É assunto recorrente nas redes sociais, a ligação da líder do Bloco de Esquerda ao negócio do turismo. Catarina Martins tem, de facto, uma participação de 4% na empresa Logradouro Lda., de que foi sócia-gerente, com o marido, até 2009. Mas terá mesmo recebido um subsídio do Estado português e “paga 1,90 euros/hora aos funcionários, sem contrato de trabalho”, como é alegado nesta publicação?

O texto aparece em modo citação, mas sem fonte identificada. Acompanhada de uma imagem da líder do BE, a publicação refere-se a Catarina Martins como uma “latifundiária de extrema-esquerda” que “tem quatro empreendimentos turísticos e uma unidade de alojamento local que cobra 120 euros por noite, preço só ao alcance dos ricos. E ainda por cima recebeu um subsídio do Estado de 137,3 mil euros. Aos funcionários paga-lhes 1,90 euros/hora, sem contrato de trabalho. Lembre-se dela quando for votar”, remata.

A atual líder do BE fundou a Logradouro Lda. com o marido em 2008 e foi sócia-gerente até ao final de 2009, altura em que foi eleita deputada, escolhendo ficar em regime de exclusividade na Assembleia da República. Ao Observador, o BE reafirma que “Catarina Martins mantém uma participação de 4% na empresa, tendo renunciado a todas funções de gestão quando assumiu o mandato de deputada em exclusividade. Essa informação é pública”, refere fonte oficial.

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Desde então, a empresa que desenvolve atividade de “turismo em espaço rural”, passou a ser detida de forma maioritária pelos sogros de Catarina Martins. A bloquista e o marido mantêm, em conjunto, uma participação de 8% — o que consta no registo de interesses da deputada na Assembleia da República. A notícia desta atividade da líder do BE foi avançada pelo Eco em 2018, numa altura em que o Jornal Económico tinha avançado com os negócios no imobiliário do vereador do BE na Câmara de Lisboa, Ricardo Robles — que provocou um problema ao partido e a demissão de Robles.

Quanto a Catarina Martins, a exploração turística em regime de alojamento local era feito na casa que a família do marido da líder do BE também ocupava, sobretudo em épocas festivas. Neste momento, o BE garante que “não há qualquer atividade de alojamento local e a empresa nunca teve mais do que uma funcionária, que sempre teve contrato de trabalho e evidentemente nunca auferiu o valor referido. Esta é apenas mais uma das mentiras que se têm multiplicado nas redes sociais da extrema-direita”, acrescenta fonte oficial do partido em declarações ao Observador, quando confrontada com as alegações formuladas nesta publicação.

Numa pesquisa, em sites de reservas turísticas,  não é possível fazer reservas  para a Casa na Margazona (a propriedade que estava em alojamento local) — que chegou a estar no Airbnb com o valor de 120 euros por cada noite, de acordo com o artigo já citado.

Na altura da notícia sobre o empreendimento turístico ligado à líder do BE, o partido negou incoerências entre a prática da líder e aquilo que os bloquistas defendem em matéria de alojamento local. “A gentrificação é um fenómeno urbano de expulsão de moradores pobres”, dizia então fonte oficial do partido, defendendo que, “pelo contrário, o turismo em espaço rural fixa habitantes e combate a desertificação em regiões como a do Sabugal”, onde se localiza a propriedade em causa. “As quatro casas reabilitadas para turismo em espaço rural estavam há muito abandonadas, situação demasiado comum no interior do país”, argumentava, referindo-se a quatro palheiros que a Logradouro Lda. reabilitou para turismo rural.

Para essa reabilitação, a empresa recorreu, nessa altura, a um incentivo comunitário de 137,3 mil euros, no âmbito do Quadro de Referência Estratégica Nacional. O valor corresponde ao que é referido na publicação, no entanto, diz respeito a fundos europeus e não um apoio do Estado português, como é referido.

Conclusão

Esta publicação mistura dados verdadeiros com falsos para chegar a uma conclusão que não corresponde à verdade. Catarina Martins não tem uma participação maioritária numa empresa com atividade no turismo rural desde 2009, altura em que foi eleita deputada, ficando em regime de exclusividade. Desde então detém, juntamente com o marido, uma participação minoritária de 8% nessa mesma empresa, a Logradouro Lda, cuja parte maioritária passou a ser dos sogros. Neste momento, o alojamento local da empresa não tem “qualquer atividade”, segundo o BE, que esclarece ainda que apenas tinha uma funcionária com contrato de trabalho e que não recebia 1,90 euros por hora, como é referido na publicação em análise. Também não é verdade que a empresa tenha beneficiado de “um subsídio do Estado” para a reabilitação de palheiros para turismo rural, mas sim de financiamento obtido através de candidatura a fundos europeus.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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