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As mulheres gastam mais dinheiro em acessórios, mas os homens têm mais despesas com o álcool
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As mulheres gastam mais dinheiro em acessórios, mas os homens têm mais despesas com o álcool

Getty Images/iStockphoto

As mulheres gastam mais dinheiro em acessórios, mas os homens têm mais despesas com o álcool

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Viagens, muitos euros e "enormes expectativas": o extravagante mundo das despedidas de solteiro(a)

Longe vão os tempos em que bastava um jantar e um passinho de dança: os custos associados são galopantes e o fenómeno é global. Um em cada três millenials já se endividou para ir a uma despedida.

Uma noite num clube de striptease com figuras fálicas de plástico a abanar em cima de uma bandolete, cocktails cor-de-rosa a entornarem-se desastrosamente por todo o lado e a promessa de que ninguém se vai lembrar muito bem de nada no dia a seguir. A descrição que aqui fazemos pode aproximar-se dos clichés dos filmes de domingo à tarde, mas está longe de ser um reflexo daquilo que é, em 2023, a bitola para as despedidas de solteira e de solteiro (DS), que se transformaram nos últimos anos em “viagens extravagantes de vários dias”, como relata o Business Insider. O fenómeno não se limita aos Estados Unidos da América — está bem presente em Portugal, onde é cada vez mais comum levar a festa até Madrid, Marrocos ou Ibiza.

De facto, tem-se tornado mais comum as festas serem no estrangeiro em relação ao que se passava há uns anos, sem qualquer tipo de dúvida — e aqui posso falar não só como mulher que vai às despedidas de solteira das amigas, mas também como profissional”, explica ao Observador Rita Abecasis, que fundou a R Concept em 2010, empresa de organização de eventos com uma área dedicada aos casamentos que planeou, entre tantos outros, o casamento de Mariana Patrocínio. Trabalha há 19 anos neste mercado. “As pessoas aproveitam a situação do casamento para organizarem uma viagem de amigos ou para irem para o estrangeiro visitar um sítio onde nunca foram.”

“As despedidas de solteiro e de solteira estão mais caras do que nunca”, afirmava em março o Philadelphia Inquirer. Nos Estados Unidos da América, a despesa média por pessoa numa DS (abreviatura para despedida de solteiro(a)) ronda hoje os 1.200 dólares (cerca de 1.110 euros), de acordo com um estudo citado pelo Business Insider no mesmo mês, que analisou mais 100 mil festas planeadas para 2023. Isto representa uma subida de 40% em apenas 2 anos, embora o problema já existisse em 2019, altura em que o The New York Times dedicou um artigo ao fenómeno citando um outro estudo, que concluiu que um em cada três millenials já se endividou para participar numa DS.

No Reino Unido, a despesa média para um convidado é de 604 libras (705 euros), subindo este valor para 807 euros no caso dos padrinhos e madrinhas, de acordo com a plataforma Savoo, que concluiu num estudo recente que 34% dos convidados já contraíram dívidas para conseguirem cobrir esses valores.

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A portuguesa Constança Castello-Branco, 29 anos, conta ao Observador que a despedida mais dispendiosa para que já foi convidada totalizou 750 euros e aconteceu num popular destino de praia em Espanha. Se se sentiu confortável com essa despesa? “Na realidade não, porque não estava em posição de gastar tanto dinheiro. Mas como os custos foram repartidos por meses diferentes, não foi tão ‘doloroso’ de gerir e eu queria muito ir. Acabei por participar em tudo porque quis, por um lado, e, por outro, porque não me sentia bem em não fazer parte de algo tão importante para a noiva. Acabei por colocar a pressão sobre mim.”

Já Frederico Robles, 32 anos, conta que gastou mais de 1.200 euros numa despedida de solteiro de cinco dias em Ibiza. “Não me senti confortável. No entanto, tendo em conta o destino, era algo com que já contava. E, como era dos meus melhores amigos, fiz o esforço de bom grado.”

Quem gasta mais dinheiro: eles ou elas?

Ao contrário do que se possa pensar, explica a wedding planner Rita Abecasis, os homens acabam muitas vezes por despender valores mais elevados nas despedidas de solteiro do que as mulheres, sendo o consumo de álcool o principal fator. “Não têm as despesas em acessórios, mas têm garrafas nos privados e uma série de coisas nesse estilo.”

Getty Images/iStockphoto

Um estudo conduzido em 2019 pelo site de casamentos Wedding Wire concluiu que, nos EUA, a despedida de solteiro média custava à volta de 550 dólares (509 euros), enquanto os gastos médios numa despedida de solteira rondariam 350 dólares (cerca de 320 euros). Entre os fatores explicativos, a plataforma indica que os noivos convidam menos amigos do que as noivas, sendo os custos repartidos entre menos pessoas; estão mais dispostos a voar para o local; e organizam atividades mais dispendiosas, como jantares em restaurantes e idas a discotecas, bares e casinos.

As expetativas subiram nos últimos anos

“Estou naquela idade em que os meus amigos se estão a começar a casar e, por mais que seja uma altura feliz na vida, também é incrivelmente dispendiosa”, desabafava uma mulher sobre os gastos associados às despedidas de solteira numa coluna de conselhos no The Cut. “Sinto que as expetativas para estas festas subiram nos últimos anos. (…) Contas feitas, vou pagar entre 6 a 8 mil dólares (5.550 a 7.400 euros) nestas viagens este ano. Sinto que não posso dizer não — nem quero realmente — são as minhas melhores amigas, no fim de contas. Mas como posso encontrar um equilíbrio entre ser responsável financeiramente e ser uma boa amiga?”

Têm todas de ir comprar um tecido igual e mandar fazer um vestido especificamente para a data numa costureira, o que também tem um custo superior. Não se pode ir à Zara comprar um vestido de 20 ou 30 euros.
Rita Abecasis — R Concept

A questão das expetativas é, para Rita Abecasis, um problema. “As expectativas são enormes relativamente às madrinhas. As despesas de se ser madrinha e de todos os programas à volta disso são um abuso“, aponta. “O próprio casamento também acarreta uma despesa extra, porque além de terem de dar um presente — porque é expectável pela sociedade, pelos noivos e por toda a cultura que se criou à volta dos casamentos, que haja um presente enorme —, muitas noivas hoje em dia querem as madrinhas todas vestidas de igual. Têm todas de ir comprar um tecido igual e mandar fazer um vestido especificamente para a data numa costureira, o que também tem um custo superior. Não se pode ir à Zara comprar um vestido de 20 ou 30 euros. Tudo isto acarreta uma despesa muito grande para as convidadas e madrinhas.”

Está aberta a época dos casamentos: 17 sugestões de vestidos e conjuntos de marcas portuguesas para convidadas

A portuguesa Constança acredita já ter sentido pressão social para corresponder a esses gastos, ainda que pudesse não se sentir confortável com eles. “Foi sempre pela noiva”, esclarece. “Mas eu escolhi ceder a essa pressão e ninguém tem culpa ou responsabilidade sobre isso.” Para Frederico, existe um “registo de despreocupação” no que toca às despesas que acontecem num contexto de despedida de solteiro, “o que pode gerar um maior descontrolo orçamental“, considera.

Quem paga as estadias e viagens dos noivos?

Tradicionalmente, a etiqueta dita que os noivos não entrem nas despesas das suas DS. Comida, bebidas e acessórios são oferecidos a dividir por todos os convidados. Mas o que acontece quando os custos galopantes desse último “adeus” à vida de solteiro passam a incluir viagens de avião e estadias em hotéis?

@itserinconfortini

what do you guys think about this should the bridesmaids pay for the brides bachelorette vacation #moneytok #bacheloretteparty

♬ original sound – Erin

É uma questão controversa. Em maio do ano passado, um vídeo tornou-se viral no TikTok quando uma madrinha resolveu partilhar todas as despesas que estava a ter com o casamento de uma das suas melhores amigas. “Não é uma ‘festa de despedida de solteira, mas uma viagem de despedida de solteira'”, começa por descrever sobre o plano de 5 dias, antes de relatar como foi pedida uma contribuição de 300 dólares (278 euros) a cada convidada para a organização de uma festa, a que acresceram 400 dólares (371 euros) de voo e 240 dólares (223 euros) de estadia — isto sem contar com o bilhete e estadia da própria noiva, divididos em partes iguais por todas as outras.

“Isto é normal?”, questiona a norte-americana Erin Confortini no vídeo com perto de 900 mil visualizações. “É a primeira vez que sou madrinha de alguém além da minha irmã. Isto é esperado? Deverei esperar isto sempre que for convidada para ser madrinha?” Na caixa de comentários, mais de 10 mil respostas expressaram indignações e opiniões, algumas delas partilhando histórias semelhantes. “Acho que esta tradição se descontrolou demasiado”, comentou uma pessoa. “Parece-me estranho que, quando alguém decide casar-se, de repente todas as pessoas próximas são responsáveis pelas suas despesas”, escreve outra.

Isto também acontece em Portugal? “Quase sempre”, responde Frederico. “Regra geral, as DS são decididas pelos padrinhos e o noivo acaba por não ter culpa do custo associado à mesma.” A experiência de Constança é semelhante:  “Tive sempre de cobrir os custos da noiva a dividir com as outras madrinhas e convidadas.” Mas há exceções, acrescenta, contando que numa dessas despedidas, a noiva “cobriu as suas despesas de alimentação e deslocação” — o alojamento já tinha sido coberto pelo grupo. “Estávamos todas nas lonas e a noiva insistiu em pagar algo.”

O que dizem os especialistas

“Geralmente, as madrinhas pagam tudo à noiva. Na minha opinião é um disparate, porque cada um tem as suas vidas, as suas poupanças e, se fazer uma viagem pessoal já é difícil, uma viagem dividindo as despesas da noiva ainda é mais”, expõe Rita, acrescentando que o grupo de madrinhas e convidadas também divide entre si outras despesas adicionais, desde roupas e acessórios comprados especialmente para a ocasião a rodadas de bebidas.

Cada um deve pagar a sua quota parte, até porque estamos a viver uma crise e tempos difíceis num mundo pós-pandémico.
Rita Abecasis — R Concept

De acordo com os sites The Bach e Brides.com, especializados nos temas das despedidas de solteiro e casamentos, se o festejo for local, tradicionalmente as despesas dos noivos (comida e bebidas) são divididas entre madrinhas e padrinhos. No entanto, se o evento incluir viagens e estadias, as regras mudam. “É apenas justo dividir os custos de transporte, atividades e estadia entre todas as convidadas — noiva incluída”, lê-se no primeiro, que propõe que apenas os gastos mais modestos, em bebidas, snacks e acessórios, sejam oferecidos pelo grupo.

“Nas últimas vezes que falei com pessoas conhecidas que foram a despedidas de solteiro, disseram-me que há um dos jantares que o noivo quer oferecer a todos os amigos. Isso não cobre de maneira nenhuma os custos, mas pode atenuá-los e ser uma atitude simpática”, sugere Rita Abecasis.

Frederico revela que, na despedida mais dispendiosa que teve, o noivo também dividiu o fardo. “Quando fomos a Ibiza, por exemplo, não pagámos voos e estadia do noivo, porque teve consciência de que era um destino caro. Acho que tem de haver uma sensibilidade por parte do noivo para perceber se o registo da DS é demasiado dispendioso ou não.”

“Tem de haver conta, peso e medida”, conclui a wedding planner. “Cada um deve pagar a sua quota parte, até porque estamos a viver uma crise e tempos difíceis num mundo pós-pandémico.

Dinheiro: o tema tabu

“Ser madrinha e as despedidas de solteira são tópicos que têm de ser discutidos publicamente“, afirma Confortini, a TikToker que levantou a polémica, num outro vídeo. “Conheço tantas raparigas que são postas numa situação financeira desconfortável quando se tornam madrinhas de casamento (…) Tantas raparigas disseram que as expetativas eram simplesmente demasiado elevadas para o que podem gastar. Isto não tem nada a ver com o quanto adoramos as noivas. Não estou amargurada por ter feito estas férias. Mas todas estas despesas estão fora do meu nível de conforto e muitas pessoas nos comentários disseram a mesma coisa.”

@itserinconfortini

Reply to @user5455107732384 the original video on this topic ▶️ @moneytomiles the cost of being a bridesmaid definitely needs to be talked about more

♬ original sound – Erin

Levantar a questão do dinheiro pode ser intimidante num grupo onde estão várias pessoas, especialmente porque nem sempre todas as madrinhas e convidadas se conhecem. “Alguém pode ter vergonha de dizer que não consegue passar dos 200 euros, por exemplo, quando há outras pessoas com possibilidades de compra diferentes”, diz Rita Abecasis. “Pode haver quem tenha filhos, maridos, casas, ou pode haver quem ainda esteja a viver em casa dos pais e é inevitável que o poder de compra seja diferente. As expectativas têm de ser alinhadas e geridas, até com a própria noiva.”

Constança partilha a sua experiência. “Já senti várias vezes que, em alguns grupos, há pessoas com menos dinheiro que não estão 100% confortáveis em falar abertamente sobre isso, porque existem outras madrinhas para quem o dinheiro não é um tema. Mas nunca senti que tinha que omitir nada, acho que toda a gente deve ter consciência de que existem realidades financeiras diferentes.”

A comunicação é chave nestas situações

O primeiro passo para se organizar uma DS com bom senso é estipular um orçamento, “que até pode ser secreto”, começa por explicar a wedding planner. Isto pode passar, por exemplo, por cada convidada expor o valor máximo que está disposta gastar numa conversa individual com a uma das madrinhas, em vez de no grupo de WhatsApp onde, geralmente, se juntam todas as convidadas. “O conselho que daria às madrinhas e padrinhos é que façam uma coisa que seja razoável para todos e dentro da zona de conforto de todos. Foquem-se naquilo que é realmente importante: estarem todos juntos sem terem de se sentir superiores ou inferiores por causa do dinheiro.”

O bar de praia Beso Beach, em Ibiza, tem-se tornado um spot popular para despedidas de solteiro e de solteira

Do lado das convidadas, apesar de as conversas sobre dinheiro poderem ser constrangedoras, a comunicação é chave. “O que nos devia deixar realmente desconfortáveis é a ideia de nos endividarmos para evitarmos o constrangimento social de manter as aparências”, acredita a especialista Stefanie O’Connell, em entrevista ao The New York Times. Para os experts, a melhor abordagem é fazer as contas, perceber quanto se pode gastar, em que atividades se pode participar e tornar a conversa sobre isso.

Quando, por questões financeiras, se chega à conclusão de que não é possível participar, é importante ser-se honesto com o grupo e com a noiva sem apontar culpados, para evitar conflitos. “Em vez de dizer que é muito caro, é melhor dizer que ‘não está no seu orçamento'”, explica o site Brides.com.

Há um último fator a considerar, que é a proximidade entre as pessoas convidadas para a despedida. “Depende muito se se tem um grupo de amigos desde sempre, a que pode dar imenso gozo viajarem juntos, ou se os noivos convidam pessoas tão díspares que não têm um grupo coeso. Nesse caso, se calhar custa mais gastar 600 ou 700 euros por uma viagem que se podia fazer com os amigos habituais, mas que se está a fazer num contexto diferente.”

Adeus, branco. Cada vez mais noivas casam de cor-de-rosa, de amarelo e até mesmo de preto para fugirem à tradição

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