A CEE facilitou o acesso de Portugal aos mercados europeus, bem como dos países europeus ao mercado português. Permitiu que o país beneficiasse do Mecanismo Europeu de Taxas de Câmbio que trouxe estabilidade cambial ao escudo e o controlo da inflação. Possibilitou que o governo de então encetasse uma série de reformas, nomeadamente fiscais e até que o Parlamento acordasse uma revisão constitucional de cariz económico. Através dos fundos que enviava para Portugal, a CEE deu origem a um ímpeto reformista que foi consensual entre os Portugueses. Para muitos os fundos europeus terão sido positivos porque significaram a entrada do capital de que carecíamos (e ainda carecemos) para nos desenvolvermos, mas o principal benefício foi mesmo o permitir esse dito consenso reformista quase único na história do nosso país.

Mais tarde chegou o euro. A moeda única era mais exigente do que a simples pertença ao mercado europeu. Uma moeda forte como o euro exige uma economia eficiente: uma dívida pública reduzida e controlada; leis laborais que não prendam os empregados às empresas e que forcem estas a procurar e pagar mais pelos melhores funcionários; um mercado de arrendamento no qual o preço varie de acordo com a oferta e a procura, ou seja, o interesse de quem procura casa e de quem tem uma para arrendar; um nível de poupança razoável e uma política fiscal justa e previsível. Uma falha em qualquer destes requisitos originaria uma perturbação no funcionamento da moeda. Foi o que sucedeu quando José Sócrates achou que a economia crescia com investimento público, aumentou a dívida pública e colocou o estado concorrer com os privados no acesso ao crédito.

Nessa altura o estado não implodiu porque Bruxelas interviu. Foram exigidas algumas reformas, foram alcançados alguns resultados, mas como o custo social era demasiado elevado, o BCE acabou por ceder e passou a comprar dívida pública dos países mais endividados. A partir desse momento, e em nome de uma paz social, o conceito de pertença ao clube europeu mudou. Nos países mais pobres, nos quais Portugal se inclui, fazer parte da União Europeia já não é um incentivo ao desenvolvimento, mas uma forma de receber dinheiro. Ao entregar o PRR de Portugal em Bruxelas, António Costa foi genuíno quando perguntou se já podia levantar o cheque. Na sua longa carreira política deve ter sido a única vez que tirou máscara.

Desde os anos 80 que são habituais as referências ao desafio europeu. Este definia-se num princípio: saber viver em comunidade. O que é que fizemos dessa ambição?

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