Era um sinal de confiança. Quando em abril de 2011 a Federação do Irão colocou em cima da mesa um contrato de dois anos e meio, Carlos Queiroz percebeu que teria condições para desenvolver um projeto a médio/longo prazo e os próprios iranianos viam no técnico português as valias para desenvolver o futebol no país. Não foram apenas dois anos e meio mas sim oito, até 2019. E foi muito mais do que a qualificação em edições consecutivas do Mundial (algo que nunca tinha acontecido), sendo que a de 2018 só não chegou para atingir os oitavos porque a Espanha conseguiu empatar o jogo com Marrocos nos descontos: o número de jogadores elegíveis aumentou, as condições de trabalho no plano nacional foram sendo melhoradas, os elementos a jogar na Europa aumentaram exponencialmente. Depois, tudo se foi esbatendo.
O filme em torno do antigo selecionador Dragan Skocic, que entrou em 2020 para o lugar do sucessor de Queiroz (Marc Wilmots), é um bom exemplo da espiral em que a Federação iraniana entrou: o croata “cumpriu” o objetivo de qualificação para o Mundial, perdeu depois um jogo, foi colocado em causa, viu o seu contrato estar a caminho da rescisão antes de ser readmitido menos de uma semana depois, acabou mesmo por sair menos de dois meses depois. Até de razões políticas se falou, entre histórias de estágios e preparações mal feitas, relações conturbadas no balneário e falta de liderança, e era por isso que se ia montando um cenário de aposta num treinador local. A Federação, mais uma vez, recorreu a Queiroz.
1.300 dias depois, o português aceitou um desafio ainda maior do que aquele que perspetivava em abril de 2011. A base da equipa que esteve no Mundial de 2018 não mudou muito, há jogadores que deram o salto em termos de qualidade e experiência (Mehdi Taremi, do FC Porto, é um dos melhores exemplos) e os “toques europeus” entre os selecionáveis aumentaram. No entanto, o Irão é o país que viu a Federação da Ucrânia pedir a sua exclusão por ter fornecido armamento à Rússia e que viu ainda alguns pesos pesados da sociedade, incluindo ex-desportistas, recorrerem a um escritório espanhol de advogados para pedirem o afastamento da Team Melli pelo não respeito dos direitos humanos no país. Tudo entre um momento cada vez mais sensível em termos sociais que transforma quase os jogadores de futebol como símbolos da revolução. No meio de tudo isto, o português tenta blindar ao máximo a equipa, separando as posições políticas que os atletas tomam nas redes sociais do plano desportivo. Com isso, pode fazer mais história.
BI
- Ranking FIFA atual: 20.º
- Melhor ranking FIFA: 15.º (agosto de 2005)
- Alcunha: Team Melli (A Equipa Nacional)
- Presenças em fases finais até 2022: 5
- Última participação: 2018 (fase de grupos, 4 pontos com Espanha, Portugal e Marrocos)
- Melhor resultado: fase de grupos em 2018 (3.º lugar do grupo com 4 pontos)
- Qualificação: 1.º lugar no grupo C da 2.ª fase (18 pontos em 8 jogos com Iraque, Bahrain, Hong Kong e Cambodja) e 1.º lugar no grupo A da 3.ª fase (25 pontos em 10 jogos com Coreia do Sul, EAU, Iraque, Síria e Líbano)
- O que seria um bom resultado? Passar a fase de grupos
Jogos em 2022
- Qualificação para Mundial, 27/1: Iraque (casa), 1-0 (V)
- Qualificação para Mundial, 1/2: EAU (casa), 1-0 (V)
- Qualificação para Mundial, 24/3: Coreia do Sul (fora), 1-2 (D)
- Qualificação para Mundial, 29/3: Líbano (casa), 2-0 (V)
- Jogo de preparação, 12/6: Argélia (neutro), 1-2 (D)
- Jogo de preparação, 23/9: Uruguai (neutro), 1-0 (V)
- Jogo de preparação, 27/9: Senegal (neutro), 1-1 (E)
- Jogo de preparação, 10/11: Nicarágua (neutro)
O onze
- 4x3x3: Alireza Beiranvand; Moharrami, Kanaanizadegan, Hosseini, Hajsafi; Ezatolahi, Nourollahi, Amiri; Jahanbakhsh, Taremi e Sardar Azmoun
O treinador
- Carlos Queiroz (português, 69 anos, desde setembro de 2022)
- Outros clubes: Sub-20 de Portugal, Portugal, Sporting, New York MetroStars, Nagoya Grampus Eight, EAU, África do Sul, Manchester United (adjunto), Real Madrid, Irão, Colômbia e Egito
O craque
- Mehdi Taremi (30 anos, avançado do FC Porto)
- Outros clubes: Shahin Bushehr, Iranjavan, Persepolis, Al-Gharafa e Rio Ave
A revelação
- Sardar Azmoun (27 anos, avançado do Bayer Leverkusen)
- Outros clubes: Rubin Kazan, Rostov e Zenit
O mais internacional e o maior goleador
- Javad Nekounam (151 internacionalizações) e Ali Daei (109 golos)
Os 26 convocados
- A lista final de convocados ainda não foi divulgada
O local do estágio
- Al Rayyan Hotel Doha Curio Collection by Hilton, em Al Rayyan (treinos: Al Rayyan SC Training Facilities 1)
A antevisão
A ligação a Portugal
- Neste caso, ligações não faltam a começar logo pelo facto de ter defrontado a Seleção no último Mundial, arrancando um empate em Saransk no terceiro jogo da fase de grupos. Carlos Queiroz, que voltou ao Irão em setembro depois das passagens por Colômbia e Egito, é a principal ligação a Portugal, sendo que também a principal estrela da equipa nesta fase, Mehdi Taremi, joga no FC Porto. Alireza Beiranvand, guarda-redes que voltou ao Persepolis, já passou também pelo Boavista.