A vitória de Lai Ching-te no mês de Janeiro, demonstrou a capacidade de resiliência por grande parte dos taiwaneses com o objetivo de manter o status quo.
Apesar de associarmos o Partido Democrático Progressista ao movimento pró-independência, é fundamental percebermos que na verdade tanto os partidos (PDP, KMT e PPT) como o povo taiwanês não defendem nem a independência, nem tão pouco, a reunificação.
A proximidade geográfica e o crescente poder económico chinês contribuíram para o aumento da influência chinesa em Taiwan, deixando o Estado de facto preocupado em gerir as relações comerciais com a “Motherland” e a comportar-se pacificamente na região.
Para além disso, o aumento notável da capacidade militar chinesa tem como propósito garantir uma segurança capaz de acompanhar a sua ascensão naquele espaço, o que leva a crer a Taipé que o tema “independência” seria contraproducente.
Contudo, o facto de a reunificação poder ser algo inevitável acaba por assustar os taiweneses por estes temerem as mudanças que o PCC poderá implementar caso tal acontença. Na realidade, da perspetiva chinesa, a vitória do PDP acabou por ser interpretado como uma provocação pois coloca questões à narrativa do regime chinês. Com uma democracia que promove os direitos humanos, com uma economia estável que garante o bem-estar dos seus cidadãos, Taiwan tem provado que também é possível obter sucesso com base num sistema democrático.
Dado que o contexto político taiwanês contrasta directamente com a do continente, é natural que o povo taiwanês tenha essa percepção. Sendo Taiwan conhecido pela sua democracia vibrante e com uma economia competitiva devido à relevante produção dos microprocessadores e do apoio da Casa Branca através de investimentos tanto em tecnologia como também na capacidade militar taiwanesa no âmbito do TRA (Taiwan Relations Act.), Taipé não deixará de negociar com o PCC de forma a equilibrar o status quo que tanto procura.
Duas semanas antes das eleições, o tom intimidatório utilizado por Xi Jinping ao dizer que a reunificação é uma “inevitabilidade histórica” deixou claro a visão do Presidente chinês em relação à questão de Taiwan. Neste sentido, poderíamos considerar como uma resposta antecipada por parte dos EUA, a frase que marcou a visita de Nancy Pelosi a Taiwan em 2023: “(…) é essencial que a América e os seus aliados deixem claro que nunca iremos ceder a autocratas (…)”. No entanto, as eleições norte-americanas estão a chegar e o eventual regresso de Donald Trump à Casa Branca é uma realidade. Desde que Joe Biden assumiu o cargo de Presidente dos EUA, a agenda em relação à RPC não tem sofrido grandes alterações em relação à criada pelo seu antecessor. Todavia, Trump não vê a questão de Taiwan como uma prioridade geopolítica e diplomática para Washington. Aliás, do seu ponto de vista, o apoio militar norte-americano à “Ilha Formosa” num eventual ataque da China não deverá ser visto como uma garantia. Logo, caso ganhe as eleições não irá alinhar com a postura adoptada pelo Partido Democrático no que toca à questão de Taiwan.
Na sua perspetiva, trata-se de um conflito essencialmente político e que estes devem resolvê-lo, internamente. Apesar da forte relação entre Taipé e Washington, a Casa Branca continua comprometida com a política de “uma só China”. No entanto, Pequim vê esta relação como um posicionamento estratégico por parte dos EUA no Mar do Sul da China para conterem a “expansão” chinesa e de dificultarem a pretendida hegemonia do “Império do Meio” naquela região.
Logo, a RPC poderá estar a aguardar o seu momento: “(…) grandes dragões podem esconder-se por entre enormes montanhas ou por mares sem limites, antes de distribuírem golpes para sacudir a terra (…)”. Não é por acaso que temos vindo a assistir a cada vez mais exercícios militares por parte do PLA ao redor de Taiwan com o objectivo de por em “prática” o A2/ D2 (Area Denial Weapon) – uma estratégia adotada pelo PLA de forma a conter e impedir que forças estrangeiras entrem ou ocupem zonas territoriais (terrestres, marítimas ou aéreas) do seu interesse.
Juntamente com a tensão existente no Mar do Sul da China, percebemos que o risco de um eventual conflito entre a China e Taiwan seja provável. Porém, as consequências poderão ser devastadoras para todos os intervenientes como também afectarão brutalmente a economia internacional.
Portanto, não sendo a solução militar viável, que papel terá o Consenso de 1992 neste contexto?
Os “três nãos” (independência, unificação e uso da força) juntamente com a assinatura do acordo de cooperação económica (ECFA; 2020) que buscavam apaziguar as tensões entre Pequim e Taipé no estreito de Taiwan estão a ser colocados em causa.