Em Julho passado, aquando do lançamento de uma selecção de crónicas que publiquei (“O Estado a que Isto Chegou”, ed. Alêtheia, 392 pág. – uma obra-prima sob diversos pontos de vista, sobretudo o meu), um senhor de certa idade aproximou-se de mim e acusou-me de ter medo de me afirmar de direita. Informei-o de que o medo não tinha nada a ver com o assunto, e tentei explicar-lhe o que é que tinha. O senhor de certa idade não me quis ouvir. Conto, agora, com os leitores do Observador para me quererem ler.

Não me digo de direita por várias razões. A primeira é superficial: soa parolo, a parolice daqueles sujeitos que se dizem do centro, da Confraria do Rabanete ou, pior ainda, de esquerda. A autodefinição é um exercício intrinsecamente pateta.

A segunda razão é perceber que existe uma data de direitas com apetites contrários entre si e, para o que aqui importa, contrários aos meus. Dou um exemplo. Há oito dias, o assessor da deputada do Livre penetrou a Assembleia da República vestido com saiote e peúgas à vista. Esta mera rábula, que pretendia mostrar irreverência e apenas mostrou o imenso vazio naquelas cabecitas, desencadeou em inúmeras almas assumidamente de direita uma indignação monstra. Umas lamentaram o desrespeito pelo parlamento, na suposição de que é possível desrespeitar mais uma casa que alberga negacionistas e entusiastas do estalinismo. Outras lamentaram uma suposta libertinagem, sem notarem que, apesar do nome e à semelhança dos restantes bandos de extrema-esquerda, o Livre é reduto de beatos e pregadores, unicamente especializados em proibir, perseguir e punir o próximo. À conta de tamanha sensibilidade, o moralismo infantil do Livre passou por ousado e o rústico do saiote já anda pelos programas das manhãs televisivas, a aproveitar a fama.

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