Sinto que, depois da noite de ontem, devo um pedido de desculpas sincero a todos vós. Muitos certamente já poderão ter ficado a saber da funesta notícia através dos tabloides internacionais, mas achei por bem transmitir-vos a história verdadeira; clara, transparente, contada pela minha pessoa.

Foram seis. Seis. Não tive culpa. Estava há um mês a seco — fruto de a totalidade do meu tempo ser agora despendida em estudos — e não me controlei. Os meus mestres sempre me avisaram que quando este dia chegasse seria sinal de que algo de muito negativo estaria a montante. E creio que só isso poderá justificar este horrível outonal acontecimento que hoje vos trago.

Começou tudo com uma portuguesa. O Salvador sinalizou-a. Encontramo-la por acaso numa Pawn Shop e logo me veio à memória a minha muito saudosa pátria. Que sensação poderosa. Saquei. Em poucos minutos desfiz-me dela. Ahhh… o majestoso sentimento de regresso a casa. Sei que não a verei tão cedo. Cada um seguiu o seu caminho. Vivo tranquilamente com isso.

Chegamos à House Party e estavam lá as quatro holandesas. Caraças. Frescas como tudo. A festa era delas. Que maravilha. Estava hesitante sobre se havia de lá ir ou não. Dei um passo atrás e decidi não o fazer. “A noite ainda é longa”, repetia a mim próprio. Opto então por uma ruiva que me dizia ser americana. Efetivamente não tão good looking como aquelas quatro maravilhas holandesas, mas, vos garanto, parecia prometedora. Tinha algumas esperanças nela. Saquei-a através de uma brincadeira com um isqueiro. De tão mau que foi durou mais tempo que o desejado… Não conseguia tirar as holandesas da cabeça. Ainda a tentei rodar a um amigo, mas ele prontamente a rejeitou. Que se lixe, agora vai até ao fim.

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Assunto terminado. Cigarro da respiração. Ufa.

E as maravilhas holandesas voltam a assombrar-me a cabeça.

Beata pro cinzeiro. Discurso motivacional para mim próprio. Siga Henrique. E fui. Pensava que ia ser na boa. Afinal, já tinha conseguido muito melhor e começara por volta dos 15.

Mãos à obra. Vai uma. Faciiilimo. Suaaaave. Nem dei por ela e já estava feito. Estas de facto valem a fama que têm. Segunda. Tão fácil como a primeira. Bons tempos passámos no sofá. Não a largava por nada e ainda houve espaço para uns cigarros e umas risadas, entretanto. Estava tudo tranquilo e sob controlo. Eis que assumo a terceira. O barco ainda aguentou, apesar de cada vez mais torto (como assim já, Henrique? perguntava-me). Enfim, algo não estava como deveria estar. Não pensei muito sobre o assunto… estavam 3 em 4 e só almejava terminar o que começara.

“Pessoal vamos embora, a festa acabou!”. O quê? Queres ver que vou morrer assim na praia? Deves estar a brincar. E Mário Sá Carneiro logo me atormentou os pensamentos:

“Um pouco mais de sol – eu era brasa,
Um pouco mais de azul – eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa…
Se ao menos eu permanecesse aquém…”

Porra, podes crer que não. Vamos acabar isto. Modern problems require modern solutions. Agarrei na última holandesa que faltava e levei-a, junto com os meus amigos, para o metro. O Salvador ainda me chamou animal por o ter feito (pelos vistos cá em Inglaterra é ilegal). Caguei. Já dentro do metro, pelos vistos a cometer uma ilegalidade, dou um laço no presente. Missão cumprida. Booya. Alright, I made a thouchdown!

Caros amigos: foi aqui que errei neste meu conjunto de decisões. É por isto que vos peço desculpa hoje em público. Se esta minha ambição pudesse ser controlada não estaria a arcar com as consequências que agora arco.

A verdade é que, depois de dar cabo desta última holandesa, senti os efeitos colaterais de todas as outras que antes havia domado. É uma vergonha enorme para quem sempre me educou (empiricamente) a aguentar mais, a conseguir ir mais além. E eu, senhoras e senhores, sempre fui um homem de garra e resistência. Contudo, ontem não aguentei mais. Capitulei à sexta investida.

Esta é a verdadeira história de como ontem fiquei com os copos apenas com uma Super Bock, quatro Heinekens e uma cerveja Americana qualquer horrível. Peço desculpa a todos os que desiludi. É motivo de tristeza e de enorme autoflagelação também para mim. Não pensem que não me custa. Enfim.

Peço caridosamente que me concedam o vosso perdão.

Londres, 02/11/2019