Um dos noticiários do canal mexicano Imagen Televisión transmitiu, em novembro de 2017, uma peça televisiva sobre a alegada abertura de um restaurante de carne humana, na capital japonesa, Tóquio. “Abrem o primeiro restaurante onde vendem carne humana. Está em Tóquio. Chama-se ‘Irmão Comestível’. Juro que se chama assim: ‘Irmão Comestível”, garante a pivô do espaço noticioso, Yuriria Sierra.

Ao mesmo tempo que a pivô lê o teleponto, a peça mostra imagens de carne. “A carne provém de pessoas que vendem o seu corpo para fazer comida. Antes de morrerem”, assegura Yuriria Sierra, que indica que os pratos “custam cerca” de 26 mil pesos mexicanos (cerca de 1.400 euros). “Aqueles que provaram asseguram que o sabor é muito similar ao da carne de porco”, prossegue.

Esta peça, que era a última antes de o noticiário terminar, motivou alguns comentários de Yuriria Sierra, assinalando que “passava” esta alegada experiência gastronómica.

Nas redes sociais, há publicações a fazer eco dessa peça noticiosa e ainda do artigo escrito em novembro de 2017 no jornal latinoamericano Publimetro, que veicula informações praticamente idênticas à de Yuriria Sierra. Naquele meio de comunicação social, acrescenta-se que quem quiser vender o seu corpo para consumo humano tem de assinar um contrato “antes de morrer”, recebendo cerca de 30 mil euros por isso, ainda que o valor dependa da “idade do cadáver”: “Quanto mais jovem, mais alto o valor.”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Além disso, lê-se no Publimetro e nas publicações nas redes sociais, um dos “requisitos” para que uma pessoa venda o corpo é que se “submeta a um tratamento médico especial, que permita evitar ao máximo o deteriorar do corpo”. Outro é que os dadores “devem morrer de causas naturais”.

Ora, as informações publicadas quer no Publimetro, quer as versadas na peça noticiosa da Imagen Televisión são idênticas às de um artigo do portal La Voz Popular — desde o preço da refeição às condições para quem quiser vender o corpo. Aquele site publicou uma peça em julho de 2016, em que se lê ainda que aquele restaurante se converteu numa espécie de “zona de peregrinação para os curiosos”, sendo que a La Voz Popular diz que chegou a estar no “Irmão Comestível”, tendo entrevistado pessoas no local.

Sucede que o portal La Voz Popular assume uma natureza satírica e não é um meio de comunicação social. No site, sinaliza-se: “O portal ‘La Voz Popular’ é um diário satírico cujo único fim é o entretenimento. Os seus conteúdos são ficção e não correspondem à realidade e, se o faz, é coincidência. Todas as referências, nomes, marcas ou instituições que aparecem no site usam-se como elementos contextuais, como em qualquer novela ou relato de ficção. Não se deve tomar as ditas menções como factos”.

No entanto, devido à dimensão do rumor, que chegou a outros meios de comunicação sociais um pouco por todo o mundo tendo-se tornado viral, o porta-voz da embaixada do Japão nos Estados Unidos (EUA), Thomas Mattingly, chegou a emitir um comunicado a desmentir a existência deste restaurante.

No comunicado emitido em fevereiro de 2018 a que a AssociatedPress teve acesso, Thomas Mattingly vinca que não “existe nenhum restaurante em Tóquio se ofereça carne humana no menu” e que o “canibalismo não foi legalizado no Japão”. Além disso, o responsável recorda que a primeira vez que tipo de informações surgiu foi em 2016 de um “site satírico”, provavelmente o La Voz Popular.

Conclusão

Apesar de alguns meios de comunicações sociais da América Latina terem publicado notícias e terem feito peças televisivas sobre a abertura do restaurante de carne humana “Irmão Comestível” em Tóquio, aquele espaço nunca existiu. O rumor surgiu de um site de notícias que se assume satírico em 2016. Face à dimensão das especulações, a embaixada japonesa nos EUA veio desmentir a existência do restaurante — e esclareceu que a prática do canibalismo não é permitida no Japão.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

IFCN Badge