Um floco tem volume e ocupa um espaço, mas o interior é vazio e tem uma estrutura frágil. Esta é a melhor descrição a atribuir ao filamento de ideias que estão dentro do Bloco de Esquerda. Um Bloco que, pela volatilidade das ideias e da agenda, mais se parece com um floco.

O Bloco de Esquerda tem inconsistências na sua acção política que revelam a fragilidade do seu pensamento para o País e criam um pêndulo político que oscila entre o frágil e o perigoso.

É visível a sua fragilidade quando o Bloco tenta concorrer com o PAN e com o Livre, provavelmente porque consideram que devem concorrer com o que é novo na política. Quer pelo ambiente quer pela apresentação de candidatos afro-descendentes, o Bloco de Esquerda pareceu, muitas vezes, mais preocupado em tentar mostrar frescura política do que ideias para o País.

É certo que a imagem de um partido é relevante, mas não ao ponto de suplantar as suas ideias. No caso do Bloco é nas ideias que se encontra um caminho perigoso que este partido frequentemente opta por tomar.

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O Bloco produz estereótipos no seu pensamento político para, logo de seguida, produzir ideias com o intuito de castigar ou erradicar os estereótipos que produziu. Um exemplo singelo é a criação de um imposto especial para a utilização de campos golfe, proposto no programa do Bloco de Esquerda.

Para este partido quem joga golf é rico, logo merece um castigo. O melhor jogador de golf, Tiger Woods, contraria essa ideia, tendo origem numa família de classe média. Mas independentemente deste exemplo, é sempre perigosa a ideia de criar um imposto especial para um desporto.

Contudo, é ainda mais preocupante ver este partido defender, no seu programa, a eliminação da isenção fiscal do IMI para as Misericórdias.

Sem perceber como funcionam os acordos para funcionamento de creches e lares de terceira idade que o Estado tem com as Misericórdias e outras IPSS’s e sem perceber que, nesses acordos, o Estado não paga o suficiente para cobrir os custos com os utentes, o Bloco de Esquerda quer taxar as fontes de receita das Misericórdias que ajudam financiar o serviço diário a estes utentes.

É uma ideia perigosa taxar ainda mais as Misericórdias, que não pagam IMI mas pagam outros impostos, quando o financiamento no sector social do Estado é curto e não chega para pagar o serviço prestado pelas Misericórdias.

Mas mesmo quando Catarina Martins tenta colar o rótulo de social-democrata ao Bloco, como quem cola uma etiqueta a dizer “saldos” numa vitrine, as inconsistências deste partido não sofrem o mesmo escrutino público que outros, apesar de ter participado numa solução governativa para o país.

E foi nessa participação governativa que se sentiu a influência do Bloco, com as empresas a serem tratadas como o parente pobre da economia, não esquecendo que este partido também produziu o seu estereótipo para as empresas, e considera que umas devem ser castigadas com impostos e outras erradicadas. São ideias perigosas porque este partido não tem uma alternativa para as empresas que impulsionaram o investimento nestes últimos quatro anos, nem para as Misericórdias que, juntamente com outras IPSS’s, suportam uma rede de apoio social.

Ainda assim, o Bloco e o PS conseguiram manter a convivência governativa na gerigonça, muito porque interessava ao PS a imagem pública que Mário Centeno era o polícia do PCP e BE e não deixava que se pisassem linhas vermelhas. Mesmo que, na prática, Centeno se tenha limitado a cativar na Saúde, Transportes Públicos, Educação e outros serviços do Estado. E isso é tudo menos policiar os partidos à esquerda do PS.

O Bloco teve noção desta opção do ministro das Finanças, mas este considerou mais importante transmitir a imagem que a gerigonça funcionava, mesmo que o país não funcionasse com a gerigonça. E isto viu-se com os serviços do Estado a entrarem em défice excessivo por falta de meios materiais e recursos humanos.

Quando os serviços do Estado falharam, a posição política do Bloco foi leve e cheia de vazios ao ponto de evaporar-se como um floco. Neste e em outros pontos críticos da governação do PS (desde os incêndios ao familygate) esta foi a actuação do Bloco de Esquerda. Ou melhor, de um floco de esquerda.