Em 18 de Junho deste ano escrevi no Observador, e no seguimento das audições da comissão parlamentar de inquérito sobre a TAP, que o pior ainda podia estar para vir. Esse pior tinha (e tem) um nome: Pedro Nuno Santos. O visionário que estoirou (é o termo) 3,2 mil milhões de euros numa companhia aérea porque queria apresentar-se como um político decidido; o homem providencial que deixou a ferrovia e a CP num estado lastimável; o governante corajoso que se esquivou aos problemas da habitação, que eram da sua tutela e da sua responsabilidade política. O ano de 2023 foi terrível para os portugueses, terrível para as instituições democráticas e para os pilares do Estado. Mas 2024 pode ser muito pior porque nada na vida nos prepara para o perigo que é um incompetente que se julga genial e que conta que uma falange de apoio cega, como o é qualquer corporação disciplinada. Estas podem ser úteis numa guerra, mas são perigosas na política que exige pensamento crítico e espírito livre.

Como é que chegámos a este ponto? Como é que do sonho de um país europeu e moderno recuámos para esta mediocridade? As razões são muitas, mas iniciam-se com um processo contínuo de ocupação do Estado por um partido político, chamado PS. Uma ocupação que levou à degradação do prestígio do próprio Estado e à desconfiança quanto à imparcialidade da sua actuação.

Foi um processo começado em 1995 com a degradação do próprio Partido Socialista. A demissão de António Guterres foi um sinal disso mesmo, da incapacidade do então secretário-geral ter mão no que estava a acontecer dentro daquele partido. É assistir aos debates na televisão com dirigentes destacados do PS que interrompem e falam por cima sempre que alguém diz algo que os socialistas precisam que fique escondido. Mas também são as mentiras constantes sobre a responsabilidade pela vinda da troika em 2011 e no fazer de conta que, após 8 anos de governação socialista, tudo está bem e o que está mal é responsabilidade de quem quer que seja desde que não do governo. A não responsabilidade política perante os atrasos no acesso à saúde, perante o facto de crianças e jovens não terem aulas de português e de matemática desde de Setembro, em face das dificuldades na compra ou arrendamento de uma casa que se possa habitar e até na presença das suspeitas judiciais relativamente ao comportamento de funcionários e ministros do governo que são da directa responsabilidade política do primeiro-ministro. Nunca o país chegou a um momento tão baixo, com portugueses a atravessarem tamanhas dificuldades pessoais que o PS procurou esconder com futilidades políticas. O fim do pensamento crítico dentro de um partido político tem custos e o maior é a cegueira que alimenta outros dois, como são a arrogância e prepotência.

Repito: o ano de 2023 não podia ter sido pior e 2024 pode ser ainda mais complicado. Mas o ano novo que amanhã se inicia é também aquele em que temos a oportunidade de dar a volta por cima. Porque se houve uma boa notícia nos últimos meses, esta foi a decisão do Presidente da República (de imediato criticada pelo PS) de convocar eleições legislativas. De dar aos cidadãos a voz última sobre o futuro político do país. Uma oportunidade inesperada de afastar o PS do governo e de escolher uma alternativa que apresente reformas sérias e necessárias para pormos fim ao processo de degradação política, económica e social a que assistimos desde o início deste século.

Aproveito para fazer aqui uma declaração de interesses, pois ocupo o quinto lugar na lista candidatos a deputados da Iniciativa Liberal pelo círculo de Lisboa e, independentemente de a minha opinião sobre esta matéria ser a mesma há anos, os leitores têm o direito de julgarem por si mesmo o sentido das minhas palavras. Ou seja, que alternância é, além de tirar o PS do governo, substituir os socialistas por um projecto que não se baseie na raiva ou no mero protesto, mas em propostas concretas. O voto de raiva e simples frustração em partidos que também cultivam o culto da personalidade do líder determinado e providencial não resolve nada. É apenas um escape e a maior ajuda a quem não deseja uma mudança de rumo e de destino. Agir de cabeça fria, afastar os socialistas do governo é o passo indispensável para que a democracia portuguesa retome o seu rumo normal, o país volte a crescer, as nossas vidas melhorem e o reinado de 28 anos de governo PS se torne num pesadelo do passado que outros não consigam repetir com um diferente nome.

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