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O presidente do Partido Social Democrata (PSD), Rui Rio, à chegada para a reunião do Conselho Nacional do partido para debater a situação política, a convocação das eleições diretas para presidente do partido, aprovação do respetivo regulamento, bem como a marcação do 39.º Congresso do PSD, em Lisboa, 14 de outubro de 2021. MÁRIO CRUZ/LUSA
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MÁRIO CRUZ/LUSA

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Direção do PSD com mais dúvidas sobre recandidatura de Rio

Depois de uma derrota em toda à linha no Conselho Nacional, núcleo duro de Rio desconfia que o líder do PSD tenha vontade de ir a jogo. Recandidatura pode não acontecer. Jorge Moreira da Silva espera.

Uma derrota sem sentido ou mais um elemento para ponderar uma eventual recandidatura. Na direção do PSD, ainda ninguém percebeu exatamente o que aconteceu no último Conselho Nacional. Pela primeira vez desde que é líder, e na altura em que menos podia cometer erros, Rui Rio sofreu uma derrota interna (e por números expressivos) que pode hipotecar as aspirações de voltar a vencer as eleições internas.

O que fará com esse sinal, só Rio, neste momento, saberá. Mas alguns dos membros do seu núcleo duro não têm dúvidas: vai ter de pensar muito bem no que vai fazer a seguir porque os ventos são agora muito menos favoráveis. A recandidatura não é dada, de todo, como adquirida. Antes pelo contrário.

“Não tenho dúvidas que vai ter de analisar o que aconteceu ali”, diz ao Observador fonte do núcleo duro de Rio. “Tem de fazer essa avaliação e perceber se tem condições para continuar e ir a votos”, concorda outro alto dirigente social-democrata. “Ele não abre o jogo, mas temos todos muitas dúvidas sobre se é pra ir ou não”, admite outro homem forte do líder social-democrata, que não esconde o desalento: “Tínhamos tudo na mão. Foi um erro tão estúpido”.

Neste momento, o estado de espírito entre os homens de Rui Rio é, por isso, de enorme expectativa. O líder do PSD deverá anunciar nos próximos dias a decisão, mas a convicção que existe é de que o rombo no porta-aviões foi “enorme”. Talvez mesmo demasiado grande para ser reparado.

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Pior: onde antes poderia haver uma onda positiva pelos resultados conseguidos nas autárquicas, agora existe a imagem de Rio naquela noite — nervoso, irritado, esfíngico quanto ao futuro, derrotado às mãos do mesmo partido que o elegeu duas vezes e o salvou do impeachment de Luís Montenegro.

Para os mais próximos de Rui Rio, o líder do PSD terá conseguido perceber duas coisas na noite de quinta-feira: que as estruturas que se diziam indecisas quanto ao candidato a apoiar — se Rio, se Rangel — estavam, na verdade, a fazer jogo duplo; e que, mesmo indo a jogo e mesmo vencendo, o partido nunca deixará de estar balcanizado.

Com uma agravante: a derrota neste Conselho Nacional, sugere um membro do núcleo duro de Rio, tem um efeito psicológico “terrível” nas bases e nas estruturas. Os que antes até podiam estar indecisos estarão agora convencidos de que Rio está em perda; os que apoiavam Rio, estarão, no mínimo, menos galvanizados. E esse é o maior dano causado por aquela votação.

RUI RIO PSD CANDIDATURA

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Estes dois dados — o favoritismo teórico de Rangel nas estruturas e o risco de, mesmo vencendo, continuar a ter um partido tribalizado — serão determinantes na ponderação do presidente do PSD. Mas se perceber que não tem, nem terá condições internas para chegar a primeiro-ministro, Rui Rio saltará fora e deixará o partido entregue aos que nunca partilharam o seu entendimento de interesse nacional, antecipam membros da sua direção.

De resto, o facto de ter insistido várias vezes na ideia de que o partido estava a cometer um suicídio político ao discutir eleições internas em plena crise governativa e na antecâmara de eventuais legislativas antecipadas (“estão meio loucos”, Rio dixit), deu-lhe uma narrativa para bater com a porta se assim o entender, analisam os seus mais próximos.

Se sair sem ir a votos, Rui Rio poderá sempre dizer que um partido que não comunga dos valores mais básicos não é um partido sério e capaz de oferecer uma alternativa ao país. E sair com, pelo menos, a sensação de que tentou reescrever o ADN do PSD e que não foi possível.

Seja como for, depois de Rangel ter formalizado a candidatura, o relógio de Rui Rio começou a contar. Ele, que sempre controlou os tempos políticos do partido (veja-se o duelo contra Montenegro), está agora pressionado a tomar uma decisão. Resta saber se terá vontade para enfrentar Rangel e, vencendo, aguentar mais dois anos de embate com o próprio partido.

O eurodeputado e conselheiro do Partido Social Democrata (PSD), Paulo Rangel, à chegada para a reunião do Conselho Nacional do partido para debater a situação política, a convocação das eleições diretas para presidente do partido, aprovação do respetivo regulamento, bem como a marcação do 39.º Congresso do PSD, em Lisboa, 14 de outubro de 2021. MÁRIO CRUZ/LUSA

MÁRIO CRUZ/LUSA

O filme das 48 horas que viraram o jogo

Mesmo para os seus apoiantes mais próximos, é muito difícil de explicar o que aconteceu nos últimos dois dias. Na quarta-feira, Rio surpreendeu tudo e todos (aliados incluídos). Em duas horas, o líder do partido propôs formalmente eleições internas a 4 de dezembro (data que tinha sido aprovada pela direção na semana anterior) e, logo a seguir, marcou uma conferência de imprensa de urgência, no Parlamento, onde anunciou que ia apelar informalmente aos conselheiros nacionais para que adiassem as mesmas para depois da votação do Orçamento do Estado.

No dia seguinte, quinta-feira, o que seria apenas um apelo começou a ganhar forma, durante a tarde, de requerimento formal para apresentar à Mesa do Conselho Nacional. E com o formalismo veio também toda uma outra dimensão: a ser votado, tal como veio a acontecer, e a ser chumbado, tal como veio acontecer, seria uma derrota em toda a linha para Rui Rio. O risco era imenso.

A decisão de formalizar esse apelo foi tomada durante uma reunião da comissão política permanente do PSD, o núcleo mais restrito de Rui Rio. Nessa mesma tarde, a poucas horas do Conselho Nacional, os membros da direção social-democrata desdobravam-se em telefonemas para tentar sensibilizar os conselheiros para os méritos dos argumentos de Rio. Ouviram várias negas, alguns ‘sins’ e uns quantos talvez.

Logo, mesmo tendo consciência de que poderiam não ter a maioria para aprovar o adiamento das diretas, havia a ténue esperança de, pelo menos, disputar taco a taco a votação. O resultado foi desastroso: 71 conselheiros votaram contra Rio; 40 votaram a favor (sendo que neste universo estão muitas conselheiros próximos de Rio que têm assento no órgão máximo entre congressos por inerência).

Num relato confirmado pelos dois lados da barricada, assim que os conselheiros levantaram as placas de votação, o ambiente na sala mudou. A tensão da imprevisibilidade desapareceu para os homens de Rangel; os rostos dos apoiantes de Rio fecharam-se. Estava consumada a derrota e por números muito redondos. “Quando se faz uma coisa destas tem de ser ter a certeza de que está ganho. É incompreensível“, lamenta fonte da direção.

O resto do Conselho até ao e depois do discurso de Rangel — que anunciou a candidatura dentro da sala, em frente a Rio — foi quase um proforma. Os ventos tinham mudado e já não havia assunto para agarrar ali os conselheiros.

Que a direção de Rui Rio foi surpreendida pela dimensão da derrota é um facto assumido. Que, no limite, pode ter sido positivo é um tema que divide posições: há, dentro do inner circle de Rio, quem entenda que foi um erro de palmatória que poderá ter mudado a história de umas diretas conquistáveis; e há quem defenda que serviu como instrumento útil a Rio para medir o pulso ao partido, perceber que muitas estruturas já escolheram um lado — o de Rangel — e evitar o dissabor de ir a votos em dezembro, perder as eleições e sair pela porta pequena do partido.

A verdade é que ninguém obrigava Rio a sujeitar-se àquela votação interna. Na véspera, o próprio dissera no Parlamento que ia apenas suscitar a reflexão. Ao mudar de ideias, ao perder e ao perder da forma como perdeu, pode ter percebido o que queria. “Tirou as dúvidas que precisava de tirar quanto ao apoio do aparelho partidário”, sintetiza fonte próxima de Rio.

Aos jornalistas, já depois do Conselho Nacional, foi o próprio a assumir que o desfecho daquela noite ia pesar na sua decisão. Agora vou fazer a equação. E vou ver: x1, x2, depois vou tirar a média. Logo se vê”, despediu-se Rio.

Jorge Moreira da Silva fora da corrida ao PSD

REINALDO RODRIGUES

Moreira da Silva espreita

O resultado de Rui Rio e o facto de se ter começado a instalar a perceção de que o líder social-democrata pode mesmo não ir a jogo, mexeu com as placas tecnónicas do PSD. Com Luís Montenegro autoexcluído da corrida e a confirmar-se a desistência de Rio, nos bastidores do PSD já se pergunta sobre quem será o adversário de Paulo Rangel nas diretas do partido. E todos os dedos apontam num sentido: Jorge Moreira da Silva.

Inicialmente, o antigo ministro de Pedro Passos Coelho deu sinais de que estaria disposto a avançar mas, daí para cá, tem estado em silêncio sobre a vida interna no PSD e sobre os seus planos para o futuro.

Sem Rio em jogo, a verdade é que Moreira da Silva ganharia espaço para agregar todos os órfãos do rioísmo e para apresentar uma candidatura que, não tendo, em teoria, grandes hipóteses de ser vencedora, teria pelo menos a vantagem de lançar o ex-ministro na rota da carne assada e de preservar a influência de algumas estruturas não controladas por Rangel.

Uma coisa é certa: até Rui Rio falar, não se ouvirá uma palavra de Jorge Moreira da Silva sobre qualquer candidatura à liderança do PSD. Depois, e dependendo do sentido da decisão do presidente do partido, o ex-ministro de Passos Coelho dirá de sua justiça. Chegará o tempo dele.

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