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O Alentejo já é o primeiro a sofrer com o calor — e dentro de 50 anos poderá ser insuportável lá viver
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O Alentejo já é o primeiro a sofrer com o calor — e dentro de 50 anos poderá ser insuportável lá viver

ANTONIO CARRAPATO/LUSA

O Alentejo já é o primeiro a sofrer com o calor — e dentro de 50 anos poderá ser insuportável lá viver

ANTONIO CARRAPATO/LUSA

Sem praias e com 50ºC em Beja. Como pode ser em 2071 o país “mais vulnerável da Europa” às alterações climáticas?

Isabel Lindim, autora de "Portugal, Ano 2071", traçou um retrato do país em 50 anos. As previsões são negras — mas há soluções. Umas já estão em marcha. Mas, sobretudo, há informação que permite agir.

Portugal é “o país mais vulnerável da Europa” às alterações climáticas. A localização a sul do continente torna-o num dos primeiros territórios a sentir as altas temperaturas que hoje se sentem nos trópicos e que nas próximas décadas vão subir em direção aos pólos; e o posicionamento junto ao agressivo Oceano Atlântico transforma-o num dos mais suscetíveis de sofrer com o aumento do nível do mar e com os fenómenos extremos que têm origem no aquecimento dos oceanos e consequente disrupção das correntes marítimas. A estes dois fatores juntam-se as características sociodemográficas do país: uma população cada vez mais envelhecida (que sofre muito mais com o calor) e ainda numa considerável pobreza energética, incapaz de mitigar o desconforto térmico nas suas casas. A jornalista e escritora Isabel Lindim, que nos últimos anos se tem dedicado a retratar o impacto da crise climática em Portugal, descreve estes cenários num novo livro publicado em abril.

Com o título Portugal, Ano 2071, o livro passa das ideias à prática e, através de entrevistas com 29 cientistas e protagonistas de algumas das principais soluções de adaptação às alterações climáticas, traça um retrato concreto do que pode ser Portugal dentro de cinquenta anos — e quais as soluções que podem ser desde já postas em marcha para mitigar os efeitos da crise e, sobretudo, para nos adaptarmos aos efeitos que já estão dados como garantidos.

Algumas das previsões são bem demonstrativas de como os efeitos da crise climática poderão ser sentidos ainda no tempo de vida das gerações atuais: em 2071, os dias mais quentes do verão em Beja poderão rotineiramente chegar aos 50ºC; a esmagadora maioria das praias deverão desaparecer e dar lugar a arribas; povoações particularmente próximas do mar (como a Trafaria, em Setúbal) terão obrigatoriamente de encontrar novos lugares de assentamento; os grandes empreendimentos hoje construídos junto à linha de água serão ruínas semi-inundadas, e até o novo aeroporto do Montijo, se for construído, estará parcialmente submerso dentro de pelo menos trinta anos.

Numa entrevista ao Observador a pretexto do lançamento do livro, Isabel Lindim ajuda a retratar o Portugal que nos encaminhamos para ser, mas alerta essencialmente para as soluções e os bons exemplos: a agricultura terá de deixar de gastar 75% dos recursos hídricos do país, adotando a lógica da agrofloresta (ou seja, múltiplas culturas em simultâneo sem exploração intensiva dos ecossistemas); as soluções clássicas, que passam pela redução das emissões de gases com efeito de estufa, são fundamentais; porém, o grande desafio é mesmo o da adaptação. Há efeitos que já são irreversíveis, mesmo que as emissões abrandem, e a população terá de se adaptar a eles — e os principais atores dessa adaptação serão as autarquias da linha costeira. Segundo Isabel Lindim, todos os municípios portugueses têm atualmente informações detalhadas sobre o impacto das alterações climáticas nas suas regiões, que indicam que é urgente acabar com a construção junto à costa e imperativo que as câmaras municipais adaptem os seus planos de longo prazo à realidade em mudança. Alguns já o estão a fazer, outros poderão fazê-lo em breve. Daí que, apesar do cenário negro, a autora termine a entrevista assumindo-se “otimista tendo em conta a quantidade de informação que existe e que está ao alcance dos decisores”.

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O livro "Portugal, Ano 2071" (Oficina do Livro) traça o retrato do nosso país dentro de 50 anos sob os efeitos das alterações climáticas

Antes de ir ao livro, queria olhar para o subtítulo (“O impacto das alterações climáticas no país que os nossos filhos vão herdar”) e para a dedicatória (“À minha filha, que para mim significa o futuro”). Tem uma grande preocupação relativamente àquilo que vai ser o planeta dentro de alguns anos?
Há uma preocupação grande com aquilo que já está previsto acontecer, ou seja, com a forma como nos vamos adaptar àquilo que é garantido que vai acontecer. Eu própria já vou sofrer essas consequências e a minha filha também vai sofrer consequências. Ela tem 10 anos. Por isso é que acho tão importante que ela e a geração dela, as crianças destas idades, já estarem esclarecidas sobre esta questão. Sem entrar em pânico. Mas, sim, é uma realidade.

Como é que se evita ao pânico nas crianças, sabendo que vão viver a maior parte da sua vida já num planeta muito alterado?
Pensando que se pode evitar o pior e que temos de nos adaptar àquilo que já vai ser uma consequência. Não é muito difícil fazer isso. Em certos países é, mas no nosso ainda é possível que nos adaptemos, se olharmos para o território de forma a protegê-lo. Há zonas em que o calor vai ser muito intenso; se o solo aí for bem tratado, mais facilmente vai ser suportável o aumento do calor, que já está previsto, e também mais facilmente vamos ter garantias de recursos hídricos para toda a gente — e também vamos ter garantias de menos fogos. Há uma particularidade no nosso país, e é muito importante referir isto: 98% do território é privado.

Ou seja, depende mais de nós do que do Estado.
Não há um cadastro feito de todos os proprietários. Há muito território que não se sabe de quem é, onde estão os tais eucaliptos ou pinheiros, que eram árvores que tinham valor anteriormente e que agora já não têm, portanto esses terrenos são abandonados pelos proprietários. Em relação ao futuro, aquilo que se pode fazer é, nos próximos cinquenta anos, ter ações de adaptação que são mesmo muito importantes. Mas, também muito importante, é evitarmos emissões de gases com efeitos de estufa que vão ter efeitos para os próximos cem anos.

Porquê o 2071 no título? Porquê os cinquenta anos? É por ser um horizonte temporal que ainda é possível nós perspectivarmos?
Ainda é possível. Os investigadores que eu entrevistei são muito precisos em relação aos próximos trinta anos, mas já conseguem projetar para os próximos cem. Eu fiz esta barreira de cinquenta, porque há um elemento mais difícil de avaliar, que é o mar. Como nós estamos muito expostos ao mar, é um elemento, de facto, mais difícil de avaliar. Em relação à atmosfera, se formos ao Portal do Clima, que foi criado pelo IPMA, já está o aumento da temperatura até 2100 perante os dois cenários: o RCP 4.5 e o RCP 8.5 [o cenário intermédio e o pior cenário possível em termos de concentração de gases de efeito de estufa na atmosfera]. O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, no último grande relatório, traçou essas duas referências. Consoante elas, o futuro pode ser ou não pior. O que temos de fazer agora? Em termos de decisões internacionais e de geopolítica, é travar mesmo as emissões. Os maiores emissores são os combustíveis fósseis.

Há uma frase curiosa logo nas primeiras páginas do livro, que é um dos grandes desafios. Diz “um grau, dois graus, três graus” e que a tendência é para desvalorizar os números. Três graus, apesar de tudo, é menos do que a diferença entre um dia de inverno e um dia de verão. Temos dificuldade em perceber o impacto a longo prazo. Como é que se passa a mensagem de que isto é uma emergência mesmo que não o pareça?
Pois, esse é um dos aspetos. É difícil, porque não é muito visível. Só é visível quando acontecem fenómenos extremos ou quando começarem a acontecer as ondas de calor. Aí já vai ser visível, porque elas vão acontecer com mais frequência e durante mais dias. Dois, três graus, se estivermos em Sintra, se calhar não vai fazer muita diferença. Ou nos Açores, por exemplo. Mas se estivermos em Beja, ou no centro de Lisboa, já vai fazer diferença. Em Beja, pode tornar-se insuportável estarem 50ºC.

Esse é o valor? No livro, diz que os dias de maior calor podem passar a ser de 48ºC a 50ºC em Beja.
As temperaturas são sempre altas lá, mas depois há as ondas de calor. Agora, temo-las uma vez por ano. Se elas acontecerem quatro ou cinco vezes por ano e forem durante dez dias, não sei como é que o ser humano, ou todos os seres vivos, se vão adaptar. Pode, realmente, acontecer em Beja estarem 50ºC. E depois há outro fator: na cidade, às vezes altera-se quatro graus entre estarmos, por exemplo, em Campo de Ourique ou estarmos na baixa [em Lisboa]. Pode significar uma diferença de três ou quatro graus, estar num sítio ou noutro. Pode tornar-se difícil estar em certos pontos da cidade. Não é só para as pessoas que decidem ir ao Chiado nesse dia. É para as que vivem lá em sótãos, por exemplo, no Bairro Alto.

"As temperaturas são sempre altas lá, mas depois há as ondas de calor. Agora, temo-las uma vez por ano. Se elas acontecerem quatro ou cinco vezes por ano e forem durante dez dias, não sei como é que o ser humano, ou todos os seres vivos, se vão adaptar. Pode, realmente, acontecer em Beja estarem 50ºC."

E a isto podem juntar-se longos períodos sem chuva e ondas de calor de várias semanas em vez de poucos dias, com um efeito cíclico: quanto mais calor, menos água, quanto menos água, mais calor. Com base no panorama que traçou de Portugal, qual é o limite que temos para evitar entrar num ciclo em que é impossível travar os efeitos das alterações climáticas.
Aqui no país não depende só de nós, em relação ao aumento da temperatura da atmosfera. Por isso é que são tão importantes e urgentes os diálogos intergovernamentais. Aqui no país, o que se pode fazer, o que é urgente fazer é proteger as áreas verdes e apostar na agrofloresta. Estamos com muitas regiões onde está a ser implementado o cultivo intensivo, sobretudo para exportação.

O Alentejo…
Alentejo e Algarve. Essas zonas agora vão ser exploradas até ao máximo, vão usar muitos recursos hídricos — que também é uma incógnita se temos garantidos para as próximas gerações, ou se estamos a geri-los da melhor maneira —, e depois há a questão do estado em que o solo fica. São colocados tantos químicos. As empresas que plantam vêm e depois vão-se embora, mas deixam ali desertos. O ciclo natural demora muitos anos até sair do deserto até à floresta. Quanto a isso não podemos fazer muito a não ser preservar — e, em algumas zonas, restaurar.

Um dos conceitos mais referidos no livro como uma das soluções práticas para mitigar estes efeitos é o da agrofloresta. O que é?
É diversificar no tipo de cultivo que se faz. Em muitas regiões do país é também usar o montado, em que os animais fazem parte das zonas onde estão as árvores, oliveiras por exemplo. É, principalmente, saber misturar o tipo de árvores e de plantas de sequeiro, que são também elas produtos que se vendem. Podem não ter o valor de exportação dos abacates ou dos frutos vermelhos, mas são produtos que se vendem. A herdade do Freixo do Meio é um dos exemplos onde isso foi implementado há uns anos e que está a resultar. Eles têm cerca de cinquenta produtos. Têm vários cultivos, em vez de ser só um. Aquilo era uma herdade que só tinha trigo, porque houve a campanha do trigo ainda no Estado Novo. Só trigo. Havia uns anos em que dava e havia outros anos em que não dava. Passou para um tipo de cultivo em que tem tanta coisa que, se uma falha, as outras resultam. Se alguém faz só pecuária, tem só vacas, pode correr mal num ano.

Do ponto de vista do sustento económico dos produtores é mais vantajoso. Mas é mais vantajoso ambientalmente porquê? Porque diversifica os solos?
Pelo enriquecimento dos solos. A árvore é o elemento mais importante para criar nutrientes no solo. Não é qualquer tipo de árvore. As chamadas “quercus” são as mais importantes: os sobreiros, os carvalhos. São as que se deve manter. A oliveira pode estar incluída nesse tipo de cultivo, mas se estiver misturada também com as outras. Por exemplo, também entrevistei a herdade do Esporão — estou a dar os bons exemplos, porque eles existem —, onde já não há produtos químicos. Têm morcegos para as pragas de outros animais. Junto aos leitos, põe plantas que protegem de outro tipo de animais ou pragas. A agrofloresta é isso: manter a floresta e, no entanto, produzir e cultivar. Há regiões do país em que se tem mesmo de pensar. Até o tipo de uva. Nós temos um território propenso para o cultivo de uva, mas tem de se pensar quais são as castas. Há umas castas que precisam de mais água do que outras, umas que são mais vulneráveis a pragas do que outras. Tem de se pensar nessas. E também tem de se pensar em produtos que se fazem hoje em dia, por exemplo, na Turquia. O que é que resulta hoje na Turquia? Nós vamos ter um clima parecido com aquele, portanto o melhor é pensar o que é que se faz aí e ir subindo pelo país.

Começar a olhar para os sítios que têm hoje o clima que nós vamos ter dentro de cinquenta anos.
Sendo que, tanto em termos do ciclo da água como de manter o solo saudável, sem dúvida que a agricultura intensiva é a pior das soluções. A diversidade é a melhor. Depois, há outra questão muito importante para esta prevenção. Sendo nós um país com rios, bastante água, leitos e estuários, é proteger essas zonas marinhas. Também elas vão influenciar tudo à volta, além de serem mitigadores: captam mais dióxido de carbono do que qualquer ambiente do planeta.

Além da agricultura, que é evidentemente um dos grandes desafios do país, há também a questão de como isto nos vai impactar a nós. O mero aumento de temperatura nas nossas cidades, num país cada vez mais envelhecido, em que os idosos sofrem mais com o calor e em que não há o hábito de as pessoas terem climatização em casa. Do ponto de vista humano, são muitos fatores a anunciar um problema grave nas próximas cinco décadas?
A questão do calor é aquela que é mais alertada pelos investigadores. É aquela que os preocupa mais no nosso país. O nosso país é o mais vulnerável da Europa, não só pela exposição ao Oceano Atlântico, que é um oceano agressivo, que vai provocar muito desgaste e devíamos estar já a recuar, mas principalmente pelas ondas de calor. Como é um país ainda com alguma biodiversidade, essa biodiversidade vai-se degradar, naturalmente e pela mão do Homem. É a grande preocupação. Como é que nós nos vamos adaptar às ondas de calor.

Isabel Lindim, jornalista, é a autora de "Portugal, Ano 2071"

DR

A chave é sempre a adaptação: estamos numa altura em que é mais importante adaptarmo-nos ao que aí vem do que tentar evitar o que aí vem?
Neste momento, é mais importante como nos podemos adaptar do que as chamadas medidas de mitigação, que é evitar o pior. A passo de caracol, sempre se vão reduzindo as emissões. Mas a adaptação é extremamente importante. Neste caso, de agro-floresta e das soluções baseadas na natureza, estamos a fazer as duas coisas. Estamos a criar, ou a preservar, ambientes que captam dióxido de carbono, em vez de se estar a fabricar. Agora, por exemplo, quer-se fazer captação de dióxido de carbono diretamente das fábricas para ser injetado na terra e ser transformado em rocha. Há essa solução. Não sei que impacto é que isso vai ter verdadeiramente na terra — para mim é um modo de fracking, mas pode não ser. Isso ainda é muito experimental, mas querem procurar esse tipo de soluções: transformar o dióxido de carbono para produzir mais. Mas, na verdade, se preservarmos as zonas verdes, já estamos a fazer esse trabalho. Não faz sentido estar a ter gastos a fabricar, a construir captores de dióxido de carbono quando nós já temos excelentes captores de dióxido de carbono, incluindo os estuários, que são ótimos. Portanto, na verdade, a adaptação às vezes cruza-se com a mitigação. Se vamos ter cheias no estuário do Tejo, se o mar avançar, nós ao cuidar de todas as zonas laterais do estuário estamos a fazer as duas coisas. Estamos a criar zonas verdes que são captores de dióxido de carbono e estamos, também, a evitar desgraças, inundações.

Diz que Portugal é considerado por muitos o país da Europa mais vulnerável às alterações climáticas. Isto é uma frase dura de ouvir, embora possa parecer óbvio, porque estamos perto do mar e no sul da Europa. Pegando no título do livro, em 2071 que país nos encaminhamos para ser? Falava da Turquia…
Algumas zonas de Marrocos, a Turquia… É um clima mediterrânico seco. Não somos só nós, o sul de Espanha também. É um clima muito mais seco, com mais fogos.

E também com impactos na saúde humana. Podemos começar a ter aqui mosquitos e doenças que atualmente só encontramos nas zonas tropicais. Estamos preparados para isto?
Estamos preparados para os detetar. Não sei se estamos depois preparados para um surto de dengue ou de outro tipo. Mas estamos preparados para detetar esses mosquitos. Isso já aconteceu. Houve dengue na Madeira. Foi detetado o mosquito, que tinha vindo nuns contentores com pneus. Havia água nos pneus e eles mantiveram-se ali na água e depois propagaram-se. Mas conseguiram logo tratar tudo muito rapidamente. Aqui no contexto do continente, pode acontecer um surto. Ele é identificado, mas depois já está em marcha. Acho que, mesmo assim, esta questão dos vetores preocupa os especialistas, mas o calor é o que preocupa mais. Nós não sabemos se, fisiologicamente, o nosso corpo se vai adaptar ou não.

Há a possibilidade de se adaptar.
Não sabemos se vai haver tempo, tal é a rapidez com isto está tudo a acontecer. O aumento de temperatura foi muito rápido nos últimos trinta anos. Portanto, é natural que continue a ser rápido agora, porque isto são tudo emissões que já estão, que já foram lançadas. O calor preocupa muito os especialistas da área da saúde. As pessoas mais velhas, os idosos, têm uma questão que é o desconforto térmico: quanto mais velho, menos se sente isso. Por isso é que nós às vezes vemos pessoas mais velhas em agosto com casaquinhos de malha, ou as velhotas vestidas de preto e com casaco com um calor enorme. Elas não estão a sentir o calor, ou seja, não se hidratam. Mas, na verdade, estão a ficar desidratadas. Se cruzarmos isto com as casas onde vivem, que no nosso país não estão preparadas nem para frio nem para calor… Por enquanto, nós preocupamo-nos com o frio, mas nós vamos ter de nos preocupar é com o calor daqui a uns anos.

Quase dois milhões dizem passar frio em casa. Quanto custa acabar com a pobreza energética em Portugal?

Mas não é só o calor que preocupa. No segundo ponto do livro fala de tempestades, cheias e inundações. Isto, para quem olha de fora, pode parecer contraditório. Como é que num país que se encaminha para ser mais quente vai haver mais chuva?
Porque não é chuva. São as marés, as marés vivas. Apesar de chover menos, estas inundações são inundações calminhas. Não é sempre por galgamento. Podem acontecer em pleno verão, pode acontecer, por acaso, uma coincidência de fenómenos — uma inundação, um dia de tempestade, um furacão no mar —, uma junção que pode ser terrível. Mas as inundações de que se fala aqui são inundações que podem acontecer quase sem nós percebermos. Num dia ótimo de verão e como é maré viva, com lua cheia, o mar avança, avança e avança, como já acontece em Ferragudo, pelas casas, pelas ruas, e depois recua. Não é propriamente em ondas.

"O nosso país é o mais vulnerável da Europa, não só pela exposição ao Oceano Atlântico, que é um oceano agressivo, que vai provocar muito desgaste e devíamos estar já a recuar, mas principalmente pelas ondas de calor."

E porque é que num planeta mais quente também pode haver mais tempestades? Esse é o conceito que pode parecer contraditório.
É por causa do mar. Os ciclos que acontecem no mar. Por isso é que nós somos vulneráveis, mais do que Espanha. Senão, estaríamos iguais a Espanha, mas nós estamos expostos a uma costa e, se houver um furacão que vem do mar, estamos mais vulneráveis do que em Espanha ou França.

Mas há maior possibilidade de haver furacões?
Há, essa é uma das questões. Uma das grandes incertezas é o que é que se vai passar no mar, as mudanças nas correntes. Obviamente, vai haver mudanças de correntes; até quando os calotes caem, passado um tempo isso altera-as. As correntes são das coisas mais importantes para manter o planeta tal como ele está, e estão relacionadas com a atmosfera. E podem causar, essas correntes, a serem alteradas, podem causar esses fenómenos extremos. Se for tudo junto — se vier um furacão do norte, apanha a Nazaré, toda na costa, por exemplo.

Certo, temos esse conhecimento, mas queria tentar explicar porque é que faz sentido que num planeta mais quente — que associamos a dias sem precipitação — possam existir mais furacões e mais tempestades.
Os fenómenos extremos. Os furacões não têm de vir com chuva e eles também não vão acontecer aqui em Portugal. Isso vai acontecer, com certeza, noutros ambientes e noutros países. Aqui, os fenómenos extremos podem ser uma consequência daquilo que o mar nos traz, mas não é uma tempestade ou uma carga de água. Isso deixa de acontecer — ou acontece uma, alaga tudo, e depois nunca mais chove.

No livro diz que as praias vão ser a primeira coisa a mudar. Como vão ser as praias daqui a cinquenta anos?
Daquilo que me foi transmitido, vamos ter muito pouca areia. Ou seja, nós andamos a tirar areia ao largo da costa para pôr nas praias, o que também é um bocadinho contraproducente, porque cria buracos ao longo da costa. Não pode ser muito junto à costa. Tem de ser mais afastado. Mas, mesmo assim, grande parte das nossas praias, que são junto a arribas, vão desaparecer. Não há qualquer tipo de dúvida. Em relação a isso, os cientistas não têm qualquer tipo de dúvida de que a erosão acaba por acontecer e o mar vai avançando. Há zonas que deixam de ter praia e as praias que são muito grandes ficam mais pequenas.

Escreve que vai deixar de fazer sentido ter uma casa à beira-mar. Mas continuamos a construí-las.
Isso é das questões que mais me surpreendem. Como é que ainda se autoriza a construir junto à costa? Porque é que me surpreende? Todos — todos — os municípios têm esta informação que eu obtive para este livro. Todos eles têm esta informação. Quase todos eles fizeram parte do ClimAdaPt, que foi feito em 2015, e desde aí há o Adapt.Local. Eles sabem que não se pode. Claro que há aqueles licenciamentos que existem desde os anos 80 e que só agora é que vão construir. Ou que foram autorizados nos anos 90 ou mais tarde e só agora é que vão construir. Na altura, não havia o conhecimento que existe agora. Quando se está a deixar construir junto à praia, não percebo. Aquilo são construções efémeras. Vão desaparecer.

O calor é a dimensão das alterações climáticas que mais preocupa a comunidade científica

NUNO VEIGA/LUSA

Sabemos que estão a prazo.
O hospital que foi construído em Alcântara [Lisboa]… Os construtores também sabem que aquilo tem uma duração de trinta anos. Depois levam-no para outro sítio. Mesmo assim, vale a pena o investimento? Não sei até que ponto é que isso é bom para a cidade, que é bom seja para o que for. A tendência é cada vez mais ir para o litoral e cada vez mais ir para cidade. De ano para ano, mais pessoas nas cidades e mais pessoas no litoral.

Mas também há exemplos positivos. No livro diz que várias autarquias do país já mudaram os Planos Diretores Municipais com base no conhecimento científico que vão tendo sobre o avanço do mar — até dá o exemplo de Loulé —, mesmo quando isso implica conflitos com bancos ou com investidores. É um sinal de esperança?
Não é nada fácil para um presidente da câmara ser contrário aos poderes financeiros locais. O presidente de Loulé, por exemplo, é o mais militante em relação às questões das alterações climáticas. A câmara de Loulé tem um site só dedicado a este tema. Ele está mesmo preocupado em adaptar-se às alterações climáticas. Não só em relação ao calor, mas também em relação ao avanço do mar. Até conseguiu convencer uns investidores a recuarem, ou pelo menos mudaram a cota de um investimento que vai acontecer na mesma, mas ligeiramente diferente — ou seja, se calhar dura mais vinte anos do que era suposto. O próprio mercado de Quarteira também foi alterado, no projeto, já a pensar nisto. Ele é mesmo muito preocupado. Mas o conhecimento que ele têm é o mesmo que todos os outros têm. Isto é uma questão de vontade política. Claro que ele sofre na pele, tanto da população — que alguma se põe contra esta tomada de posições —, como das próprias forças económicas da região, que dizem que ele não está a pensar no crescimento de agora.

Então, como é que se resolve este inevitável confronto entre decisores políticos e financiadores de projetos, que têm como objetivo lucros ou receitas a curto prazo? A dada altura escreve no livro que é como se a economia estivesse num universo paralelo ao planeta. Como é que isto se concilia?
Uma das questões de que falo é que tem de haver mais diálogo entre os ministérios. Estas coisas só se resolvem com políticas públicas, com regras, que têm de ser impostas agora. Tem de haver um grande entendimento. Há dois ministérios que têm mesmo de se entender mais — o do Ambiente e o da Agricultura. Mas, depois, nas questões do ordenamento do território também, e o ministério da Economia também, e o das Finanças também. Têm todos de ter em conta o impacto que estas mudanças vão ter no nosso território. A única maneira é com políticas públicas, com este tipo de decisões. Não é só com pequenas ações. Não é só fazer deste tema das alterações climáticas um tema que vai ser ensinado às crianças. Eu acho isso muito bem, porque no futuro vão ser eles os políticos e os decisores. Mas há coisas que já podem ser feitas agora e não há razão para elas estarem a demorar. Isto é só uma questão de entendimento entre ministérios.

Mas é só uma questão de políticas públicas a partir do Estado? Ou é preciso envolver também as empresas e todas as entidades que têm interesses financeiros nestes projetos?
Se o Estado criar regras, as empresas têm de as cumprir. A questão é essa. Têm de as cumprir. O Estado pode não se tornar muito popular por criar essas regras para as empresas, mas se as criar as empresas têm de as cumprir.

Estamos a falar de que tipo de regras? Distância da água?
Tem a ver com a construção. Se nós olharmos para o Algarve, ainda há muitas casas a serem construídas junto ao mar. Muitas. Ainda há muitas construções. Nós já devíamos estar a pensar em como certas regiões ou certos locais como a Trafaria, por exemplo. Como é que nós vamos tirar aquela população dali? A Cova do Vapor… Como é que se vai recuar aquelas zonas que nós já sabemos que vão ser inundadas? Devíamos estar a investir aí em vez de estar a pensar em construir mais ao longa da linha de Lisboa a Cascais. Continuam a construir… Em todo o lado continua-se a construir junto à costa. No Algarve é impressionante, fazem mesmo junto à Ria. A Ria também vai subir. Vai tudo subir.

"Como é que ainda se autoriza a construir junto à costa? Porque é que me surpreende? Todos — todos — os municípios têm esta informação que eu obtive para este livro. Todos eles têm esta informação."

Portanto, as regras passam essencialmente por normas para a construção de edifícios.
Novos PDMs, normas para a construção. E, depois, também em relação à agricultura, acho muito importante seguir as diretrizes da União Europeia e aquelas que foram delineadas pelo Green New Deal, e nada disso está a acontecer. Estamos a ir exatamente no sentido contrário. A agricultura intensiva neste país vai causar um impacto mais nocivo do que noutros. Não é bom em lado nenhum, mas aqui é pior, porque vai ser um território com secas. A agricultura intensiva é uma coisa que não se percebe, é exatamente contrária às diretrizes europeias, que já perceberam exatamente o que se tem de fazer. Porque é que aqui é possível comprar um terreno de 70 hectares e começar a plantar abacates sem dizer nada a ninguém? Sem pedir autorização a ninguém? Talvez à câmara, pronto, e a câmara diz que sim. O Ministério da Agricultura não pode deixar que isto aconteça.

É preciso que essas novas soluções sejam postas no papel. Se a agricultura intensiva é permitida, não há nada a fazer.
Pois, não há nada a fazer. Ou então há uma multa, depois, porque a Agência Portuguesa do Ambiente vai lá e diz “não pode fazer isto” — e multa. Como aconteceu há pouco tempo em Barão de São João [Lagos], com uma plantação de abacates. Vão lá, não podia ter feito isto, tinha de esperar por autorização. Não quis esperar, prefere pagar a multa. Pagou a multa, mas entretanto os abacates já lá estão há dois anos. Uma árvores de abacate precisa de 60 litros de água por dia. Estamos a falar aqui de duas coisas más: de um recurso que não é garantido para o futuro, que é a água, que tem mesmo de ser bem gerido; e aquele terreno onde estão aqueles abacates vai ficar um deserto a seguir.

Produção de abacates só pediu autorização ambiental depois de avançar. ZERO denuncia passividade das autoridades

A questão dos recursos hídricos é fundamental — e a dada altura no livro tem uma passagem interessante em que não só relembra que desperdiçamos 30% da água que corre nos canos, mas também faz um paralelismo: em tempos antigo, o acesso à água era objeto de disputas resolvidas a tiro no meio rural. Estamos a caminhar para um tempo em que, não necessariamente a tiro, voltaremos a ter de lutar pelo acesso à água?
Agora estou a fazer uma investigação sobre esse assunto específico, pelo qual fiquei muito interessada. Explorei-o numa perspetiva de alterações climáticas, mas agora estou a investigar em relação à disponibilidade da água que já existe, como é distribuída e como é fornecida. Parece-me que está bastante confusa esta distribuição da água. São diferentes entidades que fazem a distribuição da água. Por exemplo, uma pessoa vai viver para Saboia [Odemira, Beja]. Pede-se muito para se ir viver para o campo, para se criar lá o ambiente de trabalho. Mas a pessoa chega lá e pede água. Tem duas hipóteses: ou pede à Associação dos Beneficiários do Mira, que é só para a agricultura em princípio, mas que também dão autorizações a prédios rústicos, ou então faz um furo. Para já, tem custos para fazer um furo. Isto, nalgumas localidades — noutras é as Águas Públicas do Alentejo, com os municípios a gerir. São diferentes entidades a distribuir a água para diferentes sítios. A EPAL é só Lisboa, depois há as Águas de Portugal, as Águas do Alentejo, as câmaras, as associações de beneficiários na agricultura. Cada um a gerir para o seu lado. Mas, na verdade, no meio disto tudo, acho que não se está a garantir que estes recursos hídricos estejam garantidos para o futuro. Estamos a contar com água de chuva que vai deixar de cair.

Barragens mais vazias.
Mais vazias. Por isso, fazer mais barragens não é a solução. A dessalinização, que já existe muito em Espanha, também não é propriamente a melhor solução. Temos aquíferos, temos águas subterrâneas, que são águas que têm sempre de ser tratadas quando chegam cá acima. Ou é a própria pessoa que vai tratar disso, ou é a própria entidade. Isso tem custos, e os custos todos de infraestruturas que isto está a ter… quando se fala de água, como a agricultura é consumidora de 75% dos recursos hídricos do país, pensa-se logo: como é que ela vai estar disponível para a agricultura? Eu tenho outra leitura. Como é que ela vai estar disponível daqui a cinquenta anos para cada um de nós abrir a torneira e haver água? Será que isso vai ser sempre garantido? Pode não acontecer. Nada nos garante isso — mais quando são várias entidades diferentes. Aqui em Lisboa, se calhar, como estamos ligados a Castelo de Bode, que em princípio tem sempre água… Mas se eu viver ali em Tavira, na serra, se calhar aí já não vou ter água.

A agricultura gasta 75% da água usada em Portugal. E 3% dos agricultores lideram a revolução sustentável

Estamos a caminho de um tempo em que podemos mesmo enfrentar escassez de água nessa dimensão tão quotidiana como abrir a torneira da cozinha ou da casa-de-banho e não haver?
É isso que eu vejo. Não se está a prever, para os próximos cinquenta anos, esta questão. A preocupação hoje em dia é só garantir esta água para a agricultura, porque é o setor que precisa mais.

O Alentejo já é hoje o lugar do país mais afetado pelas secas fortes no verão

NUNO VEIGA/LUSA

A água que nós usamos hoje vem essencialmente de que fontes — e como é que essas fontes vão ser afetadas no futuro? As chuvas, as nascentes…
E temos os furos. E os aquíferos podiam ser mais explorados. Há vários aquíferos no Algarve que não estão a ser utilizados. Eles também precisam de chuva, mas estamos a falar de zonas com muita água. Quando se fala com algumas pessoas que estudam os recursos hídricos, alguns dizem “bom, depois os aquíferos também acabam”. É verdade, é mesmo uma gestão difícil. Mas o que não é solução é construir mais uma barragem ou permitir que a água que existe agora, que está reservada nas barragens, como a de Santa Clara ou a do Alqueva, seja quase toda para a agricultura. Nós vamos precisar dela. Temos de ter grandes reservas.

E temos de passar a ter uma agricultura que consuma menos água.
Agora já se avança — e há muito essa justificação — para uma tecnologia muito mais moderna do que antigamente, a gota-a-gota e sistemas em que se rega só quando é mesmo necessário, em que há um estudo do solo. Mas isso não é suficiente.

Continua a ser a maior fatia do uso de água.
Quando a maior parte nem é sequer para produtos que nos sejam absolutamente essenciais. Nós podemos viver sem frutos vermelhos ou abacate. Não é absolutamente necessário. Nós precisamos de couves, batatas…

No livro não entrou muito nos detalhes da disputa política, mas há lá uma referência ao novo aeroporto de Lisboa, no Montijo. Aponta uma “malha de contradições” e diz que é uma questão de “teimosia política” na decisão, uma vez que implementar um aeroporto ali vai pôr em causa “dezenas de milhares de aves” num estuário que faz parte da Rede Natura 2000, que tem 260 espécies de animais. Isso significa que qualquer plano que se esteja a pensar para um novo aeroporto em Lisboa é necessariamente um projeto a curto prazo?
Não é. Temos zonas que não estão perto do estuário. Temos aquela base aérea [Ota], que sempre era melhor. Há zonas em que o impacto ambiental vai ser menor. Além de se destruir menos o ecossistema, parte das estruturas já existem, destrói-se menos e vai durar mais tempo. Aquela solução ali no Montijo vai ficar debaixo de água. Isso já se sabe. De certeza. Como é que vamos construir uma coisa que vai durar trinta anos? E que tem uma enorme importância? As aves marinhas estão a perder o habitat e o alimento delas por causa da pesca intensiva. Algumas aves marinhas já deixaram de migrar. Os flamingos, por exemplo, já estão ali o ano inteiro.

O aeroporto do Montijo vai ficar debaixo de água em trinta anos.
Trinta anos. E não sou eu que digo isto. São os especialistas que garantem. Garantem com aquilo que nós já sabemos que vai acontecer. Não é só se não se fizer o que o Acordo de Paris diz. Não quer dizer que seja sempre: a água entra e sai. É como em Vila Franca. A água entra e depois sai.

Um dos argumentos da parte dos ambientalistas é o de que a solução de um novo aeroporto é simultaneamente má por impactar o ecossistema, mas também por perpetuar a aviação civil. Quando olhamos para daqui a cinquenta anos, vamos continuar a andar de avião como hoje? Que mudanças têm de existir no modo como nos deslocamos?
A grande mudança, aqui na Europa, era nós demorarmos oito ou nove horas daqui a Paris, de comboio, o que já podia acontecer há uns anos. Agora, nem sequer há o comboio, que eu fiz várias vezes. Era daqui para Paris, mudava-se em Hendaya. Há muito tempo que o comboio devia ser prioritário em relação ao avião — e os comboios em si, se já tivessem sido uma prioridade, também podiam ter melhorado em relação ao tipo de combustível que usam. Se for um comboio com painéis solares ou outro tipo de energia. Podia ter-se avançado nesse aspeto.

"Porque é que aqui é possível comprar um terreno de 70 hectares e começar a plantar abacates sem dizer nada a ninguém?"

A ideia é a de que nas distâncias curtas, dentro da Europa, deixemos de andar de avião e passemos a andar de comboio? E que o avião sirva para as grandes viagens intercontinentais?
Se nós pensarmos na quantidade de aviões só aqui entre os países da União Europeia, a quantidade de voos diários, não faz sentido. Agora vivemos uma crise económica, agora fala-se nisso, na implementação das ferrovias. Não é mau falar disso. Acho bem. Mas devia ter sido há mais tempo e devia ter sido em coordenação com os vários países da Europa, porque de facto já há muito tempo que se podia estar a fazer. Há países que fazem. Paris – Amesterdão faz-se de TGV rapidamente. Mas se a aposta fosse mais na ferrovia, hoje em dia se calhar já tínhamos comboios que fossem pouco poluentes. Vai ser sempre menos poluente que os aviões.

Após fazer este trabalho de perceber como vai estar Portugal daqui a cinquenta anos, está mais otimista ou mais pessimista relativamente ao mundo em que vivemos?
Havia imensos amigos meus que me diziam: “Tu vais ficar deprimida a escrever esse livro, vais, vais”. E eu, no início, também pensei que se calhar isso ia acontecer. Mas não. Deparei-me com muitos estudos feitos cá em Portugal, com muitos cientistas que estão em contacto com os municípios e, como isto é um país pequenino, em termos de adaptação — estou a falar só de Portugal — estou um bocadinho otimista. Acho que se não forem os governantes que estão agora a decidir, será nas próximas gerações, que serão os próximos decisores. As próximas pessoas que estiverem, daqui a uma geração, a decidir coisas nas câmaras tiveram uma outra aprendizagem e estão mais preparadas para olhar para aqueles relatórios, para olhar para as investigações. Estes investigadores com quem eu falei, quase todos já estiveram em câmaras. Em workshops, em apresentações, a fazer relatórios. Informação não falta. As decisões é que são muito lentas. Mas o que me cria algum otimismo é que, no futuro, a maior parte dos jovens esteja muito esclarecida em relação a isso, tenha lugares de decisão e decida as coisas certas. Fiquei um bocadinho otimista tendo em conta a quantidade de informação que existe e que está ao alcance dos decisores. Tenho esperança de que eles de facto olhem para a informação que têm nas mãos. Se ela não existisse… Mas existe. E na verdade a área do ambiente está cada vez mais próxima do topo da hierarquia, seja numa câmara, seja no Governo.

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