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A “fiel amiga” e o “grande e verdadeiro amor” de Juan Carlos. São diferentes as formas como a imprensa espanhola se refere à decoradora Marta Gayá — mas a lealdade ao rei emérito ao longo dos anos está sempre lá. O nome de Gayá voltou aos holofotes na sequência da entrevista que Corinna Larsen deu à BBC a propósito da sua ligação ao pai de Felipe VI de Espanha. Para reforçar que o casamento do rei emérito com Sofia da Grécia é um “acordo” estratégico há vários anos, Corinna falou de uma relação anterior à sua, “uma relação de quase 20 anos com uma mulher que também ocupou um lugar muito importante no coração e na vida” de Juan Carlos. Corinna estaria a referir-se a Marta Gayá, figura discreta que nos anos 90 foi particularmente falada, dada as muitas especulações à época que fizeram com que ganhasse a alcunha de “dama do rumor”.

O El Español escreve que Gayá foi a mulher com quem Juan Carlos quis casar (e que o levaria a pedir o divórcio a Sofia). Fontes próximas do rei emérito asseguram inclusive que esta foi a única mulher que Juan Carlos alguma vez amou — palavras com um certo peso, uma vez que é difícil esquecer a polémica e não autorizada biografia que garante que o monarca teve cerca de 5.000 amantes e que tinha até um helicóptero só para se encontrar com elas.

“Fala-se muito de Corinna e de que Juan Carlos estava muito apaixonado por ela. Mas os amigos sabiam que com a alemã era outra coisa que eu não descreveria como amor”, chegou a dizer uma fonte anónima ao El Español, ao mesmo tempo que garantiu que apenas testemunhou esse sentimento no rei quando este esteve com Marta Gayá. “E com mais ninguém.” Aos olhos da imprensa espanhola, ela foi a amante mais duradoura de Juan Carlos.

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E ainda que muitos se tenham esquecido da maiorquina, o certo é que ela voltou ao centro das atenções devido à entrevista de Corinna e às notícias mais recentes que dão conta que não foi só a amante alemã a receber uma quantia avultada de dinheiro enquanto gesto de “gratidão e amor”. Uma outra mulher terá recebido um milhão de euros em novembro de 2011, uma transferência feita também através da fundação Lucum — e tudo aponta que essa mulher seja Marta Gayá.

“O antigo amor e a atual amiga”

Muito se especulou sobre onde estaria Juan Carlos assim que a carta que escreveu ao filho foi conhecida, no início de agosto, na qual anunciava que ia sair de Espanha, uma decisão que surgiu após a derradeira onda de escândalos fiscais daquele que foi rei até 2014. Cascais chegou a ser apontado pelo El Mundo como um destino escolhido para viver após o verão — algo para o qual Juan Carlos estaria a contar com a ajuda de três portugueses, incluindo o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e a socialite Lili Caneças. Não se pode dizer que a opção esteja descartada, mas há outros potenciais destinos a surgir na equação enquanto Juan Carlos passa estes dias em Abu Dabi. O El Español traz à tona da água a cidade suíça de Genebra como um destino que Juan Carlos vê com bons olhos por ser discreto e tranquilo e por aí viver a filha, Infanta Cristina — mas não só. É em Genebra que vive também “o antigo amor e atual amiga” Marta Gayá.

Segundo o título espanhol, a história entre o rei emérito e Marta Gayá tem quase 30 anos, sendo que Juan Carlos terá tido três grandes amores ao longo da vida: María Gabriela de Saboya, de quem ainda hoje será amigo; Gayá, junto a quem terá encontrado um refúgio no terceiro ato da vida; e Corinna. Gayá, de 70 anos, é essencialmente conhecida por ser uma figura muito discreta — ao contrário de Corinna Larsen.

Nascida em 1949 no seio de uma família rica — os pais eram proprietários do hotel Villamil de Paguera em Maiorca —, Gayá é separada e não tem filhos, casou muito jovem com um engenheiro de nome Juan Mena, um matrimónio que durou apenas três anos. Após o divórcio, começou a trabalhar como relações públicas numa discoteca também em Palma de Maiorca, frequentada pela alta sociedade por altura do verão (incluindo a família real espanhola). Nunca mais subiu ao altar.

Atualmente, a decoradora aposentada passa os invernos na Suíça, tem um grupo de amigos em Miami, nos EUA, e os verões são sobretudo em Palma de Maiorca onde tem um apartamento — segundo o El País, desfruta de uma boa posição económica que lhe permite ter casas em diferentes pontos da Europa e goza de uma boa rede de contactos. O mesmo jornal garante que é uma mulher “inteligente, culta e com muito mundo”, motivo pelo qual não necessita de um “homem famoso ou rico” a seu lado.

Já a edição espanhola da Vanity Fair esclarece que não são conhecidos os negócios de Marta Gayá, à exceção de um trabalho enquanto decoradora para um casal de amigos — estudou Design de Interiores em Barcelona. Ainda assim, são precisamente os amigos íntimos que destacam o seu bom gosto e que a descrevem como uma pessoa “conservadora” e “generosa”, com uma grande paixão pelo mar.

“Nunca fui tão feliz”

A 4 de outubro de 1990, desconhecendo que a conversa por telefone com um empresário maiorquino estava a ser gravada, Juan Carlos confessou o seu amor por Marta Gayá, com quem manteve uma longa relação que terá sido interrompida em 2004, altura em que Corinna surgiu na vida do rei emérito. As gravações feitas pelo então CNI – Centro Nacional de Inteligência espanhol foram obtidas pelo meio OKDiario, que as publicou em exclusivo em março de 2017.

Nesse dia, há 30 anos, o monarca relatou ao telefone que na véspera um conhecido da família real espanhola tinha vindo ao Palácio da Zarzuela, em Madrid, para se queixar da falta de discrição de Juan Carlos tendo em conta a sua relação com Gayá, a qual estaria a provocar uma série de rumores na sociedade maiorquina. No telefonema em questão, o então rei refere-se a Gayá como a sua “namorada” e confessa: “Nunca fui tão feliz”. Quatro meses após a divulgação destas gravações, Gayá e Juan Carlos viajaram juntos para a Irlanda, em agosto de 2017, enquanto a restante família permaneceu no Palácio de Marivent, em Palma de Maiorca — foi a última vez que foram vistos juntos.

“O rei está ausente”

Outro episódio que parece levantar um pouco o véu desta relação remete para um jantar em que os protagonistas do triângulo amoroso se encontraram — rei emérito, Sofia e Marta. Gayá, que levava uma vida longe dos eventos sociais, ainda que fizesse parte da chama corte maiorquina. Como recorda o El Confidencial, Gayá fazia questão de coincidir o menos possível em lugares públicos com a mulher de Juan Carlos. No entanto, no verão de 1990, algo tornar-se-ia tema de conversa durante semanas. Era o primeiro grande jantar no verão maiorquino presidido pelos reis e tinha como objetivo entreter o príncipe Aga Khan — atualmente, a infanta Cristina trabalha em Genebra para a fundação de Aga Khan, líder espiritual do ramo xiita do Islão.

Já todos estavam sentados e os empregados começavam a servir a comida quando Marta Gayá chegou cerca de 20 minutos atrasada na companhia do príncipe georgiano Zourab Tchkotoua (amigo de infância do rei emérito e que, segundo 0 OKDiario, foi quem o apresentou a Gayá no princípio dos anos 80). O atraso pode ter surpreendido os organizadores do evento, mas não tanto como o facto de Juan Carlos, ao ver a alegada amante chegar, levantar-se da mesa para cumprimentar o príncipe e a mulher que o acompanhava, um gesto particularmente prejudicial para a imagem de Sofia. Uma fonte próxima de Juan Carlos conta ao El Español que Gayá foi mesmo a única mulher que fez o monarca considerar divorciar-se de Sofia. Terá sido inclusive em 1992 que Juan Carlos proferiu a tão famosa frase: “Porque não posso fazê-lo como fazem milhares de espanhóis?”

Há outra declaração que fica na memória, “o rei está ausente”, dita por Felipe González, na altura à frente do governo espanhol. Essa foi a resposta à pergunta dos jornalistas sobre o facto de o rei ter falhado a nomeação do novo ministro das Relações Exteriores. Segundo a versão oficial, o rei tinha-se ausentado para fazer um check-up médico de rotina, mas Juan Carlos estaria oficiosamente de férias na Suíça na companhia de Gayá — o El Español dá conta de uma versão ligeiramente diferente e refere que o rei foi a Genebra porque Gayá tinha estado envolvida num acidente de carro.

Noutra ocasião, numa festa de apresentação da Taça do Rei, em Palma de Maiorca, um companheiro de regatas de rei emérito conta que quando os pais de Gayá chegaram, o rei disse às pessoas com quem estava: “Desculpem-me, vou cumprimentar os meus sogros”.  Segundo o El País, Marta Gayá nunca deixou de ter uma relação com Juan Carlos, sendo que terão estado juntos de forma discreta, mas estável, durante mais de 15 anos.

“São do mesmo grupo de amigos. A Marta conhece-o perfeitamente. Foi-lhe leal durante quase 30 anos. Sempre discreta. São muitos anos de uma história que viveu diferentes fases, incluindo [a fase de] Corinna. Agora está na fase em que duas pessoas se refugiam uma na outra”, contou outra fonte próxima ao El Español.