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O primeiro-ministro, António Costa, no debate parlamentar preparatório do Conselho Europeu, na Assembleia da República, em Lisboa, 22 de junho de 2023. MIGUEL A. LOPES/LUSA
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PS acha que Marcelo legitima Costa (e a oposição também)

MIGUEL A. LOPES/LUSA

PS acha que Marcelo legitima Costa (e a oposição também)

MIGUEL A. LOPES/LUSA

Costa na Europa é assunto encerrado para o PS (por agora)

PS vê com bons olhos conversas que "legitimam" Costa, mas acredita que primeiro-ministro fica por várias razões, do PRR à sucessão interna. Sem dizer nunca.

Bastou uma polémica ida ao futebol ao lado de Viktor Orbán e umas contas feitas por Marcelo Rebelo de Sousa para que o assunto que António Costa jura não ser assunto — a sua hipotética ida para Bruxelas, para assumir um cargo europeu — voltasse à ordem do dia. Para o PS, o tema está fechado: o partido nega que o líder esteja com vontade de se ir embora e soma motivos para Costa ficar no Governo, da execução do PRR ao perigo em que deixaria o próprio partido. Mas, graças às formulações criativas que Costa usou para negar a hipótese, até para os socialistas fica sempre uma ressalva: a esta distância, ninguém pode dizer “nunca”.

A última negação de Costa é, para o PS, sinal de uma ironia pela qual o partido pode estar grato a Marcelo Rebelo de Sousa. “Eu sou o garante da estabilidade. Já expliquei a todos que não aceitarei uma missão que ponha em causa a estabilidade em Portugal. Alguma vez eu poria em causa a estabilidade que tão dificilmente conquistei?”, disparou o primeiro-ministro, em declarações ao Público no início desta semana.

Ora, uma declaração tão pessoalizada só faz sentido depois de o próprio Presidente da República ter feito equivaler, logo na tomada de posse, a maioria absoluta do PS a uma maioria do próprio Costa. “Esse rosto que venceu dificilmente pode ser substituído por outra pessoa”, disse na altura — há pouco mais de um ano — Marcelo Rebelo de Sousa. E, para o PS, essa é mais uma prova da “legitimação” do primeiro-ministro: Costa agarrou o discurso de Marcelo e usou-o para se apresentar a si próprio — não ao Governo, nem ao PS — como a garantia da “estabilidade” na política portuguesa.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa (E) acompanhado pelo primeiro-ministro, António Costa, chega para a cerimónia de posse do novo Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA) - General José Nunes da Fonseca ( ausente na foto), no palácio de Belém em Lisboa, 01 de março de 2023. TIAGO PETINGA/LUSA

Presidente foi o primeiro a lançar o assunto, logo na posse do Governo

TIAGO PETINGA/LUSA

Aliás, o próprio primeiro-ministro dizia, no ano passado, sentir-se “muito honrado” por lhe ter sido atribuída uma legitimidade “que até agora nunca tinha sido atribuída a nenhum primeiro-ministro” — “ter um mandato pessoal e direto dos eleitores para governar um ciclo completo” — uma legitimidade normalmente só associada ao cargo de Presidente da República.

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No Largo do Rato, o dossiê fecha-se rapidamente. Oficialmente, o líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, aproveitou as jornadas parlamentares do partido, esta semana, para frisar que a mais recente declaração de Costa “não foi uma surpresa” porque “o PS e em particular o senhor primeiro-ministro sempre foram a estabilidade e a continuidade políticas”. Nos corredores, há quem insista que “não há tema”, que o assunto não tem fundamento e é próprio da silly season, que é um tópico “reciclado” e, sobretudo, que não surge pela mão do PS — “não estamos a fazer jogo duplo”.

PS contente com debate que “alimenta” Costa: “Estão sempre a validá-lo”

Mas até convém que surja pela mão da oposição. O PS considera que continuar a lembrar o prestígio de que Costa goza lá fora, por um lado, e a importância que tem na estabilidade do país, por outro, é um favor que fazem ao primeiro-ministro, e até há quem ironize com a estratégia de Luís Montenegro: “Se fosse eu, dizia que ele ir para a Europa era um favor. Só tornam o Costa insubstituível, estão sempre a validá-lo. Os tabus de Cavaco Silva alimentavam-no, e o de Costa alimenta-o também”, atira um socialista.

Por isso mesmo, socialistas destacados vão sorrindo ao ver a sucessão de notícias sobre a possível ida de Costa para Bruxelas, para ocupar o cargo de presidente do Conselho Europeu  após as eleições europeias do próximo ano. E o sorriso só cresceu quando ouviram, esta semana, Marcelo reagir às palavras de Costa dizendo que “é verdade” que o primeiro-ministro é mesmo “o garante da estabilidade”.

Para os socialistas, a verdade neste momento é uma: é difícil, e torna-se mais difícil a cada negação pública, que Costa saia para a Europa, por vários motivos. Mas em política “não há realidades estanque”, como lembra um dirigente. Também nesta linha, um deputado socialista sublinha a intenção de Costa em deixar o PS em condições de vencer as eleições seguintes e diz que, por isso mesmo, o resultado que o partido tiver nas Europeias do próximo ano será importante para essa decisão. “Costa tem dados sinais de fechamento [à ideia de Bruxelas], mas já sabemos como isso é: se as condições europeias se concretizarem e se o PS estiver numa boa posição eleitoral…“, observa um deputado que está convencido que o partido está “em condições de vencer” as Europeias.

Em matéria de cenários negados por políticos, pode aliás recorrer-se ao historial do próprio Marcelo Rebelo de Sousa, que em 1996 negava com o célebre “nem que Cristo desça à terra” que planeasse avançar para a liderança do PSD — coisa que acabou mesmo por fazer.

PS brinca com cenários

Os mais céticos acreditam, por isso, que o assunto favorece Costa mas não é avisado excluir já todas as hipóteses. Há quem imagine um cenário em que vários líderes europeus pressionem Costa para avançar para o Conselho Europeu, em que se crie um “ambiente de comoção nacional” e o primeiro-ministro admita mesmo essa hipótese, caso não haja dissolução da Assembleia da República — ou seja, caso a tal estabilidade não fique ameaçada.

Nessa perspetiva, Marcelo teria de recuar e permitir que o PS continuasse a governar com outro rosto, alguém “consensual” e não “polarizador” — figuras com essas características teriam, nessa tese, de “aceitar que o seu tempo será a seguir”.

Spanish Primer Minister Pedro Sanchez (L) and Portuguese counterpart Antonio Costa (R) as they honor the late Portuguese writer during the centenary of his birth, in Tias, Lanzarote, Canary Islands, Spain, 14 March 2023. Costa is in Spain to attend the Spanish-Portuguese summit to be held in Lanzarote island on 15 March 2023. EFE/POOL/ Moncloa/Borja Puig de la Bellacasa

Situação política em Espanha complicou-se e pode abrir caminho a Costa

Borja Puig de la Bellacasa/EFE

Para isso, poderia pesar a pressão até internacional que seria exercida sobre Costa. Basta recordar a frase de Durão Barroso quando anunciou que partiria rumo a Bruxelas, para a presidência da Comissão Europeia, deixando o Executivo nas mãos de Pedro Santana Lopes: “Portugal deve muito à Europa e quando a Europa pede colaboração para uma missão importante Portugal não pode dizer que não”.

Aqui, fontes socialistas em Bruxelas desvalorizam a questão com um argumento: Costa é uma voz demasiado importante no Conselho Europeu (cuja presidência já rejeitou uma vez, em 2019) para que esse cenário se verifique. “Sendo primeiro-ministro, tem toda a margem de manobra no Conselho Europeu. Uma recusa dele não fragiliza a nossa posição”, garante fonte socialista, considerando que Costa é uma voz “ouvida” no órgão e que Portugal “não fica a perder” por deixar passar mais esta oportunidade de liderar o Conselho Europeu.

Outros socialistas consideram normal que Costa tenha fechado o assunto “por uns tempos”, mas acreditam que seja inevitável que o seu nome esteja “na berlinda” quando chegar a hora de fazer as contas aos principais cargos europeus. Principalmente, numa fase em que o colega espanhol, Pedro Sánchez, se vê em risco de perder eleições e Costa pode ver a sua posição como líder socialista sair reforçada — tendo já na bagagem nove anos de Governo. “Nada está fora de jogo”, remata um socialista.

Sucessão complicada e PRR podem reter Costa

O assunto “ficou tão arrumado como sempre esteve… E como é possível estar“, resume um deputado. O “possível” aplica-se em várias frentes: por um lado, por ser difícil prever o que acontece até 2024 e o estado em que o tabuleiro de xadrez europeu ficará nessa altura; por outro, por causa das dificuldades que os socialistas antecipam num cenário desses.

“Pode pesar o facto de poder ser muito responsabilizado pelo estado em que deixará o PS“, antecipa um socialista já citado. Ou seja: se Costa sair em 2024, estará a abandonar o Governo (e o PS) depois de se ter feito equivaler à estabilidade política do Executivo, e possivelmente a deixar o partido em maus lençóis. As europeias acontecerão depois de um arranque atribulado para um Governo. O mesmo arranque que complicou a vida a vários dos possíveis sucessores de António Costa.

Foi neste Executivo que Fernando Medina subiu a ministro das Finanças e passou a ser um dos alvos preferidos da oposição, sendo que no PS são cada vez mais as vozes que vão garantindo que não terá espaço para uma futura candidatura à liderança — e o próprio também não alimenta essa ideia. E foi neste Governo que Pedro Nuno Santos entrou em choque público com Costa por causa do novo aeroporto de Lisboa, pediu desculpa, ficou fragilizado, voltou aos holofotes no meio do caso mais demolidor para o Governo — o caso Alexandra Reis — e teve de se explicar numa Comissão Parlamentar de Inquérito.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

E, neste caso, não há muitos no PS que considerem que as ambições de Pedro Nuno estão enterradas, nem perto disso — mas é assumido que o ex-ministro precisaria de uma preparação, e absolvição, mais longa para voltar a ser visto como um candidato sério ao PS e sobretudo ao país, e 2024 é já ao virar da esquina. Com uma eventual saída de Costa para a Europa, Pedro Nuno ficaria com muito menos tempo do que o esperado para preparar a sua candidatura à sucessão do atual líder.

Além disso, há outro fator a ter em conta: depois de gerir as intrincadas pontes que ligavam a geringonça e um país em tempos de pandemia, guerra e crise, Costa pode mesmo querer ficar para aproveitar os frutos desse trabalho — sobretudo em forma de dinheiro, no caso vindo do Plano de Recuperação e Resiliência, que tem de ser executado até 2026.

“Depois disto tudo vai-se embora no momento em que finalmente vai ter investimento público?”, questiona um socialista. “Agora que o fruto do trabalho vem aí? Finalmente pode aproveitar a maioria…” E deixar obra feita, falha que tantas vezes é apontada aos Governos de Costa. Essa pode ser uma motivação forte para ficar. Mas um ano é muito tempo, e em política ainda mais.

 
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