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Rio acredita que o António Costa cairá em 2022. Mas a direita precisará de ter um projeto alternativo para subir ao poder
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Rio acredita que o António Costa cairá em 2022. Mas a direita precisará de ter um projeto alternativo para subir ao poder

Rio acredita que o António Costa cairá em 2022. Mas a direita precisará de ter um projeto alternativo para subir ao poder

Os 12 desafios da direita para 2021

Marcelo testa a autoridade, Rio a estratégia de sempre. Rodrigues dos Santos luta pela sobrevivência, Ventura contra a vertigem e Cotrim pela relevância. E todos esperam que Costa não resista à crise.

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O ano de 2021 será, a fazer fé nas apostas dos vários protagonistas, um período decisivo para a direita. A aparente fragilidade da ‘geringonça’ (ou do que resta dela) e o acentuar dos efeitos da crise económica fazem Rui Rio e demais líderes sonhar com a queda de António Costa. Cheira a princípio de fim de ciclo e é a essa esperança que PSD, CDS, Chega e Iniciativa Liberal se vão agarrando. Mas, em ano de presidenciais e autárquicas, os desafios são muitos: não basta esperar que o PS caia de podre; é preciso criar a perceção de que há uma alternativa sólida. Marcelo Rebelo de Sousa será o fiel da balança no novo quadro político. Resta saber que poder terá e o que fará com ele.

Ser “soarista”

Marcelo Rebelo de Sousa é, paradoxalmente, uma das figuras mais populares à direita e uma das figuras menos populares à direita. O maior trunfo (o único grande trunfo no ativo) e uma das grandes desilusões. Caminha para estas presidenciais como um vencedor mais do que antecipado e está prestes a dar a primeira vitória eleitoral à direita desde 2015 — que foi, é sabido, uma vitória inconsequente. Mas há uma parte deste espaço político que não pode com Marcelo e que torce por um embaraço monumental, incluindo entre as fileiras de PSD e CDS. Nada que o faça perder o sono a curto prazo: mesmo tendo baixado a fasquia (“não sou estúpido, nem louco”, disse na TVI), o antigo líder do PSD continua a sonhar com votações soaristas. Tudo o que for uma vitória tímida pode trazer problemas externos (ver ponto 2) e internos (ver ponto 3); uma vitória folgada, como se perspetiva que venha a ter, renovará a autoridade política de Marcelo junto do primeiro-ministro e junto do seu próprio espaço político. O que fazer com ela será o outro grande desafio de Marcelo.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Ser ou não Soares

Historicamente, a relação entre Belém e São Bento é sempre mais tensa no segundo mandato do Presidente. Marcelo já admitiu que o seu será necessariamente mais exigente até porque agora é “mais difícil a sustentabilidade da área de esquerda no poder e é mais complexa a construção de uma alternativa de direita na oposição”. Marcelo vive, pois, neste dilema: o de ser uma personagem coadjuvante (como quando assumiu todas as falhas do Governo como se fossem as suas) ou antagonista (como quando apontou, sem sucesso, a porta de saída a Marta Temido e a Eduardo Cabrita). A fronteira não é cristalina e implica uma gestão política difícil — Marcelo ensaiou as duas estratégias no espaço de um mês e a campanha ainda nem começou. Perante um Governo que vai dando alguns sinais de desgaste, vestir a primeira pele pode ajudar a precipitar a queda de António Costa sem que haja uma alternativa sólida o suficiente; encarnar o segundo papel pode prolongar artificialmente o tempo de vida do Governo e esvaziar ainda mais a oposição. Marcelo sabe o poder que a sua hiperpopularidade pode ter e o alcance que pode dar ao seu magistério de influência. Mas terá de fazer escolhas. E todas têm riscos.

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PAULO NOVAIS/LUSA

Segurar Ventura

É neste ponto em particular que os destinos de Marcelo e André Ventura se tocam. As eleições presidenciais são o terceiro grande teste ao Chega depois das entradas triunfantes na Assembleia da República e dos Açores. Marcelo é o primeiro muro para travar a ascensão galopante do Chega e de Ventura, que faz destas eleições um plebiscito à sua figura. Apesar da desilusão de muitos no PSD e no CDS, quanto maior for a força de Marcelo nestas eleições, menor será a de Ventura. Volvidas as presidenciais, essa responsabilidade deixará de estar nas mãos do Presidente da República. Uma coisa é certa: quanto mais poder tiver Ventura, mais difícil será a reorganização da direita num bloco político estável. Rio, de resto, já o assumiu publicamente: “Seria mau para o país se André Ventura tivesse uma votação expressiva.”

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Afirmar a alternativa

De nada valerá uma vitória esmagadora de Marcelo nas presidenciais, um Presidente mais pressionante junto do Governo ou um Ventura menos insuflado se a direita, em particular Rui Rio, não conseguir afirmar uma alternativa política a António Costa. O acordo nos Açores pôs muitos a sonhar com uma ‘geringonça’ à direita e outros tantos a denunciar o ataque à memória da Aliança Democrática de Sá Carneiro, Freitas e Ribeiro Telles. Apesar das reações apaixonadas, não há sondagem alguma que dê mais votos ao bloco da direita do que ao bloco da esquerda — e, salvo raríssimas exceções, a direita toda junta parece não conseguir ter sequer mais votos do que o PS sozinho. Um governo de direita é, neste momento, pouco mais do que uma miragem. Antes de sonhar com uma derrota da esquerda, a direita, naturalmente capitaneada pelo PSD, terá de inverter a perceção pública de que as coisas estão bem como estão. Nas últimas eleições, apostou na denúncia da fraude que era o milagre económico de Mário Centeno, insistiu na tecla da “enorme carga fiscal” e prometeu, em contrapartida, uma brutal redução de impostos. Não foi suficiente e o país e o mundo são hoje muito diferentes do que eram em 2019. Há programa e agenda para lá dos números?

MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Aproveitar a oposição

Muito desta estratégia de afirmação está dependente do que a direita conseguir capitalizar estando na oposição. O cenário não é brilhante para António Costa: a geringonça está presa por um arame chamado PCP, a economia demorará largos meses a recuperar, os efeitos da bazuca europeia não serão imediatos, a contestação social tem vindo e vai continuar a aumentar à medida que a crise se tornar mais evidente, o plano de vacinação contra a Covid-19 — mesmo se correr sem falhas — não será uma bala de prata e António Costa terá, até junho, a presidência da União Europeia nas mãos, um fator de desgaste adicional num Governo já muito dependente da figura do primeiro-ministro. Depois há dossiês que queimam e vão queimar nas mãos do Governo, como a TAP e o Novo Banco. A banca, aliás, é uma bomba relógio: as moratórias concedidas já somam 44 mil milhões junto dos bancos portugueses e devem terminar em setembro de 2021. Saber como crescer politicamente a partir daqui será um dos desafios de Rui Rio e da direita coletivamente.

João Pedro Morais/Observador

Superar o teste das autárquicas

Em setembro/outubro, aliás, o país político já estará a braços com novas eleições, desta vez as autárquicas. Rui Rio fez delas a grande prioridade desde o minuto zero da sua liderança e por muito que a tentação de todos os partidos seja a de evitar leituras nacionais, a verdade é que já ditaram a queda de um Governo (António Guterres, em 2001), acentuaram o fim de um ciclo (Cavaco Silva, em 1993) ou serviram de cartão amarelo (Passos Coelho, 2013). Do ponto de vista da oposição, será uma oportunidade única para criar uma vaga de fundo. Individualmente, serão testes decisivos às respetivas lideranças: à de Rui Rio, que procura a sua primeira vitória eleitoral depois de duas pesadas e consecutivas derrotas (europeias e legislativas); à de Francisco Rodrigues dos Santos (que quer manter as seis câmaras do CDS e crescer em número de mandatos no seu primeiro grande teste eleitoral); e à de André Ventura e de João Cotrim de Figueiredo, que precisam de implantação local para ganharem verdadeira solidez nacional. Como se viu nos Açores, as autárquicas também podem servir para alimentar sonhos de uma futura coligação nacional, pelo que toda e qualquer aliança local, em particular com o Chega, servirá de teste ao espírito de compromisso da direita.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Recuperar o brilho no Porto e em Lisboa

Mas há eleições autárquicas e eleições autárquicas. As Câmaras de Lisboa e Porto são, por maioria de razão, palcos privilegiados e bons barómetros para avaliar o nível de satisfação com o Governo em funções. Em 2001, Rui Rio e Pedro Santana Lopes, ainda com as cores do PSD, varreram os socialistas do poder nestas duas autarquias. Em 2021, não há sequer garantias de que a direita consiga ter nomes seguros para enfrentar Rui Moreira e Fernando Medina. Em 2017, o PSD foi humilhado nas duas cidades. O CDS celebrou timidamente a vitória ao lado de Moreira, enquanto insuflava com o resultado (inconsequente) de Assunção Cristas em Lisboa. Quatro anos depois, os dois partidos continuam dessintonizados em Lisboa e sem um nome e uma estratégia comum para enfrentar Medina. No Porto, o CDS está comprometido com apoio ao atual presidente da Câmara e não quer levantar ondas; o PSD parece estar condenado a segundas e terceiras linhas. Na reta final do ano, em entrevista à Antena 1, Rui Rio assumiu pela primeira vez desde que é líder do PSD que acredita na vitórias nas duas principais autarquias do país. As perspetivas não são as melhores.

MÁRIO CRUZ/LUSA

Improvisar se o plano falhar

Que narrativa vai encontrar Rui Rio se o seu plano falhar? É uma grande dúvida e um grande desafio. O núcleo duro do PSD apontou sempre 2021 como o ano em que tudo ia mudar. António Costa não sobreviveria ao desgaste, cairia antes, durante ou depois do Orçamento do Estado para 2022 e Rui Rio teria nova oportunidade para enfrentar o PS desta vez em eleições antecipadas. Mas a crise sanitária e económica veio trazer uma dimensão de imprevisibilidade à política que não constava (nem podia constar) dos planos iniciais. A grande aposta da atual direção — autárquicas triunfantes e eleições antecipadas em 2022 num clima de grande quebra de António Costa — pode sair furada. E depois? Rio já bateu todos os recordes como o líder do PSD que mais tempo aguentou na oposição. Se completar o mandato, serão quatro anos à frente do PSD. As derrotas nas europeias e nas legislativas foram desvalorizadas e até vendidas como vitórias relativas face às sondagens, ao ponto de partida e ao clima de guerrilha interna em que então vivia o partido. Se o calendário eleitoral se mantiver tal como está definido, Rui Rio terá de enfrentar eleições internas em janeiro de 2022. Aguentará Rio quando nada disto servir de atenuante? E aguentando: que projeto de poder terá para vender?

HUGO DELGADO/LUSA

Sobreviver contra as expectativas

Francisco Rodrigues dos Santos, por sua vez, luta contra o tempo. Apesar de ter menos de um ano, a liderança do CDS é contestada desde o minuto zero da sua existência. Entre os opositores internos de Rodrigues dos Santos há quem peça publica e ativamente a demissão do líder, ainda que não haja sequer vestígios de uma alternativa mobilizadora e agregadora das várias sensibilidades do partido. Ensanduichado entre a Iniciativa Liberal e o Chega, perdido a discutir heranças e guerras passadas, o partido continua em aparente agonia e as sondagens são desastrosas. No arranque do ano, Rodrigues dos Santos vai chamar ao Caldas os antecessores Adria­no Moreira, Manuel Monteiro, Paulo Portas, José Ribeiro e Castro e Assunção Cristas, e outros quadros do partido como Adolfo Mesquita Nunes, João Almeida, Telmo Correia, Cecília Meireles, Nuno Melo, Diogo Feio e Francisco Mendes da Silva. A ideia é colar os cacos do partido, discutir soluções para conter a sangria do CDS e, a partir daí, desenhar uma estratégia que evite o definhamento anunciado. Bastará?

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Conter o próprio partido

Se o CDS vive assombrado com a ameaça da irrelevância política, André Ventura terá, em 2021, que lidar com as dores de crescimento de um partido que é, em quase tudo, pouco mais do que uma soma de vários descontentamentos unidos pela ambição de derrotar o “sistema”. A falta de uma linha coerente e a coexistência de várias fações e sensibilidades (da extrema-direita aos movimentos evangélicos) já trouxe amargos de boca: o líder do Chega demitiu-se uma vez; mal conseguiu eleger a sua direção; teve de recuar nos Açores e aceitar uma aliança com o PSD para evitar uma rebelião interna; e acabou de impor uma lei da rolha para evitar críticas públicas e lavagem de roupa suja nas redes sociais. A máquina do Chega gira em torno da liderança forte e popular de Ventura, que já prometeu a demissão se ficar atrás de Ana Gomes nas presidenciais. Nesse cenário, o mais provável é a recandidatura e uma vitória sem dificuldades. Mas as tensões internas do Chega serão tão mais evidentes quanto menos forte for a imagem de Ventura.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Sobressair no meio do caos

Ao contrário do Chega, a Iniciativa Liberal procurou, desde o primeiro momento, uma estratégia assente num crescimento sustentado. Depois da campanha bem-sucedida em 2019, que quase lhe permitiu eleger um segundo deputado, o partido tem apostado na estabilidade da mensagem e no reconhecimento das principais bandeiras do partido. As sondagens indiciam que a estratégia está a produzir frutos: sem grandes oscilações, o partido vai crescendo e tem boas perspetivas de eleger mais deputados nas próximas legislativas. Mas a grande centralidade de André Ventura na discussão sobre o futuro da direita e o apelo ao voto útil à direita que Rio vai assumir podem trazer dificuldades de afirmação a João Cotrim Figueiredo. A aposta em Tiago Mayan como presidenciável é de alto risco: um candidato desconhecido e inexperiente politicamente até para os critérios de um partido jovem medirá forças com o campeão da direita (Marcelo) e o grande challenger (Ventura). Um resultado francamente negativo pode lançar a dúvida sobre a solidez da Iniciativa Liberal e prejudicar a imagem do partido. Recuperar depois disso e crescer para ser determinante em qualquer maioria de direita que venha a existir serão os grandes desafios da atual liderança.

João Cotrim Figueiredo, presidente da Iniciativa Liberal, fala aos jornalistas após a XIII Sessão de apresentação sobre a “Situação Epidemiológica da COVID-19 em Portugal” no Infarmed, em Lisboa, 03 dezembro de 2020. ANDRÉ KOSTERS/LUSA

ANDRÉ KOSTERS/LUSA

Exorcizar fantasmas

No meio de todos estes desafios, há um a que uma parte da direita, em particular no PSD e no CDS, não consegue dar resposta: o que fazer com os fantasmas de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas. Se o ex-líder do CDS saiu de cena mais cedo, apostou na reabilitação da imagem mediática e tem evitado a todo custo falar sobre questões nacionais, Passos prolongou a sua liderança no PSD até ao limite, saiu em profundo desgaste e deixou para trás um partido dividido em guerras intestinas — algo que o CDS experimenta agora, no pós-Cristas. Mas, ao contrário de Portas, Passos nunca deixou de fazer aparições públicas a comentar aspetos concretos da vida política nacional, alimentando, mesmo que não intencionalmente, o tabu sobre o seu regresso à política ativa. O facto de a direita continuar a suspirar por Passos sempre que o ex-primeiro-ministro aparece é sintomático da crise de identidade que atravessa; se continuar agarrada ao passado, dificilmente ganhará no futuro. Passos até pode fazer parte do amanhã da direita, mas não será tão cedo. E 2021 já está aí à porta.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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