-se suficientemente desejáveis aos olhos de mais eleitores; e os protagonistas do enlace da IL estiveram desaparecidos da sala da festa durante mais de quatro horas, a contar votos à espera de ver que declaração poderiam fazer.

Entre a cúpula dos liberais responsabiliza-se o ADN, partido de Bruno Fialho com um nome parecido com a coligação que juntou PSD, CDS e PPM. O próprio Rui Rocha se referiu a esse imbróglio no seu discurso: “O crescimento do ADN é uma marca desta eleição. Estaríamos num cenário diferente se não tivesse sido isso. E presumo que o crescimento é motivado por uma circunstância, e não por adesão ao partido, mas condiciona o resultado final.”

A cúpula da Iniciativa Liberal demorou quatro horas até se dirigir à sala para reagir às projeções e aos resultados

FRANCISCO ROMÃO PEREIRA/OBSERVA

O ADN não elegeu deputados, mas terá desviado votos suficientes para impedir a AD de conquistar mais uns quatro, o que já faria toda a diferença, porque poderia permitir que a coligação de Montenegro e o partido de Rui Rocha somados tivessem mais votos do que os partidos da esquerda (com o Chega de parte).

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Os “mínimos olímpicos”, o silêncio toda a noite e a conquista do deputado por Aveiro

Esses quatro deputados que o ADN pode ter impedido a AD de eleger são também a conta do fracasso da IL nos objetivos: Rui Rocha tinha apontado como meta eleitoral aumentar de 8 para 12 deputados e acabou por manter os mesmos 8. O resultado só não parece pior porque sempre tiveram mais 40 mil votos do que há dois anos. E porque elegeram pela primeira vez um representante em Aveiro (Mário Amorim Lopes, especialista em políticas de saúde), que acabou por compensar a perda do quarto deputado por Lisboa.

“Numa primeira resposta neste momento, sinto-me com enorme energia para continuar a defender as ideias liberais”
Rui Rocha, presidente da Iniciativa Liberal, dando a entender que continuará no cargo apesar de não terem sido atingidos os objetivos

Mesmo ficando muito aquém do objetivo eleitoral, fontes do partido dizem que se cumpriram “os mínimos olímpicos”, num contexto muito difícil, de potencial esmagamento entre a pressão do voto útil na AD e a explosão do voto de protesto no Chega, que quadruplicou a votação.

O receio dos resultados ficou demonstrado pela ausência de qualquer dirigente do partido a comentar as projeções apontadas pelas televisões às oito da noite. A quarta força política deixou o púlpito da sala vazio ao longo de quatro horas, preferindo a cautela do silêncio total à solução de pôr alguém a dizer coisas cautelosas. Chegou a ser anunciada uma declaração do vice-presidente e cabeça de lista por Lisboa, Bernardo Blanco, uma hora depois de já todos os outros partidos terem falado, mas acabou por haver um recuo.

A marcha de cem metros às escuras, mas com o apoio dos outros dirigentes

A cúpula do partido aguardava pela contagem dos votos num edifício à parte, longe dos cerca de 200 simpatizantes que iam aplaudindo, um por um, os deputados liberais que conseguiam garantir a eleição, à medida que iam sendo anunciados. Pela meia-noite, já depois de André Ventura ter falado, e enquanto discursava Pedro Nuno Santos, Rui Rocha saiu finalmente da sala, desceu para a rua onde já o aguardavam os dirigentes mais próximos, e percorreu os cerca de cem metros ao ar livre, até ao edifício onde estava os apoiantes.

Ao contrário do que acontece em festas de casamento político entre vencedores, o líder da Iniciativa Liberal fez esse caminho às escuras (o que emprestou um tom quase melancólico à marcha). Foi escoltado por dirigentes como Rodrigo Saraiva, Bernardo Blanco, Mariana Leitão e, claro, João Cotrim de Figueiredo, o anterior presidente que o apontou como sucessor. Todos o acompanharam quando foi aplaudido ao entrar na sala. Todos o apoiaram subindo para o palco para ficar atrás dele quando discursou. E todos sentiram o sabor agridoce da noite.

Havia três perguntas a que Rui Rocha teria de dar resposta:

  1. Iria assumir alguma responsabilidade política por não ter atingido os objetivos?
  2. Como ficava a eventual coligação com Montenegro?
  3. Que fazer com esta votação do Chega?

A primeira pergunta começou a ficar respondida quando foi oficializada a reeleição de Rui Rocha como deputado por Braga. Foi o segundo deputado a ser eleito a seguir a Carlos Guimarães Pinto, ao contrário do que sucedeu nas eleições de há dois anos, em que foi o último dos oito. E até teve um reforço da votação. O resto da resposta surgiu no discurso, ao enfatizar o tal aumento de 40 mil votos. E ao garantir: “Numa primeira resposta neste momento, sinto-me com enorme energia para continuar a defender as ideias liberais”. Os resultados poderão vir a ser questionados internamente, mas enquanto não houver cisões nos elementos próximos da direção é pouco provável que surja algum rival capaz de o destronar nas próximas semanas.

O telefonema a Montenegro. “Quem ganha tem de ponderar em que cenários se move”

A segunda pergunta, sobre cenários de governação, era de resposta mais difícil. Rui Rocha revelou que ligou ao líder da AD, depois de ter passado parte da campanha a desafiá-lo para responder em público: “Sim, já liguei ao Luís Montenegro, tive o cuidado de lhe transmitir pessoalmente os parabéns pela vitória que aparentemente a AD terá nestas eleições”. (A vitória da AD foi por menos de 1% de vantagem face a um PS desgastado).

Mas o telefonema foi tão rápido que não deu para ir além das palavras de circunstância, e menos ainda para se falar do futuro próximo. O líder da Iniciativa Liberal escudou-se na necessidade de apurar todos os resultados para se clarificarem os cenários possíveis, mas o partido não será suficiente para garantir que, com os seus oito deputados somados, a AD consegue mais votos do que os partidos da esquerda.

Rui Rocha, acompanhado no palco pelos dirigentes do partido, a discursar aos cerca de 200 simpatizantes

FRANCISCO ROMÃO PEREIRA/OBSERVA

Estas contas deixam a IL muito mais dependente de Luís Montenegro para manter relevância política e influenciar a governação. “Quem ganha as eleições tem de ponderar em que cenários se move, com a garantia de que a IL assumirá as suas responsabilidades se isso for desejado”, admitiu Rui Rocha.

“Se houver essa oportunidade cá estaremos para discutir, sempre numa perspetiva de trazer mais crescimento económico, mais prosperidade, mais crescimento social, disso não abdicamos, mas pondo sempre a estabilidade governativa e os portugueses em primeiro lugar. Nunca quisemos cargos, nunca estivemos à procura de mais nada que não fosse a prosperidade”, assegurou o presidente da IL.

"Falhou-se deliberadamente — foi a governação socialista. Se o país tivesse prosperidade, não estávamos com o descontentamento que é canalizado para as propostas populistas."
Rui Rocha a justificar o crescimento do Chega, que quase quadruplicou o número de deputados

De forma pragmática, a única esperança do partido para não ficar irrelevante é que o líder do PSD queira aumentar a base de legitimidade política, juntando o quarto partido mais votado na solução a apresentar a Marcelo Rebelo de Sousa. Mas precisará sempre da cumplicidade do PS ou do Chega para conseguir viabilizar um Orçamento.

Alguns dirigentes da Iniciativa Liberal ouvidos pelo Observador acreditam que os próximos dias serão marcados por intensos contactos políticos, para ajudar a definir o quadro de governação. Mas muitos vaticinam já novas eleições para daqui a seis meses, tal a incerteza e a fragilidade política de qualquer solução de governo que aí venha.

As culpas pela explosão do voto de protesto

A questão do Chega foi arrumada por Rui Rocha pondo as culpas no PS: “Falhou-se deliberadamente — foi a governação socialista. Se o país tivesse prosperidade, não estávamos com o descontentamento que é canalizado para as propostas populistas.” Noutro momento disse: “A única forma de combater populismos é com bons governos, que tratam e se preocupam com as suas populações”. E frisou que a IL “fez campanha pela positiva, apresentando soluções, nunca hostilizando portugueses”.

O líder dos liberais voltou a excluir entendimentos com o Chega e reafirmou a sua confiança no “não é não” de Montenegro. Diz que não procurará discutir cargos, preferindo recordar as dez propostas que entregou ao líder do PSD para um possível entendimento. Mas reconhece que é agora Luís Montenegro quem tem de decidir como vai formar Governo. O que deixa a Iniciativa Liberal num limbo entre ainda ser chamada a ser parte da solução ou ficar na oposição, prometendo em qualquer caso agir de forma responsável.

The President of the Liberal Initiative (IL) Rui Rocha holds a press conference during the election night of the legislative elections 2024 at Party headquarters in Lisbon, Portugal, 11 March 2024. More than 10.8 million Portuguese are expected to vote to elect 230 deputies to the Portuguese Parliament. Eighteen political forces (15 parties and three coalitions) are running in these elections. JOSE SENA GOULAO/LUSA

O presidente da IL revelou que fez um telefonema a Luís Montenegro para lhe dar os parabéns. Mas não se falou dos cenários de governação

JOSE SENA GOULAO/LUSA

Perante tanta incerteza, a possibilidade de ir novamente a eleições ainda este ano com o mesmo líder coloca a Iniciativa Liberal perante vários dilemas. A ideia de que haveria uma mudança de ciclo político vingou afinal por menos de 1%. O partido passou parte significativa da campanha a dividir ataques entre o PS (pelos erros no poder) e a AD (para responder à pressão do voto útil e vincar que a IL é que faria diferença na futura coligação de governo, por defender mudanças a uma velocidade maior).

A ameaça do Chega acabou por ser subestimada — e só nas últimas horas da campanha é que a Iniciativa Liberal tentou captar algum desse voto de protesto, usando o argumento de o Chega não contar para nenhuma solução governativa. Se houver novas eleições no imediato, a repetição da estratégia pode não ser suficiente para fazer crescer os resultados do partido. Mas para já a cúpula da IL vai estar atenta ao telefone, para ver que mensagens recebe (se receber) do líder do PSD.

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