Araceli, uma mulher de 96 anos e residente de um lar da terceira idade, foi a primeira espanhola a ser vacinada contra a Covid-19 numa cerimónia com o aparato que rodeou estes momentos em vários países da União Europeia, no último domingo. Quando terminou de receber a primeira dose da vacina disse estar bem disposta, nada a assinalar. Mas nos dias seguintes começou a circular a imagem de uma notícia do El Mundo a dar conta que a idosa teria morrido 24 horas depois daquele momento.

Imagem partilhada por um utilizador do Facebook.

Mas o que parece uma partilha de uma notícia não é mais do que uma montagem, utilizando a marca do jornal espanhol, para difundir uma notícia falsa. Esta publicação foi, aliás, desmentida pelo próprio El Mundo, que escreveu uma notícia a alertar os seus leitores: “É uma farsa”.

“Não, Araceli não morreu. Se recebeu por Whatsapp um recorte de uma suposta notícia do El Mundo que anuncia a morte de Araceli (…), quebre a cadeia e não a partilhe: é uma farsa”, escreveu o jornal, que explicou tratar-se de “um embuste” criado por alguém que o espalhou pelas redes sociais. “Nem a tipografia nem as letras do vídeo correspondem às autênticas”, utilizadas pelo El Mundo no seu trabalho argumentou ainda o jornal que pediu aos leitores: “Apague a imagem e não a divulgue”. A diferença no tipo de lettering é muito pequena, mas é possível detetar com facilidade na comparação com a notícia original, em que o título do vídeo do momento da vacinação é “Araceli, de 96 anos, primeira mulher vacinada contra a Covid em Espanha”. E não o que consta na partilha que rapidamente soltou do WhatsApp para o Facebook.

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Partilha original do El Mundo com o vídeo do momento da primeira administração da vacina contra a Covid-19 em Espanha. Foi esta partilha que foi usada para a montagem.

O site espanhol de verificação de facto, Newtral, cita mesmo a autoridade regional da Segurança Social de Castilla-La Mancha, onde se situa o lar onde reside Araceli, e garante que a idosa “está perfeitamente bem, está ótima”.

Esta partilha surge numa altura em que a eficácia e a segurança da vacina contra a Covid-19 são questionadas por alguns setores mais céticos com a ciência e que desconfiam do encurtamento expressivo do prazo de produção desta vacina, tendo em conta o que é comum. De acordo com os especialistas, esse prazo correu, de facto, muito mais rapidamente, com os laboratórios a condensaram a pesquisa, os ensaios clínicos e a avaliação que tradicionalmente leva “10 ou mais anos” em apenas 10 meses.

Aliás, na reunião de especialistas no Infarmed, no início de dezembro, um dos slides apresentado (que é possível ver abaixo) pretendia explicar isto mesmo, mostrando o que foi encurtado e como. Por exemplo, os estudos pré-clínicos que são obrigatórios e que normalmente demoram anos, desta vez foram acelerados, com os cientistas a aproveitarem a investigação que já estava feita a propósito de outras síndromes respiratórias causadas por coronavírus, a SARS e a MERS.

A fase seguinte, do desenvolvimento pré-clínico e dos estudos toxicológicos — que leva entre dois e quatro anos — também foi encurtada, tendo sido aproveitado o desenvolvimento que já existia e que continuou em paralelo com o avanço da investigação. Depois de autorizados os ensaios clínicos, os investigadores decidiram sobrepor a parte final de cada uma das três fases que constituem esta etapa para ganharem tempo, permitindo que um processo que acontece normalmente entre sete a oito anos decorresse em meses.

Imagem do slide sobre o processo de produção de uma vacina apresentado na reunião de especialistas em Portugal no início de dezembro.

O gráfico mostra o processo que foi também detalhado noutros países para explicar como foi possível criar em tão pouco tempo uma vacina contra o vírus que provocou a pandemia do último ano. No entanto, algumas das dúvidas sobre eventuais efeitos adversos que possam não estar estudados mantêm-se entre alguma população.

É importante referir ainda que, depois deste processo, a vacina que está a ser distribuída na União Europeia teve ainda de passar o crivo da Agência Europeia do Medicamento (nos Estados Unidos, por exemplo, é a Administração de Alimentos e Fármacos que é a responsável por esta autorização). Só então pôde ser distribuída pelos vários países que já a tinham encomendado para que a sua administração pudesse ocorrer o mais rapidamente possível. A Agência autorizou a vacina a 22 de dezembro e a vacinação na generalidade dos países da UE começou no último domingo, dia 27 de dezembro.

Conclusão

É falso que a primeira espanhola a ser vacinada contra a Covid-19 tenha morrido 24 horas depois de ter tomado a vacina. De acordo com a imprensa espanhola, a mulher de 96 anos “está ótima”. A patilha de uma imagem que se assemelha a uma partilha no facebook do jornal espanhol El Mundo e falsa e é possível verificar isto mesmo pela comparação da letra que é usada na montagem que dá conta da morte de Araceli. O El Mundo escreveu uma notícia a informar que esta partilha em que alguém usa o logótipo do jornal é “um embuste”.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook

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