Há um antes e um depois em todas as seleções. Pelo contexto, pelas gerações, pelas circunstâncias em que se discutem as provas, pelos treinadores. E a linha é feita por situações limite, sejam elas boas ou más, que dão a partir daí uma definição ao passado e uma outra perspetiva do futuro. A Dinamarca teve um desses momentos em 1992, quando andava a treinar às escondidas sem saber ao certo o que aconteceria com a Jugoslávia, foi repescada para o Campeonato da Europa da Suécia e terminou a ganhar a final à Alemanha. Quase 30 anos depois, e na sequência de anos mais modestos a nível de participações em grandes provas, enfrentou um outro episódio distinto quando viu o seu melhor jogador tombar no relvado com uma paragem cardíaca no primeiro jogo do Europeu de 2020. E toda a equipa mudou com isso.
Kasper Hjulmand, técnico com uma fama de milagreiro que vem de longe quando se sagrou campeão pelo modesto Nordsjaelland, conseguiu agarrar num conjunto de jogadores que se encontrava de rastos perante a situação limite que viveu (e que, com Kjaer à cabeça, lidou de uma forma pragmática logo no momento) e reforçou o espírito coletivo num trajeto que só terminou no prolongamento das meias-finais com um golo de Harry Kane. Mais: não foi apenas uma competição mas sim uma forma de encarar o jogo que continuou a dar frutos até ao regresso de Eriksen, recuperado do problema que o afastou durante largos meses e de novo na Premier League via Brentford até chegar ao Manchester United. E a Dinamarca foi um das primeiras seleções qualificadas para o Mundial, com uma série de nove vitórias consecutivas.
Hjulmand, que entrou para o comando da seleção em agosto de 2020, chega ao Qatar com uma “anormal” percentagem de vitórias de 67% (22 em 33 jogos), falhando o apuramento para a Final Four da Liga das Nações pelos desaires no confronto direto com a Croácia. A Dinamarca é favorita a par da França (a quem ganhou recentemente) à passagem aos oitavos mas a partir daí, não sendo uma das seleções com mais probabilidades de ganhar, tem pelo menos as condições para tornar-se uma das surpresas da prova. Em 1992 ninguém acreditava e aconteceu; em 2022 também ninguém acredita mas pode acontecer.
BI
- Ranking FIFA atual: 10.º
- Melhor ranking FIFA: 3.º (maio de 1997 e agosto de 1997)
- Alcunha: De Röd-Hvide (Os Vermelhos e Brancos)
- Presenças em fases finais: 6
- Última participação: 2018 (oitavos com Croácia, 1-1 e 3-2 g.p.)
- Melhor resultado: quartos em 1998 (Brasil, 3-2)
- Qualificação: 1.º lugar do grupo F da Europa (27 pontos em 10 jogos com Escócia, Israel, Áustria, Ilhas Faroé e Moldávia)
- O que seria um bom resultado? Chegar aos quartos
Jogos em 2022
- Jogo de preparação, 26/3: Países Baixos (fora), 4-2 (D)
- Jogo de preparação, 29/3: Sérvia (casa), 3-0 (V)
- Grupos Liga das Nações, 3/6: França (fora), 2-1 (V)
- Grupos Liga das Nações, 6/6: Áustria (fora), 2-1 (V)
- Grupos Liga das Nações, 10/6: Croácia (casa), 1-0 (D)
- Grupos Liga das Nações, 13/6: Áustria (casa), 2-0 (V)
- Grupos Liga das Nações, 22/9: Croácia (fora), 2-1 (D)
- Grupos Liga das Nações, 25/9: França (fora), 2-0 (V)
O onze
- 4x3x3: Kasper Schmeichel; Daniel Wass, Kjaer, Christensen, Maehle; Delaney, Höjberg, Eriksen; Skov Olsen, Damsgaard e Dolberg
O treinador
- Kasper Hjulmand (dinamarquês, 50 anos, desde agosto de 2020)
- Outros clubes: Lyngby (formação), Lyngby, Nordsjaelland (adjunto), Nordsjaelland e Mainz
O craque
- Christian Eriksen (30 anos, médio do Manchester United)
- Outros clubes: Ajax, Tottenham, Inter e Brentford
A revelação
- Mikkel Damsgaard (21 anos, avançado do Brentford)
- Outros clubes: Nordsjaelland e Sampdória
O mais internacional e o maior goleador
- Peter Schmeichel (129 internacionalizações) e Poul Nielsen e Jon Dahl Tomasson (52 golos)
Os 26 convocados
- Guarda-redes (3): Kasper Schmeichel (Nice), Frederik Ronnow (Union Berlim) e Oliver Christensen (Hertha Berlim)
- Defesas (9): Alexander Bah (Benfica, Daniel Wass (Brondby), Rasmus Nissen Kristensen (Leeds), Jens Stryger Larsen (Trabzonspor), Joakim Maehle (Atalanta), Andreas Christensen (Barcelona), Simon Kjaer (AC Milan), Joachim Andersen (Crystal Palace) e Victor Nelsson (Galatasaray)
- Médios (6): Robert Skov (Hoffenheim), Christian Norgaard (Brentford), Pierre-Emile Höjbjerg (Tottenham), Thomas Delaney (Sevilha), Christian Eriksen (Manchester United) e Mathias Jensen (Brentford)
- Avançados (8): Yussuf Poulsen (RB Leipzig), Mikkel Damsgaard (Brentford), Andreas Skov Olsen (Club Brugge), Jesper Lindstrom (Eintracht Frankfurt), Martin Braithwaite (Silkeborg), Kasper Dolberg (Sevilha), Jonas Wind (Wolfsburgo) e Andreas Cornelius (Copenhaga)
O local do estágio
- Retaj Salwa Resort & SPA, em Doha (treinos: Al Sailiya SC 2)
A antevisão
A ligação a Portugal
- Alexander Bah, lateral direito do Benfica, é agora o ponto de contacto mais direto entre Dinamarca e Portugal após ter sido contratado no verão ao Slavia de Praga. No entanto, e recuando mais uns anos, há mais ligações entre os dois conjuntos: Daniel Wass passou pelo Benfica sem sucesso (e sem jogos) em 2011/12 antes de destacar-se no Celta, no Valencia e no Atl. Madrid; Kasper Schmeichel, filho do lendário Peter Schmeichel, esteve na formação do Estoril quando o pai jogou no Sporting.