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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Ó Elvas, ó Elvas, Badajoz à vista. Uma "felicidade imensa" despachada em 15 minutos de cada lado

Cerimónia em Elvas demorou menos tempo do que o percurso até Badajoz. Rei e Marcelo em silêncio. Costa e Sánchez trocaram juras fraternas, mas só à margem. Amigos, amigos, diplomacia à parte.

As juras de amor, carinho e amizade lá vieram, mas vieram tarde e a más horas. Ou, pelo menos, vieram à posteriori. Passava pouco do meio-dia (hora de Portugal Continental) quando António Costa e o presidente do Governo espanhol Pedro Sánchez chegaram junto das dezenas de jornalistas que os esperavam no Castelo de Elvas para responderem a umas questões: estavam autorizadas apenas duas de cada lado. O palanque azul com as bandeiras ao fundo onde, há minutos, o Rei Felipe VI, Marcelo Rebelo de Sousa e os dois chefes de governo tinham estado posicionados a ouvir os dois hinos, ainda estava montado no mesmo sítio, mas Costa e Sánchez preferiam posicionar-se ao lado do palanque — e não em cima. O objetivo era retirar formalidade à situação. Tudo para contrastar com a cerimónia solene que tinha decorrido até ali, carregada de formalismo. E esvaziada de conteúdo. No final, lá veio a “felicidade imensa” de Sánchez por estar ao lado do “querido amigo” António Costa, que tanto “apoio, alento e carinho” lhe deu nas semanas difíceis que Espanha enfrentou durante o pico da epidemia.

Mas nessa altura, já o Rei (e Marcelo) tinha ido embora e já a cerimónia “simbólica” tinha terminado. Foi assim, precisamente sem uma palavra, muito menos um discurso oficial, que decorreu a tão aguardada cerimónia de reabertura das fronteiras entre Portugal e Espanha, fechadas desde 17 de março devido à pandemia. Se de Elvas a Badajoz se demora não mais do que 20 minutos de carro, é possível dizer que a cerimónia que decorreu ao mais alto nível demorou menos do que o trajeto que percorreu: foram precisamente 15 minutos em cada lado da fronteira. O tempo de Felipe VI e Pedro Sánchez receberem Marcelo e Costa à porta do Museu Arqueológico, na Alcáçova de Badajoz, trocarem cumprimentos, dirigirem-se para o palanque azul com as bandeiras ao fundo, ouvirem os dois hinos nacionais, trocarem mais umas palavras de circunstância para a fotografia, pousarem para a “fotografia de família” e porem-se no carro. Começou às 10h45 (menos uma hora em Portugal) e às 11h estava terminada a primeira parte.

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O momento repetiu-se, em espelho, à chegada ao Castelo de Elvas. Os quatro chefes de Estado e de Governo saíram dos carros, subiram ao palanque azul, ouviram os hinos, dirigiram-se à muralha para, de Elvas, avistarem Badajoz, deixaram-se fotografar e já está. Tudo isto com dezenas de jornalistas atrás (cerca de 60 de cada país), que contrastaram com a falta de populares que se avistaram no caminho. Se, em Badajoz, alguns cidadãos apareceram em baixo da muralha para acenar ao Rei ou, por outro lado, para pedir o fim da Monarquia, em Elvas foram igualmente poucos os portugueses que se juntaram em torno do Castelo para avistar os chefes de Estado. Marcelo e Felipe VI ainda se deslocaram uns metros para cumprimentar o pequeno grupo que os chamava, deixando para trás uma pequena manifestação promovida pelo partido Os Verdes que pedia o encerramento da central nuclear de Almaraz, mas nada mais.

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Do Rei de Espanha não se ouviu uma palavra, de Marcelo idem (por cordialidade). De Costa e de Sánchez ouviram-se algumas, mas que a assessoria de imprensa fez questão de sublinhar que não se tratou de discursos mas sim de declarações aos jornalistas depois de terminada a cerimónia. Tanto a Presidência como São Bento explicaram que se trata de uma questão de protocolo, na medida em que o Rei, por “questões constitucionais”, não estava autorizado a falar, e como o Rei não falaria, o presidente do Governo espanhol também não poderia discursar. Assim sendo, também os homólogos portugueses não o fariam. Certo é que a programação da cerimónia de esteve a ser fechada até à última, numa altura em que Espanha tem procurado mostrar ter a pandemia mais controlada, depois do embate inicial, e Portugal tem tido alguns percalços com a imagem externa sobre os surtos localizados em algumas freguesias de Lisboa, depois de uma primeira fase onde foi visto como um caso de sucesso.

A solução que se encontrou foi algures a meio caminho: no final, com o Rei já a caminho de Madrid, Sánchez e Costa fariam juras de amizade fraterna.

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“Felicidade imensa”, “carinho”, “alento” e “apoio”. Assim se tratam os irmãos

“Primeiro, queria transmitir a imensa felicidade que manifesto em nome do governo de Espanha por estar aqui com em Elvas com o meu querido amigo António Costa, num ato carregado de muita emoção. Somos dois povos irmãos, que partilham a história, a cultura, a afinidade, mas também a visão do que ocorreu com a pandemia e quais são os desafios e as transformações que temos por diante, não só na Península Ibérica, mas também no contexto europeu”, começou por dizer Pedro Sánchez, sublinhando a alegria de “reabrir umas fronteiras que esperemos que jamais tenham de voltar a ser encerradas como consequência de uma pandemia”.

A pergunta da jornalista espanhol tinha sido sobre outro tema, mas o presidente do Governo espanhol fez questão de reforçar o bom estado da relação bilateral, desdobrando-se em elogios e “gratidão”. “Durante as semanas mais duras da pandemia que vivemos em Espanha, contei com o apoio, o carinho e o incentivo do primeiro-ministro português. E, em momentos em que as coisas estão a correr bem, agradece-se e muito” essa “relação cordial”, que se espera que “se intensifique em situações tão dramáticas como, infelizmente a Espanha teve que viver”. “Isso diz muito deste grande povo e do próprio primeiro-ministro António Costa”, rematou.

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António Costa retribuiu no seu “melhor portunhol”. Disse que esta era a fronteira mais antiga da Europa, e que não havia “nada melhor do que voltar aos marcos para simbolizar esta vontade comum de nos reencontrarmos e de voltarmos a sermos vizinhos”. “Isso é muito importante na Europa de hoje, que precisa de uma mensagem positiva. Estes dois países não veem esta abertura de fronteiras como ameaça mas como oportunidade. Todos têm de ter muito claro que até que tenhamos uma vacina vamos ter de conviver não só com os espanhóis e os portugueses como também com o vírus. Essa é uma realidade em Espanha, em Portugal, e no mundo. Temos de aprender a viver prevenindo-nos do contágio e do risco de contagiarmos alguém”, disse ainda, reforçando a ideia de que se os dois povos souberem ter a disciplina para conviver com o vírus, então poderão fazê-lo juntos, de portas abertas.

Trata-se, na verdade, de uma linha ténue entre “política” e “saúde”, mas Costa não tem dúvidas de que, nesta fase, “não há decisões políticas que não tenham de ter uma decisão sanitária” associada. Ou seja, os dois mundos ligam-se. Tal como se ligam as “frustrações” dos autarcas, como Fernando Medina, e a estratégia, boa ou má, das autoridades de saúde. É que Marta Temido e Fernando Medina entraram frontalmente em rota de colisão, depois de Medina ter posto as culpas nas “chefias” referindo-se às autoridades de saúde, mas António Costa preferiu desvalorizar o confronto e mediar o conflito.

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“O trabalho conjunto está a ser feito. Eu tenho acompanhado a frustração de muitos dos autarcas, mas também a vontade de trabalharem em conjunto com o Governo e de apoiarem o Governo nas medidas que temos vindo a tomar em conjunto com eles”, respondeu aos jornalistas, dizendo estar “bem consciente” dos problemas existentes em algumas zonas da Área Metropolitana de Lisboa, mas igualmente consciente de todos os esforços que têm sido feitos para travar o surto. Daí que tenha saído em defesa da ministra que até designou um gabinete de crise para resolver o problema em conjunto com os autarcas, e que tenha enumerado depois todas as medidas que têm sido tomadas.

“Testar, testar, testar” continua a ser a política do Governo português, com Costa a querer mostrar que há uma estratégia alinhada em todo o Governo. Testar, primeiro, isolar depois, e complementar tudo isso com a ajuda da Segurança Social para prestar apoio às pessoas infetadas para estas não terem de sair de casa para trabalhar. Para António Costa, estes dois braços da Segurança Social e da Saúde “têm de funcionar simultaneamente: A Saúde, tratando de testar e isolar; e a Segurança Social garantindo os meios de subsistência à família”.

Pedro Sánchez, ao lado, dizia “julgar” ter percebido a pergunta feita em português e prosseguiu a mensagem: há uma grande consciência na sociedade espanhola de que é preciso adotar comportamentos de prevenção para travar o vírus. Ou seja, estejam todos descansados: as portas podem estar abertas. Assim se tratam os irmãos.

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