Esta campanha mostrou três coisas evidentes. Em primeiro lugar, há uma maioria clara a favor do afastamento do PS do governo. Com uma consistência impressionante, todas as sondagens e estudos de opinião mostram que haverá uma maioria de direita no Parlamento. Ou seja, há uma maioria clara que está farta de governos socialistas e que acha que Portugal deve mudar para a direita.

Em segundo lugar, o próprio PS mostrou que não merece governar. Destruiu a sua própria maioria absoluta em menos de metade da legislatura. O governo caiu por causa de um episódio grave para o PM. Os socialistas escolheram para candidato a PM um antigo ministro demitido por um PM que se demitiu. Não deve haver maior exemplo de um partido que atingiu o ponto máximo da auto-impunidade.

A campanha do PS tem sido muito errática e tem exposto as fraquezas de PNS. Primeiro, o líder socialista apresentou-se como a alternativa a António Costa. Acabou a campanha a pedir ao ainda PM que o ajude a vencer. A cara de gozo de Costa, quando apareceu na campanha, disse tudo. Mesmo na reforma, a fazer uma pós-graduação, ainda tem que ajudar o ex-futuro grande líder. PNS começou por colar a AD ao Chega, depois reconheceu, no debate com Ventura, que a AD não faria uma aliança com o Chega. Pelo meio, passou três dias a dizer que viabilizava e que não viabilizava um governo minoritário da AD. Ainda hoje, ninguém sabe o que irá fazer. De manhã, PNS divide a política portuguesa entre direita e esquerda. De tarde, exclui o Chega e centenas de milhares de eleitores da democracia portuguesa, para acabar com a tese peregrina de que, mesmo com o PS em segundo lugar, se a soma dos deputados socialistas, do Bloco, do Livre e do PCP for superior à soma dos da AD e da IL, deverá haver um governo liderado por PNS. Ou seja, atingiu a fase de desespero que quem percebe que a campanha lhe correu mal, de delírio de quem quer continuar no poder sem maioria parlamentar e sem vencer as eleições. O PS consegue encontrar sempre uma solução para tentar ganhar, mesmo perdendo.

Finalmente, a campanha mostrou que só há uma alternativa ao PS, a AD. Montenegro mostrou que é melhor do que PNS e que será um PM mais competente. Montenegro fez uma campanha consistente, profissional e sem cometer erros. Sobretudo, soube encontrar um registo que inspira confiança aos portugueses. Sabem qual é o sinal de que Montenegro não cometeu grandes erros? Para atacar a AD, todos os comentadores de esquerda falaram dos erros cometidos ou por figuras do CDS ou por antigos líderes do PSD. Se foram esses os erros da AD, então Montenegro pode estar descansado. O que ninguém disse foi que os antigos PMs do PSD nunca abandonaram o governo com o país falido ou por causa de investigações judiciais. Ou que salvaram Portugal ou tiveram uma grande carreira política europeia. Por isso, o PSD tem boas razões para se orgulhar de muito do seu passado

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Além disso, o Chega perdeu uma grande oportunidade de mostrar que poderia fazer parte de uma futura solução de governo. Para o ter feito, deveria ter apresentado propostas sérias e realistas sobre as grandes preocupações dos portugueses, desde a economia à corrupção. Não o fez. Mesmo no caso da corrupção, o Chega poderia ter feito muito melhor. Escolhia um ou dois temas, como por exemplo o limite dos recursos para tornar os processos mais rápidos. Mas teria que falar só disso e apresentar soluções bem pensadas e exequíveis. Mas Ventura não resistiu à demagogia e acabou a falar da prisão perpétua. Ventura tem talento político, mas é muito errático e pouco preparado. As suas propostas não são devidamente trabalhadas.

Pior, deveria ter concentrado os seus ataques no PS e nas esquerdas. Também aí falhou. Atacou tanto o PS como a AD. Nenhum partido pode fazer parte de uma alternativa de governo dizendo que os outros são todos iguais. Só se tivesse sozinho uma maioria absoluta, o que evidentemente não acontecerá.

Deste modo, Ventura acabou a campanha com ideias tão alucinadas como as de PNS. Deseja, no fundo, a vitória do PS num parlamento de maioria de direita. Nesse cenário, acha que aparecerá uma figura no PSD, ninguém sabe quem, que numa madrugada afastaria Montenegro, depois iria tomar o pequeno almoço a Belém e diria ao PR que estava disposto a fazer governo com o Chega, mesmo sem a legitimidade de ter, pelo menos, concorrido às eleições. Isto é o delírio total.

Mas no meio desta alucinação, há um dado muito relevante. Para todos os eleitores de direita que querem o fim dos governos socialistas, registem: Ventura quer a vitória do PS para poder continuar a sonhar em ser ministro. É melhor e mais útil usar o voto para derrotar mesmo o PS do que para alimentar os sonhos de Ventura.