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Um dos corredores do Hospital Santa Maria, em Lisboa, 18 de maio de 2021. Após várias transformações para dar resposta a milhares de doentes com covid-19, o Hospital Santa Maria, em Lisboa, regressou à normalidade com corredores cheios de utentes para ir a uma consulta externa, fazer exames ou mesmo uma cirurgia. (ACOMPANHA TEXTO DO DIA 21 DE MAIO DE 2021) JOÃO RELVAS/LUSA
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Este inverno há diversos vírus a circular, além do que provoca Covid-19, que causam doença respiratória

João Relvas/LUSA

Este inverno há diversos vírus a circular, além do que provoca Covid-19, que causam doença respiratória

João Relvas/LUSA

A tripla ameaça: Covid-19, gripe e infeções respiratórias. O que são e o que fazem os vírus que estão a entupir os hospitais?

SARS-CoV-2, Influenza e Vírus Sincicial Respiratório: os três agentes infecciosos estão a atacar em força e espera-se uma maior pressão sobre o SNS. Todas as respostas sobre o que se passa.

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Uma pulseira amarela (urgente) não deve esperar mais de 60 minutos até ser atendida na urgência de um hospital. Na terça-feira passada, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, bastava consultar o portal do SNS para perceber que estes doentes chegavam a aguardar 14 horas até serem vistos por um médico. A situação foi explicada pela administração hospitalar com a chegada de muitos casos complexos ao mesmo tempo, inclusive de outras regiões, obrigando a diagnósticos diferenciados e múltiplos exames.

A ocasião foi aproveitada para relembrar a importância de só se deslocar às urgências quem realmente precisa, apelo que o Governo voltou a fazer nesta quinta-feira, após o Conselho de Ministros, e depois de ter apresentado, na véspera, o plano de ataque para o inverno.

Um dos motivos que explica a afluência acima do normal nos hospitais da Grande Lisboa, mas que com a chegada do inverno poderá replicar-se por unidades de saúde em todo o país, é aquela que tem sido chamada de tripla pandemia: a circulação, em simultâneo, de vários vírus que provocam doença respiratória. A consequência imediata é mais pessoas afetadas a procurar ajuda médica junto do SNS, congestionando os serviços.

Governo está a acompanhar situação nas urgências e pede recurso dos cidadãos ao SNS24

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O que é a tripla pandemia de que tanta gente fala?

O termo tem sido usado por todo o mundo, mas em Portugal foi o pneumologista Filipe Froes o primeiro a usá-lo na imprensa. Em novembro, alertava para a hipótese de o país assistir a uma tripla pandemia com a circulação simultânea dos vírus da Covid-19, da gripe e ainda do vírus sincicial respiratório (VSR). Na sua opinião, este cenário trará mais contágios, casos graves e mortes.

“Não anda aí nada de novo”, diz ao Observador o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP). “O que há de novo é a junção, ao mesmo tempo, destes três vírus diferentes quase sem barreiras”, esclarece Gustavo Tato Borges. Nos últimos dois anos o vírus da gripe não circulou, mas até 2019 era a principal causa de problemas respiratórios, enquanto que o VSR também o era, mas nas crianças, explica o médico.

Inverno pode trazer uma “pandemia tripla” e máscara deve regressar, diz médico Filipe Froes

Fui à procura na Wikipedia e não encontrei esse nome na lista das epidemias. Será fake news?

Não é mentira, mas também não é um vocábulo que se encontre no dicionário. “Não há uma definição científica para este termo, mas refere-se à colisão do vírus respiratório sincicial (VRS), à gripe e à Covid-19, que podem assoberbar os serviços de urgência hospitalares”, explica Francisco Antunes, especialista em doenças infecciosas e medicina tropical, ao Observador. Essa ideia de o SNS não ser capaz de resistir a demasiados casos de uma só vez é o que dá a este inverno o toque de pandemia.

Covid-19, gripe e VSR. São vírus, bactérias ou outra coisa?

Vamos por partes. Covid-19 é uma doença, tal como a gripe sazonal. Já o VSR, a sigla de vírus sincicial respiratório, é (como o nome revela sem qualquer suspense) um vírus. Tem a capacidade de causar doenças respiratórias, como resfriados, bronquites e sinusite, além de outras.

A Covid-19, que causou uma pandemia mundial nos invernos mais recentes, é provocada por um tipo de coronavírus, o SARS-CoV-2. Já a gripe sazonal é a doença provocado pelo Influenzavírus — seja o A, o B ou o C, sendo este último o mais raro. Em qualquer dos casos, VSR incluído, trata-se de vírus de RNA (ácido ribonucleico) em oposição ao demais vírus, que são de DNA.

Vaccination presidium at Museum of Science and Technology Leonardo da Vinci

O conselho dos médicos é que quem for elegível se vacine contra a Covid-19 e a gripe

Mondadori Portfolio via Getty Im

Mas são novos ou já os conhecíamos?

O único que levava adjetivo antes do nome era o “novo coronavírus”, ou seja, o SARS-CoV-2, que provoca a Covid-19. Foi descoberto no final de 2019 — daí o algarismo que surge a seguir ao nome da doença, Covid-19 —, e criou a pandemia global mais recente da história da Humanidade. Está longe de ser o único coronavírus conhecido e a banal constipação também é provocada por um vírus da sua família.

A gripe, depois de centenas de anos de epidemias fatais como as da peste, da varíola ou da cólera, foi responsável por milhões de mortes em todo o mundo. A sua pandemia mais conhecida, a da Gripe Espanhola de 1918, foi causada pelo Influenzavírus A, subtipo H1N1, o mesmo que voltou a causar uma epidemia em 2009, a da Gripe Suína. Antes disso, em 2004, o subtipo H5N1 (também Influenzavírus A) tinha provocado a Gripe das Aves.

Não fosse o SARS-CoV-2 e poderíamos dizer que o vírus sincicial respiratório é relativamente novo, em comparação com a data de aparecimento de outros agentes. Foi descoberto em 1956, depois de um surto numa colónia de chimpanzés que estava a ser usada para testar vacinas contra a tuberculose. Começou por se chamar Agente da Coriza do Chimpanzé, mas depois de ter sido inoculado em mais animais para se perceber como se replicava, acabou por dar um salto zoonótico (do animal para o homem) e infetou um dos membros da equipa. Vários bebés que viviam nas proximidades da colónia apresentaram sinais de um vírus nunca antes detetado e a Coriza do Chimpanzé passou a ser conhecido como VSR.

Ouça aqui o episódio do podcast “A História do Dia” sobre esta tripla ameaça. 

A tripla epidemia que está sobrecarregar os hospitais

Então o que é que mudou neste ano?

Em relação aos últimos anos, há duas grandes diferenças. Com o advento do vírus da Covid-19, os outros vírus que causam doença respiratória desapareceram e Portugal teve uma época gripal sem casos relatados de doença. Esse cenário chegou ao fim e os vírus estão a reaparecer. Por outro lado, com o fim das medidas de contenção do SARS-CoV-2 este será o primeiro inverno em que Influenzavírus e VSR podem circular livremente.

“Até agora isto nunca aconteceu”, argumenta Tato Borges. “É o primeiro inverno em que vão circular em conjunto sem nenhuma barreira, porque já não há uso obrigatório de máscaras, já não há teletrabalho nem telescola.” Por isso, a sua expectativa — e que já se começa a sentir nas unidades de saúde — é que se assista a um maior número de pessoas a precisar de recorrer ao Serviço Nacional de Saúde.

Francisco Antunes dá outro exemplo. “Se bem que os três vírus estejam já presentes em circulação na população, a sua dinâmica é diferente – o que se está a verificar é um aumento recorde de VRS nas crianças (em regra o pico é em dezembro ou janeiro), tendo aparecido mais cedo este ano. No entanto, o SARS-CoV-2 é, ainda, o vírus mais prevalente em circulação, enquanto o VRS e o vírus da gripe estão com tendência para aumentar.”

Quais são os sintomas?

A grande dificuldade de distinguir entre as três infeções deve-se ao facto de os sintomas serem semelhantes. A tosse, as dores corporais e as dificuldades respiratórias são comuns a todos. Febre também pode surgir em qualquer um dos casos, tal como secreções nasais.

Diferente é a forma de ser infetado. “SARS-CoV-2 é uma doença respiratória transmitida fundamentalmente pelo ar, enquanto que VSR transmite-se, essencialmente, pelas superfícies contaminadas, pelo que a lavagem das mãos e a limpeza das superfícies são ainda mais importantes para o VSR do que para a Covid-19. Quanto à gripe, propaga-se através das gotículas respiratórias, aerossóis e superfícies contaminadas, pelo que a etiqueta respiratória é fundamental – tossir para um lenço de papel descartável”, explica o especialista em doenças infecciosas e medicina tropical Francisco Antunes ao Observador.

A melhor forma de prevenção para as três doenças, explica o médico, é manter distanciamento daqueles que estão doentes. “Se estiver doente ou se o seu filho estiver com uma doença respiratória, o melhor é afastar-se dos outros até melhorar. As mães com bebés, especialmente recém-nascidos, devem ser cuidadosas nas visitas, em especial nos dois primeiros meses de vida da criança, apenas deixando aproximar-se do seu bebé aqueles que tenham as mãos lavadas e que estejam sem sintomas respiratórios.”

Se vou espirrar com qualquer um deles, como é que distingo uns dos outros?

“Os sintomas destas três doenças respiratórias víricas são semelhantes, o que torna difícil saber qual delas está em causa”, explica o professor jubilado Francisco Antunes. Para a maioria dos casos, argumenta o médico infectologista, “a única forma de se saber qual(is) deles é(são) responsável(is) pelo quadro clínico respiratório é recorrer a um teste laboratorial, numa amostra de secreções respiratórias colhidas por zaragatoa nasal”.

A infeção simultânea, embora rara, não é impossível.

9 year old boy having temperature taken, during covid-19 test

A febre é um sintoma comum aos três vírus

peter dazeley

Pelo sim, pelo não, devia fazer um teste à Covid-19?

Se quer ter certeza de qual foi o vírus que lhe causou a doença terá mesmo de fazer um teste laboratorial, mediante prescrição médica. Mas valerá a pena, numa altura em que ter Covid já não é sinónimo de isolamento? “Em termos de epidemiologia, é bastante importante fazer o teste”, defende Tato Borges, explicando que, com a mesma amostra, reconhecem-se os diferentes vírus e é possível saber quais andam em circulação.

em termos práticos, “não é tão significativo”, defende o médico de saúde pública. Como os sintomas são semelhantes, não há vantagem em fazer um teste se a doença for ligeira, porque o mais importante é tratar os sintomas, seja qual for o vírus que os motivou. “Se os sintomas forem mais fortes, se houver necessidade de observação médica ou de internamento, aí o teste já será importante para poder fazer escolhas na medicação.”

Francisco Antunes vê o teste também como forma de proteção. “Faça um teste rápido antes de entrar numa festa de Natal ou de Ano Novo. Se todos o fizerem, a segurança é maior.”

E devo vacinar-me? Sempre que leva a vacina da gripe, a minha tia-avó fica constipada no dia seguinte

É verdade que há pessoas que sentem sintomas gripais depois de serem vacinadas, algo que também faz parte do rol de efeitos secundários das vacinas contra a Covid-19. No entanto, a vacinação é, na opinião de todos os especialistas ouvidos pelo Observador, a melhor forma de se proteger.

“É fundamental que as pessoas selecionadas sejam vacinadas contra a gripe e a Covid-19”, defende o bastonário da Ordem dos Médicos. Ao Observador, Miguel Guimarães recorda que a vacinação é fundamental para evitar e minimizar a doença grave. “Além disso, em relação à gripe, hoje em dia já temos a vacina tetravalente que protege contra quatro estirpes diferentes. A cobertura é maior e é mais eficaz que as vacinas do passado”, refere.

Para que o inverno corra bem, sem sobressaltos de maior no SNS, o bastonário dos Médicos diz ser fundamental começar de imediato os processos de vacinação. “Ajuda a minimizar os efeitos do inverno e a reduzir os internamentos.”

Covid-19. Maiores de 65 anos já podem vacinar-se em regime “casa aberta”

Se suspeitar de que estou doente, devo ir para as urgências?

Salvo raras exceções, ir para as urgências de um hospital é a última coisa que deve fazer se estiver com sintomas de doença respiratória. “Há situações críticas, como traumatismos de alguma dimensão, um enfarte agudo miocárdio, um acidente vascular cerebral (AVC) e mais duas ou três situações em que é absolutamente necessário ir para as urgências”, esclarece o bastonário dos Médicos. Na maioria dos casos, o doente pode ser atendido num centro de saúde.

“É um apelo forte: as pessoas devem saber quando devem, ou não devem, ir às urgências, e quando devem ir a um centro de saúde.” Para isso, Miguel Guimarães defende ser necessário apostar numa campanha de literacia de saúde, para que a população esteja informada. Os frutos não se colhem de imediato, mas o bastonário acredita que poderiam mudar a forma como os portugueses se relacionam com as urgências hospitalares.

Ouça aqui o Resposta Pronta da Rádio Observador sobre o uso excessivo das urgências

Longos tempos de espera nos hospitais? “Uso excessivo das Urgências”

Dito dessa forma… então o melhor é nunca ir ao hospital?

Nem oito nem oitenta, como explica Tato Borges. “Só devemos ir às urgências quando há necessidade, assim como só devemos ligar o 112 se for uma emergência”, mas existe um comportamento oposto que não pode ser ignorado.

“É importante ter a noção de que não posso ficar em casa para sempre, com sintomas. Há pessoas que vão negligenciando a procura de cuidados médicos e quando chegam às urgências vão numa situação muito mais grave do que se tivessem ido mais cedo”, sustenta o médico de saúde pública. “Não podemos passar por uma pandemia e ficar iguais. Temos de ser melhores e mais preventivos na doença.”

PSD preocupado com “situação caótica” nas urgências do hospital de Évora

Se o hospital não é a solução, então ligo a quem?

A linha Saúde 24 continua a ser a porta de entrada para o SNS, recorda Tato Borges, e essa deve ser sempre uma primeira opção. Outra alternativa, se tiver médico de família, é entrar em contacto com ele.

Esta quinta-feira, no briefing do Conselho de Ministros, a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, disse exatamente isso: a linha SNS24 “deve ser sempre um recurso à disposição dos cidadãos e é uma porta de entrada privilegiada no sistema”.

Além de usar os telefones, Miguel Guimarães lembra que a maioria das pessoas pode ficar em casa, sem necessidade de recorrer a um médico para tratar uma gripe ou constipação. Porém, a febre alta e a persistência de sintomas são sinais de alertas, recorda o bastonário. “Para ir mais longe, para termos invernos em paz, é preciso um programa nacional de literacia em saúde, para as pessoas perceberem a necessidade do exercício físico, da nutrição, e para aprenderem a usar corretamente o SNS.” Para isso ser possível, Miguel Guimarães gostava de ver 3 a 3,5% do orçamento da Saúde investido em prevenção.

Urgências no Hospital de Santa Maria. Tempos de espera estão a “normalizar”

“Se dominarmos a carga de doença em Portugal é óbvio que vamos gastar menos em saúde. Apostar nas cidades que caminham — e os arquitetos e os engenheiros são muito importantes para isso — ou combater as desigualdades sociais na saúde, diminuir a pobreza… Tudo isso muda o perfil do SNS que precisamos”, conclui o bastonário.

The Coronavirus In Germany: August 2020

Só com um teste laboratorial é possível distinguir qual dos vírus infetou um doente

2020 Getty Images

Mas a linha SNS24 funciona?

Na opinião do bastonário dos Médicos, não funciona como devia e continua a encaminhar demasiadas pessoas para as urgências, “muitas são pulseiras verdes”, que deviam seguir antes para os cuidados de saúde primários. Há culpas a apontar? “Quem trabalha na linha segue os protocolos. Está na hora de rever, no imediato, os protocolos que são seguidos”, diz Miguel Guimarães.

O bastonário gostaria de ver, por exemplo, criada uma linha verde entre hospitais e centros de saúde, que pusesse médicos a falar com médicos, já que poderia evitar idas desnecessárias às urgências.

A minha sogra diz sempre que mais vale beber um chá. É verdade?

Chá, líquidos e antipiréticos para baixar a febre e aliviar as dores de corpo são a forma mais habitual de lidar com as doenças típicas de inverno. “Se tivermos sintomas e conseguirmos minimizá-los com um chá, com um Ben-u-ron, ótimo. Se passar tudo assim, ótimo”, diz Tato Borges, lembrando a importância do chá para humedecer as cordas vocais e para manter o corpo hidratado durante a doença. Se a receita tradicional não for suficiente, unidades de saúde familiar e linha de Saúde 24 são o caminho a seguir.

Entre mim, os meus filhos e os meus pais, quem tem maior probabilidade de ficar infetado?

O VSR é uma doença mais comum nas crianças, embora possa infetar pessoas idosas e com comorbilidades. Já na gripe e na Covid-19, a probabilidade de ficar doente aumenta com a idade, assim como com a pré-existência de outras doenças.

“VSR é uma infeção respiratória comum, semelhante à constipação, e muito contagiosa. Em regra, as crianças adquirem a infeção ao 2.º ano de vida (até aí estão protegidas pela imunidade que lhes foi transmitida pelas mães), desenvolvendo, de seguida, imunidade que torna os casos futuros menos problemáticos”, explica o especialista em doenças infecciosas e medicina tropical Francisco Antunes. Quer as crianças, quer os adultos recuperam em uma a duas semanas. As crianças com menos de dois anos de idade têm maior risco de hospitalização, acrescenta o professor jubilado da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, mas a maioria não necessita de internamento. “No entanto, além das crianças com menos de dois anos, as situações mais graves ocorrem em idosos, em particular naqueles com doenças crónicas, como é o caso das doenças cardíacas.”

Há alguma forma de evitar que as crianças apanhem o VSR?

Devido às precauções com a Covid-19, as crianças não foram expostas ao VRS nos últimos anos, frisa Francisco Antunes. Agora, com o levantamento das restrições, muitas delas irão ser infetadas. “A boa notícia é que o VRS não é um vírus novo e sabe-se como lidar com a doença. Por outro lado, como as infeções por este vírus começaram muito mais cedo do que o habitual, a esperança é de que o número de casos comece a diminuir mais cedo, antes do aumento dos casos causados pelo vírus da gripe.”

Apesar de não haver vacina, o especialista em doenças infecciosas refere que as crianças prematuras ou com doenças de base que as coloquem em risco de doença grave podem beneficiar da administração de um anticorpo monoclonal contra o VRS (palivizumabe).

Neonatology

VSR afeta essencialmente crianças nos primeiros anos de vida

Universal Images Group via Getty

O SNS está preparado para lidar com esta situação?

“O SNS aprendeu muito com a pandemia da Covid. Os hospitais estão preparados para receber mais camas, os cuidados primários estão a adaptar-se para poder ter mais consultas abertas”, acredita Tato Borges.

O problema, defende o médico, é outro. “A capacidade elástica de pessoas disponíveis para fazer horas extra está a terminar, já que a maioria dos profissionais completaram as 150 horas extras que a lei lhes permite fazer.” Em janeiro, esse valor volta à estaca zero e, como o pico dos internamentos costuma ser em janeiro e fevereiro, é previsível que “na hora de maior necessidade” se possa, de novo, voltar a recorrer às horas extras.

“Até ao final do ano, vamos ter de fazer um esforço”, acrescenta Tato Borges. “É necessário que a população perceba que o SNS não é uma pastilha elástica. É uma refeição que tem de ser degustada com parcimónia, para haver para todos. Temos de ajudar o SNS e mudar o comportamento”, nomeadamente nas idas às urgências sem necessidade.

As urgências estão sempre com problemas. Vão mesmo dar conta do recado?

Aumentar recursos humanos e prolongar horários de algumas unidades de saúde familiar poderia ser a solução para evitar o congestionamento dos hospitais, sugere o bastonário dos Médicos.

“Os anos anos passam, os problemas persistem. No inverno, a situação é sempre mais crítica e, este ano, temos um extra: a Covid-19 continua, a gripe está a entrar em força e mais cedo do que o costume”, sublinha Miguel Guimarães. “Os serviços vão ter dificuldades, os hospitais para onde vão maior número de referenciados vão ter problemas. Haverá picos, com altos e baixos. É assim todos os anos. Quanto mais os hospitais dependerem de prestações externas, mais vão sofrer.”

E o Governo? Está a fazer alguma coisa para preparar o inverno?

Na quarta-feira, o ministro da Saúde apresentou o plano de inverno, que surge depois da reunião com peritos, a 11 de novembro, no Infarmed. O objetivo de Manuel Pizarro é preparar a resposta do Serviço Nacional de Saúde para os meses que se aproximam. Entre outras medidas, o portal do SNS passa a ter disponível no site a informação sobre quais os centros de saúde abertos estão durante mais horas.

“Já é tarde”, critica Miguel Guimarães. “O senhor ministro anunciou um plano de inverno, mas a DGS já tinha feito um, para o qual a Ordem dos Médicos tinha feito algumas recomendações. A pergunta do bastonário é o que aconteceu a esse documento, apresentado a 22 de outubro. “O plano não era suficiente ou não saiu do papel?”

Na opinião do bastonário, a resposta imediata e definitiva passa por começar a fazer as alterações estruturais necessárias ao SNS. “Vai sempre haver mais doentes no inverno, o que é preciso é que esse aumento não coloque em causa o seu atendimento.” Para isso, insiste, é preciso reforço do capital humano e nos cuidados de saúde primários para que os doentes não urgentes tenham uma alternativa às urgências em pelo menos uma unidade por Agrupamento de Centros de Saúde (ACES).

O que diz este plano de inverno?

Além da nova informação no portal do SNS, o plano de inverno prevê apoio de telesaúde para os profissionais que trabalham com idosos em instituições. Assim, espera-se evitar deslocações desnecessárias às urgências, permitindo que alguns dos problemas sejam resolvidos nas próprias instituições de acolhimento.

Nos hospitais, está previsto criar equipas de coordenação de vagas a quem caberá gerir as camas disponíveis em tempo real e o ministro falou ainda da criação de uma via verde — semelhante à ideia de Miguel Guimarães — que liga hospitais e centros de saúde para fazer referenciação rápida dos casos mais graves.

“O plano estratégico é um bom princípio e podem ser sempre adicionados detalhes se fizerem falta. Mas o plano é um plano. O que espero é que seja concretizado”, conclui o bastonário dos Médicos.

Portal do SNS vai ter informação atualizada sobre centros de saúde com horários alargados

Vou ter de voltar a usar máscara em todo o lado?

Nada indicia, por agora, que o uso de máscara volte a ser obrigatório — neste momento, o uso é recomendado pela DGS para quem manifeste sintomas de infeção respiratória. Tato Borges prefere colocar a questão de outra forma: “Devíamos manter sempre o uso de máscara, mesmo que ele não seja obrigatório, quando temos sintomas de doença respiratória, seja ela qual for.”

E tossir para o cotovelo? Continua a ser essa a etiqueta?

Todas as regras aprendidas durante a pandemia não deviam ser esquecidas, acrescenta o médico de saúde pública. “A lavagem das mãos, a etiqueta respiratória, manter o distanciamento social”, tudo isso diminui o risco de contágio, acrescenta Tato Borges. Outra medida fundamental é a ventilação dos espaços. “Temos de perceber que, para minimizar os riscos, os espaços têm de ser ventilados. Ao fim de cada hora é preciso abrir as janelas durante 10 a 15 minutos.”

A tripla pandemia é um problema português ou está por todo o mundo?

Os três vírus coexistem em todo o mundo, sendo as situações mais graves nos países que se estão a aproximar do inverno e das temperaturas frias. “O aumento de uma única infeção respiratória é motivo de preocupação. Quando duas ou três começam a ter impacto uma população ao mesmo tempo, isso deve deixar-nos alerta”, avisou Carissa F. Etienne, diretora da Organização Pan-Americana da Saúde, a 16 de novembro. Na região, os casos de Covid aumentaram 17% numa semana, com as mortes a subir na América do Sul e na América Central. Os casos de gripe dispararam na América do Norte e na Argentina e no Uruguai, apesar de fora de época, o aumento de casos está a pressionar os sistemas de saúde.

O VSR tem aumentado de forma significativa no Canadá, México, Brasil, Uruguai e Estados Unidos.

Na Europa, França tem estado a braços com um maior número de bronquiolities do que é habitual, com as urgências paralisadas, e também o Reino Unido tem sentido a pressão do aumento de doenças respiratórias nos serviços de saúde.

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