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Só depois de “trabalhar de forma selvagem para poupar”, conseguiu contornar a sua própria precariedade e “pela primeira vez dedicar um tempo contínuo a um livro", diz-nos Elena Medel
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Só depois de “trabalhar de forma selvagem para poupar”, conseguiu contornar a sua própria precariedade e “pela primeira vez dedicar um tempo contínuo a um livro", diz-nos Elena Medel

Só depois de “trabalhar de forma selvagem para poupar”, conseguiu contornar a sua própria precariedade e “pela primeira vez dedicar um tempo contínuo a um livro", diz-nos Elena Medel

Elena Medel. “O dinheiro define as nossas vidas: o lugar de onde vimos, o lugar onde podemos chegar”

A precariedade tem uma nova voz – e surge feita de experiência. O romance de estreia de Elena Medel, “As Maravilhas”, foi uma das sensações do ano de 2020 em Espanha. Chega agora a Portugal.

De grandes olhos azuis, cabelo escuro e muito curto, e uma estante branca atulhada de livros em fundo, a escritora espanhola Elena Medel, 36 anos, emociona-se várias vezes ao longo da conversa por Zoom. No final, sotaque andaluz tão suave como carregado, explicará porquê: “É a minha primeira entrevista com um meio de comunicação estrangeiro.” Quase 20 anos depois da estreia na poesia, Medel aventurou-se por fim na prosa com aquele que se revelou um dos romances-sensação de 2020, As Maravilhas, entretanto já vendido para “12 ou 13 países” – a começar por Portugal, onde acaba de sair.

Construído em torno de três gerações de mulheres, ao longo de quase 50 anos de acontecimentos políticos e económicos da história de Espanha, o livro traça um retrato privado da precariedade no país. “Precariedades”, na verdade, no plural, não só económicas, mas também laborais e emocionais, explica. Seja na carreira do autocarro da periferia para o centro de Madrid, nas tascas onde se conta os cêntimos para mais uma imperial ou nas reuniões das associações de vizinhos. Um relato ao mesmo tempo cru e lírico, demasiadas vezes sufocante, se não pelas nossas próprias vidas, pelas daqueles (e, sobretudo, daquelas) com quem nos cruzamos todos os dias.

É um tema “que me vem obcecando há muito, que já tinha tratado em poemas”, contará. A falta de dinheiro, as limitações que a vida nos impõe, os encontros e os desencontros. Só depois de “trabalhar de forma selvagem para poupar”, conseguiu contornar a sua própria precariedade e “pela primeira vez dedicar um tempo contínuo a um livro.” Sabe que tudo teria sido diferente se as suas possibilidades financeiras fossem outras. “Venho de uma família de classe baixa, trabalhadora”, explica a autora que há 15 anos emigrou de Córdova para trabalhar no mundo editorial madrileño. “Este não é um romance autobiográfico, mas é impossível que ao escrever-se ficção a nossa visão e a nossa experiência não apareçam.”

A capa de "As Maravilhas", de Elena Medel (publicado pela Dom Quixote)

Uma das coisas que marca o tom deste As Maravilhas é a proximidade com que a precariedade é retratada. Em meados do século XX, com o neo-realismo, por exemplo, escrevia-se sobre a pobreza, mas de forma quase romantizada.
Romantizada, idealizada… Quem escrevia essas histórias? Há exceções mas, na maior parte dos casos, essa literatura mais social e política era feita por pessoas de outras classes. Escreviam a partir de uma posição de privilégio. Quase como quem vai de viagem até uma classe social a que não pertence e envia um postal. Agora, sim, está a escrever-se sobre a precariedade de dentro da precariedade.

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Escreve sobre três gerações, num total de quase 50 anos, mas a precariedade parece manter-se sempre. Nada mudou?
Não houve uma mudança. A precariedade e a pobreza são transversais. Já não têm que ver com a geração a que se pertence, mas com a classe social. Lia há uns meses que em Espanha são necessárias pelo menos quatro gerações para ascender de classe social. É um abismo imenso. Haverá exceções, mas está cada vez mais difícil. Não sei como é em Portugal, mas parece-me que haverá muitos pontos de contacto entre os dois países.

Ainda assim, Alicia, a personagem mais jovem, de início parecia que iria ter uma vida diferente do resto da sua família, graças a um suposto sucesso do pai.
A história de Alicia tem a ver com uma situação que se verificou em Espanha em meados dos anos 1990: a bonança económica depois dos Jogos Olímpicos de Barcelona e da Exposição Universal de Sevilha, ambos em 1992, que de repente deu lugar a uma crise económica fortíssima. Houve muitas famílias em Espanha que de repente perderam tudo. Isto refletiu-se depois na bolha imobiliária da primeira década do século XXI. Por outro lado, no caso da personagem Maria, quase todos os capítulos estão associados a um episódio histórico: a morte de Franco, a vitória do Partido Socialista em 1982… Ou seja, se a geração de Maria, que nasce em ditadura e começa a despertar politicamente na transição, está mais marcada pelas mudanças políticas, a geração de Alicia, que é a minha, vê a sua vida mais marcada pelas crises económicas.

Há lugar para a esperança nestas histórias? Aí, sim, parece haver grande diferença entre as personagens: a mais velha, que luta pelo futuro, e a mais nova, quase anestesiada. Sobre o que pensa a terceira mulher, filha de uma e mãe da outra, pouco sabemos.
Enquanto leitora, interessam-me muito os livros abertos. Por isso este é um livro com tantos vazios, tantas elipses. Por isso não há nenhuma trama para a personagem de Carmen, uma personagem fundamental, quase protagonista, mas que só conhecemos pelo que dizem os outros sobre ela: do ponto de vista de Maria, é uma vítima; para Alicia, uma vilã. Na vida, nada é branco nem preto; há uma gama enorme de cinzentos. Mas quando são coisas que nos tocam de forma emocional, a nossa reação costuma ser mais intensa. A Maria é alguém que conseguiu encontrar o seu lugar no mundo, também porque nunca desistiu de o procurar. Depois de toda uma vida de trabalho, conforma-se em viver num apartamento arrendado, com um sofá, um televisor e os seus livros. Um lugar muito frágil. Uma sobrevivência feliz. O trajeto de Alicia é o contrário. É uma personagem que quase desfruta da autodestruição.

"No romance, tem um peso importante o tema dos cuidados. A maior parte dos cuidados são femininos e estão precarizados. Quando uma pessoa fica doente, pressupõe-se sempre que a pessoa que vai tomar conta dela é o elemento feminino que está por perto: a mulher, a filha, a mãe, ou uma pessoa que se contrata."

Voltando aos acontecimentos históricos e às crises económicas, estas personagens são consequência do seu contexto histórico? Não há como fugir?
Maria é um exemplo de como uma organização, não pelas hierarquias dos partidos políticos, mas do trabalho coletivo, de uma forma muito horizontal, permite gerar espaços alternativos àqueles que nos limitam. Nesse sentido, é uma personagem que fala de um movimento que em Espanha é muito habitual, sobretudo em bairros da periferia de grandes cidades, que são os movimentos de associações de vizinhos, que, por exemplo, durante a pandemia prestaram grande apoio voluntário a quem precisava. Eu sou bastante pessimista, mas creio que podemos abrir gretas no sistema e esgueirar-nos por aí, com outras formas de colaboração e solidariedade.

Este livro tem três protagonistas mulheres. Na sua opinião, estão mais vulneráveis à precariedade do que os homens?
Sem dúvida. Classe social, género e raça são fatores determinantes. No romance, tem um peso importante o tema dos cuidados. A maior parte dos cuidados são femininos e estão precarizados. Quando uma pessoa fica doente, pressupõe-se sempre que a pessoa que vai tomar conta dela é o elemento feminino que está por perto: a mulher, a filha, a mãe, ou uma pessoa que se contrata. Queria que neste livro estivesse presente a figura de uma mulher que ganha o seu salário a cuidar dos outros e que por causa desse trabalho não pode cuidar da própria família. O livro é uma reflexão sobre o dinheiro: sobre a falta de dinheiro e também sobre o sistema em que esse dinheiro está no centro de tudo e, em geral, nas mãos de homens.

Ainda nesta questão da precariedade, uma diferença radical entre homens e mulheres é a maternidade, que por sua vez é o fio de ligação entre as três personagens. A dada altura, quando se questiona sobre como teria sido a sua vida se tivesse dinheiro, Maria sugere que nunca teria acontecido sequer engravidar.
Esse monólogo de Maria para mim era fundamental. No seu caso, trabalha numa casa onde nasceu um bebé para que a mãe se possa dedicar a uma maternidade idealizada. Neste livro, há quase uma demolição da maternidade como estado ideal. Eu não sou mãe, mas muitas das minhas amigas mais próximas são mães e muitas contaram-me que havia questões sobre a maternidade de que nunca lhes tinham falado.

A woman wearing a face mask to protect against the spread of

"Em Espanha usa-se de forma depreciativa a etiqueta 'literatura feminina'. Houve homens que me disseram, 'de início não me interessou o teu livro, porque como era protagonizado por mulheres...'”

LightRocket via Getty Images

Como uma conspiração?
Como se todo o mundo se centrasse na parte bonita da maternidade e escondesse o difícil que é ser mãe, o duro que é fisicamente, mentalmente. São relatos que não têm visibilidade porque se consideram um tema menor. Em geral, quando lemos um romance com um protagonista masculino, fala-nos dos grandes temas da humanidade. Quando é uma protagonista feminina, pode estar a falar dos mesmos temas que já é “uma questão de mulheres”. Em Espanha usa-se de forma depreciativa a etiqueta “literatura feminina”. Houve homens que me disseram, “de início não me interessou o teu livro, porque como era protagonizado por mulheres…”

Disseram-lhe isso assim?
Sim, claro. Um livro que na verdade é sobre dinheiro, que é uma coisa que afeta todas as pessoas do mundo.

“As Maravilhas” do título aparecem no capítulo em que as meninas da escola vão a casa de Alicia e se confrontam com os pequenos luxos com que ela vive. São tão importantes assim na nossa vida?
Esse capítulo foi o primeiro que escrevi. De início, as raparigas ficam muito impressionadas pelas maravilhas materiais que há na casa de Alicia – um televisor em cada divisão, sacos de um supermercado caro, fotos de férias noutros países – mas quando tudo se desmorona percebem que também há outras maravilhas. Interessou-me esse choque entre as posses materiais e a possibilidade de organizar outras vidas alternativas.

Crescemos a ouvir o dinheiro não importa. O livro parece dizer exatamente o contrário e de forma muito clara.
O dinheiro só não importa a quem tem dinheiro suficiente para que não lhe importe. Quando nos falta dinheiro para pagar a renda ou para comprar com tranquilidade no supermercado, é diferente. Estas personagens perguntam-se como seria a sua vida se tivessem tido dinheiro ou se o dinheiro não lhes tivesse faltado. Claro que o dinheiro importa. Feitas as contas, define as nossas vidas: o lugar de onde vimos, o lugar onde podemos chegar.

Parece-lhe que nas últimas gerações tem mudado a forma como pensamos e olhamos para o dinheiro?
Ainda temos muita vergonha de falar em dinheiro. Em Espanha, ter pouco dinheiro, ganhar pouco, vir de classes trabalhadoras e de uma família humilde, ainda é visto como um demérito. Essa falta de dinheiro ainda é um tabu. Eu trabalho há muitos anos como freelancer – seja como editora, como redatora, basicamente para qualquer sítio que me pague – e custa muito perguntar quanto me vão pagar. E, quer dizer, é a troco de dinheiro que se trabalha. Temos uma relação muito perversa com o dinheiro: quando sobra, não lhe damos importância; quando falta, torna-se uma parte essencial da nossa vida.

"Quase todas as nossas decisões têm uma repercussão e uma explicação políticas. O facto de decidirmos ir fazer compras a uma grande superfície ou a uma loja pequena de bairro já é uma decisão política. O facto de nessa loja pequena decidirmos compra fruta ou verduras das proximidades em detrimento de outras de outro continente é uma decisão política."

É verdade que houve mulheres que a propósito do livro lhe escreveram com as suas histórias?
Uma vez num clube de leitura, num raro momento presencial (o livro saiu em outubro de 2020, em plena pandemia), houve uma mulher que se tinha mantido calada durante toda a sessão e no fim se aproximou para dizer que trabalhava numa empresa de limpezas e que tinha gostado muito do livro. Contou-me que era muito boa no seu trabalho. E no romance há um momento em que Maria descreve como faz bem o seu trabalho. Pela primeira vez, sentiu que havia alguém como ela. Isso emocionou-me muito. Noutro clube de leitura, mas online, com um grupo de mulheres de Sevilha, uma mulher contou-me que, à imagem da personagem de Maria, na década de 1970 ela e o marido tinham feito parte de uma associação de vizinhos. E, nas assembleias da associação, muitas vezes o marido dizia coisas que era ela que lhe dizia em casa. Depois, no final da reunião, quando iam todos ao bar tomar um copo, era ela e outra mulher que ficavam a limpar o espaço. Quando a lei do divórcio saiu em Espanha, começou a poupar para se divorciar. Para mim, uma das melhores coisas neste livro foi a interação com as mulheres.

Já quase no final do livro, numa cena sobre o respeito pelas pessoas que limpam as casas-de-banho públicas, lê-se, “o pessoal também é político”. Este livro é um ato político?
Para mim é um livro político. E assumo o rótulo com alegria e orgulho. Quase todas as nossas decisões têm uma repercussão e uma explicação políticas. O facto de decidirmos ir fazer compras a uma grande superfície ou a uma loja pequena de bairro já é uma decisão política. O facto de nessa loja pequena decidirmos compra fruta ou verduras das proximidades em detrimento de outras de outro continente é uma decisão política. São decisões políticas alimentadas pelo dinheiro. Quase tudo o que fazemos responde a uma ideologia. E, nesse sentido, este romance é quase um manifesto.

E agora, outro romance?
Acabei As Maravilhas há dois anos e pouco depois comecei a trabalhar noutro romance. Penso que me faltará mais um ou dois anos. Trata de mulheres, de questões de classe e de dinheiro. Receio que vão ser esses os meus temas. Mas aqui centro-me sobretudo nos anos 1990, que na minha opinião explicam bastante do que estamos a viver agora em Espanha.

Escreveu o prefácio para a edição espanhola do livro de Virginia Woolf, A Room of One’s Own
O meu livro favorito.

"Não tive uma bolsa ou um adiantamento, nem uma família que me dissesse, 'dedica-te durante dois anos a escrever o teu romance, que te sustentamos'. O que fiz foi durante um ano e meio trabalhar em tudo o que me aparecia, quase tudo muito mal pago: edição, comunicação cultural... E mantinha uma rotina de escrita à base de tirar tempo ao sono e aos ócios."

Porquê?
Um dos meus favoritos. É um livro tristemente visionário. Foi escrito há 100 anos, mas muitos dos temas de que fala estão por resolver porque a desigualdade continua enraizada na sociedade. Quando lemos um livro projetamos nesse livro os nossos interesses, e interessa-me muito a frase mítica de Virginia Woolf: “Uma mulher precisa de ter dinheiro e um quarto só seu para escrever um livro.” Pelo menos em Espanha, ao longo da história, foi-se reproduzindo a frase incompleta: “Uma mulher precisa de ter um quarto só seu.” E apagou-se o dinheiro da equação, quando me parece que é fundamental. Sem dinheiro até pode ter esse quarto só seu, mas depende de outra pessoa.

Foi por causa dessa frase que referi o livro. A precariedade de que fala em As Maravilhas será uma das razões para haver menos mulheres do que homens a escrever? No início desta conversa começou por dizer que demorou estes anos todos a lançar um primeiro romance porque ainda não tinha conseguido ter um tempo contínuo. Por “tempo” pode ler-se “dinheiro”?
Sim. O que fiz foi durante muito tempo trabalhar de forma selvagem para poupar. Não tive uma bolsa ou um adiantamento, nem uma família que me dissesse, “dedica-te durante dois anos a escrever o teu romance, que te sustentamos”. O que fiz foi durante um ano e meio trabalhar em tudo o que me aparecia, quase tudo muito mal pago: edição, comunicação cultural… E mantinha uma rotina de escrita à base de tirar tempo ao sono e aos ócios. A dada altura, as minhas amigas passaram a assumir que eu não estaria disponível para nada porque sempre que tinha um pouco de tempo livre dedicava-o a escrever. Até que consegui poupar dinheiro suficiente para me dedicar de forma exclusiva à escrita durante alguns meses. A reta final. Do início ao fim foram mais de cinco anos.

O que lhe deu “ganas” durante este cinco anos?
Vinha de experiências anteriores de romances falhados. Pensei que tinha de ser capaz. Ao mesmo tempo, gostava muito da história. Foi quase uma questão pessoal; querer tirar o livro cá para fora. Felizmente ganhei dinheiro com As Maravilhas e está a permitir-me dedicar-me a este segundo livro com mais calma. Aquilo que escrevemos não é o livro que queremos, mas o livro que conseguimos.

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