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CONGRESSO PSD: Terceiro e último dia do 40º Congresso Nacional do Partido Social Democrata (PSD), no Pavilhão Rosa Mota, no Porto. Discurso final de Luís Montenegro, líder do partido. 3 de Julho de 2022 Pavilhão Rosa Mota, Porto TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
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Fotogaleria Arquivo PSD

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Um Pontal (cheio de história) para mostrar de “que massa é feito” Montenegro

Serviu de barómetro às várias lideranças do PSD e acompanhou os altos e baixos do partido. Muitos desprezaram o evento ou tentaram mudá-lo. Luís Montenegro aposta tudo numa rentrée mais mediática.

Foi instrumental para afirmar a marca PSD com Francisco Sá Carneiro, esteve moribunda, voltou em força com Aníbal Cavaco Silva, foi salva pelos “cinco mil contos” de Marcelo Rebelo de Sousa, serviu de palco para as guerras intestinas no partido, alimentou a rivalidade entre sociais-democratas e socialistas, foi suspensa, mudou de localidade, de formato e esteve quase para desaparecer mais do que uma vez, embalou Pedro Passos Coelho, virou minimal com Rui Rio e agora deve voltar em força com Luís Montenegro.

O nome de José Mendes Bota, antigo líder do PSD/Algarve, é quase um sinónimo do Pontal, o homem que organizou 14 edições da rentrée social-democrata e a “ressuscitou” três vezes, não esconde a expectativa para a edição deste ano. “O dia 14 é uma oportunidade de ouro para Luís Montenegro mostrar de que massa é feito. Espero que as pessoas voltem a vir ao Pontal. E que, tal como aconteceu em 2010 com Pedro Passos Coelho, que o PSD entre numa fase de grande pujança.”

O novo líder social-democrata tem este domingo o seu primeiro grande teste de afirmação política com o regresso muito aguardado da festa do Pontal a Quarteira. Uma iniciativa que marca também o fim definitivo da era Rui Rio e o início de um novo ciclo. Para desgosto de muitos, quando recuperou o evento como um piquenique de militantes do PSD, o agora ex-presidente social-democrata quis fazer uma espécie de “regresso às origens”; Montenegro tem outras ideias: emular Francisco Sá Carneiro, Aníbal Cavaco Silva e Pedro Passos Coelho e fazer do Pontal uma demonstração de força – sua e do partido.

O pinhal do Pontal, em Faro, recebeu e deu nome à primeira festa. “Havia uma poeira enorme. Mas, naquela altura, os militantes eram capazes de engolir o pó todo do mundo pelo”, recorda Mendes Bota. “Não havia água corrente, nem grandes condições de higiene. Mas existiam frangos assados.”

“Em 1976, Sá Carneiro fez do Pontal um grito de resistência democrática e de prova de vida do PPD. Quando já ninguém acreditava no futuro do PSD, Cavaco Silva apresentou-se pujante e foi o que foi. Em 2010, com Passos, a festa foi épica e ganhou aí a embalagem para ganhar as eleições legislativas. Foi uma grande rampa de lançamento”, recorda Mendes Bota. Agora, é a vez de Montenegro.

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Quando comer poeira era sinal de amor à camisola

A festa nasceu como uma necessidade de afirmação de Francisco Sá Carneiro. O PSD praticamente não existia no Algarve e Portugal era ainda uma democracia a dar os primeiros passos. O fundador e então líder social-democrata entendeu que o partido precisava de fazer uma demonstração de força e provar que estava vivo.

O pinhal do Pontal, em Faro, recebeu e deu nome à primeira festa. “Havia uma poeira enorme. Mas, naquela altura, os militantes eram capazes de engolir o pó todo do mundo pelo”, recorda Mendes Bota. “Não havia água corrente, nem grandes condições de higiene. Mas existiam frangos assados.”

O Pontal foi-se fazendo, mas a convulsão interna no PSD, antes e depois a morte de Francisco Sá Carneiro, foi esvaziando o interesse da festa. Até que surge Cavaco Silva. “Até ao Congresso da Figueira da Foz, havia uma enorme contestação interna. Quando Cavaco partiu para a Figueira da Foz, o partido estava moribundo. Mas o que fez em 1985 e a forma como foi organizado o Pontal, ainda para mais sendo ele um algarvio, mudou o partido e lançou-nos para a vitória”, sublinha Mendes Bota.

Dois anos depois do Pontal vs. Pontinha, foi a vez de Marcelo Rebelo de Sousa reabilitar a rentrée do PSD. De resto, o então líder do PSD deu o corpo ao manifesto e passou um cheque de cinco mil contos (25 mil euros) para que a festa se pudesse realizar. “Foi a despesa singular mais cara que tive na política”.

De resto, foi em 93 e no Pontal, que Aníbal Cavaco Silva, já primeiro-ministro, fez um dos seus discursos mais notáveis, quando se assumiu perante o país como “o homem do leme”. “Mesmo aqueles que discordam de nós não têm dúvidas de que o barco tem um rumo e de que há uma pessoa ao leme”, atirou o então líder social-democrata.

Pontal contra a Pontinha

O cavaquismo e o Pontal fizeram o seu caminho durante os tempos doces do poder. O fim de ciclo de Cavaco Silva foi um golpe duro para o partido e, por arrasto, na festa de rentrée social-democrata. Em 1995, António Guterres percebeu que a oportunidade política estava ali e marcou o regresso socialista para a Pontinha, a escassos 300 metros da festa laranja. Era tempo de mostrar que o equilíbrio de forças agora era outro. Sem Cavaco Silva ao leme e com Fernando Nogueira, o PSD tentava sobreviver politicamente.

De acordo com os relatos de então, as duas festas estavam tão próximas que era possível ouvir os discursos de ambos os líderes em simultâneo. Com uma particularidade que mudaria para sempre o cenário político e mediático: as legislativas de 95 foram as primeiras legislativas a serem disputadas com os dois canais privados de televisão entretanto criados já em funcionamento.

Os dois eventos foram, por isso mesmo, acompanhados com especial atenção mediática. A aparente vantagem na contagem de cabeças socialistas traduziu-se em votos: Guterres derrotou Nogueira por 43,76 contra 34,125. A longa travessia no deserto do PSD seria também um golpe para o Pontal.

Os cinco mil contos de Marcelo

Dois anos depois do Pontal vs. Pontinha, foi a vez de Marcelo Rebelo de Sousa reabilitar a rentrée do PSD. De resto, o então líder do PSD deu o corpo ao manifesto e passou um cheque de cinco mil contos (25 mil euros) para que a festa se pudesse realizar. “Foi a despesa singular mais cara que tive na política”, chegou a assumir o próprio em declarações ao jornal i.

Mendes Botas: “Nunca conheci ninguém com tanta dificuldade em criar empatia. Era uma maçada. Detestava o contacto com pessoas”, recorda o antigo líder do PSD/Algarve, conhecido por um dia ter dito que, depois da recusa de Ferreira Leite, jamais faria outro convite. “Não levo tampa da mesma miúda duas vezes.”

Seria um esforço inglório o de Marcelo. Haveria festa, sim, mas na cidade da Póvoa de Varzim, em 1999. E nada mais. Durante sete anos, com Durão Barroso e depois com Pedro Santana Lopes, não havia jeito de retomar a tradição social-democrata. Em 2005, Mendes Bota tentou recuperar o conceito, mas foi um fiasco. E foi aí que surgiu a ideia de levar a festa da baixa de Faro para o calçadão da Quarteira.

No ano seguinte, já no novo poiso, o Pontal foi notícia não pelo fulgor do PSD enquanto maior partido da oposição, mas por outros motivos: a sua histórica tendência autofágica. Com o então líder Luís Marques Mendes ausente, Luís Filipe Menezes, que tinha sido adversário de Mendes em Congresso, aproveitou para lançar os foguetes e apanhar as canas.

Em 2007, Mendes já não descuraria esse aspeto e fez questão de marcar presença no Pontal. Menezes, no entanto, voltou a ir e voltou a ser um dos mais aplaudidos. O destino de ambos estava escrito: nesse mesmo ano, Mendes cairia e Menezes tornar-se-ia líder (efémero) do partido.

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A recusa de Manuela e o medo de Passos

Depois de Menezes veio Manuela Ferreira Leite, figura de má memória para Mendes Bota. “Nunca conheci ninguém com tanta dificuldade em criar empatia. Era uma maçada. Detestava o contacto com pessoas”, recorda o antigo líder do PSD/Algarve, conhecido por um dia ter dito que, depois da recusa de Ferreira Leite, jamais faria outro convite. “Não levo tampa da mesma miúda duas vezes.”

O sucessor Pedro Passos Coelho perceberia bem a importância de retomar em força a rentrée do PSD, até como forma de pressionar politicamente um já muito fragilizado José Sócrates. As palavras do então líder do PSD e futuro primeiro-ministro, recordadas pela revista Visão, não deixavam margem para grande imaginação sobre o estado de espírito social-demcorata: “Preparem-se para a porrada”.

Rui Rio recusou sempre voltar ao modelo mais faustoso da festa. “Acabou com o Pontal. Disse que não havia dinheiro. Quando o partido diz que não tem 20 mil euros para gastar naquilo que é a sua grande marca é porque desistiu”, argumenta Mendes Bota.

Seguiram-se anos muito difíceis. Passos deixaria para trás o estilo mais combativo para assumir a postura de Estado de um primeiro-ministro a tentar salvar o país em plena intervenção da troika. Com o carnaval político suspenso e com a contestação social a crescer nas ruas, o PSD chegou mesmo a levar a festa para um hotel no parque aquático de Quarteira – a organização do partido receava que eventuais manifestações causassem embaraços dispensáveis.

Mendes Bota não esquece esse momento baixo da festa (mais um). “O PSD tem de se afirmar nas ruas. Faz parte da sua história. Não ter medo de ir para as ruas. O partido tem lugar para intelligentsia, mas é também um partido de rua. As pessoas gostam que que o líder ande de mesa em mesa, que contacte com as pessoas”, argumenta o social-democrata.

Em 2015, ano da coligação Portugal à Frente, a festa laranja teve também as cores azuis do CDS de Paulo Portas. Apesar da vitória nessas legislativas, a ‘geringonça’ que António Costa montou atirou o PSD para a oposição e precipitou o partido para um abismo de maus resultados.

Rui Rio recusou sempre voltar ao modelo mais faustoso da festa. “Acabou com o Pontal. Disse que não havia dinheiro. Quando o partido diz que não tem 20 mil euros para gastar naquilo que é a sua grande marca é porque desistiu”, argumenta Mendes Bota. Será a vez de Luís Montenegro provar que Rio estava errado e que o PSD está vivo e de volta ao caminho das vitórias.

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