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Os peritos acreditam que a Covid-19 não está a ter um impacto significativo sobre o serviço nacional de saúde

AFP via Getty Images

Os peritos acreditam que a Covid-19 não está a ter um impacto significativo sobre o serviço nacional de saúde

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Covid-19. Mortalidade subiu (mas testagem também desceu). Peritos vão propor regresso pontual da máscara

Mortes aumentaram com o R(t) e podem ser consequência da onda da BA.5 que afetou jovens. Mas reforço vacinal serve de travão. Peritos garantem que está tudo sob controlo: só recomendam máscara.

Os especialistas planeiam recomendar o regresso da utilização de máscaras nos transportes públicos — sobretudo pela população mais vulnerável — e também querem reforçar o apelo para que a máscara seja usada em locais com grande concentração de pessoas. Mas não veem necessidade de impor mais medidas obrigatórias para conter a Covid-19, mesmo com o aumento na mortalidade que se registou nas últimas duas semanas, porque a situação epidemiológica está controlada. É isto o que os peritos vão transmitir aos decisores políticos na reunião no Infarmed, esta sexta-feira, a partir das 9h.

O número real de novos casos diários pode ser cinco vezes superior aos diagnosticados e alcançar os 5.000 casos, mas isso “é mera suposição”, alertou o engenheiro Carlos Antunes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa: “É impossível saber ao certo” porque a testagem é demasiado baixa para permitir fazer cálculos.

O número de novos casos diários já não é um indicador fiável para medir a temperatura à situação epidemiológica da Covid-19 no país desde que as autoridades de saúde abandonaram a estratégia de testagem massiva, deixando os cientistas às cegas sobre como o vírus está a circular na comunidade. De acordo com os dados reportados pela plataforma Our World in Data, que se baseia nos números enviados pelas autoridades nacionais, a média nos últimos sete dias ultrapassava os 1.090 casos diagnosticados na quarta-feira. O número real pode ser cinco vezes superior e alcançar os 5.000 casos, mas isso “é uma mera suposição”, alertou o engenheiro Carlos Antunes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa: “É impossível saber ao certo”, porque a testagem é demasiado baixa para permitir fazer cálculos, diz ao Observador.

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Ainda assim, o R(t) continua a servir de bússola aos peritos para traçar o percurso da Covid-19 em Portugal, mesmo com menos incentivos à testagem. Como o número de testes realizados diariamente se tem mantido estável (ainda que abaixo dos que eram realizados até setembro), é possível aferir o índice de transmissibilidade com o número de diagnósticos oficializados pela Direção-Geral da Saúde (DGS): se, entre o universo de testes efetuados, o número de casos positivos aumentar, o R(t) estará em subida; e se ele diminuir, então estará em descida. Desde que se mantenha a consistência na realização de testes, o índice de transmissibilidade continuará a ser fiável.

Mesmo quando o R(t) cresce, também desce rapidamente para estabilizar outra vez. O que está a servir de travão? A vacinação sazonal, sugere também o matemático Henrique Oliveira, do Instituto Superior Técnico, porque quem é mais vulnerável perante uma infeção por SARS-CoV-2 já está a receber a dose de reforço contra a Covid-19.

Mas o indicador mais seguro continua a ser a mortalidade, porque os doentes com sintomas respiratórios que dão entrada nos hospitais ainda fazem um despiste para a infeção pelo coronavírus. Se o caso se revelar fatal, o certificado de óbito é analisado pela DGS com os mesmos critérios estabelecidos pelas autoridades internacionais em abril de 2020. Por isso, ao contrário do número de casos, o número de mortes continua a refletir com a mesma fiabilidade a realidade da Covid-19 no país.

Pessoas com sintomas infeção respiratória devem usar sempre máscara, diz DGS

Mortes aumentam atrás do R(t), mas não pressionam SNS

Vamos por partes. Segundo Óscar Felgueiras, matemático da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, o R(t) ronda neste momento os 0.9 — ou seja, o número de casos tende neste momento a decrescer e 100 pessoas infetadas só devem transmitir o vírus a 90 pessoas, em média. Esta métrica tem sofrido flutuações, mas não sobe significativamente acima de 1 (o que simbolizaria uma subida exponencial dos casos) e, mesmo quando o R(t) cresce, também desce rapidamente para estabilizar outra vez. O que está a servir de travão? A vacinação sazonal, sugere também o matemático Henrique Oliveira, do Instituto Superior Técnico, porque quem é mais vulnerável perante uma infeção por SARS-CoV-2 já está a receber a dose de reforço contra a Covid-19.

Aliás, nos esgotos do Porto, que também servem de instrumento para monitorizar a pandemia, não há indicações de uma nova onda significativa de casos. Ana Paula Murcha, investigadora do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), confirmou ao Observador que os cientistas envolvidos no projeto “Virus4Health” continuam a recolher um litro de material nas duas estações de tratamentos de águas residuais — Freixo e Sobreiras — para contabilizarem o número de cópias de material genético do coronavírus que se encontram por litro de água. A testagem PCR efetuada às amostras confirmaram a ocorrência de um pico de infeções em maio e outro em junho. Mas os valores baixaram ao longo dos meses de julho e agosto; e desde setembro que se têm mantido “estáveis, com pequenas oscilações”.

Nova task force monitoriza águas residuais. Como um litro de águas do esgoto revela a evolução da pandemia?

Na leitura de Carlos Antunes, os internamentos nos cuidados intensivos por Covid-19 e os óbitos atribuídos à doença também podem ter outra justificação: depois de a população mais jovem, entre os 10 e os 29 anos, ter sido infetada, o vírus está agora a impactar mais as faixas etárias mais idosas e vulneráveis — impacto esse que é travado pelo efeito da vacinação de reforço. Ou seja, “pode ser ainda influência da pequena onda causada pela entrada da subvariante BA.5”.

Essas oscilações têm, ainda assim, um impacto no número de óbitos desde o fim de outubro. A média a sete dias das mortes por Covid-19 passou de praticamente zero, a 24 de outubro, para 14, apenas uma semana mais tarde. Os valores ainda baixaram para dois a três óbitos diários atribuídos à Covid-19 na primeira semana de novembro, mas esse valor voltou a subir, para alcançar as 13 vítimas mortais na última quarta-feira. São números que não se registavam desde as últimas semanas de julho, pouco depois de se ter verificado um pico de infeções pelo SARS-CoV-2.

Na leitura de Carlos Antunes, os internamentos nos cuidados intensivos por Covid-19 e os óbitos atribuídos à doença também podem ter outra justificação: depois de a população mais jovem, entre os 10 e os 29 anos, ter sido infetada, o vírus está agora a impactar mais as faixas etárias mais idosas e vulneráveis — impacto esse que é travado pelo efeito da vacinação de reforço. Ou seja, “pode ser ainda influência da pequena onda causada pela entrada da subvariante BA.5”.

As proporções também levantam sinais de alerta: a 9 de novembro de 2021, registava-se um óbito por Covid-19 por cada 168 novas infeções confirmadas por via da testagem. Um ano depois, há uma morte em cada 84 novos casos diagnosticados. Mas tudo não passará de uma ilusão, fruto do contexto atual da pandemia: Henrique Oliveira, matemático do Instituto Superior Técnico que monitoriza a pandemia, defende que isto só acontece por os níveis de testagem serem comparativamente muito mais baixos do que eram há um ano. “Há menos testes, por isso parece que há mais mortes por caso. Mas é tudo aparente”, conclui.

Covid-19 muito abaixo das linhas vermelhas da DGS e do ECDC

Embora seja verdade que a mortalidade absoluta — isto é, todas as mortes verificadas em Portugal por todas as causas — têm aumentado, os óbitos por Covid-19 estão em fase de estabilização. Ou seja, está a morrer-se mais, mas a Covid-19 não é a principal culpada.

As hospitalizações de casos positivos e os óbitos por Covid-19 têm estado relativamente estáveis, recorda Óscar Felgueiras, e não simbolizam uma pressão significativa para o serviço nacional de saúde. Os internados nos cuidados intensivos têm rondado os 30, muito abaixo da linha vermelha das 255 camas ocupadas por infetados com o SARS-CoV-2. Os óbitos estão a meio do referencial de alerta.

A resposta está noutras infeções respiratórias que, à semelhança do que aconteceu no hemisfério sul, estão a chegar mais cedo e atacaram em força uma população que não conviveu com outros vírus respiratórios ao longo de quase três anos, à conta dos isolamentos e das medidas de proteção individual implementadas para enfrentar a pandemia. Mais vulneráveis, com menos imunidade adquirida pelo convívio natural com os vírus da gripe, coronavírus das constipações ou o vírus sincicial respiratórios, são essas as doenças respiratórias que estão a chegar às urgências neste momento. Não a Covid-19.

Urgências no Hospital de Santa Maria. Tempos de espera estão a “normalizar”

É o que sublinha Tiago Correia, especialista em saúde internacional do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT): “Não estamos preparados para o inverno porque não sabemos o impacto do que aí vem”, considerou, em entrevista ao Observador. “Não conseguimos saber definir com precisão o que é necessário. Estamos novamente num momento de expectativa”. E parte da incerteza está no surgimento de duas novas subvariantes da Ómicron — a BQ.1.1 e a BXX: “Parecem ser mais transmissíveis que a BA.4 e a BA.5, devem ter alguma fuga à imunidade conferida pelas linhagens anteriores.” Em França, onde a BQ.1.1 mais cresceu na Europa, a doença desencadeada por uma infeção desta subvariante não se traduziu numa maior gravidade da Covid-19.

De facto, as hospitalizações de casos positivos e os óbitos por Covid-19 têm estado relativamente estáveis, recorda Óscar Felgueiras, e não simbolizam uma pressão significativa para o serviço nacional de saúde. Os internados nos cuidados intensivos têm rondado os 30, muito abaixo da linha vermelha das 255 camas ocupadas por infetados com o SARS-CoV-2; e os internamentos gerais nas alas Covid-19 continuam a ser esmagadoramente ocupadas por pessoas que necessitam de acompanhamento hospitalar por outras causas que não esta doença respiratória.

A 7 de novembro, o Técnico avaliava a situação epidemiológica em cerca de 32 pontos — abaixo do nível de alarme dos 80 pontos e muito abaixo do nível crítico dos 100 pontos. Nesse mesmo dia em 2021, o indicador estava em mais do dobro, com 66 pontos; e em 2020 nos 140,5 pontos. Em suma, “não há alarmes nenhuns”, concluiu Henrique Oliveira.

As mortes também estão longe dos níveis de alerta: o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) coloca a linha vermelha nos 20 óbitos por Covid-19 ao longo de 14 dias por milhão de habitantes. Portugal está a meio desse referencial.

A prova de que a situação epidemiológica está “muito controlada” está no indicador que o Instituto Superior Técnico desenvolveu para classificar a pandemia com base numa pontuação que toma em consideração a incidência média de novos casos, o número de óbitos, o valor do R(t) e os doentes internados. A 7 de novembro, o Técnico avaliava a situação epidemiológica em cerca de 32 pontos — abaixo do nível de alarme dos 80 pontos e muito abaixo do nível crítico dos 100 pontos. Nesse mesmo dia, em 2021, o indicador estava em mais do dobro, com 66 pontos; e em 2020 nos 140,5 pontos. Em suma, “não há alarmes nenhuns”, concluiu Henrique Oliveira.

“A Covid-19 veio para ficar e vai continuar a ser uma causa de morte. Vai haver mais mortalidade à medida que o envelhecimento da população aumenta. Por isso, é preciso robustecer todo o SNS para enfrentar mais esta ameaça”, aconselhou o matemático.

Reformulação do SNS para acomodar a Covid-19 é a medida mais urgente

Ainda assim, todos os peritos concordam que o segredo para enfrentar a Covid-19 daqui para a frente não está em medidas de contenção: está numa reformulação do próprio Serviço Nacional de Saúde (SNS). O primeiro passo já devia ter sido tomado, critica Tiago Correia, com a elaboração de um plano de contingência: “O que estamos a ver nas urgências dos hospitais e dos centros de saúde sugere que pode haver absentismo profissional. Muitos profissionais de saúde que não vão poder trabalhar por estarem doentes. Pode ser necessário o envolvimento de outras equipas, até o apoio de privados. Isso já devia estar acordado”.

Henrique Oliveira também recorda que a capacidade de resposta do cuidados de saúde primários deviam ser a prioridade: afinal, muitos dos doentes que acorrem às urgências hospitalares fazem-no por falta de resposta nos centros de saúde. “A Covid-19 veio para ficar e vai continuar a ser uma causa de morte. Vai haver mais mortalidade à medida que o envelhecimento da população aumenta. Por isso, é preciso robustecer todo o SNS para enfrentar mais esta ameaça”, aconselhou o matemático.

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