As empresas portuguesas têm enfrentado recessões sucessivas, algumas delas prolongadas e profundas. Nos últimos 20 anos, um em cada quatro foi de crise. O período desde a crise financeira internacional de 2008/2009 foi de grande instabilidade. Mas, desde o ano 2020, iniciado com a crise provocada pela pandemia Covid-19, a evolução do PIB assemelhou-se a uma montanha russa. Em termos homólogos, o PIB variou entre uma queda de -17,8% no 1º trimestre de 2020 e um crescimento de 17% no 2º trimestre de 2021. Em termos anuais, a taxa de crescimento do PIB real variou entre um mínimo de -8,3%, em 2020, e a previsão de 6,7% para 2022 (Banco de Portugal). Em 2023, teremos um ano de estagnação, com a taxa de crescimento do PIB a cair para 1,3% (1,2% nas previsões do Conselho de Finanças Públicas). A gestão das empresas, neste contexto de fortes oscilações nos níveis de atividade económica, enfrenta enormes e novos desafios. Desafios muito diferentes dos que se colocavam às empresas no ambiente macroeconómico mais estável nas décadas de 1980 e de 1990.

Usando os dados da Datação dos Ciclos da Economia Portuguesa da Fundação Francisco Manuel dos Santos, estabelecida pelo comité presidido por Ricardo Reis, professor na London School of Economics, podemos ver na figura que, entre 1980 e 2002, apenas se registaram duas recessões breves e pouco profundas. Neste período, as empresas enfrentavam as crises como eventos esporádicos e de curta duração, a que se seguiam longos períodos de expansão económica. Um ambiente económico caracterizado por crises curtas e longos períodos de crescimento económico é mais favorável ao investimento empresarial.

De facto, a estabilidade é essencial para planear e executar investimentos. Num ambiente muito volátil é mais difícil fazer previsões sobre a sua rentabilidade. Esta é a realidade que os empresários portugueses têm enfrentado nos anos 2000 e que tem prejudicado o investimento e, por essa via, o crescimento das empresas e da economia. O ano de 2023 vai ser mais uma prova de fogo à resiliência e capacidade de gestão dos empresários portugueses.

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A crise atual está marcada por grandes incertezas geopolíticas, por taxas de inflação elevadas e pelo aumento das taxas de juro. Desde 2021, o aumento dos custos da energia e das matérias-primas tornou negativos os resultados de muitas empresas. Em alguns casos foram obrigadas a reduzir ou a parar a produção. No segundo semestre de 2022, o aumento dos juros e a maior dificuldade no acesso ao crédito começou a fazer-se sentir nas condições de financiamento das empresas. No final de 2022, e em 2023, a forte desaceleração e os riscos de recessão nas economias dos nossos principais parceiros comerciais criarão dificuldades às exportações, incluindo ao sector do turismo. A redução dos salários reais, em resultado das elevadas taxas de inflação, o aumento dos encargos com o crédito à habitação e a quebra nos índices de confiança provocarão uma contração do consumo das famílias.

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Gerir uma empresa num contexto em que as crises se sucedem, interrompidas por curtos períodos de crescimento económico, é um enorme desafio. Algumas empresas ficam sem clientes e vão à falência. Outras, ajustam as condições de produção aos níveis de procura mais reduzidos, procurando reduzir os custos de produção e ser mais eficientes para poderem sobreviver. Nestes processos de ajustamento, as empresas reduzem as novas contratações ou aumentam os despedimentos. Inevitavelmente, as crises têm custos, reduzindo o rendimento das famílias e aumentando o desemprego.

No entanto, a forma como a economia portuguesa sairá de mais uma crise depende da capacidade das empresas melhorarem a sua eficiência. Pequenos desperdícios e ineficiências podem parecer irrelevantes quando a economia está a crescer. No entanto, com os mercados a encolher, pequenos ganhos de eficiência podem ser decisivos para a sua sobrevivência e para a capacidade de aproveitarem a próxima fase de crescimento.

Dado o elevado nível de endividamento das empresas portuguesas, o aumento das taxas de juro colocará muitas empresas em dificuldades. Para que o tecido económico saia mais robusto desta crise, e o potencial de crescimento da economia seja reforçado, é essencial distinguir entre as empresas viáveis e as inviáveis. A incidência de empresas muito endividadas e de baixa produtividade, conhecidas como empresas zombie, poderá voltar a aumentar. Estas empresas privam as concorrentes de recursos (trabalhadores e capital) e ganham-lhes mercado com prática de concorrência desleal. A manutenção destas empresas no mercado é um obstáculo ao crescimento das empresas mais eficientes.

Para que a crise tenha também um lado bom, é essencial que os gestores tornem as empresas mais eficientes. No entanto, numa altura em que as condições financeiras se vão tornando mais restritivas, é também essencial que os bancos sejam capazes de selecionar as empresas com melhores planos de negócio e equipas de gestão. Por outro lado, é também essencial garantir procedimentos de insolvência eficientes, de forma a acelerar a saída do mercado de empresas sem viabilidade económica. Sem estas duas condições, continuaremos a não ver, nas estatísticas da produtividade, os resultados da boa gestão. Esta, apesar de tudo, também existe em Portugal.