Torna-se cada vez mais evidente que, a realizar-se na próxima quarta-feira, a Cimeira de Minsk será, talvez, a última oportunidade de travar por via diplomática o alastramento da guerra na Ucrânia.

Escrevo “a realizar-se”, pois foi anunciado que os dirigentes da Alemanha, França, Rússia, Ucrânia e OSCE se irão encontrar na capital bielorrussa no dia 11 de fevereiro, mas, como declarou, no domingo, Vladimir Putin, Presidente da Rússia, “se se conseguir acordar uma série de posições”.

Esperava-se que uma proposta concreta fosse aprovada no domingo durante uma conversa telefónica entre o “Quarteto da Normandia”, formado por Vladimir Putin, Angela Merkel, François Hollande e Petro Poroshenko, mas a única decisão que saiu foi convocar um novo encontro para Minsk.

Este adiamento é um sinal de que as conversações com vista a um cessar de fogo na Ucrânia estão a decorrer de forma muito difícil, mas, por outro lado, os principais protagonistas querem chegar a Minsk com resultados reais e realistas.

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Embora por motivos claramente diferentes, todas as partes estão interessadas em que esta guerra civil não se transforme numa guerra global na Europa. Moscovo e os separatistas já atingiram grande parte dos seus objectivos, os dirigentes da Ucrânia tentam travar a desmoronamento do seu próprio país e a União Europeia não quer ser linha da frente num combate que se adivinha caso falhe a diplomacia.

Da pertença territorial da Crimeia já poucos falam, a linha de separação das partes beligerantes, traçada em Minsk em setembro passado, deverá ser alterada a favor dos separatistas pró-russos e a Ucrânia, a julgar pelas declarações do Presidente francês, deverá adiar sine die a sua adesão à NATO.

Por outro lado, o fardo da guerra, os reflexos das sanções, a crise económica obrigam o Kremlin a procurar, pelo menos temporariamente, tempo para respirar.

O estatuto que irão ter os territórios ocupados pelos separatistas, com o apoio de tanques, canhões e militares russos, será um sinal importante para se compreender até que ponto poderá ir a UE no seu apoio à integridade territorial da Ucrânia.

Recordo que, em 2008, quando a Rússia conquistou parte do território da sua vizinha Geórgia, a União Europeia, a fim de conseguir um cessar de fogo, se esqueceu de fixar no acordo que assinou com Moscovo que os observadores da OSCE deveriam ficar não só do lado da fronteira georgiana, mas também do lado ocupado pelas tropas russas.

Claro que “águas passadas não movem moinhos”, mas se, então, o chamado Ocidente tivesse tomado medidas económicas e políticas mais duras para castigar a violação das fronteiras do país vizinho pela Rússia, talvez o Kremlin tivesse pensado mais de uma vez antes de invadir a Crimeia e o Leste da Ucrânia.

Porém, os representantes da UE não devem repetir os erros do passado e fazer cedências que possam ter efeitos positivos a curto prazo, mas não resolver a situação a médio e longo prazo.

Kiev, essa, receia tornar-se “moeda de troca” entre os grandes jogadores no Velho Continente, e tem razões mais do que suficientes para isso.
P.S. Segundo a agência de propaganda russa Ria-Novosti, Nikos Anastasiadis, Presidente do Chipre, propôs à Rússia que instale bases militares no território do seu país. O acordo entre os dois países deverá ser assinado no próximo dia 25 de Fevereiro.