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A apresentação desta terça-feira serviu para dar uma ideia de tudo o que o telescópio pode fazer
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A apresentação desta terça-feira serviu para dar uma ideia de tudo o que o telescópio pode fazer

NASA, ESA, CSA, STSCI

A apresentação desta terça-feira serviu para dar uma ideia de tudo o que o telescópio pode fazer

NASA, ESA, CSA, STSCI

Olhar o universo com infravermelhos. O que traz de novo o telescópio Webb?

Quando o telescópio espacial Hubble foi lançado em 1990, já o seu sucessor estava a ser preparado. Trinta anos depois, o Webb mostra-nos o universo com uma nitidez e profundidade nunca vista.

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A analogia é a seguinte: depois de ver filmes em Imax, a hipótese de uma tela normal de cinema parecer fascinante perde-se para sempre. Se o telescópio Hubble moldou a nossa visão do universo nos últimos 30 anos, e ajudou a descobrir coisas que os cientistas desconheciam (como, por exemplo, que o universo, em tempos, se expandia mais lentamente), o telescópio Webb com apenas cinco imagens obtidas em cinco dias já mostrou que o conhecimento do universo nunca mais será o mesmo. As imagens de alta resolução, com uma nitidez e detalhe nunca antes vistos, deixam a comunidade científica arrebatada. É certo que o Hubble foi o primeiro amor, mas basta olhar para as imagens da Nebulosa de Carina de um e de outro e ver que o novo telescópio tem muito universo para revelar.

O que é o telescópio espacial James Webb?

É um dos mais ambiciosos projetos de investigação espacial e promete revolucionar o conhecimento que temos do Universo. Nasceu de uma parceria entre a Agência Espacial Europeia (ESA) e a Agência Espacial Canadiana há mais de 30 anos, a que se juntou a NASA. Nos anos 1980, começou a discutir-se a necessidade de substituir o telescópio Hubble, mas só na década seguinte se deram os primeiros passos que culminariam na construção e lançamento do telescópio espacial que permite captar a radiação infravermelha. O lançamento aconteceu a 25 de dezembro de 2021.

Nebulosa de Carina. Webb versus Hubble

De onde vem o nome?

Em 1996, o projeto (assim como o futuro observatório) chamava-se Telescópio Espacial de Próxima Geração, já que seria o substituto do telescópio Hubble. Em 2002, foi renomeado com o nome de um antigo administrador da NASA, a Agência Espacial Americana, que, entre outros feitos, liderou muitas das missões do programa Apollo, que levou o homem à lua. No entanto, a escolha é polémica já que Webb está ligado a perseguições a pessoas da comunidade LGBTQ+ nas décadas de 1950 e 1960 e existe uma petição da comunidade científica a pedir a mudança de nome — algo que a NASA recusou até à data.

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O que é que o Webb vai fazer?

Depois de um investimento de 10 mil milhões de dólares, o Webb é capaz de observar algumas das galáxias mais antigas e olhar para dentro das atmosferas de exoplanetas. Como? Através de um sistema de lentes, filtros e prismas que conseguem fazer aquilo que o olho humano não faz: descobrir sinais no espectro infravermelho.

A nebulosa do Anel do Sul fica na constelação da Vela, já a conhecemos relativamente bem e isso é uma mais valia.

NASA, ESA, CSA, STSCI

Isso quer dizer que vai olhar para o passado?

É exatamente isso que quer dizer, segundo as explicações de Jonathan Gardner, um dos cientistas seniores do projeto. “O Webb pode olhar para trás no tempo, logo a seguir ao Big Bang, e procurar galáxias que estão tão distantes, que a luz levou muitos mil milhões de anos a chegar até nós”, explicou numa conferência de imprensa.

“Estamos quase a voltar ao começo”, argumentou, por seu turno, Bill Nelson, administrador da NASA, quando mostrou a primeira imagem do Webb, na véspera da nova série de imagens ser conhecida.

Então, estas não são as primeiras imagens conhecidas do Webb?

Não. A 11 de julho houve uma espécie de antestreia do que foi mostrado esta terça-feira. Bill Nelson explicou então o que estava à frente dos nossos olhos: a luz de galáxias, curvadas ao redor de outras galáxias, a viajar ao longo de muito tempo antes de ser detetada pelo telescópio. E esse “muito tempo” tem um valor, mesmo que não seja preciso. “Estamos a olhar para há mais de 13 mil milhões de anos.” A esperança dos cientistas é conseguir recuar ainda mais e haverá imagens de até 13,5 mil milhões de anos. A idade estimada do Universo é hoje de 13,82 mil milhões de anos.

A quem coube ver essa apresentação em primeira mão?

Foi ao Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. A sua presença na cerimónia de segunda-feira, bem como a de Kamala Harris, a sua vice-presidente, levaram a NASA a divulgar uma primeira imagem antes de todas as outras. “É até difícil de entender”, afimou Joe Biden na segunda-feira, referindo-se às imagens. “É surpreendente. É um momento histórico para a ciência e para a tecnologia, para a América e para toda a humanidade.”

Kamala Harris estava igualmente deslumbrada e considerou o telescópio “uma das grandes realizações de engenharia da humanidade”.

WASHINGTON - JULY 11:  President Joe Biden meets with leaders f

Joe Biden esteve na apresentação em que a primeira imagem do Webb divulgada

The Washington Post via Getty Im

O que é que se via nessa primeira imagem?

O nome é menos apelativo do que a imagem — SMACS 0723. Esse aglomerado de galáxias, a cerca de 5 mil milhões de anos-luz da Terra, é o que surge em primeiro plano, mas são as outras imagens, de outras galáxias, ainda mais distantes, e reveladas com uma nitidez com que nunca tinham sido vistas, que deixam a comunidade científica em êxtase.

Basicamente, e como foi explicado na conferência de imprensa desta terça-feira, quando a imagem foi de novo analisada, o SMACS 0723 funciona como uma enorme lente (graças às forças gravitacionais) ampliando a luz das galáxias que se encontram por trás de si, algumas a mais de 13 mil milhões de anos-luz. Isso garante imagens com uma nitidez e profundidade nunca antes vistas.

O telescópio Hubble não conseguia ver tão longe?

Não, segundo a explicação de Jonathan Gardner: “O Webb é maior do que o Hubble para que possa ver galáxias mais ténues, e que estão mais distantes.” Esta terça-feira, Jane Rigby, cientista de operações do telescópio, explicou que com o Hubble seriam precisas semanas para conseguir uma imagem destas, de campo profundo. Com o Webb foi possível ter a imagem “antes do pequeno-almoço”, gracejou a cientista.

Onde está o Webb?

É outras das diferenças para o Hubble, telescópio que está situado numa órbita baixa da Terra, o que lhe permite ser visitado por missões de manutenção. Já o Webb não está a orbitar o nosso planeta, não terá direito a visitas de manutenção e foi enviado para um ponto fixo, onde não orbita. Chama-se L2 e está a cerca de 1,5 milhões de quilómetros da Terra, na direção oposta do sol.

A NASA divulgou esta segunda-feira a imagem mais profunda alguma vez captada do Universo, que mostra as primeiras galáxias formadas logo após o Big Bang, há mais de 13 mil milhões de anos, conseguidas através do telescópio James Webb. A primeira imagem científica e colorida do telescópio James Webb marca um dia “histórico”, realçou o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, durante um evento que decorreu na Casa Branca, seis meses depois do lançamento do mais poderoso telescópio espacial alguma vez construído, 11 de julho de 2022. NASA / LUSA

A NASA divulgou esta segunda-feira a imagem mais profunda alguma vez captada do Universo, que mostra as primeiras galáxias formadas logo após o Big Bang, há mais de 13 mil milhões de anos

NASA/LUSA

Isso quer dizer que o observatório está parado no espaço?

Praticamente. L2 é uma alcunha, ou abreviatura, se preferirmos, para o segundo Ponto Lagrange (existem cinco). O que é que ele tem de excecional? A gravidade do Sol e da Terra equilibram a órbita de qualquer satélite situado naquele ponto, permitindo-lhe ficar numa posição fixa, sendo necessária uma quantidade muito pequena de energia para corrigir o seu curso, se tal for necessário, explica a NASA. 

Assim, se a Terra tapa sempre uma parte do que o Hubble poderia captar, como quando alguém se coloca no nosso campo de visão, o Webb não tem esse problema. Se juntarmos a esta posição privilegiada o seu espelho e a sensibilidade dos seus instrumentos infravermelhos, este novo telescópio tem potencial para fornecer muita informação, muito detalhada e muito rapidamente.

Há mais motivos para se ter escolhido o L2?

Sim. Além da vantagem de não entrar e sair da sombra da Terra a cada 90 minutos, como acontece ao Hubble, o Sol e o nosso planeta estão do mesmo lado do céu, permitindo ao Webb ter uma visão desimpedida do universo. Mas há mais: a temperatura. O Webb vê o universo através de infravermelhos, ou ondas de calor. Para lhe dar a melhor hipótese possível de o fazer, encontrando luzes distantes e ténues de galáxias e estrelas, é preciso mantê-lo a uma temperatura tão baixa quanto possível. Ali, conseguirá estar a 225 graus Celsius negativos.

Quanto tempo demorou a juntar as imagens agora divulgadas?

Apenas 5 dias. E outras imagens semelhantes serão produzidas a cada 5 dias o que significa uma quantidade imensa de informação para os cientistas de todo o mundo analisarem.

Qual é o grande objetivo dos cientistas?

Ver as primeiras estrelas e galáxias formadas logo depois do Big Bang, ou seja, ver “o universo acender as luzes pela primeira vez”, como disse Eric Smith, cientista do programa Webb. O objetivo já não está muito longe, se considerarmos que a idade do universo é de 13,8 mil milhões de anos (uma estimativa, claro) e as imagens agora reveladas vão até 13 mil milhões de anos.

No quinteto de Stephan vemos cinco galáxias e esta é a maior imagem captada, até agora, pelo telescópio

NASA, ESA, CSA, STSCI

Para onde mais vai olhar o Webb?

A apresentação desta terça-feira serviu para dar uma ideia de tudo o que o telescópio pode fazer. Primeiro, quer espreitar o momento em que o universo nasceu, ou em que “as primeiras luzes se acenderam”; em segundo, vai pôr a espectroscopia — estudo da interação entre a radiação eletromagnética e a matéria — ao serviço da comunidade científica. Outras técnicas usadas “vão permitir detetar fontes de luz fraca ao lado de fontes muito brilhantes”, explica a NASA.

Quantas imagens foram reveladas?

Foram cinco, embora a primeira a ser analisada seja a que já conhecíamos desde a véspera. Os retratos são, para além do aglomerado SMACS 0723, da Nebulosa Carina (um berçário estelar a 7.600 anos-luz), da Nebulosa do Anel Sul, que rodeia uma estrela a morrer, e do Quinteto de Stephan, um aglomerado de galáxias, onde duas estão já em processo de fusão (tal como um dia irá acontecer com a nossa Via Láctea e a galáxia vizinha, Andrómeda). A espectroscopia permitiu ainda ver dados sobre os espectros do planeta Wasp 96b.

O que aprendemos com a imagem do aglomerado de galáxias SMACS 0723?

“Para todo o lado onde olhamos há galáxias”, disse Jane Rigby, enquanto explicava a imagem. Ao longe, os pontos vermelhos, que na verdade são galáxias, são o motivo pelo qual “construímos o telescópio”, disse a cientista. “Estamos a vê-las como elas seriam há mais de 13 mil milhões de anos — menos de um milhão de anos depois do Big Bang.” Por outro lado, imagens de momentos mais recentes da vida das galáxias, vão ajudar a perceber como evoluem ao longo do tempo. E onde se lê tempo deve ler-se milhares de milhões de anos.

O equipamento de infravermelhos fez o prometido e olhou para dentro da atmosfera do exoplaneta WASP 96b

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O que aprendemos com a imagem do exoplaneta WASP-96b?

Para sermos rigorosos, a segunda imagem é uma ilustração e retrata um exoplaneta comparável a Júpiter (apenas em tamanho). Neste caso, o equipamento de infravermelhos fez o prometido e olhou para dentro da atmosfera do WASP, explicou Knicole Colon, especialista em exoplanetas, mostrando pormenores nunca antes vistos. Naquele planeta, a mais de um milhão de anos-luz, foi encontrado vapor de água depois de o Webb detetar essa assinatura química, e que pode ser representada num gráfico. O futuro? Procurar e estudar exoplanetas mais pequenos, além de olhar para dentro do nosso sistema solar, de Marte em diante.

E com a nebulosa do Anel do Sul?

Fica na constelação da Vela, já a conhecemos relativamente bem e isso é uma mais valia. A imagem que o Webb nos mostra agora serve para comparar com toda a informação registada anteriormente, explicou Karl Gordun, cientista dos instrumentos do telescópio. Causada pela morte de uma estrela, uma anã branca semelhante ao nosso Sol, é no centro da nebulosa que os cientistas encontraram a descoberta mais entusiasmante.

“Sabia-se que era uma estrela binária, mas nunca tínhamos visto bem a estrela que provocou a nebulosa. Agora vemo-la a vermelho e está rodeada de poeiras”, explicou o cientista Karl Gordun, algo que não se sabia até agora. Na imagem, é a estrela mais escura. O Webb vai permitir conhecer melhor estas nuvens de gás e poeira, originadas por estrelas moribundas.

Nebulosa Anel do Sul. Webb versus Hubble

A imagem do quinteto de Stephan traz algo de novo?

A resposta é afirmativa, como não podia deixar de ser. No quinteto de Stephan vemos cinco galáxias e esta é a maior imagem captada, até agora, pelo telescópio. A dimensão? Um quinto do diâmetro da Lua, mais de 150 milhões de pixels e mil imagens individuais. Giovanna Giardino, a cientista que explicou a imagem, frisou que duas delas estão já em processo de fusão. “Há uma espécie de dança cósmica motivada pela gravidade”, descreveu. O que se aprende? Como esta interação molda a evolução das galáxias ao longo do tempo. Além disso, a resolução da imagem é tão boa que permite ver o resultado da colisão: gás quente em tons vermelhos.

“Esta imagem capta, de certa forma, a evolução das galáxias no universo ao longo dos 13,8 mil milhões de anos”, explicou, por seu lado, Mark McCaughrean, conselheiro sénior para a Ciência e Exploração. E mostra também um buraco negro ativo, com um nível de detalhe nunca visto antes.

O que ensinou a imagem do berçário de estrelas?

A nebulosa Carina, na nossa Via Láctea, está a cerca de 7.600 de anos-luz da Terra. As novidades que traz foram expressas com emoção por Amber Straughn, responsável pela comunicação do projeto Webb. “Vemos exemplos de estruturas que nem sabemos o que são”, disse, apontando para uma área específica na imagem. Além disso, a imagem deixa ver toda uma profundidade e textura na crista da nebulosa, desconhecida até agora.

A nebulosa Carina, na nossa Via Láctea, está a cerca de 7.600 de anos-luz da Terra

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