A esquerda Marx anuncia greves atrás de greves: entre Janeiro e Abril deste ano, os pré-avisos de greve comunicados ao Ministério do Trabalho aumentaram 85 por cento face a igual período do ano passado. Já a esquerda Modess aposta na menstruação. Por agora a esquerda Modess está a ganhar nas notícias. Senão vejamos, na sua ânsia de ser notícia e ganhar pontos junto do PS, o PAN, não se sabe se na qualidade de porta voz dos animais, das pessoas ou da natureza (ou de todas elas mais os cyborgs incluídos), apresentou um aditamento ao Orçamento do Estado para 2022 em que defende a atribuição de uma licença menstrual que “pode ir até três dias” para as “pessoas com útero que sofram de dores graves durante a menstruação”.

As pessoas com útero são as mulheres, mas as mulheres não se podem identificar como mulheres porque, segundo nos explicam os comissários da nova doutrina, ao usar-se o termo mulher para designar quem sofre de dores menstruais está a excluir-se aqueles que, tendo útero (logo sendo mulheres!), não se sentem mulheres, mais quem tendo útero não se sente coisa alguma ou os que por assim dizer têm dias. Conclusão, as únicas que de todo em todo não se podem sentir mulheres são as mulheres propriamente ditas!

Obviamente há mulheres que sofrem dores menstruais – sim, só as mulheres têm menstruação – e têm de contar com apoio clínico, coisa muito diferente quando não antagónica desta patologização da menstruação e menorização das mulheres. Mas não é o atender a um problema de saúde de algumas mulheres que está em causa em todo este assunto da licença menstrual mas sim o avanço. Não há um dia em que a esquerda Modess não nos indique mais um avanço. Um caminho que temos de percorrer. O avanço não se pode combater pois está inscrito na História. O avanço nunca está errado, nós é que não chegamos lá. O avancismo é o esquerdismo na versão sonsa.

O campeão da esquerda Modess é obviamente o Livre cujo território político é por natureza o avancismo. Como não podia deixar de ser, o Livre veio recomendar aquilo que recomenda perante qualquer assunto: faça-se um estudo. Do quê? Da menstruação ou mais precisamente dos estereótipos com toques de neo-realismo misógino que sobressaem dos considerandos do Livre nesta e noutras matérias.

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Parte o Livre da bizarra premissa de que “a questão da higiene menstrual ainda é pouco divulgada” (ao certo o que quererá dizer o Livre com isto?) Aliás, segundo se pode ler nas notícias, o Livre considera necessários mais dados para a “construção de políticas públicas que combatam a discriminação e a desigualdade ainda associadas à menstruação“.

Obrigada Livre!!! Bem haja ao seu deputado único. Milhões de mulheres têm menstruação há milhares de anos. (Por muito extraordinário e impopular que seja esta afirmação repito que não se conhece um único homem que tenha tido menstruação!) Ao longo da vida de uma mulher o número de vezes em que tem menstruação ascende às centenas e agora, neste ano de 2022, vêm o Livre e os activistas da esquerda Modess por esse mundo fora reivindicar políticas públicas para a menstruação. Meus Deus, o que seria de nós sem esta gente?!!

Tenho contudo a certeza de que os tempos correm em Portugal a favor da esquerda Modess pois se é verdade que o Governo tem maioria absoluta também não é mentira que precisa de boas notícias, coisa que indiscutivelmente a esquerda Modess tem e dá. O ensaio do potencial das políticas da esquerda Modess foi dado pelo próprio PS. Nessa espécie de gabinete de excentricidades em que os socialistas derrotados por Moedas converteram a Assembleia Municipal de Lisboa, o PS viu ser aprovada a sua proposta de distribuição gratuita de pensos higiénicos reutilizáveis e copos menstruais nas escolas do município de Lisboa, sem esquecer a particular recomendação da deputada do Livre na AML que logo alertou para a necessidade de que esta medida “seja feita de forma inclusiva, não esquecendo os adolescentes trans, e não remetendo a distribuição para espaços exclusivamente femininos”. Eu diria até que se devem colocar copos menstruais e pensos reutilizáveis em todos os balneários masculinos deste país. Mas para começar basta-me que dentro de alguns meses a AML ceda dados sobre a adesão a este programa. E, por fim, mas não por último, aguardo com entusiasmo pelo momento em que, na próxima semana, os senhores e as senhoras deputadas deixem de se identificar como homens e mulheres para passarem a apresentar-se como pessoa com útero, pessoa sem características definidas ou pessoa com testículos ou com um testículo pois também lá chegaremos à questão da desigualdade testicular. Sim, porque é urgente trazer os homens para mais este avanço. Tenho aliás a esperança (no fundo sou uma optimista empedernida!) de que no dia em que se discutir a vida testicular das pessoas com pénis ou melhor ainda a vida do pénis das pessoas com testículos, acabará de imediato todo este carnaval. Como todas as pessoas com útero, vulgo mulheres, sabem, há coisas que nenhum homem aguentaria. Uma delas seria obviamente ter menstruação. A outra ser sujeito a um debate equivalente àquele a que a esquerda Modess obriga neste momento as mulheres.