1 A situação hoje

Apesar de todas as dificuldades, as medidas tomadas a partir da independência e, particularmente, a partir de 1991, com a mudança para o modelo económico de livre iniciativa, fizeram a Índia ganhar confiança e criar uma dinâmica de crescimento. Alguns sucessos podem assinalar-se, tendo a riqueza multiplicado por 4,5 de 2000 a 2015, passando para 2.103,600 milhões de dólares.

A Índia é autosuficiente no campo alimentar, podendo exportar, anualmente, mais de 20 milhões de toneladas (MT) de cereais (produção de 246 MT em 2019). A partir de 1997, é o maior produtor de leite (188 MT em 2019).

No setor industrial, em domínios mais competitivos, a Índia ganhou capacidades, a ponto de ser o quarto maior produtor de veículos: 5.174.000, em 2018. Tem uma potência instalada para produção de energia elétrica de 371 GW, 36% de energia renovável. É o terceiro maior produtor/consumidor de energia elétrica.

A indústria farmacêutica ganhou dimensão e notoriedade. É fornecedora de genéricos tanto aos países ricos como pobres: produção, em 2020, de 55 mil milhões de dólares, com exportação de 20mil milhões de dólares. Em volume de exportação, é o terceiro país, mas o 13.º em valor, por ter custos de produção baixíssimos.

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A qualidade do seu ensino superior – tem 993 universidades e cerca de 50 mil faculdades e institutos – e a formação dos seus cientistas e informáticos fez com que mais de 1600 multinacionais fossem instalar os seus centros de I&D na Índia. Em 2018, ocupavam 8,2 milhões de cientistas e auxiliares.

Em IT pode considerar-se a maior potência mundial. Em 2019, a Índia produziu 177  mil milhões de dólares, dos quais exportou 136 mil milhões de dólares, empregando 4,14 milhões de pessoas diretamente e mais de 10 milhões indiretamente.

Há espaço para melhorar e dar mais aos seus cidadãos: em habitação, saúde, formação profissional e empregos. E, ao mesmo tempo, para ajudar outros países pobres, que sofreram como a Índia, mas ainda continuam enredados nas suas dificuldades.

2 O que falta à Índia para dar o “grande salto”?

Para consolidar o trabalho realizado e dar impulso ao seu crescimento, importa a continuidade de políticas económicas, de modo a ganhar estabilidade e possibilitar novas iniciativas de desenvolvimento.

Importa a coesão interna: absorvendo tensões de qualquer género, com base na religião, castas, etnias ou línguas. As tensões paralisam um país ao semear desconfianças. Um diálogo aberto é o melhor antídoto.

Ajuda ter um ambiente distendido com os países vizinhos, adiando de comum acordo os pontos de fricção. Desenvolver projetos transfronteiriços de mútuo interesse, aproxima os vizinhos. Esse esforço credibiliza o país e projeta-o no exterior.

3 Setores em que a Índia pode dar um contributo importante

Em geral, nos aspetos científicos:

  • Em I&D, para a descoberta de novas moléculas para a saúde humana;
  • No tratamento de doenças, dada a rápida aprendizagem com a grande população e no turismo de saúde. Este poderá aumentar muito para que todos os países possam beneficiar do seu saber. Os países mais pobres poderão beneficiar ainda mais da telemedicina e de estágios de formação para os seus jovens médicos;
  • Ser o fornecedor de todo o tipo de fármacos genéricos a preços acessíveis;
  • Difundir ideias de eficiência e especialização, com redução de custos, há muito praticadas na Índia: no Aravind Eye Care System, no Narayana Group of Hospitals em problemas do coração, na Cooperativa AMUL, etc.;
  • Projetar novos equipamentos de utilização em Medicina, com software avançado e hardware produzido na Índia a custo competitivo.

A Índia pode ser a alavanca na manutenção da paz e estabilidade mundiais. O crescente poder económico e científico pode ser um estabilisador da paz. A Índia tem autoridade para intermediar atritos e conflitos entre países: a longa tradição pacifista e o forte exemplo de Gandhi ressoam na memória das pessoas e dos “países”.

4 O que esperar da Índia, num futuro próximo

A Índia deve ter um papel de relevo na vida internacional, por estas razões: população numerosa, inteletualmente preparada, com boa presença nas instituições internacionais, uma democracia sólida, uma civilização antiquissima.

Todos esperam dela:

  • Uma presença ativa na Ásia do Sul, em conjunto com o Japão, a Indonésia, as Filipinas, o Vietname, a Austrália, etc.. Deve consolidar uma rede de relações com países amigos da liberdade, que entorpeça as tendências expansionistas de outros;
  • Poderio económico e militar, pois é sabido que “a força só respeita a força”. Daí a necessidade de se preparar bem na defesa, com produção local, para evitar que algum “Vasco da Gama” se aventure.
  • As suas capacidades na exploração do espaço são conhecidas. E postas ao serviço dos que precisam. Além de por os seus satélites em órbita, já pôs mais de 328 de países terceiros, mais de 100 num só foguetão, colocando-os nas respetivas órbitas geo-estacionárias. A Índia já enviou uma sonda a Marte e um rover para o pólo Sul da Lua, para fins cientiíficos.
  • Deve fomentar ointercâmbio no plano dos estudos superiores – mestrados e doutoramentos -, na investigação e desenvolvimento, com pessoas de todos os continentes.
  • A Índia, só ou em colaboração, deve continuar a contribuir para o desenvolvimento de países que não têm possibilidades de o fazer sozinhos: alguns países africanos e outros necessitam de boas universidades para cursos de Medicina e Farmácia, engenharias várias e Informática, que os ajudem no seu sólido crescimento.
  • A Índia pode ser a formadora de especialistas (de outros países, nos domínios novos da tecnologia, na sequência das Tecnologias de Informação, como a AI-Artificial Intelligence, ML-Machine Learning, IoT-Internet of things, Robótica, digitalização em geral), em que a Índia tem já uma posição preponderante.

5 A presença indiana no topo das MNC

De 1947 até 1991, a economia indiana esteve estagnada, dominada por burocratas, criando uma densa nuvem de corrupção. Os seus interesses estavam acima dos do país e da melhoria da situação dos mais pobres.

Com toda a teia de artimanhas legislativas tornaram o caminho de empreender impossível para pessoas com iniciativa. Elas preferiram emigrar para países abertos ao espírito empreendedor. Assim, há hoje uma grande diáspora nos EUA, bem colocada no topo de muitas organizações, de eletrónica e da indústria em geral e na prestação de serviços de saúde, etc.. Segunto o Economic Times, mais de 240 mil médicos de origem e formados na Índia trabalham nos Estados Unidos, constituindo 20% do total de médicos dos EUA. Muitos criaram as suas próprias empresas, com grande sucesso.

A diáspora poderia ter criado riqueza e trabalho na sua terra. Mas os indianos tiveram de o fazer fora. Apesar disso, algo de positivo se produziu: a diáspora criou fama profissional e levou muitos colegas aos EUA e, ao invés, muito do trabalho passível de ser feito longe e enviado por internet, foi contratado na Índia, sabendo do valor e compromisso dos engenheiros indianos nos trabalhos que aceitavam fazer.

Encontramos hoje um escol de profissionais de origem indiana no topo da pirâmide das mais famosas organizações dos EUA. É consequência do respeito pelo mérito pessoal e do aproveitamento da inteligência em proveito da empresa. Muitas dessas empresas acabaram por fazer avultados investimentos na Índia, vindo a localizar ali, por exemplo, os seus data centres, centros de trabalho e centros de I&D. Indiretamente, a Índia está a receber a compensação pela liberdade concedida aos seus cidadãos de se poderem fixar na terra em que poderiam ser mais felizes.