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Pedro Sánchez insistiu na ideia de que a "direita tradicional" está "parasitada" pela extrema-direita

AFP via Getty Images

Pedro Sánchez insistiu na ideia de que a "direita tradicional" está "parasitada" pela extrema-direita

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Investidura. Sánchez tentou unir congresso contra a "direita reacionária" — mas Junts exige referendo e pode causar "surpresa"

Sánchez usou aliança PP e VOX para se assumir como um "muro" para impedir governo com extrema-direita. Feijóo critica "corrupção" que implicou lei da amnistia e Junts deixa investidura em aberto.

Passava mais de uma hora desde o início do discurso de Pedro Sánchez, quando se ouviu finalmente a palavra “amnistia”. O atual chefe de governo espanhol, que espera ser reeleito, já tinha antes disso abordado o perigo que representa a extrema-direita e tinha apresentado o seu programa eleitoral. E até brincou com a situação: “Todos estavam à espera desta parte deste discurso”. Defendendo a lei da amnistia e sublinhando que pode trazer um “perdão” e uma “reconciliação” na sociedade espanhola, Pedro Sánchez acabou por não agradar ao Junts per Catalunya, apesar do tom pacificador.

O partido da Carles Puigdemont, o último a intervir na primeira sessão do debate da investidura de Pedro Sánchez, deixou no ar uma “surpresa” para esta quinta-feira. A porta-voz do Junts per Cataluyna, Miriam Nogueras, acusou o socialista de não ser “corajoso”. “Não se atreveu a abordar o problema catalão de forma direta. É tempo de deixar esconder o problema, está disposto a fazê-lo?”, questionou a deputada, exigindo uma clarificação: se o chefe do governo apoia o “pagamento da dívida da Catalunha e o direito ao referendo e a autodeterminação” da região. Caso contrário, o partido catalão é taxativo e assegura que não “apoiará nenhuma iniciativa deste futuro governo”.

Contrariamente ao Junts, cuja posição não é clara mesmo tendo sido assinado um acordo com o PSOE, o Sumar e a Esquerda Republicana Catalã (ERC) mantiveram-se ao lado de Pedro Sánchez. Em contrapartida, os partidos de direita usaram uma retórica mais agressiva — e o VOX chegou a abandonar o plenário após o discurso do líder, Santiago Abascal.

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Sánchez no debate de investidura

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Investidura em aberto: ameaça ou bluff do Junts?

A primeira sessão do debate da investidura já estava na fase final, quando a imprensa espanhola noticiava o desagrado do Junts per Catalunya. Em causa, estavam os termos utilizados por Pedro Sánchez. Para o partido de Carles Puigdemont é uma questão de “justiça” e não de “perdão” — termo que o socialista utilizou. Miriam Nogueras até participou numa reunião, ainda esta quarta-feira e durante o debate, com dirigentes do PSOE, de modo a esclarecer o assunto.

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Na sua intervenção, a porta-voz do partido independentista catalão lembrou que os dois partidos passaram “muitas horas a trabalhar” no acordo. “Um acordo em que não aparece nenhuma vez a palavra ‘diálogo’ e sim a palavra ‘negociação’”, advertiu a responsável política, que deixou bem claro que os socialistas sabiam de antemão a génese do Junts: “Não deixamos de ser de ser o partido que impulsionou o referendo e autodeterminação. De onde viemos e para onde vamos ficou claro no acordo assinado”.

Ora, respondendo a Miriam Nogueras, Pedro Sánchez recordou que “ofereceu soluções” ao Junts, tendo chegado “o momento certo” para as concretizar. “Devemos tomar medidas para desjudicializar o conflito político. Nesse sentido, ninguém pode negar que vivemos um novo tempo para a Catalunha”, insistiu o socialista, que, no entanto, nunca se comprometeu com o referendo. Apenas vagamente indicou que o PSOE está empenhado em “resolver o conflito” catalão.

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"Não deixamos de ser de ser o partido que impulsionou o referendo e autodeterminação. De onde viemos e para onde vamos ficou claro no acordo assinado”, diz Miriam Noguera, porta-voz do Junts

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Pedindo que o Junts confie no PSOE, o chefe de governo assinalou que quer manter viva “a conversa” com o Junts: “Trata-se de falar, de negociar, de escutar. A verdade não é exclusiva de nenhuma das partes”. “Não deixaremos de escutar, é fundamental. Abre-se uma nova etapa. Ainda há muito caminho para recorrer. As feridas levam tempo a curar-se e a cicatrizar”, sinalizou Pedro Sánchez, que tentou assim convencer o partido de Puigdemont — cujo posicionamento ainda não é claro.

O “muro” que Sánchez quer contra a “direita reacionária”

No discurso da parte da manhã, Pedro Sánchez insistiu na ideia de que a “direita tradicional” está “parasitada” pela extrema-direita. Ainda que tenha mencionado exemplos nos Estados Unidos e na Argentina, descrevendo uma “disjuntiva” entre democracia e a “insegurança que acabará com a democracia”,  o socialista referia-se ao panorama político espanhol, nomeadamente ao PP e ao VOX.

E deixou isso claro no seu discurso. Recordando os resultados das eleições regionais de 28 de maio e as alianças que o Partido Popular firmou com o VOX, Pedro Sánchez considerou que, a partir desse momento, o PP deixou de ser “responsável” ao não travar a extrema-direita. “O senhor Feijóo escolheu o caminho de perdição e uniu o seu destino à extrema-direita e ao clube reacionário de Trump, Le Pen e Abascal”, atacou o socialista.

“O senhor Feijóo escolheu o caminho de perdição e uniu o seu destino à extrema-direita e ao clube reacionário de Trump, Le Pen e Abascal”
Pedro Sánchez, líder do PSOE

Na ótica de Pedro Sánchez, esta “direita reacionária” tem de ser travada. Assim sendo, o socialista garantiu que o “governo progressista” que liderará será um “muro” aos “ataques à Espanha democrática e constitucional”. “Enquanto eu for presidente de governo, toda a força do Estado se dedicará a defender valores democráticos, a liberdade e direitos dos espanhóis. Nenhum retrocesso e nenhum passo atrás”, declarou o líder do PSOE.

O facto de a sua investidura impedir que o VOX chegue ao poder foi um dos principais argumentos para Pedro Sánchez conseguir uma coligação alargada entre partidos de esquerda e independentistas, sendo igualmente um argumento que ressoa na sociedade civil. Daí que o socialista tenha por várias vezes repetido esta mensagem: o governo liderado pelo PSOE, mesmo com uma amnistia,“é a única maneira de travar a extrema-direita”.

Na sua intervenção no debate, Gabriel Rufián, porta-voz do grupo parlamentar da Esquerda Republica Catalã (ERC), sublinhou precisamente esse ponto: “A única coisa que partilham PSOE, Sumar, ERC, Junts, Bildu, PNV e BNG é travar a direita”.

epa10976444 Spain's Acting Prime Minister Pedro Sanchez delivers a speech during the first day of his investiture debate at the Lower House of the Spanish Parliament, in Madrid, Spain, 15 November 2023. Pedro Sanchez faces his investiture debate in the parliament at a time of great political tension around the amnesty law. He is expected to be invested in a second term this week after PSOE party reached a deal with Catalan pro-independence party Junts per Catalunya (JxCat), led by former Catalan president Carles Puigdemont, by which Catalan separatists involved in the so-called independence 'process' in 2017 would be amnestied in exchange of the key support of seven JxCat MPs, among other concessions.  EPA/Daniel Gonzalez
“Enquanto eu for presidente de governo, toda a força do Estado se dedicará a defender valores democráticos, a liberdade e direitos dos espanhóis. Nenhum retrocesso e nenhum passo atrás”
Pedro Sánchez, líder do PSOE

A revolta de Feijóo, que não se vai “calar” e as acusações de “corrupção”

Conhecido por ser moderado e até demasiado racional, Alberto Núñez Feijóo adotou uma postura combativa neste debate de investidura, criticando duramente a lei da amnistia. Num clima de crispação em Espanha, o líder do PP garantiu que não deixar que o povo espanhol fique em silêncio ou que se resigne após a investidura do socialista, marcando uma nova manifestação para sábado, em Madrid: “Não me vou calar.”

“Jamais aceitaria vender os direitos dos espanhóis, fruto dos seus impostos e da sua dignidade”, atacou Alberto Núñez Feijóo, que caracterizou a investidura como “falsa” e pediu “novas eleições”, argumentando que a amnistia e o referendo não faziam parte do programa eleitoral dos socialistas.

Elevando o tom, o líder do PP acusou Pedro Sánchez de não ter “limites” para a sua “ambição pessoal”: “Não há limites éticos. Não há limites políticos. O fim justifica qualquer meio. Não há limites legais. Do senhor Sánchez pode esperar-se qualquer coisa”, atirou Alberto Núñez Feijóo, que definiu esta investidura como “redundante”. “Já aconteceu. Longe desta câmara, longe de Espanha, longe da normalidade democrática e às escondidas”, lamentou, numa referência às negociações com os partidos independentistas.

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Líder do PP acusou Pedro Sánchez de não ter “limites” para a sua “ambição pessoal”

AFP via Getty Images

Esta investidura é “uma fraude”, vincou Alberto Núñez Feijóo, referindo que os espanhóis não votaram nas urnas pela amnistia. “Esta investidura é um exercício de corrupção política. É tomar decisões em benefício pessoal e não tendo em conta o interesse geral.”

Tentando a todo o custo provocar novas eleições, o presidente do Partido Popular recordou ainda que a amnistia não é um processo pacífico mesmo dentro do PSOE. “A amnistia não melhora a convivência. Destrói. Divide o país em dois. Liquida o princípio de igualdade”, reforçou Alberto Núñez Feijóo.

VOX abandona plenário

Utilizando uma retórica ainda mais inflamada, o líder do VOX, Santiago Abascal, usou o termo “golpe de Estado” para definir a lei da amnistia firmado entre os partidos independentistas e o PSOE. “Não se pode suprimir o poder judicial. Não se pode consagrar a desigualdade entre os espanhóis”, afirmou o responsável partidário.

A investidura do socialista é, assim, “um primeiro passo para um golpe de Estado, para um golpe à constituição, para iniciar o fim da democracia e para a abolição do Estado de direito”. Tudo isto, segundo Santiago Abascal, serve para Pedro Sánchez se “manter sentado na cadeira do poder”. “Mas o único banco que merece é o dos réus”, chegou a atirar.

epa10889522 Spanish far-right Vox party's leader Santiago Abascal delivers a speech at the Congress of Deputies in Madrid, Spain, 29 September 2023. Spanish lawmakers are voting for second time the investiture's bid of conservative candidate Alberto Nunez Feijoo in a session at Congress of Deputies. Feijoo only needs to win the vote by a simple majority to become the new Prime Minister after he did not achieve enough support in first vote, held on 27 September, when he needed an absolute majority. In case he loses the vote, acting Prime Minister Pedro Sanchez is expected to be assigned by king to try to form a new Government and will have two months to get support of enough lawmakers to avoid a new general election.  EPA/Juan Carlos Hidalgo

“Não se pode suprimir o poder judicial. Não se pode consagrar a desigualdade entre os espanhóis”, diz Santiago Abascal

Juan Carlos Hidalgo/EPA

Devido a estas acusações, a presidente da Mesa do Congresso, Francina Armengol, interveio no debate. “Senhor Abascal, peço que retire as palavras de golpe de Estado, porque se não, em função das minhas competências, serei eu a retirá-las da ata”, indicou a socialista. “Evidentemente, não vou retirar”, ripostou Santiago Abascal, contestando: “Já nem os deputados têm liberdade de expressão”.

Entre acusações e críticas “aos pactos nefastos de Pedro Sánchez que pisam a Constituição”, o presidente do VOX apelou a Alberto Núñez Feijóo que tente travar a lei da amnistia no Senado, órgão no qual o Partido Popular tem maioria. Se o líder do PP não o fizer, advertiu Santiago Abascal, o PP está a “colaborar” com a lei da amnistia, tornando as relações entre os dois partidos muito “difícil”.

Terminando o discurso a dizer que a amnistia traria “miséria”, Santiago Abascal e os 32 deputados do VOX abandonaram o Congresso dos Deputados em protesto contra a investidura de Pedro Sánchez.

Sumar e ERC em sintonia com Sánchez

Assumindo “posicionamentos diferentes”, o Sumar e a ERC sintonizaram o discurso com Pedro Sánchez. Yolanda Díaz descreveu esta investidura como um “momento histórico”, no qual incluiu a lei da amnistia. “Ganhamos a possibilidade de a Catalunha ser uma solução para o conjunto de Espanha”.

Por sua vez, a Esquerda Republicana Catalã assumiu o mesmo posicionamento. “Diz-se que é a maior ameaça da democracia. Não se diz que são ‘ameaça às democracias’ os assassinos machistas, as corrupções do Rei e as fraudes. A amnistia é um pacto entre partidos que nasce entre negociações e não de programas”, afirmou Gabriel Rufián.

Esta quinta-feira ainda vão intervir no debate de investidura o Partido Nacionalista Basco (PNV), a Eh Bildu, o Bloco Nacionalista Galego (BNG), a União do Povo Navarro (UPN) e a Coligação Canária. Todos eles, à exceção da UPN, deverão apoiar a investidura de Pedro Sánchez — mas as dúvidas relativamente ao Junts deverão manter-se até à votação.

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