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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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O sábado "popular" em que Pedro Nuno dançou, cantou e deixou um desafio ao Governo

Pedro Nuno usou discurso em dia forte para lançar suspeitas de que Governo construiu plano para Saúde com empresa privada. Assis corrigiu partido sobre direita. E candidato europeu visitou campanha.

O cenário não é um bar de karaoke nem nada que se pareça, mas a música está alta e um microfone vai rodando para que todos façam ouvir a sua voz. No caso, “todos” são a maior parte da linha da frente do PS neste combate europeu, e é assim que Pedro Nuno Santos, Ana Catarina Mendes, Francisco Assis, Marta Temido e Luísa Salgueiro acabam a partilhar o microfone, cantando — uns mais timidamente do que outros — uns versos de “Boa sorte”, canção que o cantor popular Zé Barbosa inventou para o partido e que acabou por se tornar uma espécie de hino de estrada socialista.

Votem Marta Temido
A senhora com ideias
Não há dúvida, minha senhora
Vai ganhar as europeias”

Ao “Boa sorte” cantado, dançado e pulado por todos seguem-se estes (e outros) versos improvisados pelo cantor, à porta do Mercado de Angeiras, onde a passagem socialista será caótica e cacofónica. A confusão de pessoas, que tentam passar e cumprimentar Marta Temido por entre as bancas do peixe, está instalada e faz antecipar um sábado “popular”, como o PS prometeu.

Cumpre-se assim a tradição de fazer do primeiro sábado de campanha um momento forte, com imagens de um PS mobilizado. Em março, foi nesse sábado que António Costa apareceu, a dar gás à campanha legislativa de Pedro Nuno Santos. Já este sábado é a primeira vez que o número dois, Francisco Assis, se junta a Temido na campanha, como também faz depois Nicolas Schmit, candidato dos Socialistas Europeus à Comissão Europeia, que ainda chega a horas de almoçar umas sardinhas com a comitiva.

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Umas horas depois o PS fará uma prova de força na Alfândega do Porto, onde Assis, Temido, Pedro Nuno Santos, Schmit e o presidente da federação do Porto, Eduardo Vítor Rodrigues, discursarão, deixando recados sobre o combate à extrema-direita e, no caso de Pedro Nuno, um desafio ao Governo. Mas, por agora, a cantoria continua:

“Tenho dito tantas vezes 
Que a senhora foi heroína a tratar dos portugueses”

O cântico neste caso é focado em Marta Temido, mas não só. Já na primeira ação da manhã, no Mercado da Senhora da Hora, em Matosinhos, a caravana adapta-se e passa a gritar também “Viva Francisco Assis!”. O número dois da lista socialista ainda não tinha aparecido ao lado da primeira candidata — andou a fazer campanha pelo norte e pelo centro, justifica — e apressa-se a desfazer enfaticamente qualquer ideia de incómodo por não encabeçar a lista: “Essa questão não existe. Tenho orgulho em ser o número dois numa lista encabeçada por Marta Temido”, arruma.

Já Temido despacha as questões sobre Assis ficar, por vezes, mais atrás nesta volta pelo Mercado da Senhora da Hora, em Matosinhos, com uma brincadeira — “Assis tem de ficar mais atrás porque é mais alto do que eu, eu sou cabeça de lista porque sou a mais pequenina” — e depois mais a sério, garantindo que a estratégia do partido tem sido “dividir a equipa pelo país”, mas que a partir de agora fará “uma estratégia mais em conjunto”. A caravana atualiza, assim, os cânticos: “Assis e Temido/Uma equipa com sentido”.

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No mercado, multiplicam-se as pessoas que cumprimentam a antiga ministra da Saúde e lhe agradecem pelo “bom trabalho” e pelo “profissionalismo” na pandemia (“é talvez o exemplo pelo qual as pessoas conhecem melhor o nosso trabalho”, reconhece Temido). Uma mulher lamenta que o PS tenha saído do Governo — “fiquei com muita pena de o nosso partido ter ido por água abaixo, nunca esteve lá um tão sério como o António Costa” — e outros pedem-lhe que “rebente com a extrema-direita”. E é a própria Temido que volta a subir o tom da acusações sobre a alegada aproximação entre a direita e a extrema-direita, quando a meio da feira dispara: “O que nos preocupa em relação à AD é que está cada vez mais próxima do Chega, não é o Chega que se aproxima da AD”.

A ideia não será propriamente partilhada pelo seu número dois, como ficará claro durante os discursos da tarde, nem é consensual no PS. Mas é a linha dominante na candidatura. Os candidatos ainda seguem para um “almoço popular” junto a praia de Angeiras, e às mesas ao sol abrasador vão chegando travessas de entremeada, sardinhas assadas e tabuleiros de imperiais (ou finos). Depois, chega o momento do “grande encontro” na Alfândega — e voltam os discursos sobre a extrema-direita, ainda que nem todos falem em sintonia.

“Não passarão!” PS aposta forte na colagem da direita tradicional ao Chega

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Assis avisa que nunca confundiu direita com extrema-direita

As mensagens sobre o posicionamento político do PS são várias — Eduardo Vítor Rodrigues abre as hostilidades frisando que ser de direita ou de esquerda “não é a mesma coisa”, enquanto dispara críticas à “arrogância da juventude” presumivelmente de Sebastião Bugalho, e Pedro Nuno Santos concorda e passa o seu discurso a traçar diferenças entre as “visões” da sociedade e da vida que separam os dois campos políticos.

Quando chega a vez de Assis discursar, o candidato às europeias aproveita então para traçar uma diferença em relação ao que tem sido o discurso de boa parte dos seus camaradas. Assis define que “o inimigo do PS nas eleições” é mesmo a extrema-direita — é, de resto, uma “inimiga” da Europa — mas estabelece limites: “Há muitas formas de derrotar a extrema-direita, e eu nunca a confundi com a direita em geral. São diferentes. Mas a melhor forma é votar na esquerda democrática”.

Durante o resto do discurso, Assis traça um guião sobre o projeto europeu baseado na democracia, no Estado de Direito ou no Estado Social que o PS defende; elogia António Costa por “nunca ter errado nas questões europeias”; garante que o partido está unido — José Luís Carneiro está na plateia, exemplifica — e que “ninguém” põe ou porá a liderança de Pedro Nuno Santos em causa; e acaba com mais um recado nacional: “É óbvio que as eleições europeias não são a segunda volta das legislativas” — mas era “um bom sinal”, também para o plano nacional, que o PS ganhasse.

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Discursos contra extremismos e o “choque” com Von der Leyen

O candidato dos Socialistas Europeus, Nicolas Schmit, também aparece para dar força ao PS e pedir força de volta — mais uma vez, argumentando que a “parada está incrivelmente alta” para combater uma crescente “onda anti-democrática”, garantindo que há direitos das mulheres e das minorias em causa e prometendo “travar o crescimento da extrema-direita” para defender os valores europeus.

Mais uma farpa a Ursula Von der Leyen, pegando na abertura da recandidata à Comissão Europeia a negociar apoios com o grupo dos Conservadores e Reformistas, que tem provocado críticas diárias do PS: Schmit disse estar “chocado” por Ursula Von der Leyen ter “aberto a porta à extrema-direita só para ganhar mais uns votos”.

Quando chega a vez de Temido intervir, a mesma nota é incluída no discurso: “Não estamos disponíveis para uma agenda homofóbica, misógina, xenófoba. Connosco não há uns que avançam e outros que recuam”. “Temos de fazer uma escolha que vai influenciar os próximos 50 anos”, avisa, sobre estas eleições. E defende que o PS represente uma “nova agenda europeia de progresso”, com base em três pilares — casas, rendimentos e direitos — e em medidas concretas para defender que a Europa não é só uma “ideia abstrata”.

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Pedro Nuno lança “pergunta” ao Governo e nacionaliza eleições

Por fim Pedro Nuno Santos faz um longo discurso que, mais uma vez, começa por um duro ataque à direita que “perdeu a vergonha” e fala numa “agenda woke” para classificar o que, na visão do PS, é simplesmente uma “luta pela igualdade”, atira. “Este combate, hoje mais do que nunca, tem de ser travado com orgulho. Não queremos sociedade assente no ódio, divisão e ressabiamento”.

Numa série de críticas dirigidas depois mais concretamente ao Governo, o líder socialista critica a visão “zero” de Luís Montenegro para pôr o país a crescer, a torrente de anúncios que resultam em “más” medidas ou o novo plano para a Saúde, que diz entregar o setor aos privados. E é neste ponto que o secretário-geral do PS lança para o ar uma “pergunta” que tem o potencial para se tornar um caso de campanha: “Aparentemente tiveram a consultoria de uma empresa privada. Se este plano de emergência da Saúde foi construído pelo ministério da Saúde em parceria com uma empresa (…) há várias questões que se colocam”, do “conflito de interesses” à informação sobre o SNS a que teve acesso e à forma como foi contratada.

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A suspeita está lançada. Pedro Nuno Santos remata o discurso com mais uma série de farpas diretas para o Governo: com as medidas que vai adotando, e cujos “custos” totais não são revelados, o Executivo parece estar a “fazer o Orçamento do Estado durante a campanha para as europeias” sem qualquer tentativa de diálogo real com a oposição.

Não seria preciso explicitá-lo, mas no final Pedro Nuno volta a nacionalizar estas europeias: “É por tudo isto que é tão importante ganharmos estas eleições. Não existe separação entre Europa e Portugal, é a mesma luta”, atira. O sábado está feito e domingo acontece o primeiro momento de voto (antecipado) para estas eleições.

 
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