Os estilhaços da guerra aberta que se vai vivendo no CDS podem atingir em cheio a candidatura de Carlos Moedas a Lisboa. João Gonçalves Pereira, líder da distrital e assumido crítico de Francisco Rodrigues dos Santos, deixou o Parlamento para se dedicar ao próximo combate autárquico. Mas a direção do partido não tem planos para ele. Ou melhor, tem: o atual vereador não terá lugar na lista da coligação. Resumindo: Moedas vai enfrentar as próximas autárquicas com o aparelho local do CDS em rota de colisão com a direção nacional.
A 16 de março, a concelhia de Lisboa do CDS, sabe o Observador, aprovou por unanimidade os nomes de João Gonçalves Pereira, Diogo Moura e Nuno Rocha Correia como candidatos à Câmara Municipal de Lisboa. Ou seja, em teoria, pela vontade da concelhia do partido, Gonçalves Pereira seria o número dois de Carlos Moedas na corrida contra Fernando Medina.
Esta quinta-feira, quando deu conta da sua intenção de deixar o Parlamento, Gonçalves Pereira disse que o fazia para se dedicar ao combate autárquico. A pressão sobre Francisco Rodrigues dos Santos era evidente: o atual vereador queria ser considerado um trunfo nas negociações com o PSD.
Ora, o Observador sabe que Gonçalves Pereira não será o número dois dessa coligação e dificilmente será número quatro dessa lista. Depois de meses de críticas públicas e vocais a Francisco Rodrigues dos Santos, é tempo agora de a direção do CDS passar a fatura ao líder da distrital. No entendimento do Caldas, se Gonçalves Pereira nunca se reviu na atual liderança, e se tantas vezes o fez saber publicamente, não fará sentido que participe agora no projeto do partido para a cidade.
Além disso, e mais importante ainda, impera uma lógica de renovação: Gonçalves Pereira é autarca há duas décadas e vereador há oito anos. A direção do CDS entende que este é o momento de dar lugar a outros e garantir que outros quadros do CDS têm espaço para dar o seu contributo à cidade e ao partido.
O afastamento de Gonçalves Pereira, que foi número dois de Assunção Cristas na corrida de 2017 e que se tem afirmado como uma voz importante na oposição a Fernando Medina, provocará previsivelmente ondas de choque na estrutura do partido em Lisboa. Além de ser líder da distrital, o ainda deputado mantém boas relações com uma parte importante do partido (habitualmente crítica de Rodrigues dos Santos) e com a concelhia liderada por Diogo Moura.
Apesar de estar já anunciada, as negociações entre PSD e CDS para a coligação a Lisboa continuam a decorrer. É praticamente certo que, depois de ter cedido o lugar de cabeça de lista, o CDS ficará com o número dois à Câmara e com a presidência da Assembleia Municipal. A este nível, as negociações ainda estão a ser geridas entre Francisco Tavares e Anacoreta Correia (do lado CDS) e João Montenegro e Paulo Ribeiro (do lado do PSD). Não há, por isso, discussão em torno de nomes ou candidatos a candidatos. Quando chegar a esse ponto, Carlos Moedas terá uma palavra determinante na escolha da equipa que o vai acompanhar, as estruturas locais do PSD quererão ser envolvidas e as estruturas do CDS também.
Seja como for, o destino de Gonçalves Pereira está traçado: não terá lugar na lista de convocados. Não, pelo menos, no lugar que em teoria podia ambicionar, nem no lugar defendido pela concelhia do partido em Lisboa, a quem pertence a prerrogativa de escolher o candidato. Não é difícil prever que este braço de ferro entre a direção nacional e o aparelho de Lisboa vai causar muitas dificuldades à mobilização do partido na capital.
É, por isso, mais um problema para candidatura de Carlos Moedas. Depois de ter tentado convencer, sem sucesso, a Iniciativa Liberal a juntar-se à grande coligação não socialista, depois de ter visto o Chega apresentar um candidato que, pelo mediatismo de que goza, pode fazer mossa, o social-democrata poderá agora ter de lidar com a gravilha colocada na estrada por uma parte do CDS.
E não de excluir outro handicap: Carlos Moedas terá ainda de lidar com as várias sensibilidades do aparelho social-democrata em Lisboa, conhecido por triturar candidatos. Nas últimas autárquicas, Teresa Leal Coelho sofreu na pele a rejeição do partido e José Eduardo Martins, que tinha sido escolhido como o rosto do partido na Assembleia Municipal de Lisboa, acabou por bater com a porta depois de ter sido surpreendido por Luís Newton, hoje líder da concelhia do PSD/Lisboa.
Morais Soares deve suceder a Gonçalves Pereira
Com ou sem candidatura autárquica, João Gonçalves Pereira está mesmo de partida do Parlamento. A saída deve concretizar-se até ao final do mês e só depois ficará completamente resolvida a questão da sucessão.
Pedro Morais Soares, antigo secretário-geral de Assunção Cristas, era o quarto lugar na lista, logo a seguir a Gonçalves Pereira. O Observador sabe que o democrata-cristão estará disposto a aceitar o lugar de deputado e voltar, assim, ao Parlamento.
Isabel Galriça Neto, igualmente ex-deputada, médica e um dos rostos do partido no combate à despenalização da eutanásia, e Sebastião Bugalho, comentador regular na TVI e cronista no Diário de Notícias, respetivamente, quinto e sexto na lista, terão de esperar por outra oportunidade.
Deputado do CDS vai deixar Parlamento e pressiona Rodrigues dos Santos