Cristiano Ronaldo é jogador do Manchester United. Sim, é uma notícia de 2021, tal como foi em 2003, quando os red devils e Alex Ferguson se apaixonaram pelo português no jogo de inauguração do Estádio de Alvalade e o levaram para a cidade inglesa. Dez dias depois estreou-se, e bem, frente ao Bolton. Agora, regressa mesmo a “casa”.

O português chegará da Juventus por uma verba a rondar os 25/30 milhões de euros, aquilo que a vecchia signora pedia para amortizar algum investimento, não só os mais de cem milhões de euros que o tiraram de Madrid, mas também os cerca de 30 milhões de euros líquidos que a equipa de Turim lhe pagava por ano.

O capitão da seleção nacional chegou à Juventus no verão de 2018, depois de bater vários recordes no Real Madrid, na seleção nacional e em várias competições, como na própria Liga dos Campeões, da qual é o melhor marcador. Nos merengues, venceu “apenas” quatro Champions.

Ronaldo não gostou dos rumores e Allegri garantiu-o na Juventus. No arranque do campeonato o português começa no banco

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E aqui o ponto Liga dos Campeões é muito importante. Ronaldo já tinha sido aplaudido em Turim, depois de um dos melhores golos da carreira, quando era ainda jogador do Real Madrid. Na altura agradeceu e tentou depois devolver o amor ao chegar à equipa italiana, fazendo voltar à sala de triunfos dos bianconeri um troféu da Liga dos Campeões, que o clube já não vence desde 1996. Além disto, o clube tinha chegado a duas finais da Champions em três anos.

Com 28 golos e 10 assistências, a primeira época de Ronaldo em Turim é com títulos, mas era já o oitavo consecutivo da Juventus. Como dito, o objetivo não era esse. Era outro, mais alto, mais glorioso: vencer uma Liga dos Campeões pelo terceiro clube. O problema é que o Ajax de Amesterdão não foi nessa conversa e eliminou o clube do português logo nos quartos de final da Liga Milionária. Não se pode dizer, porém, que Cristiano tenha estado mal, porque continuou em Itália a fazer aquilo que sempre fez em Inglaterra e Espanha, ou seja, muitos golos. Sem muita surpresa, foi eleito jogador do ano da Serie A italiana.

Na temporada 2019/2020, mais um título italiano, claro está, e mais um grande lote de golos: 37. Na Champions, as coisas correm ainda pior do que na temporada anterior, com o Lyon a surpreender a “velha senhora” logo nos oitavos de final. Começava a esfumar-se o objetivo da Juventus e o sonho de Cristiano Ronaldo.

Temporada para esquecer mesmo foi a última, em que a Juventus terminou em 4.º lugar no campeonato e falhou o 10.º campeonato vencido consecutivo. Na Liga dos Campeões, mais uma vez, a equipa caiu nos oitavos de final, desta vez frente ao FC Porto e após prolongamento.

Começou então a novela em torno do astro português.

Os primeiros rumores, a certeza (falsa) do City e a confirmação do regresso a casa

Ao longo dos meses foram-se sucedendo os rumores: Real Madrid, Manchester City, PSG, etc… Chegou ao ponto de Cristiano Ronaldo, recentemente, usar as redes sociais para se defender. “Mais do que o desrespeito por mim enquanto homem e jogador, a maneira frívola como o meu futuro tem sido discutido na comunicação social é uma falta de respeito para com todos os clubes envolvidos nestes rumores”, escreveu então, acrescentando que não permitiria “brincadeiras” com o seu nome.

“Não posso permitir que brinquem com o meu nome. Ninguém se preocupa com a verdade”. Ronaldo quebra o silêncio e responde a todos os rumores

A verdade é que os rumores não pararam e chegámos então ao último fim de semana, durante o qual Massimiliano Allegri, treinador da Juventus, e Pavel Nedved, diretor do clube de Turim e ex-estrela checa, quase que garantiram o jogador no clube. Contudo, frente à Udinese, no arranque do campeonato italiano, o português começou no banco. Ainda entrou, fez um golo que não contou, mas seria mesmo o último jogo pela Juventus, sem ganhar a tal Liga dos Campeões — o primeiro motivo, afinal, para a sua saída.

A esse ter-se-ão juntado outros, claro. O ambiente no balneário, já se sabia, não era o melhor. Allegri terá até dito, em 2019 e antes de deixar o comando da Juventus (regressou agora depois da saída de Pirlo), ao dirigente Andrea Agnelli: “Livre-se de Cristiano Ronaldo porque ele está a bloquear o crescimento da equipa e do clube”, escreveu o La Repubblica. Mas do que os dirigentes da Juventus não gostaram mesmo foi da forma como Jorge Mendes, que não tem viajado tanto como noutros anos, chegou a Turim a evocar uma espécie de situação limite em que Ronaldo tinha de sair. Foi dito ao clube que o português estaria disposto a conversar com o Manchester City, mas o Observador sabe que nunca houve oferta uma formal dos citizens. O ambiente em torno de Ronaldo em Turim tornou-se, então, insustentável nas últimas horas.

Arrancaram então os rumores destas “24 horas loucas”, com os jornais italianos a dizerem logo esta sexta-feira que o cacifo de Cristiano Ronaldo no centro de treinos da Juventus estava vazio. Neste mesmo dia, o jogador foi despedir-se dos seus agora ex-colegas, estando 40 minutos no local. A partir daí, “rebentou” tudo e era certo, mas mesmo certo, que o destino seria o Manchester City. 

Mais uma vez (e quase sempre) falou-se do City e esse rumor, que afinal nunca teve substância, acabou por ter impacto em Old Trafford, com altas figuras do clube (imagine-se Rio Ferdinand ou Gary Neville) a chegarem-se à frente, mas o destaque, como contam vários jornais britânicos, incluindo o Manchester Evening News, tem de ir para a suposta intervenção de Alex Ferguson. Estas intervenções foram muito influenciadas pelos tais rumores que davam como certa a ida para o Manchester City de Guardiola.

Uma bola de ouro e o mundial 2022 no horizonte. E o Sporting?

A cidade de que tanto se falava estava certa, mas o clube seria mesmo aquele onde Cristiano Ronaldo já foi tão feliz, o United. Com esta ida, porém, desengane-se quem pensa num final de carreira tranquilo, não. Aqui, com a chegada à equipa que tem em Bruno Fernandes um dos líderes, CR7 traz mais objetivos, neste caso o segundo e o terceiro desta lista: Bola de Ouro e o Mundial 2022.

Existe aquela lógica de que “se não acreditarmos em nós, quem acreditará?” e cedo se percebeu que Cristiano Ronaldo crê muito em si ou, obviamente, não teria conseguido chegar ao patamar onde chegou e ser um dos melhores de todos os tempos. Essa vontade não esmorece com o passar dos anos e entra aqui a Bola de Ouro. Ronaldo quer ganhar mais uma e o Manchester United podia ser a equipa ideal para o conseguir, voltando, lá está, a uma casa que bem conhece e onde bem o conhecem.

Outro objetivo prende-se com o Mundial 2022, que vai decorrer no Catar. Ronaldo ainda quer (e vai certamente) capitanear a seleção nacional nessa competição, à qual quer chegar no melhor nível, acreditando que pode consegui-lo, mais uma vez, em Inglaterra. O campeonato do mundo disputa-se no inverno de 2022, a meio da temporada 22/23, sendo muito por isso que o contrato que liga agora o madeirense aos red devils é de dois anos. Cristiano quer lá estar e, como sempre, quer estar bem, marcar golos, ser o melhor.

Ronaldo em Alvalade é um sonho? Sim, mas possível

A partir de 2023, as coisas mudam um pouco, havendo duas hipóteses principais, já com 38 anos. Ou se retira com a camisola do Manchester United ou, mediante o julgamento que fizer da sua condição física, acaba por vir para o Sporting, clube que o viu nascer — e que, naturalmente, este a acompanhar os últimos acontecimentos com atenção —, terminar a carreira e, quem sabe, ter o sonho de jogar o Euro 2024, onde bateria novamente uma série de recordes, a maioria dos quais até já detém.

Os três “treinadores” de Ronaldo durante sexta-feira

O primeiro treinador a falar esta sexta-feira ao início da tarde acabou por ser mesmo Massimiliano Allegri, técnico da Juventus, o primeiro a confirmar em conferência de imprensa de antevisão ao jogo com o Empoli que o craque português o informou de que “não queria ficar na Juventus”.

“Cristiano Ronaldo disse-me ontem [quinta-feira] que quer deixar a Juventus imediatamente. É verdade e confirmo. Por isso não treinou hoje e não está disponível para o jogo de amanhã frente ao Empoli. Não estou dececionado com ele. Quer deixar a Juventus e fez uma escolha, vai procurar um novo clube após três anos aqui. Faz parte da vida”, confirmou Allegri.

Guardiola, o então suposto futuro treinador de Ronaldo (sabemos agora que nunca foi hipótese), também não fugiu às questões sobre o português na conferência de imprensa antes do jogo com o Arsenal. “Cristiano vai decidir onde quer jogar, não o Manchester City ou eu. Agora parece estar longe”, afirmou.

Depois foi a vez de Solskjaer, treinador do Manchester United, abrir a porta ao capitão da seleção nacional, aproveitando a que Pep tinha fechado: “Não pensei que o Cristiano fosse deixar a Juventus. Sempre tivemos boa comunicação. Sei que o Bruno Fernandes tem falado com ele e ele sabe o que sentimos por ele. Já disse várias vezes que, muitas vezes, quando há especulação e és o Manchester United, Ronaldo, Messi, Pogba, Bruno Fernandes, tens de ler muita coisa sobre ti. Vamos ver o que acontece com Cristiano, é uma grande lenda deste clube”. O próprio Bruno Fernandes tweetou um “Agente Bruno?” e deu as boas-vindas ao seu capitão na seleção das quinas.

A lenda regressa então a “casa”, anunciou por fim o United, pondo fim à novela. Pelo menos esta, porque, mesmo aos 36 anos, Cristiano Ronaldo tem muito futebol para (voltar) a dar aos adeptos dos red devils, que conseguiram “crashar” o site do clube após a contratação do português, que deverá receber cerca de 20 milhões de euros líquidos por época.