1. Cavaco Silva escreveu sobre o Governo e não só.

Cavaco escreveu sobre o Governo? Sim, mas não só. Este texto é também sobre poder. O antigo primeiro-ministro retrata um António Costa que se deixou paralisar quer no comando do governo quer na capacidade de reformar o país. O político que Cavaco foi e nunca deixou de ser nota também o poder crescente de Pedro Nuno Santos. Mas o principal alvo deste texto é o actual Presidente e a forma como Marcelo tem desempenhado o cargo de presidente da República.

Obviamente Cavaco Silva, antigo Presidente, não refere Marcelo mas linha a linha, neste texto agora saído no PÚBLICO, cresce por antítese o vazio institucional a que o populismo de Marcelo reduziu o cargo.

Marcelo conseguiu banalizar-se a tal ponto que as palavras de Cavaco têm um peso político muito superior às suas. Quando foi a última vez que uma intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa teve uma repercussão similar à dos artigos que o antigo presidente publica?

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2. Teremos sempre o TGV.

6 de Julho de 1999. 22 de Outubro de 2020. 29 de Setembro de 2022. Três capas. Três anúncios.

Três primeiros-ministros socialistas – Guterres, Sócrates e António Costa. E sempre o mesmo TGV. O tal que vai ligar Lisboa ao Porto em 1h e 15m. O tal que nunca foi construído mas que, dado o foguetório que envolve os seus anúncios e o entusiasmo imperativo dos títulos, seríamos levados a acreditar já estar em funcionamento: “TGV vai ligar Lisboa ao Porto em 1h 15m” (1999); “Linha de alta velocidade entre Porto e Lisboa vai reduzir viagem para 1h 15” (2020); “Lisboa-Porto. Alta velocidade sai finalmente do papel” (2022).

Houve uma geração de políticos que foram criticados por fazer inaugurações. Agora o nível de exigência baixou e portanto debatemos os anúncios de obras como se estivéssemos a discutir as obras propriamente ditas. Esta política de anúncios de obras não concretizadas até já desenvolveu um sector de negócio não despiciendo: as indemnizações às empresas que ganham os concursos para fazer o TGV. Em 2016, o Estado português foi “condenado a pagar quase 150 milhões ao consórcio do TGV” de que entretanto tínhamos desistido porque o país falira. Assim como assim pode-se alimentar a ficção política da alta velocidade mas é melhor não se avançar para a abertura do concurso. Como se tem visto os eleitores premeiam quem anuncia a alta velocidade. Não apenas nos comboios mas sobretudo na fuga à realidade.

3. A ditadura progressista.

Um problema semelhante une estas três imagens: quem disser o que elas de facto representam arrisca perder boa parte do seu sossego pois acabará a ser acusado de “ismos” vários.

Na primeira imagem uma mulher, para o caso a celebridade norte-americana Khloe Kardashian, deitada no que parece ser uma cama hospitalar com o filho recém-nascido ao colo. Na segunda temos a britânica Sally Ann Dixon acusada de ter agredido sexualmente várias crianças e na terceira um político socialista francês, Boris Venon eleito em Mureaux, a apresentar a sua demissão após agressões e ameaças quer a ele quer ao homem com quem vive.

Passemos então à informação que falta em todas estas imagens. Para começar Khloe Kardashian não teve filho algum. Recorreu a uma barriga de aluguer, designação que em si mesma reduz a mãe biológica da criança à condição de barriga.  Ao posar como se ela mesma tivesse acabado de dar à luz Khloe Kardashian tornou ainda mais evidente o grotesco desta prática que num dos paradoxos mais aberrantes do nosso tempo é apresentada como avanço e libertação.

De qualquer modo, dizer a verdade sobre a imagem de Khloe Kardashian a simular um pós-parto não gera tanto receios quanto completar a informação que falta sobre Sally Ann Dixon, a mulher que neste mês de Setembro foi condenada por agressões sexuais. Acontece que Sally Ann Dixon só existe desde 2004. Até lá chamava-se John Stephen Dixon. E foi o homem John Stephen Dixon quem entre 1989 e 1996 atacou sexualmente sete crianças. Ora a polícia de Sussex, ao ser questionada sobre o sexo do agressor, entendeu que essa questão podia comportar um crime de ódio e uma afronta ao direito dos transgéneros, pois Dixon é agora mulher. Dizer que Sally Ann Dixon era um homem à data dos crimes transformou-se num problema. (Questionar o seu comportamento na prisão para mulheres onde cumpre pena também não é de bom tom). Para reforço da sua tese alegavam as autoridades policiais que o sexo do autor do crime era irrelevante, afirmação que em si mesma é um disparate: em Inglaterra por cada mulher condenada por crimes sexuais existem 150 homens condenados por actos da mesma natureza.

Por fim temos Boris Venon, francês, homossexual, felizmente de esquerda para efeitos deste texto. Boris Venon, eleito em Mureaux, apresentou a sua demissão do cargo. Porquê? Por discriminação racial. Sim, Boris Venon é branco e foi isso precisamente que ele disse na conferência em que apresentou a sua demissão: “Sim, os cidadãos de origem europeia podem ser alvos de racismo”. Farto de ser ameaçado e insultado por ser homossexual e branco, sentiu que tinha atingido o limite quando se viu cercado por um grupo que lhe dizia “Branco, vai-te embora”.

Na verdade, o problema destas imagens não é tanto o que elas mostram mas sim o que o silêncio em torno delas confirma e que se escreve com quatro letras: medo.