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Ritzau Scanpix/AFP via Getty Ima

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Quando vamos voltar a voar? Aeroporto no Montijo ainda faz sentido?

Turismo e a aviação estão parados. António Bernardo, da Roland Berger, admIte que Portugal pode ver alguma retoma no verão. Voltar ao nível em que estávamos vai demorar mais, mas Montijo deve avançar.

A mensagem era plausível e alguns órgãos de comunicação replicaram o comunicado atribuído ao Ministério das Infrastruturas, divulgado no dia 1 de abril, que anunciava o cancelamento da construção de um aeroporto no Montijo e as obras de reforço na Portela. Prontamente desmentido pelo Governo, a suspensão – ou pelo menos a reavaliação do projeto para reforçar a capacidade aeroportuária de Lisboa – poderá, a prazo, estar em cima da mesa.

Para já, o Governo “mantém os pressupostos quanto à necessidade da construção do novo aeroporto no Montijo”  afirmou em resposta ao Observador.

A prioridade é a pandemia, mas Governo “continua a trabalhar na solução do aeroporto no Montijo”

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A realidade do setor mudou drasticamente de um dia para o outro, as companhias áreas estão paralisadas a mais de 90%, milhares de aviões estão estacionadas e inúmeros países impuseram restrições aos voos internacionais e até nacionais. Para além do desafio de sobreviver nas próximas semanas, sem receitas e a precisar de ajudas públicas milionárias, o maior problema é não saber quando começará a retoma e quanto tempo vai demorar a regressar à normalidade. E será uma espécie de normalidade, enquanto o mundo não souber se haverá uma nova vaga da pandemia no inverno e enquanto não tivermos uma vacina ou tratamento eficazes para o Covid-19.

No longo prazo, quase todos acreditam no regresso em força da indústria das viagens ligada ao lazer e aos negócios, embora neste segmento especialistas alertem para uma mudança nos comportamentos que resulta da experiência forçada dos contactos à distância com recurso a plataformas tecnológicas que estão a ganhar muita força. A missão quase impossível é prever para daqui a uns meses ou mesmo um ano.

António Bernardo, senior partner da consultora internacional Roland Berger, está confiante de que poderemos ver os primeiros sinais de retoma até ao verão. Numa conversa realizada na terça-feira passada, o responsável pelo escritório de Portugal, América Latina e países lusófonos, conta que tem falado com as 40 filiais da Roland Berger em todo o mundo, que estão a monitorizar a situação, em contacto com os clientes. E o retorno dessas trocas de ideias aponta para uma retoma mais rápida na Ásia, em particular na China, que já se sente.

Mas para Portugal, e para o turismo, o sentimento também era positivo, sobretudo se se conseguir manter uma trajetória de propagação da pandemia mais achatada, e em contraste com o que aconteceu em Itália e na Espanha.

“Os portugueses são os mais germânicos do Sul da Europa, somos os latinos mais rigorosos. Quando temos objetivos macro bem definidos, a população consegue lutar para atingir esses objetivos, como aconteceu na crise de 2011. Estou convencido que a nossa curva será mais plana e isso irá permitir que a retoma da atividade turística e viagens possa ser mais rápida.”

Os portugueses são mais germânicos do Sul da Europa, somos os latinos mais rigorosos. Quando temos objetivos macro bem definidos, a população consegue lutar para atingir esses objetivos, como aconteceu na crise de 2011.
Estou convencido que a nossa curva será mais plana e isso irá permitir que a retoma da atividade turística e viagens possa ser mais rápida."
António Bernardo, senior partner da Roland Berger

E por mais do que uma razão, sublinha: “se a curva for mais plana, isso reforça a nossa imagem internacional de destino de qualidade que não tem uma oferta massificada. É possível que Portugal saia um pouco mais rápido, nomeadamente em relação a Espanha. Se tudo for neste sentido, a partir de julho poderemos ver algum retomar na atividade turística. Acho que o verão não está totalmente perdido”.

Qual vai ser o impacto na economia

As projeções da consultora – que trabalha com várias empresas internacionais – partem de três cenários:

  • 1. Saída rápida em V, uma recessão seguida de uma retoma muito rápida.
  • 2; Uma recessão muito profunda em L com uma recuperação lenta
  • 3. um cenário de recuperação gradual em forma de U.

Achamos que é o cenário intermédio“, mas com ritmos distintos em função na geografia. Enquanto alguma retoma pode acontecer na Ásia dentro de quatro semanas, Em Portugal, e na Europa, a expetativa é que entre oito a 12 semanas se possa dar início a uma recuperação gradual. Estas têm sido as estimativas do Governo, que tem apontado para o terceiro trimestre. Este é o cenário mais viável para a economia em geral e como a aviação depende da economia, o setor poderá retomar alguma atividade daqui a dois ou três meses, admite o senior partner da consultora.

Previsões macroeconómicas da Roland Berger:

  • China estava estava a crescer 6%, vai crescer 2,5%
  • União Europeia ia crescer 1%, vai cair 4,8%
  • EUA vão sofrer mais. Iam crescer 1,7%, vão contrair 5,5%
  • O resto do mundo ia crescer 3,3%, agora deve cair 2%
  • O PIB em Portugal deverá cair entre 3,8% a 4%

A Roland Berger tem feito vários estudos na área do turismo e há dois meses concluiu mais um plano para o Turismo de Lisboa que agora, admite António Bernardo terá de ser todo o revisto. Trabalhou também nos estudos que levaram à escolha da solução aeroportuária de Lisboa com o desenvolvimento do aeroporto complementar no Montijo.

Quando vão os turistas regressar?

Pelas pesquisas online conduzidas em vários destinos onde a empresa está e tem clientes, “sentimos que o consumidor tem vontade de fazer coisas no pós-crise, depois do isolamento”.

A perspetiva dos empresários também aponta no mesmo sentido. “Sentimos que os líderes empresariais, sobretudo nas grandes e médias empresas, têm vontade não apenas de sobreviver, mas também de preparar o pós-crise”. Apesar de estarem focados em programas para minimizar impacto do Covid-19, melhoria de liquidez, ajustar custos, há quem já esteja pensar no pós-crise, sobretudo as empresas com uma estrutura de capital equilibrada e menos dívida. Há vontade de fazer aquisições e fusões.

António Bernardo, senior partner da Roland Berger, refere que há empresários já focados no pós-crise.

“Vai ser uma saída gradual da crise, mas forte. O terceiro trimestre já poderá ser de recuperação clara no turismo, mas é necessário que muitas PME se aguentem”. António Bernardo defende ainda que iniciativas como a que surgiu recentemente na Alemanha de criar certificados da imunidade (para que as pessoas recém-recuperadas de uma infeção com Covid-19 possam retomar a atividade normal) “podem ser interessantes”, na medida em que necessidade de isolamento seria mais seletiva. Mas isto apenas se Portugal conseguir preparar os testes de forma massiva.

Numa primeira fase vão ser sobretudo os turistas nacionais e europeus a alavancar a recuperação do Turismo em Portugal. Os Estados Unidos e a América Latina estão mais atrasados no ciclo da pandemia e vão demorar mais tempo, admite António Bernardo, que acredita que a Europa ainda pode ser importante para o turismo nacional este ano. Estas não são boas perspetivas para a TAP, que fez do Brasil e, mais recentemente, dos EUA os seus mercados de longo curso de eleição. O primeiro é o mais importante e o segundo era o que estava a crescer mais. Por outro lado, a transportadora portuguesa terá menos a ganhar de uma retoma vinda da Ásia, para a qual não voa.

E quando poderá o setor voltar ao nível pré-crise?

A perspetiva na Roland Berger é que demore pelo menos um ano a um ano meio, embora seja expectável que o turismo e a aviação até reajam um pouco mais rápido do que o resto da economia. Mas para isso terão de arrancar fortes e apostar neste espírito pós-crise. Os consumidores, sublinha António Bernardo, “vão estar cheios de vontade de voltar a viajar.”

Por outro lado – e para um regresso forte – é preciso que as companhias mantenham a capacidade e o setor está a atravessar uma fase muito difícil. As companhias vão precisar de injeções de capital, liquidez, e empréstimos. Pode haver reforço ou entrada do Estado, a Itália vai fazê-lo e isso também pode acontecer em Portugal, admite o especialista. António Bernardo defende ainda que as intervenções do Estado devem ser uma base temporária, com um instrumento comparável aos Cocos usados na banca, para poder regressar à iniciativa privada. A TAP é uma das empresas que vai precisar de injeção de capital porque tem uma grande alavancagem.

Do empréstimo de mais de 200 milhões com aval do Estado até à nacionalização. As soluções para a TAP resistir à maior crise

Já as companhias low-cost são muito ágeis, conseguem tomar decisões mais racionais e às vezes mais duras. As  principais vão resistir, diz. Se for necessário capital privado, haveria investidores, mas são empresas fortes, com um modelo de negócio eficaz e rentáveis.

No setor aeroportuário há, no entanto, previsões menos otimistas. Uma fonte do setor lembra que quando se prevê que a retoma possa ganhar ânimo no final do terceiro trimestre, é quando se começa a planear a oferta para o chamado inverno IATA (sigla em inglês para a Associação Internacional das Companhias Aéreas). E por essa altura, empresas, governos e passageiros estarão na expetativa de que possa haver uma nova vaga do surto, o que pode adiar uma retoma sólida para daqui a um ano.

AFP via Getty Images

Um artigo publicado a 30 de março pela revista Forbes, assinado por um jornalista especializado em aviação, admitia que o regresso da indústria ao volume de tráfego pré-pandemia poderia demorar três a cinco anos, tendo como referência o que aconteceu no mercado americano após o 11 de Setembro. Também o economista-chefe da IATA avisa que sem uma recuperação económica em V, muito rápida, o que pode vir é uma recessão profunda provocada pelo fecho das cidades e dos países. “Dada a incerteza sobre o regresso do vírus, o setor pode demorar muito mais tempo a recuperar”, afirmou Brian Peace, citado pelo South China Morning Post. 

E neste contexto faz sentido avançar com o Montijo?

A empresa que gere os aeroportos portugueses , a francesa Vinci, “é muito sólida, mas vai sofrer”, admite António Bernardo, que mantém – contudo – a defesa do projeto do aeroporto complementar no Montijo. “Ao contrário da maior parte dos analistas, eu defendo que temos que continuar a preparar a infraestrutura aeroportuária como estávamos”. A crise não deveria afetar minimamente o planeamento das operações de infrastruturas, sublinhando que já se gastou muito tempo em análises de várias opções.

Portugal tinha uma solução política e relativamente consensual no plano técnico para construir um aeroporto de raiz no Campo de Tiro de Alcochete, quando chegou a crise financeira e do euro chegou. O projeto foi suspenso nessa altura. Quando se retomou a discussão já se tinha vendido a ANA, a concessionária dos aeroportos, e já não se contava com a receita para financiar o investimento. Foi desta limitação, e da opção da dona da ANA, que saiu a solução Portela mais Montijo (a célebre 1 + 1).

"Não mudámos de opinião, é fundamental implementar o mais rapidamente possível o Montijo" (....). Os impactos de adiar são tremendamente negativos para economia se não implementarmos. É uma solução a 100% boa? Não, mas é viável, é mais rápida e ser acelerado, Podemos respirar agora, mas não se deve perder mais tempo, O mercado em 2022 estará ao nível antes de crise, Devemos continuar".

A Roland Berger, recorda o seu responsável já teve a oportunidade de falar com vários governos sobre o tema, tendo estado inclusive envolvida no processo que apoiou a tomada de decisão política.

“Não mudámos de opinião, é fundamental implementar o mais rapidamente possível o Montijo” (….). Os impactos de adiar são tremendamente negativos para economia se não implementarmos. É uma solução a 100% boa? Não, mas é viável, é mais rápida e ser acelerado, Podemos respirar agora, mas não se deve perder mais tempo. O mercado em 2022 estará ao nível antes de crise. Devemos continuar”.

O que vai mudar nas viagens de avião

No artigo da Forbes que aponta pistas para o futuro da aviação, o especialista Dean Donovan defende que os voos domésticos vão regressar em força mais cedo por causa das restrições ao nível das ligações aéreas entre os vários países. No entanto, esta conclusão fará mais sentido num mercado doméstico da dimensão do americano ou do chinês, onde há muitas opções internas de viagem. Na União Europeia vai depender muito da reposição da livre circulação dentro do Espaço Shengen.

Outra tendência apontada vai no sentido de que os preços, numa primeira fase vão baixar, enquanto as companhias procuram atrair volume de tráfego, sobretudo de viagens de lazer.

Apesar da rápida adesão a instrumentos de comunicação à distância devido ao teletrabalho, este analista defende que as viagens de trabalho vão regressar mais depressa do que as de lazer, devido à paragem forçada,, mas vão estabilizar a um nível mais baixo do que o anterior. “A crise do Covid-19 representa o maior e mais longo período de testes para criar espaços de trabalho remotos e equipas virtuais na história das empresas. Alguém acredita que as reuniões online não irão substituir muitas viagens de negócio?”.

Antes e o durante a crise do Covid-19 no aeroporto de Frankfurt. Como será o depois

dpa/picture alliance via Getty I

Partindo da sua experiência profissional, na qual passava até há pouco tempo 50% do tempo fora de Portugal, António Bernardo acha que haverá um repensar dos modelos de trabalho por via das novas tecnologias. Quando os clientes são conhecidos a interação pode ser feita de forma remota.

“Isso vai ver seguramente um impacto nas deslocações de trabalho, que são uma parte importante para a aviação, masvai ser gradual. No curto e médio prazo, não terá impacto negativo, a médio e longo prazo pode ter.

Mesmo com um arranque mais lento, as viagens de lazer vão continuar a ser a grande motivação para andar de avião, e os analistas acreditam que a indústria vai continuar a crescer, a prazo. Mas primeiro é preciso que os consumidores ganhem confiança e que as memórias do medo de contágio se desvaneçam e as companhias podem ter de tomar medidas para reduzir o risco de propagação nos aviões.

Outra tendência apontada para o futuro é a redução dos voos através de hub, com ligações e escalas em grandes aeroportos internacionais. Os passageiros tenderão a preferir viagens ponto a ponto e a queda do tráfego de classe executiva, que paga os bilhetes mais caros, vai tirar a margem de lucro às grandes companhias que exploravam esse negócio. Isto significa que as transportadoras low-cost e o seu modelo de negócio devem ainda ganhar mais mercado.

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