A afirmação consta de uma publicação de Facebook que transcreve um texto sem qualquer referência quanto à sua origem ou autoria e que dá conta de “um projeto de lei, apresentado ao Parlamento pelo ministro do Interior holandês Piet Hein Donner, em 16 de Junho”, e que tem por base uma “nova política de imigração”.

É verdade que Piet Hein Donner foi um ministro do Interior holandês especialmente ativo em matéria de imigração e declarou, numa mensagem enviada ao Parlamento, a necessidade de a Holanda “mudar de rumo” e “distanciar-se do relativismo do modelo multicultural” que a tem caracterizado. Donner prometeu mesmo acabar com as políticas de integração para grupos específicos (que deveriam passar a fazer parte da política geral de integração) e introduzir medidas para proteger “os valores holandeses”, como a proibição do uso do véu islâmico, o hijab, no país ou criminalizar os casamentos forçados.

Tudo isto aconteceu, certo, mas em junho de 2011, altura em que Piet Hein Donner assumiu a pasta do Interior do primeiro Governo de Mark Rutte — fruto de longas negociações políticas e que deram origem a um executivo apoiado em quatro partidos: o VVD (centro direita) de Rutte, o CDA (democratas cristãos) de que Donner fazia parte, o CU (cristãos) e os D66 (liberais). Mark Rutte mantém-se primeiro-ministro, reeleito em março de 2021 pela quarta vez, mas Piet Hein Donner já não é ministro do Interior desde 2011. O cargo é ocupado, neste momento, pela ministra Kajsa Ollongren e não por Piet Donner.

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No texto partilhado, também não há qualquer referência — nem isso esteve em cima da mesa na altura — à deportação de muçulmanos, como indica esta publicação. A comunidade muçulmana representa cerca de 5% da população holandesa atualmente e as políticas de integração têm dominado o debate político no país, com o crescimento da extrema-direita nos últimos anos. No entanto, as últimas legislativas acabaram por retirar o segundo lugar dos mais votados ao PVV  (Partido Liberdade) do populista Geert Wilders e ao seu discurso anti-Islão. A retórica de Rutte em matéria de imigração não é radical como o de Wilders, mas é de um Governo seu a aprovação da restrição parcial do uso do hijab no país, por exemplo.

Conclusão

O que é escrito na publicação de Facebook é falso. Nenhum Governo holandês aprovou a deportação de muçulmanos. O texto partilhado para sustentar esta afirmação é relativo à alteração da política de imigração na Holanda, mas em 2011. Tanto que é referido o ministro do Interior dessa altura, Piet Hein Donner, e não a atual responsável pela pasta. Donner era ministro de Mark Rutte, que era na altura e se mantém como primeiro-ministro do país, mas as alterações à política de imigração dos seus governos não passaram por esta medida.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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