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"Não vai haver governo à direita sem o Chega. Nem que Cristo desça à Terra"

Ventura diz não ter medo de chumbar um eventual governo de direita, não abdica de ser governo para dar a mão ao PSD, descarta repetir solução dos Açores e não esconde que prefere Rio a Rangel.

André Ventura não está disposto a cedências e tem três premissas absolutamente cristalinas: o Chega só apoiará um governo de direita se integrar de alguma forma esse governo; desenganem-se os que, no PSD, acham que podem dispensar o Chega ou encostá-lo à parede, porque se tiver de chumbar um executivo de direita chumbará mesmo que a alternativa seja a esquerda no poder; e, aconteça o que acontecer, terão de contar com ele. “Não vai haver governo à direita sem o Chega. É impossível. Nem que Cristo desça à Terra.”

O líder do CDS dispõe assim as suas cartas em cima da mesa. Ventura está bem ciente de que há uma tendência maioritária no PSD (seja entre apoiantes de Rui Rio, seja entre apoiantes de Paulo Rangel) que acredita que pode (ou deve) ignorar o Chega e não o incluir numa hipotética maioria de direita. A tese é relativamente simples: a pressão sobre Ventura para impedir o PS de governar será bem maior do que o sapo que terá engolir por ficar de fora da solução. ´

Ora, o líder do Chega não desarma. “Se o PSD não aceitar fazer as reformas que achamos que são importantes votaremos logo contra o programa de Governo na primeira abertura do Parlamento, portanto o governo cai logo”, assegura o líder do Chega em declarações ao Observador.

A ideia de que está “disposto a deixar cair um governo de direita” nunca é colocada de parte. Aliás, Ventura diz que o faria com tanta facilidade como chumbar um executivo socialista. “Um governo do PSD com o PAN ou com a IL não é de direita, é um governo que vai ser igual a um governo do PS. Não nos vai faltar coragem”, relativiza.

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“Se o PSD não aceitar fazer as reformas que achamos que são importantes votaremos logo contra o programa de Governo na primeira abertura do Parlamento, portanto o governo cai logo”, assegura o líder do Chega em declarações ao Observador.

O fantasma do PRD e o mau exemplo do CDS

Não seria o primeiro caso em que a queda de um governo de direita resultaria no reforço do PSD. Em 1987, o Partido Renovador Democrático, partido criado com o patrocínio de Ramalho Eanes, então Presidente da República, aliou-se ao PS e apresentou uma moção de censura para derrubar o governo minoritário de Aníbal Cavaco Silva.

Liderado por Hermínio Martinho, o PRD tinha tido uma estreia de sonho, com quase 18% dos votos e 45 deputados eleitos. Dois anos depois, decidiu atirar Cavaco Silva borda fora na expectativa que novas eleições viessem a trazer uma nova composição parlamentar. Além dos socialistas, votaram ao lado PRD a Aliança Povo Unido, uma coligação então liderada pelo PCP.

Seguiu-se a tentativa de formação de um novo Governo de coligação entre o PS e o PRD, solução proposta por Vítor Constâncio ao então Presidente da República, Mário Soares, que sucedera a Ramalho Eanes. Soares recusou, o país foi a votos e Cavaco Silva teve a sua primeira maioria absoluta. O PRD passou de 45 para apenas sete deputados e acabou por definhar nos anos seguintes.

Confrontado com o risco de arriscar o mesmo destindo do PRD se for responsável pela queda de um eventual governo de direita, André Ventura rejeita qualquer comparação e diz não temer os efeitos de ser um fator de bloqueio à maioria de direita. “Ramalho Eanes era Presidente da República, deixou de ser, o PRD foi ficando praticamente órfão. Não estou a pensar nem morrer nem retirar-me. Não creio que isso vá acontecer.”

Aliás, o líder do Chega tem outro exemplo para a troca: o do CDS. Para Ventura, a “excessiva complacência” que os democratas-cristãos revelaram no passado recente perante a hegemonia do PSD foi a sentença de morte do CDS.

“A moderação que Assunção Cristas quis pôr no partido para se tornar uma espécie de PSD II viu-se onde é que levou o CDS, ao desaparecimento”, argumenta o líder do Chega. Esse “erro”, insiste, o partido “nunca” vai cometer.

“Quem vota em nós não nos quer mais moderados, nem a falar como fala a esquerda, quer-nos a apontar os problemas do país. Se o Chega mandar um governo abaixo logo no primeiro dia tenho a certeza que 5% não compreenderão, mas 95% vão compreender perfeitamente.”

A moeda de troca de Ventura

O equilíbrio entre os dois partidos e as soluções que podem ser ou não encontradas dependerão, reconhece o próprio, do peso relativo do partido depois das próximas legislativas. Na última entrevista ao Observador, em maio, o líder do Chega exigiu a vice-presidência do Executivo e quatro ministérios. Agora, Ventura modera as ambições.

“Se tivermos 5 ou 6% não vamos exigir quatro ministérios, é uma questão de realismo político. Se tivermos 12% acho que faz sentido que o presidente do Chega seja o vice-primeiro-ministro”, explica.

O Chega não abdica de ter influência nos Ministérios da Justiça, Segurança Social, Agricultura e Administração Interna. Num cenário em que o Chega conseguisse cerca de 9% (em linha com a tendência verificada nas últimas sondagens) , Ventura já fez as contas: quatro ministérios ou uma combinação entre ministérios e secretarias de Estado. 

“Pelo menos três ministérios e uma secretaria de estado”, insiste. “Uma votação de 9% é um sustentáculo do Governo. Se o Governo do PSD tiver 25 ou 27% e nós tivermos 9 ou 10% somos a base de sustentação do Governo.”

“Votar em Paulo Rangel é votar na quase impossibilidade de um governo à direita”

Mesmo atendendo às reservas manifestadas por Rui Rio, André Ventura está consciente de que uma eventual vitória de Paulo Rangel tornará mais difícil (senão impossível) uma aliança com o PSD. De resto, o líder do Chega não esconde a sua preferência: Rui Rio, até pelos “sinais” que o social-democrata já deu de querer “romper com algumas questões”, como é o caso da redução do número de deputados e da reforma da Justiça.

“Votar em Paulo Rangel é votar na quase impossibilidade de um governo à direita. A menos que venha um milagre e o PSD tenha a tal maioria absoluta. É votar numa impossibilidade. Se o PSD não consegue maioria nenhuma com Rui Rio, com Paulo Rangel menos ainda vai conseguir”, vaticina.

O cenário de eleições antecipadas, podendo ser uma oportunidade para o Chega, também pode prejudicar o partido pela ideia de bipolarização entre PS e PSD. Ventura reconhece que “pode acontecer” uma corrida ao voto útil, mas desvaloriza por completo. “Se o Chega for prejudicado onde é que estarão a IL e o CDS? Praticamente deixam de existir.”

“Qual seja o cenário, de bipolarização, de menos bipolarização, de maior fratura, fragmentariedade… o PSD não vai conseguir formar governo sem o Chega”, reforça. Percebe-se o raciocínio: olhando para os dados que estão hoje em cima da mesa, não há cenário algum em que o partido de Ventura tenha menos votos e deputados do que Iniciativa Liberal e CDS, o que fará do Chega, em teoria, o segundo partido mais votado à direita.

Pelo menos três ministérios e uma secretaria de estado”, exige Ventura. "Uma votação de 9% é um sustentáculo do Governo. Se o Governo do PSD tiver 25 ou 27% e nós tivermos 9 ou 10% somos a base de sustentação do Governo.”

A “lição” dos Açores

O primeiro ensaio de uma maioria de direita capaz de afastar do poder os socialistas aconteceu há menos de um ano, nos Açores. Apesar de ter sido o segundo partido mais votado, o PSD fez uma coligação com CDS, assinou um acordo de incidência parlamentar a três (PSD, CDS e Chega) e um outro exclusivamente com a Iniciativa Liberal.

Para Ventura, no entanto, a experiência açoriana é irrepetível. “Dizem-nos que aceitam condições mas não fazem nada”, censura, reconhecendo que o acordo “não correu muito bem” porque foram feitas “promessas que até agora não foram cumpridas”.

Mesmo assumindo que “José Manuel Bolieiro venha a cumprir as promessas” que fez ao Chega, Ventura questiona se os eleitores que votaram e podem votar no partido consideram que a solução governativa “valeu a pena”.

“Aprendemos com a lição dos Açores. Se acreditávamos que governantes do PSD estavam dispostos a fazer reformas em que acreditamos, isso acabou Este tipo de acordo só beneficia quem está no governo. Por isso, exigimos participação no Executivo.”

“Votar em Paulo Rangel é votar na quase impossibilidade de um governo à direita. A menos que venha um milagre e o PSD tenha a tal maioria absoluta. É votar numa impossibilidade. Se o PSD não consegue maioria nenhuma com Rui Rio, com Paulo Rangel menos ainda vai conseguir”, vaticina.

Encontrar recursos e evitar erros de casting como nas autárquicas

Não foi a única experiência traumática que os Açores trouxeram. Em poucos meses, o partido já perdeu um dos lugares que tinha no Parlamento dos Açores por questões internas — Carlos Furtado, que era líder do partido na região, não abdicou do lugar apesar de se ter tornado independente.

O filme repetiu-se nas autárquicas. Contados os votos houve viabilizações de listas que foram contra as regras estabelecidas pela direção do partido e coligações que foram frontalmente contra as orientações definidas por André Ventura.

O líder do Chega quer evitar que volte a acontecer e vai ser o próprio a ter a palavra final na escolha das listas dos candidatos às legislativas. O que, admite, não é nenhum garante de que tudo corra bem. “Fui eu que escolhi nos Açores e viu-se no que deu”, lamenta.

E depois de vários erros de casting nas últimas eleições autárquicas, Ventura vai tentar desenhar um “grupo parlamentar forte”, com pessoas “formadas, representativas, sérias e leais ao partido” A menos de três meses das eleições, o Chega assume que tem um processo “difícil” em mãos, após a aposta “muito forte” nas autárquicas.

“Empenhámos todos os recursos que tínhamos, que não tínhamos, pedimos ajuda, donativos, os militantes esforçaram-se e agora, de surpresa, somos chamados às urnas daqui a dois meses”, reconhece o líder do partido.

O partido, diz Ventura, “não está pronto”. Nem do ponto de vista logístico, nem financeiro. No entanto, reforça o líder do Chega, estas são as eleições “mais importantes”. “Vamos perceber como o país estava a reagir ao crescimento do Chega. Estas eleições é que vão moldar mesmo a realidade do país.”

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