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Durante dois meses, Christian Brueckner passou os dias a escavar uma cave dentro de um barracão, uma espécie de celeiro, que alugara nos arredores de Braunschweig, na Alemanha. Foi nesta propriedade — diferente daquela que foi alvo de buscas esta semana e onde também foi encontrada uma cave secreta — que aquele que é agora o principal suspeito do desaparecimento de Madeleine McCann viveu entre outubro de 2013 e abril de 2016, segundo o jornal alemão Bild. Os vizinhos que assistiram aos trabalhos estimam que a cave tenha mais de três metros de profundidade e seis de largura. “Escavou um grande buraco. Ele pegava nas pedras e na terra com a mão e atirava para a frente da casa”, disse um deles ao Daily Mail. No final, terá coberto a cave com tábuas de madeira.
Na altura em que alugou a propriedade à associação de jardinagem que a detinha, Brueckner geria um quiosque naquela cidade. Costumava visitar o barracão especialmente aos fins-de-semana: por vezes acompanhado pela namorada, com quem fazia jardinagem, outras vezes por um amigo com quem chegou a passar ali uma noite, lembram os vizinhos. O presidente da associação, Jürgen Krumstroh, recorda-o como uma pessoa “amigável” e “discreta”, mas não esquece a sua partida abrupta e “estranha”. “Ele avisou-me de manhã e depois foi-se logo embora”, disse ao Bild.
O celeiro foi alugado logo de seguida e atualmente está ocupado por outra pessoa. Quando no início de junho deste ano, as autoridades de Portugal, Reino Unido e Alemanha anunciaram que havia um novo suspeito no desaparecimento da criança britânica, da Praia da Luz, no Algarve, em 2007, vizinhos, antigos e atuais inquilinos reconheceram-no imediatamente. Mais: pediram à polícia que se deslocasse até ali para averiguar a propriedade. “Temo que possa estar a dormir em cima do corpo de Madeleine McCann“, disse ao Daily Mail a atual arrendatária.
O apelo dos moradores pareceu tornar-se mais perto de se concretizar quando, na terça-feira, a polícia alemã começou a fazer buscas numa outra propriedade, em Hannover — também alugada por Brueckner uns anos antes, no verão de 2007, e onde também havia uma cave. Esperam agora que, terminadas as operações naquele local, a investigação foque as atenções neste barracão em Braunschweig. Mas, até agora, a polícia ainda não apareceu.
Quem é o homem que a polícia alemã acredita que terá matado Madeleine McCann?
Coincidência ou algo mais? A verdade é que mais de 50 quilómetros separam estas duas propriedades, mas muitos dados as aproximam: foram ambas alugadas por Brueckner e nas duas existe uma cave — uma delas já foi vasculhada pela polícia que recusa desvendar o que lá encontrou e se o que encontrou aproxima a investigação de desvendar o mistério do caso Maddie. O gabinete da Procuradoria de Braunschweig, que está a conduzir a investigação, continua em silêncio. Por isso mesmo, muitas perguntas permanecem sem resposta.
Do saco de roupa à lona, polícia recolheu objetos da cave e enviou para análise, mas continua em silêncio
Munida de maquinaria pesada, a polícia alemã entrou na primeira propriedade — um terreno com um casebre demolido — localizada entre Hanover-Ahlem e Seelze-Letter na terça-feira pela manhã. Retro-escavadoras, pás, ancinhos, cães pisteiros — treinados para detetar vestígios de sangue e odor de cadáver — e dezenas de polícias e outros elementos montaram um dispositivo e começaram a fazer escavações. Passaram o terreno a pente fino.
Logo nesse dia, o Ministério Público alemão confirmou ao Observador que as buscas estava relacionadas com o desaparecimento da criança britânica, mas a porta-voz da procuradoria de Braunschweig, Julia Meyer, recusou no entanto adiantar mais detalhes sobre a investigação.
Na quarta-feira e depois de um dia em que a polícia apenas retirou destroços do casebre demolido, uma descoberta importante nas buscas trouxe esperanças à investigação: a base de cimento em cima da qual estava construído o casebre escondia uma cave que os jornais ingleses apelidaram de “secreta”. O Departamento Federal de Polícia Criminal da Alemanha apressou-se a bloquear o espaço aéreo da zona de buscas a drones e helicópteros de forma a evitar que alguém visse o que é que fosse. Até porque já tinha sido montado um perímetro em redor do terreno que impedia ver o seu interior.
As buscas terminaram nessa quarta-feira. A polícia e a procuradoria recusam revelar o que encontraram e se os vestígios recolhidos são ou não relevantes para a investigação. O tablóide Daily Mail revelou entretanto alguns dos objetos detetados pelos investigadores da polícia alemã: um balde azul, um saco com roupa suja, um vaso de plantas, uma lona, um saco tipo mochila, tábuas de madeira, barras de ferro, tubos de plástico, um tronco de uma árvore, entre outros materiais de jardinagem. Certo é que tudo o que foi recolhido está agora em análise, segundo o Bild — poderá ser este o motivo pelo qual a polícia se mantém em silêncio, preferindo aguardar primeiro pelos resultados.
Brueckner terá alugado a casa no verão após o desaparecimento de Maddie
Um vizinho do terreno alvo das buscas disse à BBC que Brueckner chegou àquela cidade no ano em que Maddie desapareceu e alugou a propriedade durante alguns meses, entre a primavera e o verão. O suspeito ter-lhe-á dito que queria isolar-se no casebre que ali existia, construído numa base de cimento existente no terreno — debaixo do qual, sabe-se agora, havia a cave. O vizinho adiantou ainda que foi de férias em julho de 2007 e quando voltou em Agosto, o casebre já tinha sido demolido e nunca mais viu o homem.
Não se sabe ao certo o que é que Brueckner estava a fazer em Hannover e o porquê de ter alugado estes terrenos e os casebres neles existentes. Durante esse período e nos anos que se seguiram — incluindo aqueles em que o suspeito arrendou a outra propriedade em Braunschweig — terá gerido um quiosque em Hannover, segundo avançam alguns jornais, que detalham também que vivia numa propriedade não muito longe daquela que foi alvo das buscas. No entanto, o jornal Bild escreve que Brueckner disse aos vizinhos que trabalhava numa oficina não muito longe do terreno.
No início de junho deste ano, as autoridades de Portugal, Reino Unido e Alemanha anunciaram que o caso Maddie — a menina britânica que desapareceu em 2007 quando passava férias com os pais no Algarve — tinha um novo suspeito. Tratava-se de Christian Brueckner, de 43 anos, que residiu em Portugal entre 1996 e 2007, e que agora se encontra preso na Alemanha. O registo criminal do alemão conta com, pelo menos, 17 entradas por crimes cometidos ao longo de mais de 16 anos, segundo documentos de tribunais alemães e portugueses consultados pelo Observador. Na altura, as autoridades lançaram um apelo com um número de telefone para conseguirem mais informações sobre dois números de telemóvel portugueses e duas viaturas que seriam usadas pelo suspeito na zona da Praia da Luz.
O novo suspeito veio trazer novamente ao de cima um dos desaparecimentos mais mediáticos e misteriosos de sempre, cuja investigação nunca foi fechada até hoje. A investigação acredita que a criança está morta e foi Christian Brueckner que a matou. A descoberta deste terreno pode ou não ter sido um avanço importante: o resultado das análises aos vestígios recolhidos poderá confirmá-lo. É o que a investigação espera até porque tudo indica que a polícia não voltará ao terreno: a cave foi tapada com areia de forma a que ninguém entre.