As jornadas estão mesmo à porta, tivemos quatro anos para prepará-las com antecedência, mais um ano extra, salvo erro, devido à pandemia. Mas preparação e antecedência são duas palavras de que os portugueses não gostam particularmente. E como sempre só nos lembramos de que temos um evento incomparável numa série de dimensões, desde a escala até à própria natureza do evento, a sete meses do seu início. Ora, nesta fase do campeonato já tudo deveria estar preparado faltando apenas afinar alguns pormenores. Mas, verdade seja dita, ainda nada está feito. Ainda nem na fase de execução entrámos.

Estamos em pleno debate a sete meses de um evento desta escala, repito. Isto significa que nem projeto definitivo há. Provavelmente, se tudo fosse tratado com a devida antecedência, teríamos encontrado soluções melhores e mais económicas. Agora não temos outro remédio senão acatar as circunstâncias, inclusivamente no que se reporta aos preços. A outra opção é passarmos uma enorme vergonha diante do Papa Francisco, dos participantes que vamos acolher e mesmo diante de outros países que também já tiveram a organização deste evento a seu cargo, pela falta de planeamento e de organização.

Em relação ao palco/Altar importa ter presentes alguns aspetos. A imensidão de pessoas que são esperadas neste evento, que se estenderão ao longo de cerca de três quilómetros para ver o Papa Francisco, exige obviamente um palco proporcional de grandes dimensões. É necessário também assegurar um nível de conforto razoável, em dias seguramente de muito calor, para quem estiver dentro do palco, bem como níveis de segurança máximos, inclusivamente garantir que o mesmo não desaba na altura do evento. Pelo que optar pelo mais barato podia sair caro nestes dois aspetos. Também não necessitamos do mais caro, basta uma solução intermédia, aquela que me parece que a câmara de Lisboa tem tentado adoptar.

O presidente Marcelo referiu também um aspeto que me parece relevante: a estrutura da JMJ deve espelhar a essência da Igreja, marcada pela pobreza e humildade. Por isso tais estruturas devem ser cómodas, seguras, mas não luxuosas e ostensivas. No entanto, uma característica da Igreja é também a beleza, que não põe em causa de maneira nenhuma a sua simplicidade. Por isso o palco deve ser simples mas bonito e nesse aspeto a arquitetura é fundamental.

Não é apenas um palco, é sobretudo um altar onde Jesus vai estar presente. Espera-se gastar na totalidade 35 milhões de euros neste evento, mas aponta-se para um retorno de 350 milhões e espera-se que o valor que os participantes vão pagar cubra os custos que o estado/autarquias vão suportar. Do que tenho acompanhado não me parece haver nenhuma incoerência nem nenhum exagero. Fazer disto um caso é apenas complicar o que, na minha perspectiva, já foi muitíssimo bem explicado por parte de Carlos Moedas e atrasar ainda mais o projeto.

Estou convencida de que apesar das falhas que possa ter havido nos timings de execução, as JMJ vão ser um sucesso e uma lufada de ar fresco para o mundo em tempos difíceis. Sabemos que no final de contas o que vai salvar este evento é a nossa incrível e inigualável capacidade de desenrasque.

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