Para Adam Smith a mão invisível surge como algo que leva a que as decisões egoístas das pessoas acabem por servir a comunidade. Cada indivíduo “só está a pensar no seu próprio ganho e, neste momento como em muitos outros casos, está a ser guiado por uma mão invisível a atingir um fim que não fazia parte das suas intenções. (…). Ao tentar satisfazer o seu próprio interesse promove, frequentemente, de uma maneira mais eficaz, o interesse da sociedade do que quando realmente o pretende fazer.” Antes da Riqueza das Nações, Adam Smith já fizera referência a esta correcção natural do egoísmo humano na sua Teoria dos Sentimentos Morais, mas dessa vez relativamente à distribuição da riqueza. A má-fé, que se aproveita da ignorância, deturpou as palavras do filósofo escocês e ridicularizou o que não passava de uma evidência. De boas intenções está o inferno cheio é um velho ditado popular que diz praticamente o mesmo e que nos leva a desconfiar de quem nos quer fazer bem.

Foi o que aconteceu na TAP, com o PS (e com o beneplácito do PCP, do BE e do Chega). O objectivo, com o qual todos lucraríamos, era uma transportadora aérea verdadeiramente nacional (tradução: estatizada e na mão de políticos) que distribuísse lucros para o Estado, ou seja para todos (tradução: para governantes financiarem as suas políticas). Como era de esperar, o modelo não funcionou. Não funcionou como raramente funciona e a história e os factos o demonstram. Claro que para este PS, como para o PCP e o Bloco e o Chega, não é o modelo, a intervenção do Estado na gestão das empresas, que está errado mas as pessoas. Foi a CEO que errou; foi o secretário de Estado que não devia ter enviado aquele e-mail, foram os políticos que pressionaram quando não o deviam ter feito.

O choque natural entre os interesses políticos e os económicos leva à intervenção de uma mão invisível socialista na gestão das empresas. A influência, a pressão, a coacção, o constrangimento que vem do governante e surge quando menos de espera, da forma mais imprevisível, que paira sobre as decisões do administrador, ronda a sua estratégia ou sonda o seu pensamento. O espaço de manobra deste torna-se, primeiro difuso, depois diminuto até que os maus resultados ficam à vista e a culpa não pode morrer solteira. Como o erro não reside no modelo, que é perfeito, mas nas pessoas que se devem adequar à perfeição sob pena de serem castigadas, estas terminam despedidas em directo na TV ou são apelidadas de estúpidas pelo presidente do respectivo partido. Nesse momento não há espaço para complacências nem bondade. O egoísmo não assumido surge e como não assumido que é faz cair os mais fracos sem qualquer dó nem piedade.

E os mais fracos são os cidadãos que o socialismo encara como uma massa informe e, imagine-se, invisível. Sem corpo nem estrutura, o cidadão já não é o indivíduo egoísta que pensa primeiro em si e beneficia a comunidade com as suas opções, mas uma parte do organismo que paga e cala, pois quem decidiu o fez com boas intenções e o que mais interessa não são os resultado, mas o propósito que justifica a autoridade, a prepotência, o incumprimento das regras, o desconhecimento da verdade em prol de interesses maiores, como sejam o futuro de uma empresa de aviação em detrimento do papel de escrutínio próprio de um Parlamento numa demoracia liberal.

Foi com aventuras deste género que o PS colocou o Portugal numa situação financeiramente difícil em 2011. Agora, com uma dívida pública (valores de Março deste ano) superior em 96 mil milhões de euros à de 2011, soma-se a descredibilização das instituições, a começar pelo governo. Infelizmente, podemos dizer que é com aventuras da do género da TAP que o PS está a colocar a vida de todos nós, regime incluído, numa situação infernal.

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