“Quando a última árvore cair, derrubada; quando o último rio for envenenado; quando o último peixe for pescado, só então nos daremos conta de que dinheiro é coisa que não se come”.
Frase atribuída aos índios da Amazónia

“Se tem metas para um ano plante arroz. Se tem metas para 10 anos, plante uma árvore. Se tem metas para 100 anos, então eduque uma criança. Se tem metas para 1000 anos, então preserve o ambiente.”
Confúcio

“Não herdamos a Terra dos nossos pais, pedimo-la emprestada aos nossos filhos”.
Provérbio antigo

O desenvolvimento sustentável é definido como “aquele que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.

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Em 2015 foi definida a Agenda 2030 (pela ONU num trabalho conjunto de associações de cidadãos e governos de todo o mundo e demais parceiros), constituída por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) com metas quantitativas, nas suas várias dimensões (social, económica, ambiental) que promovem a paz, a justiça e instituições eficazes, numa visão comum para a Humanidade. Na sua senda, surgem os ESG (conjunto de práticas ambientais, sociais e de governança que as empresas devem incorporar na sua visão de negócio, numa autêntica cultura de responsabilidade social e ambiental, e assim deverão ser considerados como parte da estratégia financeira das empresa).

Todavia e apesar deste tema/conceito ser hoje incontornável na agenda mundial global e/ou local e para muitos ser percecionado como uma descoberta, novidade e a receita para a transição climática que urge façamos ou, a médio prazo, o planeta Terra será inabitável para as gerações futuras (tanto da espécie humana como outras espécies vivas), na verdade este é muito antigo e inato, conforme as frases/provérbios iniciais deste texto evidenciam.

Ora é justamente aqui, nesta encruzilhada, que reside o nosso enorme espanto, incompreensão e frustração. Continuamos, apesar de há muito sabermos que o crescimento económico (modelo e paradigma em que ainda hoje assentamos, esmagadoramente) tem limites e quais as suas consequências, a recusar acreditar e agir, individual, coletiva e globalmente no sentido de mudar os paradigmas e estilo de vida em que vivemos. Porque não tenhamos ilusões, há data de hoje o estado da arte é que só muito residualmente, apesar do estrondo e frenesim do tema, se verificam progressos concretos. A maior parte dos indicadores/ODS não será alcançável em 2030.

Vejamos,em 1972 o Clube de Roma (grupo composto por mais de 100 pessoas mundialmente relevantes, que se reúnem para debater um vasto conjunto de temas relacionados à política, economia, ambiente e desenvolvimento sustentável), produziu um relatório intitulado “Os Limites do Crescimento” , elaborado por uma equipa chefiada por Dana Meadows. Abordava problemas já críticos para o futuro desenvolvimento da humanidade tais como energia, poluição, saneamento, saúde, ambiente, tecnologia e crescimento populacional. Baseado em modelos matemáticos de modelação prévia e mostrava as consequências e efeitos de nada fazermos. Este relatório vendeu mais de 30 milhões de cópias e foi lido pelos decisores políticos e económicos de então.

Posteriormente em 1988 a UNEP + WMO criaram o IPCC que produziu 6 relatórios desde então, sendo o último de 2022 cujas conclusões são catastróficas foram ressaltadas por António Guterres.

O mesmo Clube de Roma em 2012, na Holanda, apresentou novo estudo realizado pela equipa do M.I.T., e na sua sequência o secretário-geral do Clube, Ian Johnson, alertou que os lucros económicos não mais justificavam os danos causados ao ambiente: “continuar a fazer business as usual não é a opção correta se quisermos que nossos netos vivam em um planeta sustentável e justo” .

No mesmo sentido errático podemos citar a conclusão do Circularity Gap Report de 2022: “Our take-make-waste economy consumes 100 billion tonnes of materials a year and wastes over 90% Rising waste levels are accompanying the rapid acceleration of consumption: ultimately, over 90% of all materials extracted and used are wasted. Or, on the flip side, only 8.6% make it back into our economy. And its getting worse: in only two years, global circularity wilted from 9.1% in 2018 to 8.6% in 2020”.

Ou seja, a humanidade, nós, sabemos os perigos que corremos sem reduzir as emissões de CO2 e o que seria necessário fazer, mas não agimos, mesmo se já os constatamos mais próximos de nós. Porque nos conformamos?

Será que Jean Pierre Dupuy (engenheiro, filósofo e escritor francês), tem razão quando no seu livro Pour un catastrophisme éclairé; Quand l’impossible est certain, diz: “Nous ne croyons pas ce que nous savons”? E ainda quando refere: “la théorie du risque ne suffit plus: c’est à l’inévitabilité de la catastrophe et non à sa simple possibilité que nous devons désormais nous confronter”?

Na mesma linha, de acordo com algumas teorias comportamentais e das neurociências existe uma parte nós, do nosso cérebro que nos impede de agir porque, inconscientemente, negamos o que nos incomoda e assusta.

Aqui chegados, urge encontrar pistas e caminhos de esperança para um futuro que muitos crêem condenado.

É algo que só com a vontade humana, individual, colectiva, organizacional, corporativa, empresarial se alcançará, mas repleta de paradoxos e de exigências contraditórias que implicam escolhas difíceis e disruptiva, mas o desenvolvimento sustentável/transição climática é o maior desafio paradoxal que a humanidade enfrenta. Se o desenvolvimento tecnológico e económico em que parte do mundo assenta (como na nossa geografia) trouxe progresso e melhoria das condições de vida, a verdade é que tal já não se verifica e a muito curto prazo provocará o seu contrário. Não há crescimento económico eterno e a tecnologia não nos salvará.

Urge explicar isto às pessoas de forma verdadeira e sem escamotear que tal implica mudarmos o nosso estilo de vida, modelos de negócios, etc. É crítico encontrar uma forma de nos sensibilizar em relação ao impacto que os nossos hábitos causam, porque só depois disso é que diferentes soluções conjugadas e concertadas poderão contribuir para resolver o problema global que criámos, sem deixarmos ninguém para trás, contrariamente ao que atualmente fazemos.

Isto ainda não aconteceu e o relógio continua a andar… Se ainda vamos a tempo?

Certamente que sim, só temos que parar por uns momentos as nossas tão importantes e atarefadas vidas para pensar e reflectir o presente e o nosso caminho futuro sustentável de liberdade e segurança inteiramente conjuntas, da economia da repartição, da regeneração da natureza e manutenção da sua biodiversidade e da economia comunitária.

“Temos, sobretudo, de aprender duas coisas: aprender o extraordinário que é o mundo e aprender a ser bastante largo por dentro, para o mundo todo poder entrar.“porque cada um de nós é único entre os biliões com “capacidade de criar o seu próprio mundo para juntar e acrescentar ao mundo que já existe” como dizia Agostinho da Silva.

A mudança está em nós, na nossa vulnerável e admirável humanidade.