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Vários dirigentes norte-americanos ficaram alarmados após terem recebido informações confidenciais que apontavam para os perigos "da capacidade espacial russa"

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Vários dirigentes norte-americanos ficaram alarmados após terem recebido informações confidenciais que apontavam para os perigos "da capacidade espacial russa"

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"Ameaça" de nova arma russa preocupa os Estados Unidos. Pode haver uma guerra nuclear no espaço?

EUA alertam para tecnologia nuclear russa que pode destruir satélites e gerar caos na Terra. Arma antissatélite seria "eficaz", mas podia arrasar "qualquer coisa" num raio de milhares de quilómetros.

Uma guerra nuclear no Espaço parece um cenário saído de um livro ou filme de ficção científica. Mas esta quarta-feira essa hipótese ganhou contornos mais próximos da realidade. O presidente do Comité dos Serviços Secretos da Câmara dos Representantes, o republicano Michael Turner, veio alertar para “uma ameaça séria à segurança nacional”: a Rússia estará a planear enviar armas com capacidade nuclear para o espaço. O responsável apelou ao Presidente dos Estados Unidos (EUA), Joe Biden, para que “desclassifique” informações que permitam que o tema seja discutido “abertamente”, incluindo com os “aliados”.

Segundo apurou o Washington Post, vários dirigentes norte-americanos ficaram alarmados após terem recebido informações confidenciais que apontavam para os perigos “da capacidade espacial russa”, algo que pode “mudar o jogo” em termos geopolíticos. Apesar dos riscos existentes, a ameaça não está iminente, uma vez que, segundo avançou esta quinta-feira o porta-voz do Conselho de Segurança da Casa Branca, John Kirby, o sistema antissatélite criado pela Rússia “ainda está em desenvolvimento” e não está em órbita.

Devido ao teor confidencial das informações, são poucos os dados disponíveis sobre este alegado armamento nuclear russo. John Kirby deu ainda garantias de que, depois de posicionar essas armas na órbita terrestres, a Rússia não terá planos para lançá-las do espaço em direção ao planeta Terra contra países, humanos ou infraestruturas. O objetivo será outro: atacar os satélites norte-americanos e os dos aliados — o que, ainda assim, poderia lançar o caos sobre um número incerto de países, por conta da destruição de redes de comunicação e de vigilância.

Uma fonte conhecedora das informações confidenciais contou à ABC News que, a concretizar-se, este cenário é “muito preocupante”. Contudo, numa altura em que existe uma forte bipolarização política, democratas e republicanos aparentam estar unidos em torno desta questão. O presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Mike Johnson, garantiu que os dois partidos “vão trabalhar juntos neste assunto”, enviando uma mensagem de tranquilidade: “Quero assegurar a todos que as mãos estão no volante.” Por sua vez, o democrata Jim Himes realçou igualmente que o teor dos avisos sobre a ameaça nuclear russa é “significativo”, mas não é razão “para se instalar o pânico”.

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epa08015337 Representative Michael Turner, a Republican from Ohio, questions witnesses during a House Intelligence Committee impeachment inquiry hearing in Washington, DC, USA, 21 November 2019. The impeachment inquiry is being led by three congressional committees and was launched following a whistleblower's complaint that alleges US President Donald J. Trump requested help from the President of Ukraine to investigate a political rival, Joe Biden and his son Hunter Biden.  EPA/ANDREW HARRER / POOL

Congressista republicano Michael Turner avisou para os perigos da arma russa

ANDREW HARRER / POOL/EPA

Por sua vez, o Kremlin rejeitou categoricamente as informações norte-americanas, descrevendo-as como “maliciosas”. O porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, sugeriu igualmente que esta é apenas uma estratégia elaborada pela Casa Branca para que o Congresso aprove o pacote que inclui 60 mil milhões de dólares (cerca de 56 mil milhões de euros) para a Ucrânia. “É óbvio que a Casa Branca está a tentar a todo o custo que o Congresso vote o pacote para alocar mais dinheiro [a Kiev]. Vamos ver que outros truques a Casa Branca vai usar”, ironizou o responsável russo, citado pela Reuters.

Arma nuclear no espaço é “eficaz” a destruir satélites, mas poderia ter consequências devastadoras

Sobre a tecnologia que a Rússia estará a desenvolver ainda não existem grandes detalhes. Porém, um episódio recente mostra uma espécie de teste relativamente à destruição de infraestruturas espaciais. Em novembro de 2021, Moscovo disparou um míssil desde a Terra e destruiu um satélite soviético que estava desativado. 

Antes de ter realizado esta operação, a Rússia não avisou os parceiros espaciais. Foram os Estados Unidos que publicamente a denunciaram, classificando-a de “perigosa, imprudente e irresponsável”. E garantiram que não iam “tolerar este tipo de comportamento”. Cerca de 1.500 fragmentos do satélite passaram depois a orbitar a Terra, tendo-se aproximado da Estação Espacial Internacional. Os sete astronautas que estavam naquela estação foram mesmo obrigados a fugir para duas naves espaciais face ao risco de colisão de parte desses detritos com a estrutura.

Rússia explode satélite em teste com míssil e deixa milhares de destroços no espaço pondo em risco Estação Espacial Internacional

As acusações dos responsáveis norte-americanos levaram o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, a reagir e a admitir que tinha levado a cabo um teste antimísseis. Logo em novembro de 2021, o governante rejeitou a ideia de que aquela operação representasse algum perigo, assegurando que a missão tinha sido realizada com bastante “precisão”. “Testámos com sucesso um sistema promissor, sendo que os fragmentos não representam qualquer ameaça à atividade espacial.”

Seria mais ou menos nestes moldes que funcionaria um ataque a um satélite pela Rússia, ainda que a vertente nuclear o tornasse mais perigoso. À rádio pública norte-americana NPR, James Acton, vice-diretor do Programa de Política Nuclear do think tank Carnegie Endowment for International Peace, explica que o uso de armamento nuclear seria uma “forma muito eficiente” de destruir um satélite.

Ainda assim, James Acton ressalva que um ataque contra um satélite traria “repercussões” em todos aqueles que estão em órbita da Terra, incluindo os russos e chineses. “Tenho a certeza de que os chineses não ficariam muito satisfeitos com isso”, diz o especialista, que sugere que Moscovo poderá também estar a desenvolver um reator nuclear espacial.

"Tenho a certeza de que os chineses não ficariam muito satisfeitos com isso"
James Acton, vice-diretor do Programa de Política Nuclear do think tank Carnegie Endowment for International Peace, sobre explosão de satélites

No mesmo sentido, o docente especialista em relações internacionais espaciais na Universidade de Leicester, Bleddyn Bowen, clarifica ao Guardian que ao detonar uma bomba nuclear no espaço se geraria uma “bola de fogo” e também se formaria um campo eletromagnético que destruiria os “circuitos eletrónicos de qualquer coisa num raio de alguns milhares de quilómetros”, podendo mesmo chegar à Terra.

Com esta clarificação, Bleddyn Bowen pretende mostrar que uma bomba nuclear destinada a um satélite norte-americano destruiria igualmente os russos — e poderia ter efeitos também na Rússia. “Poderia ter efeitos na economia, na infraestrutura crítica, no sistema financeiro”, enumera o docente, para logo depois concluir: “Tinha de se estar numa situação muito desesperada para fazer uma coisas destas.”

O tratado que proíbe armas no espaço

Na Guerra Fria, num clima de forte competição entre os Estados Unidos e a União Soviética, houve não só uma corrida ao armamento nuclear, como também à exploração espacial. Em 1961, os soviéticos conseguiram colocar o primeiro homem no espaço, Yuri Gagarin; oito anos mais tarde, foi a vez de os norte-americanos enviarem a primeira tripulação à Lua. Neste contexto, as duas potências tiveram de chegar a acordo para criar as primeiras normas no que concerne ao direito internacional espacial.

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Assinatura do Tratado do Espaço Sideral

Bettmann Archive

Em 1967, sob a égide da Organização das Nações Unidas (ONU), chegou-se ao Tratado do Espaço Sideral, ratificado pelas potências nucleares. No documento, lê-se que a “exploração e utilização do espaço exterior, incluindo a Lua e outros corpos celestes, será conduzida para benefício e interesse de todos os países”. E o artigo 4.º é claro: “Os Estados partes no tratado comprometem-se a não colocar em órbita à volta da Terra quaisquer objetos transportando armas nucleares ou quaisquer outras espécies de armas de destruição maciça, a não instalar tais armas nos corpos celestes e a não manter, sob quaisquer formas, as armas no espaço exterior.”

“A Lua e outros corpos celestes deverão ser utilizados por todos os Estados partes no tratado exclusivamente para fins pacíficos. A instalação de bases militares, fortificações ou outras instalações militares, os ensaios de qualquer tipo de armas e a condução de manobras militares nos corpos celestes serão proibidas”, prossegue o artigo 4.º

Dito isto, a colocação de armas nucleares no espaço seria ilegal à luz do Tratado do Espaço Sideral, que a União Soviética (que antecedeu à Rússia) se comprometeu a respeitar. Mas nada garante que o faça. Por exemplo, em fevereiro do ano passado, o Presidente russo, Vladimir Putin, anunciou a suspensão do tratado NEW START que incluía inspeções e transparência no que diz respeito ao armamento, deixando igualmente de estar em vigor um controlo sobre o número de ogivas que Moscovo possui.

Putin põe tratado nuclear em banho-maria. É o início de uma nova corrida nuclear ou bluff da Rússia?

Em declarações ao New York Times, Steven Andreasen, especialista nuclear e docente na Universidade Humphrey of Public Affairs no estado norte-americano do Minneapolis, destacou que o incumprimento do Tratado do Espaço Sideral “poderia abrir as portas para que outros países coloquem armas nucleares no espaço”, incluindo as novas potências espaciais, como a China ou a Índia.

Casa Branca “surpreendida” com apelo de congressista republicano, mas está a tomar o assunto “seriamente”

Democratas e republicanos no Congresso estão empenhados em resolver este problema, mas toda esta onda mediática gerada pelos alertas de Michael Turner apanhou a Casa Branca desprevenida. Numa conferência de imprensa na quarta-feira, o conselheiro da Segurança Nacional, Jake Sullivan, admitiu estar “surpreendido” com o apelo do republicano.

Segundo Jake Sullivan, tinha sido marcada uma reunião para esta quinta-feira para discutir informações confidenciais com o “gangue dos oito” — termo informal que serve para designar os congressistas e senadores que têm acesso a informações confidenciais —, a que Michael Turner se antecipou. Porém, antes de o encontro entre os dirigentes políticos ter terminado, John Kirby confirmou que o cenário é “preocupante”, ainda que a ameaça não esteja “iminente”.

epa11150256 White House National Security Communications Advisor John Kirby participates in a news conference during which he faced questions on Israel and Gaza, in the James Brady Press Briefing Room of the White House in Washington, DC, USA, 13 February 2024.  EPA/MICHAEL REYNOLDS / POOL

John Kirby diz que cenário é "preocupante", mas não existe uma "ameaça iminente"

MICHAEL REYNOLDS / POOL/EPA

John Kirby indicou igualmente que o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, está a ser informado sobre o assunto e recebeu uma atualização já durante esta quinta-feira. Adicionalmente, o porta-voz norte-americano confirmou que os Estados Unidos estão em contacto com a Rússia sobre o assunto, tal como estão com “aliados e parceiros” no setor espacial.

Por sua vez, o chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, confirmou que o país está a “tomar a sério” esta ameaça da arma antitanque. O secretário de Estado prometeu igualmente que serão divulgadas mais informações “muito em breve” sobre este armamento capaz de causar um blackout no planeta Terra.

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