Foi dada grande pompa e circunstância a (mais uma) ideia de aumento de impostos, neste caso a reintrodução do imposto sucessório. A sua autoria é relevante: surge no decurso de um estudo de (mais uma) colectividade de esquerda cujo grande desígnio nacional é criar (mais um) ou aumentar (ainda mais) os impostos, Causa Pública. A associação Causa Pública é presidida por Paulo Pedroso e a agremiação é uma versão escolástica da Gerigonça: conta com Alexandra Leitão, que coordena a moção de Pedro Nuno Santos, com os bloquistas Ana Drago e João Teixeira Lopes ou com a ex-bombista Isabel do Carmo. Sabemos ao que vêm, portanto.

Só não sabíamos quando. Com a possibilidade de Pedro Nuno Santos liderar uma nova Gerigonça recauchutada, desta vez por convicção (ou não fosse Pedro Nuno Santos um bloquista em espírito) e não por oportunismo, está encontrado o timoneiro para superintender as aspirações da colectividade: taxar, taxar, taxar. Taxar tudo e todos. Taxar em vida e aproveitar o lanço para taxar na morte. Um completo deboche fiscal, que irá do imposto sobre o património a aumentar (ainda mais) o imposto sobre as empresas e — ensaia-se agora — o imposto sucessório. No jazigo pesará a terra e, por vontade desta nova Gerigonça, pesará mais um imposto.

Já partilhei os motivos pelos quais considero ser o imposto mais imoral de todos, pelo que deixo uma súmula: i) a herança é o resultado das poupanças em vida, ou seja, os rendimentos que sobram após os impostos terem sido todos pagos; ii) a herança é um sacrifício em vida dos pais — consumo adiado — para que os filhos tenham melhor sorte do que eles; iii) é um imposto facilmente evitável por quem tem muito dinheiro, que rapidamente transfere o seu capital para empresas transfronteiriças; iv) acaba por incidir sobre património imobiliário (o mobiliário foge), ou seja, as casas que vão permanecendo na família — ou iam, porque isso obrigará muitos herdeiros, por falta de liquidez para poderem pagar o imposto, a desfazerem-se do património à pressa e a desconto.

Este estudo e as «ideias» que aporta é um pequeno prelúdio do programa de governo da Gerigonça que há de vir caso Pedro Nuno Santos ganhe as eleições. Reza a história que quando Otelo Saraiva de Carvalho visitou o primeiro-ministro sueco, Olof Palme, lhe disse que em Portugal se estavam a conduzir reformas para acabar com os ricos. Olof Palme terá respondido: «Curioso, na Suécia estamos a trabalhar para acabar com os pobres». Não há registo desta conversa e, como tal, forma de saber se realmente ocorreu. Mas vendo o que PS, BE e PCP querem fazer também não é preciso: a preocupação nunca foi por Portugal crescer, acabar com a pobreza e colocar mais dinheiro no bolso dos portugueses, mas antes sufocá-los em impostos, incluindo, e sobretudo, os que morrem e que já cá não estarão para votar.

Nada é mais certo do que a morte e os impostos. Tão fatal como a morte é a obsessão da esquerda com impostos, sendo que lhes faltava um imposto sobre a morte.

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